Saturday Night Live: Entre Mortos e Feridos – Os Feridos (4ª parte)

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Saturday Night Live, para quem não sabe, é um programa de comédia exibido pela rede norte-americana NBC e já está no ar há 38 anos. O programa, feito no formato de esquetes, é gravado em um teatro, ao vivo, perante um público, cuja reação espontânea é gravada e acaba fazendo parte integrante, muitas vezes enfática, do programa.

Este é o quarto de uma série de 5 posts destinados àquele que é um dos mais importantes programas de comédia que já foram exibidos na TV. O primeiro post foi uma breve introdução, contando um pouco sobre a estrutura do programa, comentando sobre suas possíveis influências (quem ainda não leu, pode ler aqui); o segundo post foi uma listagem dos comediantes mortos ao longo desses quase 40 anos de programa que fizeram parte do elenco (quem ainda não leu, pode ler aqui). Já no post anterior falei do primeiro grupo dos “feridos”, ou seja, dos sobreviventes (quem ainda não leu, pode ler aqui); no final das contas, veremos que sobreviver ao elenco do programa é tarefa pra poucos.

140 comediantes/atores já passaram pelos quadros do programa, desde sua estreia. Destes, até onde eu saiba, apenas os listados abaixo tiveram carreira internacional, a ponto de estrearem filmes ou participarem de sitcoms que prolongaram o sucesso conquistado no show. E, continuando…

Bill Murray

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Nascido em uma família pobre e com outros 8 irmãos, Bill Murray começou a carreira artística após ter abandonado a faculdade de medicina logo no começo e sido preso por porte de 4,5 kg de maconha. Solto sob condicional, foi convidado pelo irmão mais velho para participar do grupo de improviso Second City, onde foi descoberto por seu amigo, John Belushi, sendo então convidado a integrar o grupo National Lampoon. Foi convocado para o SNL depois da saída de Chevy Chase, e ficou no programa por 3 temporadas (1977 – 1980). Sua participação era enérgica e criativa. Comediante muito inteligente e articulado, é dono de um humor contido, sutil, que investe mais nas ironias e sutilezas de linguagem.

O sucesso como comediante e escritor do humorístico levou-o ao desejo de produzir filmes que, nem sempre, apelassem tanto para a comédia. Seu primeiro plano foi tentar adaptar para o cinema o romance de W. Somerset Maugham, O Fio da Navalha. Com a morte de John Belushi, que estrelaria originalmente os Caça-Fantasmas, a Columbia topou produzir sua adaptação, com a condição de que o ator estrelasse o filme (provavelmente com a ideia de se valer da audiência do SNL ao convocar dois de seus comediantes para os papeis principais).

O Fio da Navalha foi um fiasco, e isso acabou afastando o comediante do cinema. Por 4 anos, Bill Murray estudou história e filosofia na universidade de Sorbonne, de onde passou a ter a iniciativa de tentar filmes mais dramáticos. Depois do jejum de filmes (quebrado apenas pela estreia de Caça-Fantasmas II), atuou em dois grandes sucessos de bilheteria: Nosso Querido Bob e Feitiço do Tempo. Recebeu vários prêmios de melhor ator coadjuvante por sua participação no filme Três é Demais; participou de uma impressionante sequência de boas atuações nos filmes Garotas Selvagens, O Poder Vai Dançar, Os Excêntricos Tenenbauns e Encontros e Desencontros; pelo desempenho neste último filme, o ator ganhou o Globo de Ouro, o BAFTA, o Independent Spirit Award, dentre outros, como melhor ator coadjuvante, além de ter concorrido ao Oscar.

Eddie Murphy

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Filho de uma telefonista e de um policial rodoviário, Eddie Murphy começou sua carreira com shows de stand-up comedy. Desde cedo, o comediante criava esquetes e diálogos para seus futuros shows, influenciado por comediantes como Richard Pryor e Bill Cosby. E foram justamente as gravações destes seus shows de comédia que levaram Murphy ao reconhecimento público. O sucesso de seus LPs levou o ator a ser convidado a um teste e, posteriormente, efetivado no SNL. O humor de Eddie Murphy pode ser considerado como agressivo, uma voz das minorias: seus personagens costumam ser negros, gays, obesos ou italianos, por exemplo, e costumam falar muito, mas muito palavrão mesmo!

Eddie Murphy trabalhou no show por 4 temporadas (1980 – 1984). Emplacou vários personagens fixos no programa, e fez tanto sucesso com alguns deles que chegou tomar atitudes drásticas. Um exemplo disso foi o personagem Buckwheat: cansado de tanto ouvir os fãs pedirem para repeti-lo, Murphy escreveu um episódio em que o personagem é simplesmente assassinado, no meio da rua, numa filmagem externa, que foi exibida no Saturday Night Live.

Seus maiores sucessos no cinema se deram enquanto ele ainda era integrante do humorístico. Estreou com o policial/comédia 48 horas, que arrecadou a quantia recorde da época de quase 5 milhões de dólares, estrelou o também bem sucedido Trocando as Bolas, com o ex-integrante do SNL, Dan Aykroyd. Os dois se deram tão bem que Aykroyd pensou em Murphy, e escreveu o papel de Winston Zeddemore para ele, em Os Caça-Fantasmas. Murphy, infelizmente, não pôde participar do longa, já que a agenda de gravação do filme conflitou com as gravações de seu novo sucesso: Um Tira da Pesada. Conseguiu, também, tirar o filme A Melhor Defesa é o Ataque do buraco, pois sua contratação como coadjuvante de Dudley Moore foi essencial para que o filme tivesse boa recepção junto ao público.

A queda em sua carreira começou com o lançamento de O Rapto do Menino Dourado. O filme foi tido como uma aposta arriscada e malfadada do comediante, que resolveu investir em uma temática mais “mística”, para a qual o público não estava preparado, pois, até então, ele atuava em filmes urbanos e de temática mais “realista”. O ator ganhou mais um fôlego com o lançamento de Um Tira da Pesada II, dirigido pelo falecido Tony Scott (irmão sempre competente do fantástico Ridley Scott), mas não conseguiu evitar a baixa na carreira. Tudo continuou indo mal, com uma série de filmes de péssima qualidade e bilheteria: o exemplo máximo desta fase é Pluto Nash, filme que teve orçamento de 110 milhões de dólares e só faturou 7 milhões no mundo todo. A partir de 1998, o comediante seguiu uma tendência de fazer mais filmes estilo Disney, voltados para a família, e conseguiu recuperar um pouco de sua carreira anterior, fazendo sucesso como o Burro de Shrek, ou como o dragãozinho de Mulan, além de estrelar filmes como A Creche do Papai, Dr. Dolittle e a franquia O Professor Aloprado.

Chris Rock

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Filho de uma assistente social e de um motorista de caminhão/entregador de jornais, Chris Rock teve que lutar muito, desde cedo. Sua vida de lutas é retratada de forma sarcástica, desregrada e muitas vezes impiedosa em seus shows de stand-up comedy. Chris perdeu seu irmão mais velho para o alcoolismo e o pai para a úlcera. Desde cedo, assim como Eddie Murphy, Chris Rock firmou-se como um dos grandes talentos da comédia em pé, mas a projeção só viria com a estreia no SNL (1990 – 1993), quando seria conhecido nacionalmente. Eddie Murphy, aliás, foi o responsável pelo lançamento da carreira de Chris Rock, pois o teria visto em uma pequena casa noturna, convidando-o para um papel no filme Um Tira da Pesada II.

O forte de Chris Rock tem sido seu espetáculo de stand up. Seu humor é sem travas, um dos raros comediantes que usa a palavra-tabu “Nigger” para sacanear os próprios negros, os brancos, ou qualquer um que ele ache que valha a pena; Chris Rock seria mais ou menos o equivalente à Dercy Gonçalves norte-americana. Tem um humor cáustico, irascível e sem qualquer medo. Deixou o SNL extremamente frustrado, e partiu para uma carreira bem sucedida como comediante, inclusive foi premiado com dois Emmys por seus programas feitos para a rede HBO. Também ganhou cerca de 15 indicações ao Emmy e um prêmio por seu talk show The Chris Rock Show. Sua incursão na TV também se deu com a produção e narração da bem sucedida sitcom Todo Mundo Odeia o Chris, baseada livremente em sua infância. O nome do seriado, aliás, é uma crítica ao nome de outro seriado, politicamente correto, que fazia muito sucesso na época, Todo mundo ama o Ray.

No cinema, sua carreira tem se mostrado fraca. Além de frequentes participações em filmes de outros ex-colegas e amigos do SNL, como Ben Stiller e Adam Sandler, também atuou em Um Ninja da Pesada, A Enfermeira Betty (onde faz o engraçado papel de bandido idiota), Golpe Baixo, Em Má Companhia, e seu maior sucesso, a zebra Marty em Madagascar.

Joan Cusack

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Filha de uma professora de matemática e de um ator, ambos irlandeses, a atriz começou bem jovem. A carreira artística fascinou não só a ela como também seus irmãos Ann e John Cusack, que se tornaram atores. Joan, a mais bem sucedida, participou do SNL por duas temporadas (1985 – 1986), e, apesar de ótima atriz, teve uma atuação razoável no programa. Foi em parte prejudicada por péssimos esquetes e crise criativa dos escritores, e em outra parte sofreu, assim como Robert Downey Jr., da rebordosa de ter um grande número de colegas de elenco completamente sem graça.

Depois que saiu do humorístico, conseguiu fazer alguns filmes de muito sucesso de bilheteria, como Uma Secretária de Futuro e Será Que Ele É?, pelo os quais foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. Fez também O Suspeito da Rua Arlington, um suspense ótimo, que teve excelente desempenho de bilheteria. Além disso, trabalhou em vários filmes com diretores consagrados do circuito independente, como os ótimos Stephen Frears e Cameron Crowe, por exemplo, em Alta Fidelidade e Digam o Que Quiserem, onde contracena com o irmão, John Cusack. Em O Poder Vai Dançar, além de contracenar com o irmão, ainda trabalha com Bill Murray, outro ex-integrante do SNL citado um pouco acima nesta lista. Também estrelou uma sitcom chamada What About Joan?, que teve apenas duas temporadas e foi produzida pelos mesmos produtores dos Simpsons, James L. Brooks e Richard Sakai. Joan também é famosa por emprestar a voz a inúmeros personagens de desenhos e animações, como em O Galinho Chicken Little; Toy Story 2 e 3 (além de diversos curtas derivados da franquia); Marte Precisa de Mães; Operação Presente; dentre outros.

Tina Fey

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Uma das mais bem sucedidas sobreviventes do Saturday Night Live, Elizabeth Stamatina “Tina” Fey é filha de mãe grega e pai descendente de alemães e escoceses. Assim como vários outros comediantes que fizeram carreira no show, ela começou no grupo de improviso The Second City, quando foi chamada por seu ex-colega e então chefe dos escritores do SNL, Adam McKay, para remeter ao programa, ocasionalmente, alguns roteiros para esquetes. O sucesso acabou sendo contínuo, e ela foi convidada a integrar o programa como roteirista fixa, depois de rápida sabatina com o lendário produtor Lorne Michaels. Tina entrou no SNL em 1997, e iniciou uma carreira de muito sucesso, primeiro como escritora, depois como comediante no elenco do humorístico. Foi a primeira mulher a se tornar chefe de escritores do SNL, e, durante sua permanência no programa, que durou até 2006, ganhou simplesmente 10 Emmys, além de outros 10 Writers Guild of America Awards, 5 Globos de Ouro, 1 prêmio do American Film Institute, 3 People’s Choice, dentre inúmeros outros prêmios. O período de sua permanência no humorístico foi um dos mais engraçados, com grande diversidade de temas abordados.

Tina Fey deixou o programa para estrear sua própria sitcom, 30 Rock, onde ela atua como uma escritora de um programa de comédias, e é vagamente baseada em sua experiência como roteirista do Saturday Night Live. O nome do programa se refere ao endereço do prédio Rockefeller, nº 30, que é onde estão os estúdios da NBC e onde também é gravado o Saturday Night Live. 30 Rock foi altamente elogiado pela crítica especializada, ganhando vários Emmys e Globos de Ouro. O programa teve 7 temporadas e saiu do ar em 2012.

Além disso tudo, Tina Fey ainda tem uma carreira cinematográfica regular, com filmes que, se não são sucesso de bilheteria, conseguem se pagar e acabam tendo bom desempenho em outras mídias. Dentre seus maiores sucessos, estão Meninas Malvadas, onde atuou e escreveu o o roteiro; Uma Mãe Para o Meu Bebê, filme divertidíssimo, em que ela contracena com sua antiga colega de SNL, Amy Poehler,  e Uma Noite Fora de Série, com Steve Carrell (o eterno virgem de 40 anos).

Até semana que vem, com os últimos sobreviventes, na 5ª parte dessa série…!

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 10 comentários

  1. Inacreditavel_Neo

    Só gente boa.

    Um filme foda com a Joan Cusack (participação pequena, mas muito engraçada) é Matador em Conflito (Grosse Pointe Blank. 1997) estrelado pelo irmão John Cusack e com participação do Dan Aykroyd. Aliás, esse filme tem uma das melhores atuações do velho Dan.

    Altamente recomendado.

    1. Cara, esse filme eu não vi, só sei que ele existe, pois vi anúncios dele, na época do lançamento. De qualquer jeito, a Joan é uma atriz muito versátil, ela pode fazer tanto uma dondoca, quanto uma doida completa e varrida. Não tem nenhum medo de se passar por ridícula…

      Vou procurar ver esse filme.

  2. José Messias

    Post exemplar, como sempre, essa é umas das séries que mais gosto, pois trata de um assunto muito próximo…sou putinha declarada do Chris Rock e roubo/adapto muitas das “piadas” dele nas mesas de bar, sala de aula etc. Parabéns.
    Eu só não concordo que a Joan Cusack seja mais bem sucedida que o John. Ela até pode ser melhor atriz, em termos artísticos, mas o John tem mais reconhecimento (da carreira) e é mais popular (do grande público). Só digo duas palavras: Alta Fidelidade

    1. Cara, obrigado pelo retorno. Chris Rock é muito comédia. Também gosto muito do trabalho dele como comediante, o cara é 10.

      Quanto à Joan Cusack, acho ela realmente melhor que o John, mas concordo que o John Cusack tem mais apelo popular, pois sabe escolher os papeis que favorecem a sua atuação.

      Alta Fidelidade é um filmão, mesmo.

      1. JJota

        Concordo com o Colossus: John segue aquela linha de Johnny Depp e Robert Downey Jr.: interpretam quase sempre o mesmo personagem, mas o fazem muito bem!

  3. JJota

    Beleza de série. Adoro todos os citados. Eddie Murphy em stand up é hilário!

    1. Fala, Jota! Infelizmente, não dá pra falar de TODOS, TODOS, TODOS os comediantes do SNL. Tem muita gente boa que simplesmente não deu sorte ou não conseguiu mesmo fazer carreira internacional, e que você só vai conhecer no programa, e em nenhum outro lugar, o que é uma pena… Chris Kattan e Cheri Oteri são os primeiros nomes que me vêm à cabeça, mas tem mais muita gente boa que sequer conseguiu projeção internacional… Talvez, algum dia, eu faça uma série sobre os derrotados.

      Em tempo: não tem, mesmo, nada igual a Eddie Murphy. O cara manda muito.

      1. JJota

        Sempre digo isso: querem ver o talento do Murphy? Vão no youtube e procurem os shows stand up do cara!

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