Top X – 5 Filmes sobre a Guerra do Vietnam

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Nunca gostei da grafia “Vietnã”.

Neste ano foram completados 40 anos do término do conflito que, creio, perde apenas para a Segunda Guerra Mundial no quesito “filmes de guerra” de Hollywood. No entanto, se no conflito de 1939-1945 dificilmente se escapa do roteiro fácil jovens americanos superando dificuldades e marchando rumo à vitória, o tema envolvendo o Vietnam sempre se mostrou bem mais pantanoso, pois, afinal, os Estados Unidos perderam este conflito.

Cresci assistindo filmes de guerra, especialmente aqueles que têm como pano de fundo o conflito envolvendo os sul-vietnamitas (com ajuda americana) e o vietcongue (com auxílio norte-vietnamita). Por isso, resolvi fazer uma pequena lista com os cinco filmes que eu mais gostei de assistir com esta temática.

05 – Hamburger Hill

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Idem. Diretor: John Irvin. Roteiro: James Carabatsos. Com Dylan McDermott, Don Cheadle, Steven Weber, Courtney B. Vance, Michael Boatman, Michael Dolan e Michael A. Nickles. RKO Pictures. EUA, 1987, 112 minutos.

A primeira coisa que me chamou a atenção neste filme é ele narrar um episódio real: o assalto do 3º Batalhão do 187º Regimento de Infantaria dos EUA contra a Colina 937, controlada pelo Exército Norte-Vietnamita, auxiliado por unidades Vietcongues, em 1969. Além da violência marcante, necessária para recriar com perfeição um combate que fez com que soldados americanos se sentissem “carne de hambúrguer”, o filme toca em algumas questões delicadas, como o despreparo dos recrutas. Fico chocado sempre que revejo a cena em que helicópteros metralham as próprias tropas norte-americanas que subiam a colina por confundirem seus companheiros, por causa dos uniformes sujos de lama, com inimigos. Outro ponto explorado são os erros do comando americano, que sacrifica soldados de forma idiota, desdenhando da capacidade material do inimigo e abusando de táticas perigosas, que poderiam ter sido evitadas com um melhor trabalho de inteligência sobre o local. É bom lembrar que a referida Colina foi posteriormente abandonada por ser considerada “sem interesse estratégico”, tornando o sacrifício, além de extenso, inútil. Outro plot que merece destaque é a oposição desnecessariamente hostil que os soldados enfrentam em casa, onde são tratados pelos próprios conterrâneos como assassinos (como se, de certa forma, os soldados envolvidos no combate não fossem tão vítimas das circunstâncias quanto os próprios vietnamitas). É comovente o momento em que um soldado recebe uma carta da namorada pondo fim à relação deles por conta da influência dos amigos universitários dela. Curiosidade: a oposição radical ao conflito era encabeçado por universitários por conta da legislação norte-americana, que permitia aos mesmos “prorrogações de recrutamento”, livrando-os, assim, de serem enviados para o Sudeste Asiático. Desta forma, não é absolutamente injusto dizer que a Guerra do Vietnam terminou sendo uma guerra de pobres contra pobres.

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No elenco, podemos destacar, ainda em início de carreira, Don Cheaddle (o Máquina de Combate dos filmes da Marvel) e Dylan McDermott (que teve papel de destaque na primeira temporada de American Horror Story).

 

04. Fomos Heróis

We Were Soldiers.
We Were Soldiers. Direção e roteiro: Randall Wallace. Com Mel Gibson, Sam Elliott, Madeleine Stowe, Luke Benward, Chris Klein, Ryan Hurst, Barry Pepper, Alan Dale, Don Duong, Greg Kinnear, Jon Hamm, Mike White, Desmond Harrington e Jsu Garcia. Icon Entertainment International. EUA, 2002, 106 minutos.

Baseado no livro We Were Soldiers Once… and Young, de Hal Moore, narra a Batalha de Ia Drang, o primeiro grande confronto entre forças americanas (mais precisamente batalhões do 5º e do 7º Regimentos de Cavalaria) e norte-vietnamitas. É o projeto que reuniu novamente Randall Wallace e Mel Gibson, respectivamente roteirista e diretor/protagonista de Coração Valente (Braveheart, 1995). É um filme recheado de clichês patrióticos (até os americanos mais idiotas são “heróis”), mas tem a decência de não transformar o inimigo na face selvagem do mal, preferindo mostrá-los como inteligentes, organizados e bem armados, dando a eles mais humanidade do que a maioria dos filmes já tinham feito até então. Algo que gosto muito nesta obra é quando alternam as cenas de batalha (muito bem feitas – e em uma resolução horizontal de 2.048 pixels!) com outras focando as esposas dos oficiais envolvidos no combate, que vivem juntas em uma base e dividem a tensão e o sofrimento, quando um táxi amarelo aparece para entregar as cartas de condolências pelos maridos mortos.

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Mel Gibson

Mesmo podendo ser considerado insuportavelmente patriótico para os anti-americanos, o filme não deixa de abordar a falta de preparo do comando ianque para o que iriam encontrar no Vietnam e aponta como a política interfere nas ações de combate (há uma cena em que o Tenente Coronel Hal Moore – papel de Gibson, claro – é chamado para retornar à base porque “Washington não quer perder um coronel”).

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Gibson e Sam Elliott

Além do trabalho correto de Mel Gibson, também se destaca o  Sargento Basil Plumley, interpretado por Sam Elliott, o típico soldado durão, com serviços prestados ao longo dos anos, na Segunda Guerra, na Coréia e no Vietnam. Ele teria sido uma das inspirações para o Sargento Tom Highway, interpretado por Clint Eastwood em O Destemido Senhor da Guerra (Heartbreak Ridge, 1986).

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O filme evita duas armadilhas fáceis que se tornaram comuns. A primeira é demonizar o inimigo, tornando-o uma criatura sanguinária e selvagem. Há violência extrema, sim, mas adotada por ambos os lados no combate. A outra é mostrar os norte-vietnamitas como guerreiros semi-bárbaros, sem disciplina, tática ou armamento adequado.

Talvez seja um dos filmes com maior “material bruto” de que se tem notícia: 150 horas, ou mais de duzentos e cinquenta mil metros de filme!

 

03. Querida América – Cartas do Vietnam

Dear America: Letters Home from Vietnam
Dear America: Letters Home from Vietnam. Direção: Bill Couturié. Roteiro: Bernard Edelman, Bill Couturié e Richard Dewhurst. Com (vozes) Elizabeth McGovern, Harvey Keitel, Ellen Burstyn, Randi QuaidHoward E. Rollins Jr., Kathleen Turner, Richard Chaves, Josh Cruze, Ray RobertsonMartin Sheen, Brian DennehyJ. Kenneth Campbell, Fred Hirz, Kevin Dillon, Eric Roberts, John Savage, Raphael SbargeMichael J. Fox, Robert de Niro, John Heard, Tico WellsSean Penn, Roger Steffens, Tucker SmallwoodRobert Downey Jr., Jim Tracy, Marc HarmonTom Berenger, Judd NelsonWillem Dafoe, Tim QuillMatt Dillon e Robin Williams. EUA, 1987, 84 minutos.

Durante anos, Corações e Mentes (Hearts and Minds, 1974), de Peter Davis, foi considerado “o” documentário sobre a Guerra do Vietnam.  Apesar de reconhecer a importância histórica do mesmo, tenho minhas reservas, principalmente por achar que o diretor faz força demais para provar o ponto de vista que ele adota (embora não chegue a ser desonesto e apelativo como os “documentários” do senhor Michael Moore, claro).

Já Querida América – Cartas do Vietnam é muito mais histórico. Cobre – utilizando imagens reais de combate, home vídeos amadores e antigas reportagens de TV – ano a ano do envolvimento dos Estados Unidos no conflito, inclusive listando as baixas e o total de soldados ianques no país em cada período. Informação não é novidade para os fãs de documentários, mas a obra de Bill Couturié destaca-se pelo emocional. Ao chamar diversos atores famosos para ler cartas enviadas e recebidas pelos soldados, ele mostra um panorama pouco explorado, que humaniza – para o bem e para o mal – não apenas os – quase sempre – jovens militares norte-americanos, como também suas famílias e sua própria nação.

"Não conte pra mamãe, mas acho que não vou sair dessa vivo."
“Não conte pra mamãe, mas acho que não vou sair dessa vivo.”

Com uma trilha sonora simplesmente EXTRAORDINÁRIA, as cartas cobrem praticamente tudo o que é vivido pelos EUA durante seus anos de envolvimento no conflito. Desde o início do que parecia ser uma intervenção simples, praticamente um desfile militar (o que sempre foi uma rematada mentira ou, no mínimo, uma prova de completa insensatez do governo americano, visto que se tratava do mesmo povo que havia enfrentado japoneses e derrotado os franceses), até o amargo final (em que se optou pela truculência extrema para conseguir uma trégua sem vergonha que permitisse a retirada das forças estadunidenses, com os sul-vietnamitas entregues à própria sorte). É muito interessante ver como, à medida que o conflito se arrasta, os recrutas deixam de se ver como corajosos militares convictos de suas habilidades e certos de sua segurança e da retidão de sua posição e passam a se retratar ora como exterminadores assombrados, ora como homens que se consideram perto da morte, questionando os motivos para sacrificarem suas vidas por um país que nada representa para eles e por um povo que não os quer.

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As cartas alternam momentos de seriedade, patriotismo, bom humor, confessionário e saudades.O momento maior fica para o fim, em uma carta que uma mãe deixa para o filho – morto há alguns anos – no Monumento aos Veteranos do Vietnam. Utilizando uma linguagem simples valorizada por uma interpretação dilacerante, fala da estupidez das táticas militares adotadas, em que as tropas eram mandadas ao campo para atrair o inimigo a fim de que o mesmo se expusesse à artilharia e à Força Aérea, e como isso fazia com que os homens aos poucos ocultassem a sua covardia libertando a sua maldade, tornando-se cada vez mais cruéis. E termina com uma despedida perturbadora, lembrando que as famílias são as vítimas quase sempre esquecidas das guerras: “Mas disto eu tenho certeza: prefiro ter tido você por 21 anos e ter sofrido a imensa dor da sua perda do que nunca ter tido você.”

 

 Indispensável.

02.  Nascido para Matar

Full Metal Jacket, 1987. Direção Stanley Kubrick. Roteiro: Stanley Kubkick, Gustav Hasford e Michael Herr. Com Matthew Modine, Vicente D'Onofrio, R. Lee Ermey, Adam Baldwin, Jon Stafford, Ed O'Ross, Bruce Boa, Arliss Howard, Papillon Soo, Kieron Kecchinis, John Terry, Kirk Taylor, Dorian Harewood e Kevin Major Howard. Warner Bros. EUA, 1987, 117 minutos.
Full Metal Jacket. Direção: Stanley Kubrick. Roteiro: Stanley Kubkick, Gustav Hasford e Michael Herr. Com Matthew Modine, Vicente D’Onofrio, R. Lee Ermey, Adam Baldwin, Jon Stafford, Ed O’Ross, Bruce Boa, Arliss Howard, Papillon Soo, Kieron Kecchinis, John Terry, Kirk Taylor, Dorian Harewood e Kevin Major Howard. Warner Bros. EUA, 1987, 117 minutos.

Nascido para Matar é dividido em duas partes: a primeira se passa em um campo de treinamento de recrutas e a outra na cidade de Hue (na verdade, Londres, em áreas destinadas a demolição), durante a Ofensiva do Tet. A comparação entre as duas fases (que são separadas por um pequeno intermezzo), mesmo para os defensores da obra inteira, sempre tendem a destacar a primeira. Não que o resto do filme seja ruim. Mas a intensidade da parte inicial – reforçada pela atuação extraordinariamente enojante de R. Lee Ermey e pelo enquadramento claustrofóbico adotado – torna a segunda quase anti-climática, embora necessária para complementar a mensagem.

R. Lee. Ermey, um ex-fuzileiro, foi contratado como consultor militar. Impressionado com um vídeo em que ele dizia como agia um sargento durante o processo de treinamento de novos recrutas, Kubrick deu a ele o papel do fanático Sargento Hartmann, que antes era de Tom Colvery. Ermey aparece em algumas cenas sem mover o braço esquerdo: ele sofreu um acidente automobilístico durante as filmagens, onde quebrou várias costelas - que atrasou as filmagens em cerca de quatro meses - e ficou impossibilitado de mover o citado membro.
R. Lee. Ermey, que foi fuzileiro por 11 anos (14 meses no Vietnam), foi contratado como consultor e, posteriormente, demitido. Inconformado por ter sido desligado do projeto, ele fez um vídeo explicando como deveria agir o sargento responsável pelo treinamento de recrutas para o combate.Impressionado, Kubrick deu a ele o papel do fanático Sargento Hartmann, que antes era de Tim Colceri (que pode ser visto como o metralhador no helicóptero que diz ser mais fácil atirar em mulheres e crianças: “É só mirar na frente!”). Os demais atores foram proibidos de confraternizar com ele nos intervalos. Ermey aparece em algumas cenas sem mover o braço esquerdo: ele sofreu um acidente automobilístico durante as filmagens, onde quebrou várias costelas – o que atrasou as filmagens em cerca de quatro meses – e ficou impossibilitado de mover o citado membro.

Este foi o penúltimo filme de Stanley Kubrick, que escreveu o roteiro junto com Michael Herr (correspondente de guerra que já havia auxiliado na confecção do roteiro de Apocalypse Now) e Gustav Hasford (ex-fuzileiro e correspondente, autor do pequeno livro The Short Timers, que serviu de argumento). Juntando todo o tempo dedicado ao projeto, Stanley levou quatro anos trabalhando no mesmo. Apenas na escolha do elenco ele assistiu a mais de 800 vídeos (de cerca de 3.000 recebidos), onde atores falavam um pouco de si e faziam uma pequena atuação livre.

Vincent D'Onofrio, o novo Rei do Crime, engordou 30 quilos para o papel do retardado Recruta Pyle. É dele a frase que dá o título original ao filme, e que faz uma alusão ao fato de terem se tornado, com o treinamento, máquinas de matar revestidas de aço.
Vincent D’Onofrio, o novo Rei do Crime, engordou 30 quilos para o papel do retardado Recruta Pyle. É dele a frase que dá o título original ao filme, uma referência a uma munição de chumbo (material “mole”, mas ainda assim mortal) com revestimento de cobre (material “duro”) que faz alusão ao soldado, cuja humanidade (material “mole”, mas ainda assim mortal – afinal, é o medo de morrer que ajuda o homem a tomar decisões inesperadas), através do treinamento, deve ser “encapsulada” pela crueldade (material “duro”).

Um erro nas análises é achar que Stanley Kubrick está simplesmente usando um evento histórico para abordar uma temática que permeia boa parte de sua obra: a desumanização. Ele é mais inteligente que isso: não escolheu o conflito vietnamita à toa. Diferente do que ocorreu em todas as guerras que as forças armadas norte-americanas tinham lutado até então, o conflito vietnamita caracterizou-se por uma tática diferente da conquista e ocupação de território. Sem poder invadir o Vietnam do Norte – por temor das reações da União Soviética e, principalmente, da China -, foi adotada uma estratégia chamada busca e destruição (search and destroy). Ou seja, os norte-americanos, calcados principalmente em uma supostamente larga superioridade material (principalmente o uso do helicóptero para o deslocamento de tropas), tinham como objetivo causar danos máximos ao inimigo para forçá-lo às negociações em bases interessantes. Com o tempo, dada à impossibilidade da Força Aérea de impedir a chegada de material bélico aos guerrilheiros, a coisa radicalizou-se ao ponto de ter, como objetivo, simplesmente a destruição do inimigo. Isto, aliado ao pouco tempo dedicado à formação dos convocados, fez com que o treinamento focasse realmente na formação de assassinos. O fuzileiro norte-americano no Vietnam era um exterminador, acima de tudo. E é isso que o treinamento do Sargento Hartmann busca: desumanizar os recrutas, retirando tudo o que poderia fazer deles gente (incluindo seus nomes, substituídos por apelidos quase sempre depreciativos) e transformando-os em perfeitas máquinas de matar, pouco importando suas deficiências sociais, morais ou mentais. A segunda parte serve principalmente para mostrar o “sucesso” desta abordagem e como o conflito em si terminou o trabalho do Sargento no caso específico do Soldado Gaiato (Matthew Modine, em um papel que seria de Anthony Michael Hall e que também foi disputado por Val Kilmer), ao provar, com o ataque do franco-atirador, como os sentimentos são perigosos neste “mundo de merda”.

Apesar de tudo, Nascido para Matar apresenta uma ´serie de erros, desde mostrar a sombra das câmeras até equívocos no figurino dos soldados e erros de sincronização de sons.
Nascido para Matar apresenta uma série de erros, desde mostrar a sombra das câmeras até equívocos no figurino dos soldados e falta de sincronização entre imagens e sons.

Há duas “cenas musicais” que são marcantes e resumem a mensagem do filme. A primeira é a abertura, onde o início do processo de perda da individualidade é mostrado com os recrutas recém-chegados ao campo de treinamento tendo seus cabelos raspados ao som de Hello Vietnam, composição de Tom T. Hall na voz de Johnny Wright.

 

Já no fim, vemos os soldados transformados em máquinas de guerra cantando o tema do Clube do Mickey (com erro na letra, pois a segunda voz no original canta “Donald Duck” em vez de “Mickey Mouse”!), que depois é emendado com a furiosa Paint it Black, dos Rolling Stones.

https://youtu.be/GxLyivolzxE

 

Por incrível que pareça, há uma cena final que foi cortada – e não apareceu nas edições especiais lançadas depois – porque o próprio diretor a achou “violenta demais”!

https://youtu.be/x9f6JaaX7Wg

 

01. Platoon

Platoon. Direção e roteiro: Oliver Stone. Com Charlie Sheen, Willem Dafoe, Tom Berenger, Forest Whitaker, Francesco Quinn, John C. McGinley, Keith David, Dale Dye, Paul Sanchez, Corey Glover, Richard Edson, Kevin Dillon, Johnny Depp, Mark Moses e Tony Todd. Hemdale Film Corporation. EUA, 1986, 120 minutos.
Platoon. Direção e roteiro: Oliver Stone. Com Charlie Sheen, Willem Dafoe, Tom Berenger, Forest Whitaker, Francesco Quinn, John C. McGinley, Keith David, Dale Dye, Paul Sanchez, Corey Glover, Richard Edson, Kevin Dillon, Johnny Depp, Mark Moses e Tony Todd. Hemdale Film Corporation. EUA, 1986, 120 minutos.

O jovem bem nascido Chris Taylor (Charlie Sheen) se alista voluntariamente para servir no Vietnam e lá se envolve em um estranho conflito, que divide o pelotão entre os partidários dos sargentos Barnes (Tom Berenger) e Elias (Willem Dafoe), enquanto se veem envolvidos em um cruel combate contra o inimigo.

Oliver Stone, visto acima em uma foto da época em que serviu no Vietnam, finalizou o roteiro em 1976 e passou quase dez anos tentando levantar o valor necessário para realizar o filme, enfrentando a convicção dos Estúdios de que o tema não seria algo "confortável" para o público norte-americano, que atravessava ainda o tortuoso caminho rumo a reaproximação entre os diversos setores da sociedade que se tornaram quase inimigos durante o conflito. Ele pode ser visto no filme, em uma atuação não creditada, no papel de um oficial que está em um bunker que é explodido durante a batalha noturna no fim da obra.
Oliver Stone, visto acima em uma foto da época em que serviu no Vietnam, finalizou o roteiro em 1976 e passou quase dez anos tentando levantar o valor necessário para realizar o filme, enfrentando a convicção dos Estúdios de que o tema não seria “confortável” para o público norte-americano, que atravessava ainda o tortuoso caminho rumo a reaproximação entre os diversos setores da sociedade que se tornaram quase inimigos durante o conflito. Ele pode ser visto no filme, em uma atuação não creditada, no papel de um oficial que está em um bunker que é explodido durante a batalha noturna no fim da obra. Este combate final é recriação de um real, que foi testemunhado por Dale Dye, ator e consultor do filme, que foi correspondente de guerra no Sudeste Asiático.

Apesar do que algumas pessoas – que defendem com unhas e dentes que Platoon “nunca será melhor que Nascido Para Matar, até porque este último é do Kubrick” – dizem, o filme de Oliver Stone possui um equilíbrio perfeito. É analítico e psicológico, mas foge da monotonia sendo dinâmico, impactante e com cenas de combate muito bem filmadas.

Charlie Sheen, entre Wille Dafoe e Tom Berenger, o trio principal do filme. É através dos olhos de Taylor, uma espécie de alter ego do diretor, que vemos a história. Jovem idealista, acredita que ao se oferecer voluntariamente para o Vietnam, está não apenas cumprindo sua obrigação com o seu país (como seu pai e seu avô fizeram em conflitos passados), como também demonstra seu inconformismo diante da ideia de que "apenas os pobres" lutam aquela guerra. Aos poucos, o idealismo vai cedendo e o jovem soldado passa a se preocupar apenas com a sua sobrevivência, chegando ao limite da perda da própria alma, enquanto se divide entre o corajoso e humano - mas desiludido - Elias e o valente e violento - mas traiçoeiro - Burnes.
Charlie Sheen, entre Willem Dafoe e Tom Berenger, o trio principal do filme. É através dos olhos de Taylor, uma espécie de alter ego do diretor, que vemos a história. Jovem idealista, acredita que ao se oferecer voluntariamente para o Vietnam, está não apenas cumprindo sua obrigação com o seu país (como seu pai e seu avô fizeram em conflitos passados), como também demonstra seu inconformismo diante da ideia de que “apenas os pobres” lutam aquela guerra. Aos poucos, o idealismo vai cedendo e o jovem soldado passa a se preocupar apenas com a sua sobrevivência, chegando ao limite da perda da própria alma, enquanto se divide entre o corajoso e humano – mas desiludido – Elias e o valente e violento – mas traiçoeiro – Barnes. O papel de Chris Taylor foi oferecido a Kyle Maclachlan (Twin Peaks), que recusou. Depois, Stone pensou em Johnny Depp, que terminou perdendo o papel para Sheen, mais velho e famoso que o futuro intérprete de  Jack Sparrow, que ficou no elenco em um papel menor. A escolha de Charlie também serviu para uma estranha homenagem, já que a narração de Taylor lembra a do personagem Capitão Willard, vivido por seu pai, Martin Sheen, em Apocalypse Now (1979).

Platoon é um filme incômodo, sendo surpreendente o sucesso que fez em todo o mundo, inclusive nos EUA (seis milhões de dólares de orçamento para uma arrecadação de cento e trinta e oito milhões de dólares apenas nos cinemas norte-americanos). Logo de saída, é jogado na cara do espectador algo que era lema no Vietnam: a vida de um novato não vale nada. Explica-se: em um conflito onde cada soldado pensava em, antes de mais nada, cumprir seu período de serviço e “voltar ao mundo”, poucos se encontravam dispostos a colocar o pescoço em risco para ajudar um recém-chegado a ganhar experiência. Isso – assim como o largo consumo de drogas, as disputas internas, a falta de respeito pelo povo e cultura locais, a indisciplina (em nenhuma outra guerra em que os norte-americanos se envolveram aconteceram tantos casos suspeitos de assassinato de militares, principalmente oficiais e sub-oficiais, por colegas da mesma nacionalidade) e a falta de sentido nas táticas militares – reflete a realidade do que foi a Guerra do Vietnam para a maioria dos integrantes das forças armadas estadunidenses que passaram por ali.

Vi críticas ao conflito entre Elias e Barnes, dizendo que ele tira foco da guerra em si e que romantiza o primeiro, tornando-o um soldado idealizado: perfeito em ação, mas ainda assim humano.
Vi críticas ao conflito entre Elias e Barnes, dizendo que tira foco da guerra em si e que romantiza o primeiro, tornando-o um soldado idealizado: perfeito em ação, mas ainda assim humano. Pura bobagem! Primeiro, porque se houvesse a imagem de “bonzinho” para Elias, ela seria compensada – e muito – pelo violento e amoral Barnes. Segundo, chega a ser cansativo ver a tendência das pessoas a misturarem visões políticas limitadas com a realidade. Acreditar que todos os soldados norte-americanos eram psicopatas é tão idiota quanto achar que todos os vietcongues eram heróis. Os massacres perpetrados após a vitória comunista e a reunificação do país, em 1975, provam o quanto esses conceitos “preto-e-branco” são limitados.

Contando com um elenco grande – com alguns nomes que se destacariam no futuro, como podemos ver aqui – que se reuniu duas semanas antes do início das filmagens na Filipinas para treinamento militar (com direito a corte de cabelo, turnos de vigia e noites mal dormidas em barracas), Stone optou pela filmagem linear, tal como a trama se desenrola na tela. Quando o personagem morria, o ator que o interpretava era então liberado pra retornar aos EUA. Dizem que o choro de Charlie Sheen na cena final é espontâneo, já que ele realmente estava aliviado por poder voltar para casa depois de mais de dois meses trabalhando no longa.

Os atores tiveram permissão para escrever o que bem entndessem nos seus capacetes. Johnny Depp fez uma homenagem à sua então namorada, colocando Sherilyn. Já Mark moses, que vive o Tenente Wolfe, desenhou Alfred E. Neuman, o mascote da revista MAD, com a frase "Me preocupar com o quê?". Já Charlie Sheen - talvez antecipando o humor escatológico que o marcaria no futuro - escreveu "Quando eu morrer, me enterrem de cabeça pra baixo para que o mundo possa beijar a minha bunda".
Os atores tiveram permissão para escrever o que bem entendessem nos seus capacetes. Johnny Depp fez uma homenagem à sua então namorada, colocando Sherilyn. Já Mark Moses, que vive o Tenente Wolfe, desenhou Alfred E. Neuman, o mascote da revista MAD, com a frase “Me preocupar com o quê?”. Por sua vez, Charlie Sheen – talvez antecipando o humor escatológico que o marcaria no futuro – escreveu “Quando eu morrer, me enterrem de cabeça pra baixo para que o mundo possa beijar a minha bunda”.

O cuidado na produção chegou ao extremo do diretor pedir a confecção de edições especiais dos maços de cigarro Marlboro: na época em que se passa a história, o tom vermelho da embalagem não correspondia ao que era utilizado nos anos 80.

A icônica imagem mostrando Elias erguendo as mãos para o céu foi copiada de uma foto do correspondente Art Greenspon, tirada em 1968.
A icônica imagem mostrando Elias erguendo as mãos para o céu foi copiada de uma foto do correspondente Art Greenspon, tirada em 1968, considerada uma das melhores imagens da guerra.

Platoon, em 1987, ganhou os Oscars de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Som e Melhor Montagem. Também foi indicado nas categoria Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Ator Coadjuvante. Nesta última, a derrota foi surpreendente, já que concorria duplamente: tanto Tom Berenger como Willem Dafoe foram indicados, mas perderam para Michael Caine por seu trabalho em Hannah e Suas Irmãs (Hannah and Her Sisters, 1986). Oliver Stone, como roteirista original, também havia sido indicado duplamente naquele ano: concorreu na categoria, além de Platoon, pelo seu trabalho em Salvador – O Martírio de um Povo (Salvador, 1986).

 

“Regozijai-vos, jovens, na sua juventude…”

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 24 comentários

  1. Anubis_Necromancer

    Achei que colocariam um filme do Ninja Americano chamado Soldier Boyz^^

      1. Anubis_Necromancer

        Não o citei, pq achei que só eu tivesse visto esse filme XD

        1. JJota

          Ha, eu já assisti cada merda só porque tinha “Vietnam” no título ou na contracapa do dvd…

          1. Kelen da Silva

            Oi gostaria de saber se vc já viu aquele filme que se não me engano tem o título de ”Vietnã” onde tem uma parte do filme que colocam uma mulher num tronco com formigas???
            Eu era criança quando olhei (acordei no meio da noite e tava dando na tv) e até hoje não consigo achar esse filme pra olhar novamente…
            Não tenho certeza se o nome do filme é mesmo Vietnã,por isso queria que vc me confirmasse ou se já viu,me dissesse o nome do filme.

            Se puder me ajudar eu agradeço!

  2. Matheus Wesley

    Esse Apocalipse now que sempre vejo o pessoal babando ovo,n entra não ?

    1. Concordo. Senti falta do Apocalipse Now, que, a meu ver, consegue ser melhor que Platoon, pois deixa por conta do espectador, decidir se o próprio filme é contra ou a favor da guerra do Vietnam. Platoon, ao contrário, apesar de ser um filmaço, perde pro filme do Coppola por isso mesmo: de cara, é um filme mais panfletário, decididamente anti-guerra.

      1. JJota

        É sempre uma questão de opinião. Já assisti e reassisti Apocalypse Now diversas vezes e nunca consegui curtir o filme. Ele tem cenas icônicas e tudo, mas não funciona como um todo para mim. Não está à altura – na minha opinião, claro – dos citados aqui.

          1. JJota

            Mas você não acha um filme irregular? Lembro de ter lido que foi uma filmagem problemática, com o Coppolla às turras com o Estúdio e boa parte dos atores aproveitando para se emaconharem à grande… Platoon tem uma história e um ritmo que nunca cai, mesmo quando explora os momentos de calmaria no acampamento. E, sinceramente, não achei o personagem do Brando marcante. E aquele final foi tão “peba”…

            Além disso, nem chega a ser um filme sobre a “guerra do vietnam”, visto que é uma adaptação de Coração das Trevas, do Joseph Conrad, tirando do Congo do Século XIX e trazendo para o Vietnam durante a intervenção norte-americana. Não curto mesmo.

          2. Colossus de Cyttorak

            Cara, eu acho que a irregularidade narrativa, coincidentemente, acaba casando com a temática. É um daqueles casos em que os percalços nas filmagens acabam tornando o filme melhor, como, por exemplo, o que aconteceu com o primeiro Guerra nas Estrelas.

          3. JJota

            Bom argumento. Eu, como disse, acho chato. Mas entendo quem gosta.

    2. JJota

      De certa forma, estava torcendo para que esta pergunta não aparecesse. A verdade é que… Velho, eu não curto Apocalypse Now, que acho que tem um ou outro grande momento, mas como um todo é um filme chato.

      1. Renver

        Que você não viu ele com cenas extendidas!!!!

        Precisa estar chapado pra apreciar… muito cansativo

        1. JJota

          Cara, eu passo. Como disse, não é um filme sobre a Guerra do Vietnam.

  3. Diego Evangelista

    Muito boa a sua seleção, amigo.
    Seu comentário a respeito de Platoon me fez enxergar o filme de outro modo.
    Inicialmente, achava um filme muito depressivo (principalmente aquela música do início), exatamente o oposto do que foi o conflito no Vietnam, pois já li no livro “Despachos do front” de que o Vietnam foi a “Guerra Rock n Roll”.
    Quanto a Fomos Heróis, no quesito ação ele é, ao lado de Resgate do Soldado Ryan e Falcão Negro em Perigo, um dos melhores filmes de guerra que há, entretanto, quem não simpatiza com os americanos é melhor não assisti-lo mesmo.
    Enfim, parabéns pelos seus comentários, foram muito bons mesmo.

    1. JJota

      Valeu, Diego. É pena que as pessoas às vezes deixem de assistir um filme bem feito por conta de posições políticas, mas cada um com suas manias…

  4. Harvey_o_Adevogado

    faltou “Trovão Tropical”. 🙂 o melhor de todos…

  5. Alexandre Tavares

    Colocaria na lista – OS GRITOS DO SILÊNCIO

    1. JJota

      Este filme – que eu curto bastante – foca no conflito do Camboja, não no Vietnam.

  6. renato

    Tem um filme mais recente chamado tunnel rats que até um pouco interessante

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