Saturday Night Live: Entre Mortos e Feridos (1ª parte)

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Saturday Night Live, para quem não sabe, é um programa de comédia exibido pela rede norte-americana NBC que já está no ar há 38 anos. O programa, feito no formato de esquetes, é gravado em um teatro, ao vivo, perante um público, cuja reação espontânea é gravada e acaba fazendo parte integrante, muitas vezes enfática, do programa.

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Este é o primeiro de uma série de 5 posts, destinados àquele que é um dos mais importantes programas de comédia que já foram exibidos na TV. O objetivo é falar, na verdade, não sobre o programa em si, e sim comentar um pouco sobre o impacto que ele teve na carreira dos comediantes que já passaram pelo elenco, sejam como artistas fixos, sejam como convidados. Este primeiro post será uma breve introdução, contando um pouco sobre a estrutura do programa, comentando sobre suas possíveis influências; o segundo post falará um pouquinho dos “mortos”, ou seja, dos comediantes que passaram pelo show e faleceram – pelas mais diversas causas – e o que foi da carreira deles; e o terceiro post falará dos “feridos”, ou seja, dos sobreviventes: no final das contas, veremos que sobreviver ao elenco do programa é tarefa pra poucos.

Aliás, o elenco de Saturday Night Live costuma ser dividido em dois grupos: o grupo dos fixos, que são chamados, em inglês, de Not Ready For Prime-Time Players (que pode ser livremente traduzido como Pessoal que ainda não tá pronto pra ser famoso) e os membros mais novos do elenco, o grupo dos estreantes, chamados, em inglês, de Featured Players. O elenco, por sua vez, é heterogêneo: constituído em grande parte por comediantes vindos da tradicional escola americana do stand-up comedy (comédia em pé) além de atores das mais diversas origens e formações.

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Primeiro elenco fixo do programa. Da esquerda pra direita, em pé: Laraine Newman, John Belushi, Jane Curtin, Chevy Chase, Dan Aykroyd. Sentados: Garrett Morris e Gilda Radner.

Cada programa conta com um convidado, que participa ativamente dos esquetes do programa e, algumas vezes, acaba sendo alvo central das piadas dos roteiristas e comediantes do elenco. Inclusive, o fato de o elenco quase sempre ser constituído de comediantes aumenta muito o potencial pra improvisos e cacos engraçadíssimos. Some-se a isso o fato de o programa ser gravado ao vivo, e de frente à plateia, o que torna tudo ainda mais engraçado. Devido a já grande longevidade do programa, seus convidados já vêm passando por uma triagem cômica, chamada Five-Timers Club (livremente traduzido por Clube dos Cinco Programas), que nada mais é do que separar os convidados que participaram do programa por mais de cinco vezes. Dentre esses convidados seletos, estão, por exemplo, Tom Hanks, Alec Baldwin, Steve Martin, Drew Barrymore, Ben Affleck e Justin Timberlake, dentre outros.

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Quadro engraçadíssimo, dentro do programa, satirizando a entrada de Justin Timberlake no “seleto” clube, com direito a robe personalizado, rituais esquisitos e sacanagens dos outros membros (Martin, Hanks e Baldwin).

Além disso, cada programa conta com um convidado musical, que costuma fazer duas – excepcionalmente três – apresentações ao longo do show, a primeira geralmente acontece antes do intervalo comercial que ocorre no meio do programa, enquanto a segunda apresentação se dá no último bloco.

Nada escapa da metralhadora giratória dos roteiristas, nem mesmo a NBC. Tanto executivos da rede de televisão quanto o próprio produtor de décadas do programa, Lorne Michaels, várias vezes aparecem no programa, seja para fazer supostas aparições de bastidores, seja para ser motivo de piada. As influências do humor do grupo Monty Python são evidentes. Um exemplo claro disso é um esquete-propaganda, que apresenta um casal (Dan Aykroyd e Gilda Radner) brigando para decidir se um determinado produto é cobertura para café ou polidor de piso; quando entra um apresentador (Chevy Chase) e anuncia às câmeras que o produto na verdade é as duas coisas, enquanto joga uma esguichada do produto em cima do café do marido e outra na vassoura da esposa.

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O incrível Shimmer Floor Wax: ao mesmo tempo, um delicioso creme branco para o café e uma eficiente cera pra deixar o seu chão brilhando como um espelho.

Este humor mais nonsense e absurdo, vindo da influência direta do grupo inglês, que foi uma vertente forte nos primeiros 5 anos do programa, foi aos poucos sendo apaziguado, e dando lugar a uma crítica mais social, influência direta de outros comediantes e escritores que foram assimilados ao elenco, como Eddie Murphy, por exemplo, e, em seguida, evoluindo para um humor mais cínico, crítico e, não raro, autodepreciativo, devido à influência de comediantes como Larry David (que depois criaria o mítico George Constanza em Seinfeld), e Billy Crystal, dentre outros.

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Conan O’Brien, agora um tradicional apresentador de Talk Show, à esquerda, e Larry David, criador do fantástico Seinfeld, à direita: alguns exemplos dos inúmeros talentos que já passaram pelos bastidores do programa.

A meu ver, uma das fontes da longevidade do programa tem sido, justamente, a grande heterogeneidade de influências: o programa conta com um grupo de roteiristas que tem, em média, de 20 a 22 integrantes, com as mais variadas origens: são atores, comediantes de Stand-up, escritores, vindos das mais diferentes regiões do país, e com as mais diversas formações culturais. Tudo isso resulta no caldeirão de referências que é este programa, e, de uma certa forma, garante sua renovação não só temática quanto na forma.

Este é o segundo grande destaque do programa. Ele não se engessa em uma forma, um formato específico, evitando, com isso, a previsibilidade e a consequente monotonia pro espectador (ao contrário de programas como o Zorra Total, por exemplo, em que podemos saber até a que horas e em que bloco o personagem mais popular aparecerá). De fato, somente alguns elementos têm se mantido fixos ao longo desses quase 40 anos de programa: o fato de que haverá um convidado, uma atração musical; o quadro das “Notícias da Semana” –  que na verdade é uma mistura de notícias reais e inventadas, cujo o único real interesse é sacanear de tudo um pouco – e a abertura do programa, que começa quase sempre com um esquete inesperado, cujo final terminará, de alguma forma com um dos comediantes gritando a plenos pulmões: Live, from New York, It’s Saturday Night!

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Chevy Chase foi o primeiro a dar o agora tradicional grito.

Um terceiro grande diferencial é que não é uma comédia baseada em personagens caricaturais ou personalidades: eles existem, mas não são essenciais ao programa.

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Mango foi um dos personagens recorrentes no programa, e acabou suas aparições no show com a saída de Chris Kattan do elenco. Mango é uma bicha louca, exagerada, que, de alguma forma misteriosa, tem o poder de simplesmente seduzir qualquer um, independente do sexo e da orientação sexual, chegando ao ponto do seduzido ficar completamente obcecado. Na foto, ele seduz o cantor country Garth Brooks.

Comédias baseadas em personagens caricaturais tendem a saturar mais rapidamente, pois o repertório de possibilidades deles fatalmente chega a um limite. Quando chegam a esse limite, os personagens passam a ser repetitivos, resumindo-se a frases de efeito e bordões, que apenas desconstroem a sua própria imagem, levando à monotonia e à perda do efeito cômico. E, mesmo os personagens recorrentes, no caso do Saturday Night Live, não costumam aparecer no programa com muita frequência. Mango, por exemplo, que era um dos personagens de grande popularidade, só apareceu 16 vezes num intervalo de 5 anos (entre 1997 e 2002), reforçando, assim, a questão da grande variedade de possibilidades demonstrada pelo humorístico.

Saturday Night Live, portanto, é uma comédia de referências. Toda a comédia é, por si só, referencial, mas Saturday Night Live faz disso sua razão de existir. Pra quem ainda não assistiu, há possibilidade de se ver episódios antigos ou esquetes isolados no Youtube. Também é possível ver coletâneas de episódios em canais on-demand, como o Netflix. Além disso, o canal Sony Entertainment Television costuma passar as novas temporadas em sua grade.

Até semana que vem, com a segunda parte.

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 9 comentários

    1. Eu soube que o Rafinha Bastos tentou fazer um programa aqui com o mesmo nome, mas se a proposta era a mesma do SNL, não sei dizer, porque não vi nenhum episódio desse programa.

      1. toddy

        Vosmicê tem que pesquisar sobre isso, e trazer no próximo post! Trabalhe certo meu jovem

          1. toddy

            bom

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