Fala, galera que prometeu uma nova vida na virada!
Hoje, ainda em clima de festa, voltaremos com o Especial Mario Puzo, e desta vez, traremos a resenha da magnífica obra O Siciliano. Para aqueles que ainda não conhecem Mario Puzo, cliquem AQUI.
De início, eis o dilema do nosso Robin Hood siciliano, Salvatore Giuliano personagem principal desta que, a meu ver, é a melhor obra de Mario Puzo:
“Nós somos um só corpo. Bandidos, policiais e Mafia – como o Pai, o Filho e o Espírito Santo”
Então, antes de iniciarmos a resenha do livro, creio que seja digno dar uma pincelada sobre a vida deste enigmático símbolo/homem.
O colapso das estruturas do governo e a distribuição legal de alimentos pós guerra controlada pelo Governo Militar Aliado deu origem ao mito do Robin Hood siciliano. Em especial, numa abordagem infeliz, em 2 de setembro de 1943 quando acusado de matar um Carabinieri – soldado siciliano – Giuliano, fora baleado nas costas por transportar dois sacos de grãos contrabandeados.
Pobre, de origem humilde e humilhado como os demais camponeses, ao invés da morte indigente, Giuliano traçou um outro caminho, e, bandeando-se com mais outros seis foragidos, tornou-se uma espécie de Robin Hood que roubava (e até sequestrava) sicilianos ricos para ajudar os pobres. Atacando a polícia, pelo menos, com a mesma frequência com que o procuravam, Giuliano só alcançou a fama internacional devido à desgraça popular ao declarar-se responsável pelo massacre Portella della Ginestra. Onze pessoas foram mortas neste evento – incluindo quatro crianças – e outras trinta e três feridas, todas alvejadas por tiros de metralhadora, no dia 1º de maio de 1947.
A despeito do próprio historiador Eric Hobsbawm descrevê-lo como o “último dos bandidos das pessoas”, várias teorias conspiratórias foram elaboradas sobre a real intenção que o teria levado a assumir tal massacre. Tais teorias levantavam motivos hipotéticos que iam desde o aumento da violência entre os proprietários de terras até possíveis ingerências dos serviços de inteligência norte-americanos. Porém, a versão mais aceita foi a de que Giuliano se vendera aos grandes proprietários de terras, monarquistas e direitistas – em especial ao partido democrata cristão de Bernardo Mattarella – em troca da liberdade para todos os membros do seu clã. Toda a verdade sobre Portella ainda está para ser escrita…
Agora, voltando ao livro, eis a Sinopse chupinhada do Skoob:
Ao terminar seu exílio de dois anos na Sicília, Michael Corleone, filho do Chefão de Nova Iorque, recebe delicada incumbência: só voltar aos Estados Unidos levando, secretamente, o bandido Salvatore Guiliano. Só que aqui Michael é personagem menor, pois o autor concentra suas atenções em Guiliano, que nos anos 40 dominou a região ocidental da Sicília, onde agia como uma espécie de Robin Hood moderno. Puzo, fiel às suas origens mais remotas, desvenda, por trás das façanhas cinematográficas de Guiliano, a quente e orgulhosa Sicília, suas paisagens, sua comida, seus costumes mais secretos e estranhos. E, sobretudo, o espírito indomável de sua gente.
Como podemos ver na sinopse, ao perceber que Salvatore Giuliano não bancaria as vendas, Mário Puzo inseriu os personagens principais de O Chefão de maneira sutil mas relevante, podendo-se dizer que os Corleones têm seu destaque no início e no fim desta obra, em especial Don Vitto Corleone e a sua crueza para lidar com a vida do próximo e seus interesses políticos. Porém, fora a parte do livro onde o herói de guerra Michel Corleone se transforma em membro da Família, esta é uma história totalmente dedicado a Giuliano.
Sobre o livro, posso afirmar categoricamente que é superior ao maior Best Seller da Máfia, e o que mais me inclinou a o escolher, além da perspicaz descrição dos cenários e costumes da época, é a humanidade e todo o levantamento histórico elaborado por Puzo para a composição do enredo deste romance. Mesmo que soe profano, não tive tanta empatia com os personagens de O Chefão; enquanto o calvário de Turi e seus homens, por mais de uma vez, me fez chorar.
Historicamente marginalizados, excluídos e roubados em seus direitos básicos. Os traumas deixados pela história fizeram da Sicília um país próprio, separado da Itália geográfica e politicamente. Sua desigualdade social e a consequente marginalização da pobreza sulista são retratadas de maneira sem igual, sendo possível, em vários momentos, entrarmos de cabeça na realidade do povo camponês faminto, devido aos ínfimos salários, e submissão à máfia que controlava a tudo e a todos.
Tanto a história como a personalidade do personagem principal são envolventes. Chegando ao ponto de transformar qualquer Corleone num boneco de cera. Puzo nos mostra como um camponês de personalidade forte e com instinto de liderança se transformou em herói popular – admirado por seus subordinados e por cada siciliano – além de principal ativista pró emancipação política de uma área historicamente conflituosa, enfrentando o governo e o poder da Máfia, onde para o perdedor só restaria a morte como consolo.
Depois desta leitura é difícil dissociar o personagem fictício do homem real, uma vez que até o próprio autor nutria uma admiração profunda por ele. Mas para aqueles que também se apaixonaram por tal epopeia, deixo-lhes:
Sorria a cada vez que uma criança acrescentava “e salve Guiliano dos carabinieri” às suas orações.
Para aqueles que não ainda não conferiram, aqui está o link da primeira parte – O Chefão: A traição da Omertà.
E o especial introdutório que fizemos sobre o autor: – Mário Puzo: Quem foi o Autor? O que é Máfia?