Era uma vez… Pitfall!

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CentipedeRecentemente, li uma ótima matéria sobre a história de alguns jogos clássicos (leia aqui), histórias que os jogadores muitas vezes (e na maioria) ignoravam. Em Centipede, por exemplo, o que parecia ser uma nave é, na verdade, um elfo com uma varinha mágica. O elfo se chama Oliver e vive na floresta com seus amigos centopeia, aranha, pulga e escorpião. Um terrível bruxo, com o objetivo de se apossar da varinha de Oliver, hipnotiza seus amigos para que a roubem. Resta ao herói matar seus amigos.

As histórias normalmente eram apresentadas nas caixas dos jogos. No entanto, por diversos motivos, nós não dávamos muita atenção. No meu caso, por duas razões básicas: não saber ler em inglês ainda e utilizar jogos alugados. O segundo caso, apesar de as locadoras disponibilizarem a capa do jogo, normalmente avaliava pelo nome e a temática do desenho. Como um bom adolescente, poucas informações bastavam para entender o mundo completamente…

Movido pela curiosidade (e nostalgia, claro), decidi pesquisar sobre as backstories de jogos clássicos – para mim, pelo menos. O que percebi, em um primeiro momento, não foram verdadeiramente histórias (com enredo, biografias ou estrutura dramática), mas meramente a contextualização dos objetivos do jogo. Será que isso acontecia com outros títulos?

Um bom exemplo para começar é o jogo Pitfall

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1049429061-00Pitfall! foi lançado pela Activision para o Atari 2600 em 1982.

O jogador é Pitfall Harry, um famoso e experiente explorador de selvas e caçador de fortunas. Em mais uma de suas aventuras, ele deve entrar em uma selva proibida, um lugar impiedoso onde poucos exploradores conseguem sair com vida. Lá, há diversos tesouros escondidos como sacos de dinheiro, prata, ouro e anéis de diamante. Também muitos perigos: cobras, escorpiões, crocodilos, poços de piche, areia movediça, buracos etc. Harry tem apenas 20 minutos para cruzar o labirinto circular formado por 255 cenários e coletar o máximo dos 32 tesouros que conseguir.

E a minha pequena contribuição para a narrativa…

Pitfall Harry é um arqueólogo que sofre de transtorno de estresse pós-traumático. Viúvo de Pitfall Sally, o casal costumava se aventurar juntos, e utilizava a venda dos tesouros e artefatos encontrados como forma de sustento. Era um casal bastante feliz, apaixonado desde o primeiro período de Arqueologia, na Durham University.

Em uma expedição no interior do Monte Karisimbi, na Ruanda, Sally pisa em uma rocha solta e cai de uma altura de 3 metros, batendo com a cabeça – ela morre instantaneamente. Harry corre em sua direção, descendo pela parede íngreme de pedras mornas e escorregadias, mas, devido ao desespero, torce o pé e cai.

Se não fosse o corpo inerte de Sally que amorteceu a queda, sua cabeça bateria violentamente em uma pedra pontiaguda. Harry ainda tentou reanimar a esposa por 20 minutos, mas de nada adiantou. Machucado fisica e emocionalmente, levantou o corpo de Sally para levá-la para fora do monte, mas não conseguiu carregá-la. Ligeiramente desnorteado e com uma forte dor no pé, foi buscar ajuda. Pretendia retornar para recuperar o corpo, entretanto, o monte era um vulcão adormecido. Um pequeno terremoto selou completamente a entrada da caverna. Sally, desta forma, jaz eternamente sepultada sob o Monte Karisimbi.

Pitfall-Atari

Harry nunca se recuperou do trauma. Sua vida perdeu o sentido e mergulhou em uma espiral de drogas, prostitutas e violência. Seus amigos o encorajaram a retornar ao trabalho. Foi sua salvação. O único momento em que consegue parar de sofrer é durante alguma aventura.

Por outro lado, está longe de ser uma pessoa feliz. O que ocorre é apenas o entorpecimento da dor – como um robô sem sentimentos, ele vai de um trabalho a outro, ininterruptamente. Não há mais preocupação com a segurança, seu único propósito é correr freneticamente. E, em seu subconsciente, deseja profundamente escorregar e acabar com aquela vida miserável. Os tesouros não são mais importantes. Nem a fama mundial. O que ele quer, de fato, é ser salvo. Não sobrevivendo, mas morrendo para este mundo solitário.

Ele quer reencontrar Sally.

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

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