Finalmente… o fim.
Depois de meses de maldições proferidas, ranger de dentes, ameaças sussurradas e muitos achaques, finalmente termina, para nós brasileiros, o polêmico projeto Antes de Watchmen, com a edição que encaderna a série voltada para os Minutemen, nome do grupo de super-heróis que, no universo criado por Alan Moore e Dave Gibbons, surgiu quando diversos aventureiros mascarados resolveram se unir para coordenar suas ações visando um maior impacto na luta contra o crime.
Coube a Darwyn Cooke, que já havia roteirizado a mini que focou a Espectral, contar a história do grupo, que, ao longo da obra matter, é citado por vários personagens e alvo de alguns flashbacks.
Em um rápido resumo, a história é narrada pelo primeiro Coruja, que está trabalhando em sua biografia, chamada Sob o Capuz, apesar de todos os ex-aliados que entram em contato com ele se colocarem imediatamente contra o projeto. O motivo? O autor os expõe de forma nua e crua, escancarando os defeitos de cada um deles, manchando irremediavelmente o nome do grupo e de alguns de seus integrantes. A versão do Coruja, obviamente, também preocupa as autoridades que, em alguns momentos, se valeram da popularidade dos super-heróis e até mesmo transformaram dois deles em agentes diretamente subordinados a Casa Branca: o violento Comediante e o quase que divinamente poderoso Dr. Manhattan.
Aqui, creio eu, está a história mais ousada dentro do projeto Before Watchmen. Cooke aproveita o que foi insinuado ou deixado de lado em Watchmen e traz suas próprias conclusões, realmente criando sobre os personagens e conceitos surgidos das mentes de Moore e Gibbons. Entre outras coisas, ele escancara a homossexualidade do Capitão Metrópolis e do Justiça Encapuzada, acentua a ingenuidade do Coruja e entrega a armação por trás da primeira Espectral.
Coisas assim podem ser bem ou mal recebidas, depende sempre de quem lê. Minha opinião, agora consolidada depois de ler todos os volumes, é que quem realmente melhor trabalhou com as ideias de Watchmen foi Straczynski, mais quando escreveu Dr. Manhattan do que quando roteirizou a mini do Coruja, pois contou uma história inserida dentro do contexto da série original, servindo bem como um prequel e ajudando a entender o personagem. Minutemen me pareceu uma narrativa exagerada, desnecessária, um concerto de intrumentos bem afinados tocando uma música até legalzinha mas num volume muito alto. A necessidade de ser extremamente crítica soa falsa quando lembramos que ela está inserida dentro de um projeto que melindrou um dos autores originais e contribuiu para que o mesmo fique ainda mais distante do dia em que poderá ter novamente em suas mãos os direitos autorais daquela que é, pra muitos, a sua obra-prima.
O último capítulo, particularmente, me deixou incomodado. Acho que certas lacunas poderiam ficar em aberto. Se fossem pra cair, que fossem com ideias melhor desenvolvidas. Descobrir a “verdade” sobre a “edição” de Sob o Capuz também foi um tiro no pé, já que o livro, em Watchmen, não parece ter atraído para seu ator nem simpatia nem fortuna.
Sobre a arte, também a cargo de Darwyn, temos mais uma vez um traço limpo, quase cartunesco, mas dinâmico. É muito mais cinematográfica, lembrando mais Eisner do que Gibbons. Com certeza, tem seus adeptos e não faz feio entre aqueles que aprenderam a curtir este tipo de traço desde o surgimento da série animada do Batman nos anos 90. Particularmente, não gosto do traço mezzo-retrô, mezzo-animação de Cooke.
Bom, agora que terminou, posso dizer que houve momentos divertidos, alguns bacanas e outros extremamente constrangedores. A arte se destacou, principalmente nas edições do Rorschach, do Dr. Manhattan, do Coruja e do Ozymandias. Tirando a do Manhattan, já elogiada e melhor mini de todas, apenas Minutemen, Ozymandias e Moloch tiveram relação pra valer com a série original. Os encadernados da Espectral, do Coruja e do Dollar Bill são meramente divertidas: utilizam personagens, mas sem nada que interfira – ou fira – os conceitos de Moore. Já Rorschach e Comediante – acho que as duas mais esperadas por todos – terminaram em terríveis decepções. A do soldado, inclusive, ainda tem o agravante de ter a pior arte.
Em todos os encadernados foi publicado trechos de uma história chamada A Condenação do Corsário Carmesim, escrita por Len Wein e co-escrita e desenhada por John Higgins, colorista da série original. Chata, desnecessária, desinteressante, previsível. No começo, até que a arte merecia atenção, mas mesmo esta foi relaxando com o tempo.
Mesmo sendo a última, não se esqueça que, só por adquirir esta edição:
Agora, licença que preciso ir numa sessão de descarrego pra não ser atingido pela bruxa má de Northampton.
Uia! Consegui comentar no trabalho!
Vagabundo!