iLuminamos: Steve Jobs

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Poucos entenderam a sociedade do espetáculo como Steve Jobs.

Como um maestro, conduzia seus melhores recursos na direção em que acreditava. Não apenas sua visão e seu intelecto, mas principalmente as pessoas. Recursos humanos eram úteis na medida em que lhe permitiam alcançar o que considerava divino.

E o que considerava divino era simplesmente o que lhe parecia sublime. Era a régua com que media os seus projetos. E eram todos seus, mesmo quando não isso não significava realmente a verdade. Era sua visão, sua pretensão, seu desejo.

Comparava-se à Júlio César pela infinidade de inimigos que possuía, mas o refletia pela glória que experimentou e pela qualidade da experiência que seu circo proporcionou.

Em sua filosofia tão particular e íntima, grandiosamente compartilhada com tantos fãs, seguidores e clientes, ele simplesmente apresentou uma proposta, um modo de ver as coisas, de vender suas ideias. E as vendeu como ninguém.

Acreditava, de todo o coração, estar mudando o mundo. E quem pode dizer o contrário, ao olhar e sentir o que tem nas mãos, nos bolsos, nos ouvidos, na mesa e em toda parte, brilhando, vibrando, e sempre e sempre e sempre te convidando a ver a última notificação, o nome da música que está tocando, as mensagens que estão chegando?

A resposta está no longa-metragem, em cada um que acompanhou sua trajetória. Ou em lugar nenhum. Tudo pode ser apenas encenação. Um filme.

Nem fim, nem começo: O meio. E a mensagem.

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Entre a realidade e a lenda, o oscarizado diretor Danny Boyle, o roteirista Aaron Sorkin (que desenvolveu o plot com base na biografia de Walter Isaacson sobre o visionário CEO da Apple) e o montador Elliot Graham inovaram ao contar a história que todos conhecem do ponto de vista que realmente importa – o clímax.

Ou melhor, OS clímax. Pois talvez tenha sido para isso que Jobs nasceu: Para propagar a onda que suas pedras fundamentais provocaram na água.

E ele nasceu, viveu e morreu em toda a sua pompa e circunstância em três momentos, segundo o evangelho do filme: Na apresentação e lançamento do Lisa, do NEXT’s Black Cube e do iMac. Em meio a esses três Big Bangs, desenvolve-se todo o seu universo: Em especial, a difícil relação com a filha Lisa; a amizade, a parceria e as divergências com Wosniak, e; o auxílio, apoio e amor incondicional da sua assistente work wife Joanna Hoffman.

Não vemos o homem à frente das câmeras, vendendo seu peixe, seu produto, sua alma. O foco é o que vem antes: toda a preparação, toda a intensidade, tudo pelo que passou. E o que vem depois: todas as consequências, todas as mágoas, todos os frutos. E ainda estão lá todos os vazios. Para quem quiser ver. Todos os hiatos.

A trilha de Daniel Pemberton dita o ritmo e nos faz torcer pelo que está por vir. Num momento nos deixa tensos, noutro decepcionados, e então tristes, e depois animados. Muito justo para quem enxergou que teríamos a música o tempo todo na palma da mão.

A produção apresenta um inspirado (e indicado ao Oscar pelo papel) Michael Fassbender incorporando o gênio de Jobs, transpirando doses de soberba, arrogância e megalomania, nunca um tom acima, deixando o necessário espaço para sugerir que o executivo não era o insensível que pintavam, e sim um radical, que abominava o que considerava interferências em seus objetivos, e mantinha o foco, independente dos custos, principalmente emocionais, dessa escolha.

Steve Jobs é a fantástica história de um homem que criou a si mesmo, e até hoje inspira pessoas e mercados, para o bem e para o mal. Ou não. Assista e tire suas conclusões. Pense diferente.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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