Iluminamos: Antes de Watchmen – Dr. Manhattan

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Eis que, finalmente, apareceu um alento?

Quem tem acompanhado minhas resenhas sobre Antes de Watchmen (se não viu, confira as anteriores, sobre Coruja, Espectral e Rorschach) sabe que sou fã, mas não um fundamentalanmoorista. Por isso mesmo, não vi nenhum crime ou pecado em se fazer prequels sobre Watchmen. Detestaria que alterassem a história original ou que traçassem um futuro que contradissesse o que foi mostrado. Mas explorar o passado? Ok!

O problema tem sido a baixa qualidade dos textos apresentados até aqui. Além de tramas pífias, fiquei decepcionado com a falta de atenção com detalhes demonstrados pelos roteiristas (Azzarello especialmente). Apesar de a arte agradar, cheguei a considerar a possibilidade de parar com a empreitada. Bom, posso dizer que fiquei feliz em não ter feito isso… por enquanto.

Tudo porque a edição dedicada ao único herói verdadeiramente super do universo construído por Alan Moore e Dave Gibbons me agradou. Claro que se pode dizer que o personagem ajudou. Afinal, é um dos mais fascinantes de Watchmen. Mas Rorschach também o é e estrelou aquela que considero a pior de todas as histórias até agora.

O roteirista J. Michael Straczynski é, para o bem e para o mal, surpreendente. Quando não se espera nada, ele conta boas histórias (como a primeira fase dele com o Homem-Aranha, a passagem pelo Thor e, claro, Esquadrão Supremo). Quando se cria expectativa, ele decepciona (o resto da sua fase no Aranha e sua passagem pelo superman foram podres). Em Antes de Watchmen, ele tem demonstrado duas coisas: que conhece - e respeita! - o material original e que está longe de ser um escritorzinho burro como muitos que estão por aí.
O roteirista J. Michael Straczynski é, para o bem e para o mal, surpreendente. Quando não se espera nada, ele conta boas histórias (como a primeira fase dele com o Homem-Aranha, a passagem pelo Thor e, claro, Esquadrão Supremo). Quando se cria expectativa, ele decepciona (o resto da sua fase no Aranha e sua passagem pelo Superman foram podres). Em Antes de Watchmen, ele tem demonstrado duas coisas: que conhece – e respeita! – o material original e que está longe de ser um escritorzinho burro como muitos que estão por aí.

A história começa com o Dr. Manhattan assistindo a um velório e relembrando coisas do seu passado enquanto reflete sobre o experimento mental do Gato de Schröndinger.

Erwin Schrödinger, físico austríaco com importante contribuições no campo da mecânica quântica. Ganhou um Nobel pela Equação de Schrödinger e ficou famoso pelo experimento mental do Gato de Schrödinger. Este se baseia em uma caixa sem nenhuma transparência, com um contador geiger, um martelo e um frasco de veneno. Se o contador geiger for ativado pelo surgimento de alguma partícula de radiação, o martelo se moverá e quebrará o frasco de veneno. Um gato é colocado dentro desta caixa, que é fechada. Sendo assim, não se pode saber se o gato está vivo ou morto dentro da caixa. Baseando-se no Princípio da Incerteza de Heinsenberg, Schrödinger defendia que as duas possibilidades - gato vivo e gato morto - existem simultaneamente, até que alguém abra a caixa e constate se o gato está vivo ou não. Em outras palavras, sem um observador, temos duas situações ocorrendo simultaneamente. A presença de um observador - ou seja, a caixa aberta - automaticamente elimina um dos estados e o gato estará vivo ou morto. Desta forma, o cientista tentou mostrar para os leigos como um mínimo de interferência (ou seja, até o simples ato de observar) elimina as realidades paralelas que, a mecânica quêntica acredita, existem no mundo subatômico.
Erwin Schrödinger, físico austríaco com importantes contribuições no campo da mecânica quântica. Ganhou um Nobel pela Equação de Schrödinger e ficou famoso pelo experimento mental do Gato de Schrödinger. Este se baseia em uma caixa de aço, sem nenhuma transparência, com um contador geiger, um martelo e um frasco de veneno. Se o contador geiger for ativado pelo surgimento de alguma partícula de radiação, o martelo se moverá e quebrará o frasco de veneno. Um gato é colocado dentro desta caixa, que é fechada. Sendo assim, não se pode saber se o gato está vivo ou morto dentro da caixa, pois não se tem certeza se alguma radiação acionou o contador geiger. Baseando-se no Princípio da Incerteza de Heinsenberg, Schrödinger defendia que as duas possibilidades – gato vivo e gato morto – existem simultaneamente, até que alguém abra a caixa e constate se o gato está vivo ou não. Em outras palavras, sem um observador, temos duas situações ocorrendo simultaneamente. Abrir a caixa e olhar seu conteúdo automaticamente elimina um dos estados e o gato estará vivo ou morto. Desta forma, o cientista tentou mostrar para os leigos como um mínimo de interferência (ou seja, até o simples ato de observar) elimina as realidades paralelas que, a mecânica quântica acredita, existem no mundo subatômico. Pode acreditar: o conceito de realidades paralelas tão explorado nos quadrinhos é baseado na mecânica quântica.

Desta forma, o poderosíssimo ser resolve fazer algo diferente: “dobrar” o tempo e assistir o momento do seu “nascimento”, ou seja, o instante em que o cientista Jon Osterman é acidentalmente trancado dentro da câmara de testes para experimentos de campo intrínseco (até ali, ele sempre “existiu” simultaneamente no presente e no passado, mas como Manhattan). Mas é aí que algo extraordinário acontece: ele assiste, assombrado, Osterman sair da sala antes que a mesma fosse automaticamente fechada.

Um dos quadros estupendos feitos por Adam Hughes. Laura Martin, pra variar, foi espetacular na colorização.
Um dos quadros estupendos feitos por Adam Hughes. Laura Martin, pra variar, foi espetacular na colorização.

A partir daí, o Doutor, de forma que ele mesmo não consegue explicar a princípio, começa a assistir a formação de diversas realidades paralelas que surgem a partir da cada decisão que Osterman toma (mesmo as mais banais, como escolher a porta da esquerda ou da direita). Ou seja, Manhattan, sem querer, alterou a própria física quântica:  se antes a existência de um observador eliminava as realidades paralelas que coexistiam, agora elas permanecem e se multiplicam.

De comum em todas elas, está o fato de que o mundo termina em uma guerra nuclear. Crente de que a sua não-existência é o fato que provoca o fim de tudo, o Dr. Manhattan age de uma forma que interfere em Watchmen sem a macular, de forma eficiente e – pasmem! – entregando uma explicação convincente para uma pergunta que deve ter ocorrido a um ou outro leitor da obra master: como Jon Osterman, um físico que trabalhava todos os dias com a câmara de testes e relojoeiro, ignorou o perigo e o tempo e se trancou dentro dela?

Os autores sempre martelam a questão do tempo, como Moore fez no capítulo 4 de Watchmen (Relojoeiro). Particularmente, sempre achei que havia algo estranho neste acidente: Osterman diz que esqueceu o avental com o relógio quando estava reajustando a câmara e entra na câmara esquecendo a hora em que amesma estava programada pra ser fechada? Logo ele, eum sujeito que tinha fascinação por relógios e pelo tempo?
Os autores sempre martelam a questão do tempo, como Moore fez no capítulo 4 de Watchmen (Relojoeiro). Particularmente, sempre achei que havia algo estranho neste acidente: Osterman diz que deixou o avental com o relógio quando estava reajustando a câmara e entra na mesma esquecendo a hora em que ela estava programada pra ser fechada?

Ainda assim, o melhor vem no final, quando Manhattan percebe que, apesar de seus esforços e sacrifícios, a realidade em que ele existe também se encontra sob ameaça. Por isso, procura a única pessoa que acredita estar à sua altura para uma conversa deste nível: Ozymandias, o homem mais inteligente do mundo. Neste momento, Stracynski e Hughes utilizam um artifício simples e competente pra mostrar a mudança do ponto de vista da obra, que passa do antigo Jon para Adrian Veidt. E, assim, a mini é conectada a trama principal da criação original de forma competente.

A fragmentação da realidade é o tema explorado em três dos quatro capítulos da mini. Apesar de ser feita de forma competente, o melhor ainda ficou para a última parte, com sua alusão direta a Watchmen.
A fragmentação da realidade é o tema explorado em três dos quatro capítulos da mini. Apesar de ser feita de forma competente, o melhor ainda ficou para a última parte, com sua alusão direta a Watchmen. No exemplo, note um dos artifícios de Hughes: nas páginas que fazem referência ao(s) passado(s), as mesmas são trabalhadas de forma a parecerem velhas, amareladas, sujas.

Parecendo ser confusa em algumas passagens, na verdade Antes de Watchmen – Dr. Manhattan não o é. A “confusão” é proposital e parecida com a forma com que Moore trabalhou o personagem. Straczynski brinca com alguns conceitos, mas tem juízo suficiente pra saber até onde pode ir. Afinal, como ele mesmo deixou claro na obra analisada, mesmo seres onipotentes devem tomar cuidado quando brincam com a realidade.

Adam Hughes disse que ficou espantado quando foi chamado para desenhar a mini do Dr. Manhattan. Segundo ele, achava que, até pela imagem que ele tinha junto ao público, seria convidado a trabalhar com a Espectral. No entanto, topou o desafio depois de uma papo com Straczynski.
Adam Hughes disse que ficou espantado quando foi chamado para desenhar a mini do Dr. Manhattan. Segundo ele, achava que, até pela imagem que tinha junto ao público, seria convidado a trabalhar com a Espectral. No entanto, topou o desafio depois de uma papo com Straczynski.

Uma mini que devolveu minha vontade de continuar acompanhando o projeto. Boas sacadas (a explicação para o capacidade de teleporte do Dr. Manhattan é fascinante!), respeito aos conceitos estabelecidos (Manhattan e Ozymandias “falam” exatamente da mesma forma como foram criados) e arte de Adam Hughes, que deixa de lado a sua especialidade (desenhar mulheres espetaculares) pra criar alguns quadros fantásticos e utilizar alguns recursos que valorizam a obra como um todo.

Antes de Watchmen - Dr. Manhattan. Roteiro de J. Michael Stracynski. Arte de Adam Hughes. Editora original DC Comics. Editora no Brasil Panini. 108 páginas, R$ 12,90.
Antes de Watchmen – Dr. Manhattan. Roteiro de J. Michael Stracynski. Arte de Adam Hughes. Editora original DC Comics. Editora no Brasil Panini. 108 páginas, R$ 12,90.

Mesmo valendo a pena, caso você compre é bom se lembrar:

coruja8

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 8 comentários

    1. JJota

      Realmente, gostei tanto da parte científica como o momento em que une a mini com a série original.

  1. toddy

    É, mais ou menos, mais ou menos! Só que ainda continua sendo “Antes de Watchmen”, então…

    1. JJota

      Mas realmente esta valeu a pena. Agora, o próximo trabalho do Azzarello…

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