Iluminamos: Justiça

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Imagine um quadro terrível: seus inimigos se unem. Piore um pouco: eles descobrem a sua identidade secreta e o endereço de todo mundo que é importante pra você. Quer mais? Eles te colocam contra a opinião pública. E aí? Vai encarar?

Justiça é o projeto que reuniu a equipe artística de Universo X (não conhece? Veja aqui) em uma série para a DC. Utilizando a formação clássica da Liga da Justiça, Jim Krueger (argumento e roteiro), Alex Ross (argumento e tinta) e Doug Braithwaite (lápis) colocam os maiores heróis da DC enfrentando… a Legião do Mal (ainda que este nome não seja utilizado).

Artista por trás de obras como Marvels, Reino do Amanhã e a série de álbuns que homenageava os sessenta anos de alguns ícones da DC (Superman - Paz na Terra, Batman - Guerra ao Crime, Shazem - O Poder da Esperança e Mulher Marvailha - Espírito da Verdade, todos com roteiro de Paul Dini), também se engalou em projetos conhecidos, normalmente colaborando nos argumentos, criando designs e pintando capaz. Alguns destes projetos são Terra X (e suas sequências Universo X e Paraíso X) e Astro City. Sobre Justiça: "esta é uma carta de amor a um universo ficcional e tenta fazer justiça à sua inspiração."
Artista por trás de obras como Marvels (com roteiro de Kurt Busiek) e Reino do Amanhã (roteiro de Mark Waid), Alex Ross com os anos se acostumou a projetos em que colabora nos argumentos, cria designs e desenha as capas. Os mais famosos destes são Terra X e suas continuações – Universo X e Paraíso X – e Astro City (com Busiek). É conhecido também por desconsiderar a cronologia da DC de Crise nas Infinitas Terras pra frente. Sobre Justiça: “esta é uma carta de amor a um universo ficcional e tenta fazer justiça à sua inspiração.”

O projeto consumiu três anos e foi publicado bimestralmente em 12 edições nos EUA.

Os vilões, o verdadeiro destaque da série.
Os vilões, o verdadeiro destaque da série.

 

A história parte de um plot simples, porém inusitado: e se os maiores super-vilões do mundo se unissem e começassem a resolver os problemas que os heróis alegam não poder enfrentar? Se eles começassem a erradicar a fome, curar doenças, resolver os problemas das pessoas com deficiência física, transformar desertos em florestas…? Como o mundo reagiria?

Parceiro de trabalho constante de Alex Ross, o roteirista Jim Krueger se manifestou sobre Justiça da seguinte forma: "Se os vilões acham que são os verdadeiros heróis, onde isso deixa os heróis? Como eles enxergam a si próprios?"
Parceiro de trabalho constante de Alex Ross, o roteirista Jim Krueger se manifestou sobre Justiça da seguinte forma: “Se os vilões acham que são os verdadeiros heróis, onde isso deixa os heróis? Como eles enxergam a si próprios?”

Para piorar, Luthor e companhia não fazem segredo de suas ações e martelam a opinião pública com a ideia de que os super-heróis, na verdade, perpetuam problemas para continuarem a ser “necessários”.  A reação lenta destes, causada principalmente por uma série de atentados voltados contra suas identidades civis, ajuda a esquentar o clima pro lado deles.

Doug Braithwaite, responsável pelo lápis da série, afirmou: "Trabalhar em Justiça permitiu-me prestar homenagens a todos aqueles que trabalharam com a LJA clássica da minha infância (...)"
Doug Braithwaite, responsável pelo lápis da série, afirmou: “Trabalhar em Justiça permitiu-me prestar homenagens a todos aqueles que trabalharam com a LJA clássica da minha infância (…)”

Uma das coisas que sempre se pode destacar nos trabalhos de Alex Ross é o cuidado de não deixar certas questões ao acaso, tentando explicá-las de forma convincente. Aqui, há o cuidado de apresentar um motivo que leva pessoas com restrições a trabalho em equipe (uma fraqueza de personalidade dos vilões que é sempre citada em outras histórias) a se unirem. A manipulação da opinião pública é tão bem feita em alguns momentos que mesmo alguns “mocinhos” começam a questionar se realmente fazem tudo o que podem. E o leitor se pega pensando: “O Luthor está certo… Espere! O Luthor está certo!!!????!!!!”. E o desdobrar dos diversos planos paralelos que se desenvolvem simultaneamente é bem organizado, não entregando nada antes da hora.

A Liga da Justiça!
A Liga da Justiça!

Deixando claro que o desenho animado Superamigos é uma das principais fontes de inspiração, Ross e Braithwaite buscaram modernizar o visual dos membros da Legião, mas mantendo, basicamente, o adotado no programa infantil. É incrível como sujeitos como Brainiac, Grodd e Mulher-Leopardo ficaram intimidadores. Claro que Ross – que parece ter uma paixão por brincar com novos visuais – não resistiu e colocou uma ideia que justifica, a certo momento, que a Liga adote um visual “armadurado”. Ficou relativamente bacana, mas com exceções (a do Batman, assim como em Reino do Amanhã, ficou um lixo).

O visual "amadurado". Um pouco "japonês" demais pro meu gosto.
O visual “amadurado”. Um pouco “japonês” demais pro meu gosto.

E há uma grande participação de um sem número de personagens da DC. Novos Titãs, Patrulha do Destino, Homens Metálicos, Família Marvel, Renegados, Vingador Fantasma… Para fãs, é um prato cheio ficar se deparando com tantas referências.

Esboço dos vilões para a série. Observem que, apesar de atualizados, os artistas tentam ser o mais fiel possível ao visual do desenho animado Superamigos.
Amostra dos esboço dos vilões para a série. Os artistas tentaram aproveitar o máximo possível do visual do desenho animado Superamigos.

Defeitos? Acho que o maior de todos é a visão às vezes excessivamente reverente que Ross tem de alguns personagens. Se, nos primeiros números, você acha que ele finalmente colocará o Superman um pouco de lado, logo percebemos que, mais uma vez, o Homem de Aço estará à frente das ações (enquanto o Capitão Marvel, pra variar, é altamente manipulável outra vez). Isso, no entanto, não é tão ruim como ver o desperdício de esforço para tentar agregar importância em personagens de segunda linha como Aquaman. O aproveitamento anti-climático do Coringa também incomoda, apesar da justificativa plausível.

Mais uma vez, Ross desperdiça talento pra deixar claro - desnecessariamente - o quanto o Superman é melhor que o Capitão Marvel (Shazam uma po%%@!).
Mais uma vez, Ross desperdiça talento pra deixar claro – desnecessariamente – o quanto o Superman é melhor que o Capitão Marvel (Shazam uma po%%@!).

A Edição Definitiva é cara demais em termos absolutos. Mas, levando em consideração o formato e a qualidade da encadernação, ouso dizer que vale o investimento.

JUSTIÇA - Edição Definitiva. Argumento de Alex Ross e Jim Krueger. Roteiro de Jim Krueger. Lápis de Doug Braithwaite. Pintura de Alex Ross. Editora original DC Comics. Editora no Brasil Panini. 492 páginas. R$ 110,00.
JUSTIÇA – Edição Definitiva. Argumento de Alex Ross e Jim Krueger. Roteiro de Jim Krueger. Lápis de Doug Braithwaite. Pintura de Alex Ross. Editora original DC Comics. Editora no Brasil Panini. 492 páginas. R$ 110,00.

 

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 21 comentários

    1. JJota

      Como eu disse, o formato maior e qualidade da encadernação e do papel fazem valer a pena. A história também é muito boa. E todas as capas do Ross estão lá!

    1. JJota

      Mas vale a penas usar os bônus pra ter… É sério: a história é muito boa e a arte ficou bacana.

      1. Vintersorg

        eu tenho a mini em 12 parte e, sinceramente, acho que começa bem mas do meio pra frente achei nhé pra caralho.

        Preciso guardar a grana pra cofrar o Incal Definitivo (que tô namorando faz mais de 1 ano).

        2013/9/26 Disqus

        1. JJota

          Ah, se você já tem a mini, aí eu digo que não vale.

          E a história se arrasta mais ou menos entre a edição 7 e a10, com muito sub-trama desnecessária. Mas quem acompanha os trabalhos do Ross sabe que ele costuma fazer sempre isso (Universo X que o diga).

          Comprei o encadernado do Johns e do Gary Frank com o Superman. Conhece? Valeu a pena?

          1. Vintersorg

            aquele que reconta a origem do azulão pelo milionésima vez?
            não comprei.
            achei caro (média de 60 reais).

            Em 26 de setembro de 2013 17:21, Disqus escreveu:

          2. JJota

            Passei uns meses pensando também… Mas vi umas artes e, como bom velho rancoroso fã do Reeve, resolvi arriscar.

            Aliás, colecionar “origens” do Superman já dá uma coleção em si.

          3. Vintersorg

            ah, a arte do Frank é legal demais. O cara é excelente, fora as mulheres dele que são lindonas (e tem cara de puta)

            Em 26 de setembro de 2013 17:25, Disqus escreveu:

          4. SandroR

            Pena que a história em si é muito ruim.

          5. JJota

            Pior que O Legado das Estrelas?

          6. SandroR

            Acho Legado muito bom em comparação. Aliás, das últimas 4 origens das últimas 3 décadas, acho a melhor, mais pé no chão e que não ofende minha inteligência. A origem do Johns é só punheta na minha opinião.

          7. JJota

            Bom, então deviam trocar os desenhistas… O Leinyl, pra mim, fez um trabalho horroroso.

            E o coitado do Waid ainda teve que tentar fazer a história fazer sentido com aquela porcaria de Smallville.

  1. Bizarro

    Uma das coisa que eu adoro na DC, é que volta e meia ela volta a formação/cronologia clássica da Liga da Justiça, e consegue trabalhar muito bem com seus personagens, não só mostrando eles como Deuses, mas muitas vezes como Deuses Falhos. Não importa o que a DC ta fazendo agora, só por td que já fez, sempre foi e sempre será, a maior de todas.

    1. JJota

      Quando eu estava lendo esta obra, me lembrei do título que o Chapman deu a um livro que ele escreveu na prisão sobre o John Lennon “Deixem-me derrubá-lo!”.

      Foi bem a sensação que me deu aqui: em um determinado momento, os heróis da DC são esculachados de tal forma que mesmo entre eles surgem dúvidas sobre o bem que eles realmente fazem.

      Falta na DC de hoje alguém que reconheça que o problema nunca foram as cuecas por fora das calças!

    1. JJota

      Que nada. Usei meus bônus na LigaHQ.

      E esse encadernado me ganhou pela capa. A arte ficou muito boa, com várias páginas que mereciam uma moldura.

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