Especial Mario Puzo #2 – O Siciliano!

Você está visualizando atualmente Especial Mario Puzo #2 – O Siciliano!

 

Fala, galera que prometeu uma nova vida na virada!

Hoje, ainda em clima de festa, voltaremos com o Especial Mario Puzo, e desta vez, traremos a resenha da magnífica obra O Siciliano. Para aqueles que ainda não conhecem Mario Puzo, cliquem AQUI.

De início, eis o dilema do nosso Robin Hood siciliano, Salvatore Giuliano personagem principal desta que, a meu ver, é a melhor obra de Mario Puzo:

“Nós somos um só corpo. Bandidos, policiais e Mafia – como o Pai, o Filho e o Espírito Santo”

Então, antes de iniciarmos a resenha do livro, creio que seja digno dar uma pincelada sobre a vida deste enigmático símbolo/homem.

37457

O colapso das estruturas do governo e a distribuição legal de alimentos pós guerra  controlada pelo Governo Militar Aliado deu origem ao  mito do Robin Hood siciliano. Em especial,  numa abordagem infeliz, em 2 de setembro de 1943 quando acusado de matar um Carabinieri – soldado siciliano –  Giuliano, fora baleado nas costas por  transportar dois sacos de grãos contrabandeados.

Em 24 dezembro de 1943 uma força de mais de 800 carabinieri foram enviados para capturá-lo. Não foram bem sucedidos, e acabaram prendendo 125 pessoas, entre elas o pai de Salvatore, em retaliação. Salvatore, testemunhou tais prisões de seu esconderijo e começou a atacar as caravanas militares que estavam na praça, voltando a se esconder, logo a seguir. Um Carabinieri foi morto e outro ficou ferido durante o ataque. Em fevereiro de 1944, Salvatore foi capaz de libertar 8 das pessoas presas, e juntos formaram um grupo de guerrilha, batizado posteriormente como EVIS (Exército Independente da Sicília). Em maio de 1945, incorporaram ao grupo um coronel da brigada siciliano, que passou a ser partidário da Sicília ocidental. Passou-se a realizar uma série de ataques contra o governo militar italiano. O resultado dessas batalhas foi concluído pelo governo italiano, sob a liderança do rei Umberto II, declarando a ilha da Sicília uma Nação confederada da Itália.

Pobre, de origem humilde e humilhado como os demais camponeses, ao invés da morte indigente, Giuliano traçou um outro caminho, e, bandeando-se com mais outros seis foragidos, tornou-se  uma espécie de Robin Hood que roubava (e até sequestrava) sicilianos ricos para ajudar os pobres. Atacando a polícia, pelo menos, com a mesma frequência com que o procuravam,  Giuliano só alcançou a fama internacional devido à desgraça popular ao declarar-se responsável pelo massacre Portella della Ginestra. Onze pessoas foram mortas neste evento – incluindo quatro crianças – e outras trinta e três feridas, todas alvejadas por tiros de metralhadora,  no dia 1º de maio de 1947.

Primos, cúmplices e bandidos. Giuliano e Pisciotta.
Primos, cúmplices e bandidos. Giuliano e Pisciotta.

A despeito do próprio historiador Eric Hobsbawm descrevê-lo como o “último dos bandidos das pessoas”, várias teorias conspiratórias foram elaboradas sobre a real intenção que o teria levado a assumir tal massacre. Tais teorias levantavam motivos hipotéticos que iam desde o aumento da violência entre os proprietários de terras até possíveis ingerências dos serviços de inteligência norte-americanos. Porém, a versão mais aceita foi a de que Giuliano  se vendera aos grandes proprietários de terras, monarquistas e direitistas – em especial ao partido democrata cristão de Bernardo Mattarella – em troca da liberdade para todos os membros do seu clã. Toda a verdade sobre Portella ainda está para ser escrita…

… U me cori doppu tant’anni è a Purtedda. Enta petri, enta sangu di cumpagni ammazzati…
… U me cori doppu tant’anni è a Purtedda. Enta petri, enta sangu di cumpagni ammazzati…

Agora, voltando ao livro, eis a Sinopse chupinhada do Skoob:

Ao terminar seu exílio de dois anos na Sicília, Michael Corleone, filho do Chefão de Nova Iorque, recebe delicada incumbência: só voltar aos Estados Unidos levando, secretamente, o bandido Salvatore Guiliano. Só que aqui Michael é personagem menor, pois o autor concentra suas atenções em Guiliano, que nos anos 40 dominou a região ocidental da Sicília, onde agia como uma espécie de Robin Hood moderno. Puzo, fiel às suas origens mais remotas, desvenda, por trás das façanhas cinematográficas de Guiliano, a quente e orgulhosa Sicília, suas paisagens, sua comida, seus costumes mais secretos e estranhos. E, sobretudo, o espírito indomável de sua gente.

Como podemos ver na sinopse, ao perceber que Salvatore Giuliano não bancaria as vendas, Mário Puzo inseriu os personagens principais de O Chefão de maneira sutil mas relevante, podendo-se dizer que os Corleones têm seu destaque no início e no fim desta obra, em especial Don Vitto Corleone e a sua crueza para lidar com a vida do próximo e seus interesses políticos. Porém, fora a parte do livro onde o herói de guerra Michel Corleone se transforma em membro da Família, esta é uma história totalmente dedicado a Giuliano.

mario-puzo-o-siciliano-4793-MLB4932959443_082013-F

Sobre o livro, posso afirmar categoricamente que é superior ao maior Best Seller da Máfia, e o que mais me inclinou a o escolher, além da perspicaz descrição dos cenários e costumes da época, é a humanidade e todo o levantamento histórico elaborado por Puzo para a composição do enredo deste romance. Mesmo que soe profano, não tive tanta empatia com os personagens de O Chefão; enquanto o calvário de Turi e seus homens, por mais de uma vez, me fez chorar.

9789722521734

Historicamente marginalizados, excluídos e roubados em seus direitos básicos. Os traumas deixados pela história fizeram da Sicília um país próprio, separado da Itália geográfica e politicamente. Sua desigualdade social e a consequente marginalização da pobreza sulista são retratadas de maneira sem igual, sendo possível, em vários momentos, entrarmos de cabeça na realidade do povo camponês faminto, devido aos ínfimos salários, e submissão à máfia que controlava a tudo e a todos.

Tanto a história como a personalidade do personagem principal são envolventes. Chegando ao ponto de transformar qualquer Corleone num boneco de cera. Puzo nos mostra como um camponês de personalidade forte e com instinto de liderança se transformou em herói popular – admirado por seus subordinados e por cada siciliano – além de  principal ativista pró emancipação política de uma área historicamente conflituosa, enfrentando o governo e o poder da Máfia, onde para o perdedor só restaria a morte como consolo.

Filme patético feito a partir do original de Mario Puzo.
Filme patético feito a partir do original de Mario Puzo.

Depois desta leitura é difícil dissociar o personagem fictício do homem real, uma vez que até o próprio autor nutria uma admiração profunda por ele. Mas para aqueles que também se apaixonaram por tal epopeia, deixo-lhes:

Sorria a cada vez que uma criança acrescentava “e salve Guiliano dos carabinieri” às suas orações.

Para aqueles que não ainda não conferiram, aqui está o link da primeira parte – O Chefão: A traição da Omertà.
E o especial introdutório que fizemos sobre o autor: – Mário Puzo: Quem foi o Autor? O que é Máfia?

Don Vitto

Escritor, acadêmico e mafioso nas horas vagas... Nascido no Rio de Janeiro, desde novo tivera contato com a realidade das grandes metrópoles brasileiras, e pelo mesmo motivo, embrenhado no submundo carioca dedica boa parte de seu tempo a explanar tudo que acontece por debaixo dos panos.

Deixe um comentário