Prosseguindo com as impressões sobre a primeira temporada e especulações sobre o que virá, vamos à segunda e última parte.
A primeira parte você lê AQUI
6 – Salve a donzela!
Se Tucão foi desperdiçado, o Coruja uma incógnita e Mercenário uma promessa, esses adjetivos não são para Melvin Potter, também conhecido nos quadrinhos como Gladiador, que por causa de transtornos mentais tornou-se adversário do Demolidor. Na série a sua oficina é uma festa de referências para os fãs: vemos o símbolo do Gladiador em um quadro e as pernas do Metalóide (outro vilão fajuto das hq’s), Melvin arremessa uma serra circular (com as mãos) em luta contra Matt e no ultimo episódio o herói fica em frente a um rascunho de uma arma de serra circular. Mas Melvin vai além desses “easter eggs”. O personagem já parece bem desenvolvido ao apresentar certa instabilidade psicológica. Além disso, o Demolidor fez uma promessa a ele de proteger uma mulher chamada Betsy, a quem Melvin tem medo que Fisk machuque. Nos quadrinhos Betsy Beatty era a terapeuta que ajudava Potter a combater os delírios de gladiador romano. O apego foi tão grande que resultou em casamento. Na série esta personagem não apareceu. Apenas ficou subentendido que ela ajuda Melvin a não se “meter em encrenca”. Quase poderia apostar que o esquecimento (ou falha) do Demolidor em cumprir essa promessa seja o estopim para o nascimento do Gladiador.
7 – Enfermeira costuradora de séries
Claire é uma personagem “vítima” de confusão em diversas críticas e resenhas por aí, por ser chamada de “Enfermeira Noturna”. Apesar de ser a enfermeira responsável por costurar Matt Murdock após suas aventuras (talvez seja esse o motivo de confusão) a semelhança termina aí. Nos quadrinhos, a personagem Enfermeira Noturna original na verdade eram TRÊS, e nenhuma com nome de Claire. O título “Night Nurse” origina-se de uma revista da década de 70, publicada pela Marvel (e que só durou quatro edições) onde as personagens Linda Carter, Georgia Jenkins e Christine Palmer eram companheiras de quarto que trabalhavam como enfermeiras no turno da noite no ficcional Hospital Geral Metropolitano de Nova York. As histórias traziam drama, perigos entre os outros gêneros, mas tudo bem longe de superpoderes e super-heróis. Durante décadas o título permaneceu no limbo, mas em 2004 uma das enfermeiras (Christine Palmer), foi reutilizada em um título do mutante Noturno. Recentemente a Salvat, na sua coleção de graphic novels, publicou uma edição do Doutor Estranho onde podemos ver esta Enfermeira Noturna e seu trabalho “exótico” de cuidar de heróis feridos.
O problema aqui é que até mesmo no IMDB (Internet Movie Data Base) não existe referência a Claire com o pseudônimo. Seria mero equívoco ou a Netflix está realmente “mesclando” as duas personagens na adaptação? Isso não está claro até agora, pelo menos para mim. Por outro lado, a personagem Claire Temple não possui um nome qualquer. Para quem leu quadrinhos dos anos 70/80 deve lembrar que ela trabalhava como assistente no consultório do doutor Noah Bustein, responsável pela criação de um certo Luke Cage. Claire chegou a engatar um romance com o Cage (além de ser ex-esposa do herói Golias Negro). Sendo assim, existe sentido em apostar que Claire seria elo importante nas séries que virão, da Jessica Jones e do próprio Luke Cage. Quem sabe um triângulo amoroso entre Cage, Jessica e Claire?
8 – Mais algumas pequenas referências
Não sabemos o que vem por aí. Além das referências já sacadas na série existem algumas pistas menores que até remetem a outras séries futuras da Marvel/Netfix: a imagem da Serpente de Aço nos envelopes de drogas (símbolo que um inimigo homônimo do Punho de Ferro carrega no peito), o caminhão responsável pelo acidente que cegou Matt, com o nome da corporação Rand (de Daniel Rand, o Punho de Ferro), a já citada relação de Claire com Cage (nos quadrinhos), referências sobre Van Lunt na porta do escritório recém alugado pela dupla de advogados e a citação feita por Owlsley dizendo ser um milionário que gosta de astrologia. Nas hq’s Van Lunt é o vilão “Touro”, fundador do grupo Zodíaco. Com tantas citações sobre Van Lunt, teríamos aí o grupo que seria rival da série dos Defensores (a serie que reunirá todos esses heróis)?
9 – Universo underground Marvel
Contudo, existem aqueles detalhes que são tão sutis que TALVEZ possam indicar algo. Dois deles nos levam a personagens bastante obscuros da Marvel. O primeiro é citado sem qualquer pretensão por Owlsley na festa em que Vanessa é envenenada: Richmond. O nome me faz lembrar de Kyle Richmond, a identidade do Falcão Noturno e que também já fez parte dos Defensores nos quadrinhos (e no início era vilão). O outro nome é ainda mais especulativo. Quando o Demolidor invade o deposito de fabricação da droga Serpente de Aço e descobre que todos os orientais são cegos. A chefona Madame Gao avisa a Murdock que a mutilação foi uma opção deles. Me remeteu muito a um personagem bem obscuro da Marvel chamado Mortalha (Shroud) que possui características idênticas: cego em um ritual místico, em uma cidade também mística e com cicatrizes no rosto semelhantes. Além disso, combina com o estilo de Gao e do próprio Punho de Ferro. É esperar pra ver se faz sentido ou foi apenas mera coincidência.
10 – Mundo Corporativo
Existe uma farra de referências sobre empresas e organizações do Universo Marvel. Além do já citado aqui (e por toda internet) Van Lunt, e da Corporação Rand (do Punho de Ferro), também temos a muito-conhecida-nos-quadrinhos Roxxon (também mencionada em filmes do Homem de Ferro e em Agents of S.H.I.E.L.D.) que aparece em caso no escritório Landman & Zack onde Matt e Foggy trabalharam e a Asano Robotics (no container onde estava o “céu negro”). Nos quadrinhos a Asano Robotics pertence a um inimigo do Homem de Ferro, o Samurai de Aço. Sem contar a empresa Stark, que existe implicitamente neste universo, já que existem referências ao universo dos Vingadores no cinema (como a já sabida capa de jornal na sala de Ben Urich, sobre a batalha de Nova Iorque no primeiro filme do grupo). Um inimigo “grandioso” como essas organizações talvez fossem uma força que desse muito trabalho a algum dos protagonistas da próximas séries, ou mesmo contra todos em “Os Defensores”. Opções não faltam. Malditos capitalistas!
11 – Um “rei” ainda “príncipe”:
Vicent D’Onofrio está espetacular como Wilson Fisk. Não creio que sua atuação mereça alguma ressalva. No entanto o desenvolvimento do personagem levanta alguns questionamentos. O Fisk aqui é uma pessoa atormentada, por diversas vezes emocionalmente frágil. Ainda não foi O Rei do Crime que conhecemos nas revistas, frio e calculista (talvez próximo disso nos momentos finais do último episódio). Seu maior ponto fraco, avisado por todos os outros aliados líderes de crime (principalmente Madame Gao) era o seu “coração”: Vanessa, a futura sra. Fisk. Acredito que seja ela a chave que vai transformar o Wilson Fisk que vimos em alguém mais cruel, já que ela é a responsável por quebrar seu coração em diversos momentos dos gibis. Vale destacar a boa sacada para fazer o personagem ter alguma característica sobre-humana, e assim tentar equiparar a resistência do Fisk das revistas: os “ternos-armaduras” confeccionados por Melvin Potter. Pelo menos eu, gostei.
No próximo capítulo, encerramos.
