Iluminamos: Hercules

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Vamos concordar, Dwayne “The Rock” Johnson é a grande estrela atual dos filmes de ação. O futuro Adão Negro (Ou Capitão Marvel, sei lá) é carismático, empático, tem presença de tela e, de vez em quando, atua bem direitinho. Ex-lutador do grande circo de lutas fictícias que é a WWE, Dwayne Johnson desde que apareceu demonstrou ser como poucos, tanto dentro dos ringues quanto fora. Enquanto dentro dos ringues, demonstrava incrível agilidade pra um cara do porte dele e criatividade nos golpes e atitudes mais inusitados, fora dos ringues Johnson esbanjava simpatia e cuidado, tanto com sua carreira e seus fãs quanto com sua vida privada. Dwayne Johson é a 3ª geração de uma família de lutadores de luta livre, e soube como poucos administrar seus negócios e ter uma entrada bem sucedida no mundo do cinema. E não temo em dizer que é Dwayne Johnson quem salva o filme Hércules.

MH-The Rock
Yeah, bitches!!

O filme, que nos conta a história de um Hércules mercenário e ativamente ajudado por sua trupe (Iolau, Anfiarau, Atalanta, Autólico e Tideu) é dirigido por Brett Ratner, diretor de filmes divertidos como a série A Hora do Rush; Roubo Nas Alturas, e de filmes de suspense razoáveis como Dragão Vermelho.

Ao contrário do que nos anunciam os trailers, não é um filme sobre os 12 trabalhos de Hércules. O filme se baseia na Graphic Novel Hercules: The Tracian Wars, e começa vários anos após Hércules ter concluído os 12 trabalhos, e após o assassinato da esposa e filhos. Apresenta-se a nós um Hércules taciturno, melancólico e vivendo da fama dos 12 trabalhos, que é constantemente relembrada por seu sobrinho, Iolau. Este, além de condutor de bigas, exerce o papel de arauto e bardo pessoal do herói, sempre rememorando e enfeitando os feitos do tio, mantendo-lhes o frescor e o temor a Hércules nas mentes dos que ouvem tais relatos.

HERCULES
Da esquerda pra direita: Tideu; Atalanta; Hércules; Iolau e Autólico.

Ao receber, do rei da Trácia, a missão de exterminar um grupo de rebeldes revoltosos e aparentemente descendentes de Hades, ligados à entidades demoníacas, Hércules vai entender que nem tudo que reluz é ouro e que nem toda a missão que lhe é conferida deve ser aceita imediatamente, sem pensar, já que ele perceberá que os rebeldes são mais humanos e menos malignos do que se imaginaria. Aliás, tal entendimento vale também pra esse filme. Quando vi o trailer, fiquei empolgadíssimo com a possibilidade de ver um filme sobre os 12 Trabalhos de Hércules, com os efeitos especiais de hoje em dia, ainda estrelado por The Rock. As principais cenas do trailer mostram o herói atacando o Javali de Erimanto, o Leão de Neméia e a Hidra de Lerna, enquanto ouvimos a narração de uma missão mercenária que Hércules deverá executar. Infelizmente, tudo que foi vendido pelo trailer não é o que se concretiza, pois o filme trata, integralmente, da missão mercenária, e os 12 trabalhos aparecem rápida e esparsamente, ao longo dos primeiros quinze minutos de filme, como ligeiros flashbacks. Ou seja, o que parece ter igual peso no trailer (12 trabalhos e missão mercenária) não ocorre efetivamente, com a missão mercenária sendo o principal plot do filme, e os 12 trabalhos aparecendo muito esporadicamente, como partes de um “passado” do herói.

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O Leão de Neméia e a Hidra de Lerna: ilustres e chamativas aparições do trailer e pôsteres promocionais que simplesmente se apagam no filme.

Quando não se ocupa com o desenrolar da história, o filme se preocupa em desmistificar a ascendência divina e mágica (filho que era de Zeus) de Hércules, humanizando o protagonista. Fica evidente que Iolau, na sua ânsia de glorificar a carreira do tio, engrandeceu bastante os trabalhos de Hércules, para além de uma realidade palpável, tornando-os míticos, fantásticos. Essa ideia é tacitamente incentivada por Hércules e declaradamente fomentada por seus colegas de combate (principalmente por Autólico e Anfiarau).

Assim, da mesma forma que Hércules talvez não tenha enfrentado criaturas tão fantásticas, os rebeldes talvez não sejam tão assustadores ou amaldiçoados. Em dado momento, é dito que muitos dos rebeldes, por serem ligados a Hades, seriam imortais, além de possuírem um grupo de centauros como aliados, o que tornaria o combate ainda mais difícil. Continuando a ideia de desmistificação do mágico, o passar do filme nos mostra que as coisas não são como relatadas: os imortais do inferno na verdade são homens excessivamente tatuados que pulam de buracos camuflados no chão, em táticas de emboscada, enquanto os centauros nada mais seriam que cavaleiros que se utilizariam de ilusão de ótica. A partir daí, há um flashback em que Hércules nos revela que a Hidra na verdade seriam vários ladrões, disfarçados de cobra, enquanto apresenta as cabeças deles ao rei.

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Os rebeldes, supostos aliados de Hades, saindo de suas tocas subterrâneas.

Curiosamente, a força de Hércules continua sobre-humana. O herói consegue com um chute jogar uma grande carruagem contra alguns inimigos, causando grande impacto e muitas mortes. Ao mesmo tempo, no final do filme, o herói, sozinho, empurra por sobre um exército inteiro uma gigantesca estátua de mármore de Hera (que deve pesar no mínimo 6 toneladas), conseguindo espantar o exército que o atacava e sair vitorioso e com um status quase mítico. Fiquei até o fim do filme aguardando a explicação para a superforça do protagonista, já que o componente mágico/divino que a justificava (segundo a mitologia) havia sido diluído e desmistificado ao longo de todo o filme. Pois é; a origem da superforça do herói não foi explicada, o que tornou o filme completamente inverossímil. Se a sua superforça fosse acessória ou não tão declarada, tal omissão poderia ser perdoada. Porém, em vários momentos decisivos do filme, a superforça do herói é fundamental para que ele consiga se livrar e triunfar por sobre os problemas. O roteiro retira toda a razão original dos poderes sobre-humanos de Hércules (ascendência divina) e não apresenta nenhuma nova explicação. Sendo assim, a omissão de um fator tão importante quanto a superforça do herói a torna gratuita e completamente fora de lugar, desqualificando boa parte da ação do filme.

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O superchute do herói: força sem nenhuma razão aparente.

Por outro lado, a iniciativa de desmistificar o mito grego é levada a extremos, como na explicação de que os rebeldes-centauros seriam na verdade produto de uma simples ilusão de ótica. Quando o filme nos mostra que os centauros nada mais são do que cavaleiros vistos sob o sol forte, em um ângulo que “esconderia” a cabeça dos cavalos (dando a impressão de que os cavaleiros eram metade homem, metade cavalo), a explicação parece excessivamente forçada. Nem os efeitos especiais de transição de centauros para cavaleiros, desvelando a verdade através da ilusão, convencem. Sem explicações melhores, sobra-nos a mensagem de que qualquer um que acreditar firmemente em si, ou lutar obstinadamente por uma causa, pode ser fantástico ou desempenhar atos sobre-humanos. Por mais que isso seja em parte verdade, todo mundo sabe que não há causa ou crença que faça uma pessoa normal (por mais forte que seja) derrubar uma estátua de 6 toneladas ou chutar violentamente uma carruagem a uns 20 metros de distância.

O filme se salva pelos excelentes efeitos especiais, a presença de Dwayne Johnson, que faz um Hércules humano e até simpático, dentro de toda a dureza que a vida lhe impôs e pelo elenco de apoio, que no geral é afinado e sabe dosar na medida certa humor e drama. John Hurt é sempre excelente, e passa o tom certo de serenidade, nobreza e mau caratismo, sem ser maniqueísta. Rufus Sewell e Ian McShane mandam muito bem como Autólico e Anfiarau. Ian McShane, principalmente, consegue ser o grande alívio cômico do filme, agindo até com mais efetividade que Reece Ritchie, que também deveria ser um alívio cômico, mas não consegue saber a que veio com seu Iolau, e parece perdido no papel e no filme.

No geral, filme pipoca passável, que promete muito mais – mas muito mais, mesmo – em seu trailer do que realmente cumpre.

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 2 comentários

  1. Night Raven

    Porra! esse filme parece ser uma bosta, Desmitificarem Hércules? a graça da historia dele é o fato das aventuras dele serem impossiveis! Quase como se ele fosse um Super-heroi! Hércules não sendo filho de Zeus? então como a familia dele morre se não foi Hera que matou? e que força Sobre-humana é essa se ele não é um Semi-Deus? ele comia o espinafre do Popeye ou caiu num caldeirão de poção magica quando era criança? então o segredo da lenda de Hércules é que o Iolau era o melhor Relações publicas da Grecia Antiga? Ah vai se fuder Hollywood!

    1. Cara, tem uma coisa que acabei não colocando na resenha: o filme não se decide entre desmitificar completamente Hércules, ou manter uma certa “aura divina” nele. Em alguns momentos, os personagens falam coisas, ou agem de certa maneira como que se estivessem mentindo ou ocultando coisas, por outro lado, o Hércules vem e diz algo como “talvez as coisas não sejam bem assim…” quando falam pra ele das suas enormes proezas. O filme é bem fraco, mesmo, nesse sentido. Mas é um bom passatempo, apesar das enormes furadas no roteiro.

      Em momento nenhum eles dizem que ele é filho de Zeus, mas também não dizem que não é. Entende? É um troço confuso e chato…

      Ah, e pelo que eu entendi, a família dele morre porque o Rei que Hércules servia (não lembro quem, agora, mas foi interpretado pelo Joseph Fiennes, se não me engano) droga o Hércules e manda 3 cachorros loucos em cima da família de Hércules: completamente diferente da versão mitológica… Isso explicaria os pesadelos com Cérbero (o cão de 3 cabeças, guardião do Hades) que Hércules tem durante o filme inteiro….

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