Eis que, finalmente, apareceu um alento?
Quem tem acompanhado minhas resenhas sobre Antes de Watchmen (se não viu, confira as anteriores, sobre Coruja, Espectral e Rorschach) sabe que sou fã, mas não um fundamentalanmoorista. Por isso mesmo, não vi nenhum crime ou pecado em se fazer prequels sobre Watchmen. Detestaria que alterassem a história original ou que traçassem um futuro que contradissesse o que foi mostrado. Mas explorar o passado? Ok!
O problema tem sido a baixa qualidade dos textos apresentados até aqui. Além de tramas pífias, fiquei decepcionado com a falta de atenção com detalhes demonstrados pelos roteiristas (Azzarello especialmente). Apesar de a arte agradar, cheguei a considerar a possibilidade de parar com a empreitada. Bom, posso dizer que fiquei feliz em não ter feito isso… por enquanto.
Tudo porque a edição dedicada ao único herói verdadeiramente super do universo construído por Alan Moore e Dave Gibbons me agradou. Claro que se pode dizer que o personagem ajudou. Afinal, é um dos mais fascinantes de Watchmen. Mas Rorschach também o é e estrelou aquela que considero a pior de todas as histórias até agora.
A história começa com o Dr. Manhattan assistindo a um velório e relembrando coisas do seu passado enquanto reflete sobre o experimento mental do Gato de Schröndinger.
Desta forma, o poderosíssimo ser resolve fazer algo diferente: “dobrar” o tempo e assistir o momento do seu “nascimento”, ou seja, o instante em que o cientista Jon Osterman é acidentalmente trancado dentro da câmara de testes para experimentos de campo intrínseco (até ali, ele sempre “existiu” simultaneamente no presente e no passado, mas como Manhattan). Mas é aí que algo extraordinário acontece: ele assiste, assombrado, Osterman sair da sala antes que a mesma fosse automaticamente fechada.
A partir daí, o Doutor, de forma que ele mesmo não consegue explicar a princípio, começa a assistir a formação de diversas realidades paralelas que surgem a partir da cada decisão que Osterman toma (mesmo as mais banais, como escolher a porta da esquerda ou da direita). Ou seja, Manhattan, sem querer, alterou a própria física quântica: se antes a existência de um observador eliminava as realidades paralelas que coexistiam, agora elas permanecem e se multiplicam.
De comum em todas elas, está o fato de que o mundo termina em uma guerra nuclear. Crente de que a sua não-existência é o fato que provoca o fim de tudo, o Dr. Manhattan age de uma forma que interfere em Watchmen sem a macular, de forma eficiente e – pasmem! – entregando uma explicação convincente para uma pergunta que deve ter ocorrido a um ou outro leitor da obra master: como Jon Osterman, um físico que trabalhava todos os dias com a câmara de testes e relojoeiro, ignorou o perigo e o tempo e se trancou dentro dela?
Ainda assim, o melhor vem no final, quando Manhattan percebe que, apesar de seus esforços e sacrifícios, a realidade em que ele existe também se encontra sob ameaça. Por isso, procura a única pessoa que acredita estar à sua altura para uma conversa deste nível: Ozymandias, o homem mais inteligente do mundo. Neste momento, Stracynski e Hughes utilizam um artifício simples e competente pra mostrar a mudança do ponto de vista da obra, que passa do antigo Jon para Adrian Veidt. E, assim, a mini é conectada a trama principal da criação original de forma competente.
Parecendo ser confusa em algumas passagens, na verdade Antes de Watchmen – Dr. Manhattan não o é. A “confusão” é proposital e parecida com a forma com que Moore trabalhou o personagem. Straczynski brinca com alguns conceitos, mas tem juízo suficiente pra saber até onde pode ir. Afinal, como ele mesmo deixou claro na obra analisada, mesmo seres onipotentes devem tomar cuidado quando brincam com a realidade.
Uma mini que devolveu minha vontade de continuar acompanhando o projeto. Boas sacadas (a explicação para o capacidade de teleporte do Dr. Manhattan é fascinante!), respeito aos conceitos estabelecidos (Manhattan e Ozymandias “falam” exatamente da mesma forma como foram criados) e arte de Adam Hughes, que deixa de lado a sua especialidade (desenhar mulheres espetaculares) pra criar alguns quadros fantásticos e utilizar alguns recursos que valorizam a obra como um todo.
Mesmo valendo a pena, caso você compre é bom se lembrar:
Algo se salva então…
Realmente, gostei tanto da parte científica como o momento em que une a mini com a série original.
sei não viu
É, mais ou menos, mais ou menos! Só que ainda continua sendo “Antes de Watchmen”, então…
Mas realmente esta valeu a pena. Agora, o próximo trabalho do Azzarello…
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