Panteão Pop – Anakin Skywalker (Parte 1)

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Até hoje, um dos maiores momentos nerds no cinema é a cena em que o aprendiz do Imperador diz a Luke que, na verdade, ele era Anakin, seu pai. Aquilo engrandeceu a tal ponto o personagem que este rapidamente se tornou um dos maiores vilões do cinema de todos os tempos.

A nova trilogia mostrou como Anakin, destinado a ser um dos mais poderosos Cavaleiros Jedi de todos os tempos, se entregou ao Lado Sombrio e destruiu sua antiga Ordem.

Os motivos que o levaram a cometer tal “desatino” ainda hoje dividem opiniões. Anakin sempre foi mal? Ele era um fraco? Um ingênuo? Minha opinião sincera? Não só teve motivos para trair os Jedi como isso fazia parte da profecia.

Vamos aos poucos.

Anakin e sua mãe, Shmi. Sua preocupação com o destino dela, que continuou escrava em Tatooine, foi interpretado como um sinal de fraqueza pelo Conselho Jedi.
Anakin e sua mãe, Shmi. Sua preocupação com o destino dela, que continuou escrava em Tatooine, foi interpretado como um sinal de fraqueza pelo Conselho Jedi.

Anakin praticamente nasceu escravo: aos três anos de idade, chegou ao planeta Tatooine junto com Shmi, sua mãe – seu “pai” era a Força –, como propriedades de Gardulla a Hutt, que depois os perdeu numa aposta para Watto, um sucateiro toydariano.

Gardulla a Hutt
Gardulla a Hutt

Trabalhando no estabelecimento deste, Anakin, desenvolveu suas habilidades em matemática, mecânica e robótica (ele construiu um pod de corrida e um dróide de protocolo – C-3PO – do lixo). Ele tinha um espírito aventureiro e justo, se envolvendo em algumas peripécias, sendo a maior delas invadir, disfarçado como um jawa, a fortaleza de Gardulla para libertar um grupo de crianças que seriam vendidas a ela por Sebulba, seu desafeto nas corridas de pods.

Quando, aos dez anos, conheceu o Mestre Jedi Qui-Gon Jinn, arriscou a própria vida para conseguir levantar, em uma corrida de pods, a quantia necessária para adquirir um novo hiperpropulsor para sua nave, avariada quando se dirigia a Coruscant.

Qui-Gon percebeu como a Força era poderosa na criança e, através de uma aposta, conseguiu levá-lo junto. Anakin, fascinado pela possibilidade de ser um Jedi (visando se tornar um libertador dos escravos e demais oprimidos na Galáxia) e, ainda mais, pela jovem Padmé Amidála, então rainha de Naboo, aceitou ir com eles, conhecendo ainda o astrodróide R2D2 e o padawan Obi-Wan Kenobi.

R2-D2 e o ainda padawan Obi-Wan Kenobi. O astrodróide é o verdadeiro elo entre as duas trilogias, tendo servido a pai e filho em combate, embora nunca tenha revelado tal fato a este último. Obi-Wan teve falhas, tanto como instrutor como executor.
R2-D2 e o ainda padawan Obi-Wan Kenobi. O astrodróide é o verdadeiro elo entre as duas trilogias, tendo servido a pai e filho em combate, embora nunca tenha revelado tal fato a este último. Obi-Wan teve falhas, tanto como instrutor como executor.

Diante do Conselho Jedi, Anakin teve seu pedido para ser treinado negado, sob alegação de que seria muito velho estaria “cheio de medo”. Posteriormente, diante da morte de Qui-Gon nas mãos do Sith Darth Maul, da promessa do recém ordenado Obi-Wan de que o treinaria de qualquer forma e da participação do criança na Batalha de Naboo, os Mestres reconsideraram sua decisão e o tornaram um padawan.

 

Qui-Gon enfrenta Darth Maul. A morte do nobre Jedi, que não só era extremamente experiente como tinha fé no Escolhido, foi um dos motivos determinantes para a futura queda de Anakin.
Qui-Gon e Obi Wan enfrentam Darth Maul. A morte do nobre Jedi, que não só era extremamente experiente como tinha fé no Escolhido, foi um dos motivos determinantes para a futura queda de Anakin.

Percebe-se já como estava a Ordem Jedi. Perdida no tempo, afogada em dogmas ultrapassados fechava os olhos para acontecimentos deploráveis na Galáxia, como a existência de escravos. O Conselho insistia em um discurso e educação rígidos que afastavam todos os seus membros dos sentimentos, sejam eles quais fossem, pois até o amor – mesmo o filial – era considerado uma fraqueza e, portanto, um caminho para o Lado Sombrio. Aliás, quase tudo era isso!

Ele se tornou um padawan, mas o Conselho NADA fez para ajudá-lo a superar suas divisões internas.
Ele se tornou um padawan, mas o Conselho NADA fez para ajudá-lo a superar suas divisões internas.

Cavaleiros poderosos e mais esclarecidos como Qui-Gon e o Conde Dookan sentem o excesso das limitações impostas por esta visão estreita.  Não seria necessariamente surpreendente se descobríssemos que o antigo mestre de Obi-Wan (e ex-padawan de Yoda) planejava abandonar a Ordem em um futuro próximo, embora não creia que ele, necessariamente, se tornaria um Sith, caminho escolhido pelo futuro Darth Tyrannus.

Dookan perdeu a fé nos Jedi. Sua deserção não foi encarada com a seriedade necessária.
Dookan perdeu a fé nos Jedi. Sua deserção não foi encarada com a seriedade necessária.

Shmi foi abandonada em Tatooine, despojada de um direito básico que os que diziam defender o caminho luminoso da Força aparentemente só defendiam em discursos vazios: liberdade. Sim, porque mesmo quando do ataque da Federação de Comércio a um planeta pacífico como Naboo, os Jedi ficaram reduzidos a meros guarda-costas da Rainha Padmé.

Padmé, ainda como rainha de Naboo.
Padmé, ainda como rainha de Naboo.

Mesmo sem notícias de sua mãe, Anakin desenvolveu rapidamente suas habilidades. A diferença de idade, o fato logo patente de que ele era mais poderoso do que muitos Cavaleiros e seu pouco traquejo social – afinal, fora um escravo até então – lhe transformaram em uma pessoa isolada, que se “defendia” da rejeição com uma arrogância natural. Sentia mais afeição pelas máquinas, construindo diversos equipamentos – principalmente dróides – e aperfeiçoando outros.

Sua relação com Obi-Wan era cheia de altos e baixos.  Era costume dos Jedi colocar um recém-empossado Cavaleiro como instrutor de umjovem para que o primeiro aprendesse o valor da responsabilidade. Mas tanto Anakin estava longe de ser um padawan comum – embora gostasse muito de seu mestre, por este ser a primeira figura paterna que conheceu – , como Kenobi era muito questionador de suas capacidade como professor, além de ter sérias reservas quanto a tão propalada profecia. Mais um vacilo do Conselho.

A atitude de Obi-Wan e dos demais Jedi faziam com que Skywalker se sentisse mais à vontade com o Supremo Chanceler Palpatine, que lhe dava grandes conselhos e sabia massagear seu ego, sempre dizendo que ele seria o mais poderoso de todos os Cavaleiros Jedi.

O Supremo Chanceler Palpatine soube cativar o esquentado aprendiz, dosando bons conselhos com afagos no ego.
O Supremo Chanceler Palpatine soube cativar o esquentado aprendiz, dosando bons conselhos com afagos no ego.

Como padawan, ele foi companheiro de Obi-Wan em algumas missões, onde demonstrou não só uma evolução absurda em suas capacidades de luta e no domínio de seus poderes, como também um espírito impetuoso, que chegou a colocá-los em maus lençóis em alguns momentos.

Em uma destas aventuras, em Barlok, Skywalker conheceu Jorus C’Baoth, um Cavaleiro Jedi arrogante, que comandava com mão de ferro e não aceitava discussões. Tais características foram secretamente admiradas pelo padawan de Kenobi.

Jorus C'Baoth acreditava que apenas lideranças fortes trariam a paz para a Galáxia. Suas idéias foram acalentadas pelo aprendiz do Obi-Wan, que estava cansado de ver tanta corrupção na República.
Jorus C’Baoth acreditava que apenas lideranças fortes trariam a paz para a Galáxia. Suas idéias foram acalentadas pelo aprendiz do Obi-Wan, que estava cansado de ver tanta corrupção na República.

Sendo nomeado guarda-costas da agora Senadora Amidala, Anakin viu sua admiração de infância pela garota que pensava ser um anjo se tornar amor pela bela mulher que ela se tornara. Mais do que a beleza, ele se viu atraído pelo seu espírito forte e corajoso.

Ela estava com ele quando o poderoso padawan finalmente resolveu ir atrás de sua mãe. Lá, descobriu que a senhora havia sido libertada por um homem que havia se apaixonado por ela (olhe a que absurdos de alheamento o Conselho Jedi deixou o pretenso Escolhido: nem as boas notícias envolvendo o nome da sua progenitora ele recebeu). Ao procurá-la, porém, descobriu que havia sido sequestrada por uma tribo do Povo da Areia. Ao encontrá-la morta, ele se entregou a um ódio insano, massacrando todos, inclusive as fêmeas e os filhotes. Apenas a Padmé ele confessou o ocorrido, afogado em remorsos.

A morte de Shmi - e a primeira grande explosão de ódio do futuro Darth Vader - são resultados diretos dos erros do Conselho Jedi.
A morte de Shmi – e a primeira grande explosão de ódio do futuro Darth Vader – são resultados diretos dos erros do Conselho Jedi.

Foi quando estavam lutando pelas suas vidas em Geonosis – onde Anakin enfrentou Jedi caído Darth Tyrannus e teve sua mão decepada – que ela se rendeu e confessou que o sentimento era recíproco. Com o início das Guerras Clônicas, Anakin, antes de partir para os combates, casou secretamente com a ex-Rainha. Nela, ele esperava finalmente encontrar a família que havia perdido em Tatooine.

Os dogmas Jedi são tão ridículos que há quem culpe esta mulher pela desgraça da Galáxia. Padmé apenas não conseguia aceitar a tese de que algo tão singelo quanto o amor verdadeiro poderia ser caminho para levar uma pessoa para o Mal.
Os dogmas Jedi são tão ridículos que há quem culpe esta mulher pela desgraça da Galáxia. Padmé apenas não conseguia aceitar a tese de que algo tão singelo quanto o amor verdadeiro poderia ser caminho para levar uma pessoa para o Mal.

Na próxima parte, a ascensão e queda do Escolhido.

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 22 comentários

  1. Linik

    Caraca,Jota mandou muito bem…fez rever a percepção que muitos tem sobre a nova trilogia.Ela pode ser algo bem mais profundo.

    1. JJota

      Cara, toda a má vontade com a nova trilogia cega um pouco as pessoas. Eu acho que valeu a pena.

  2. Agnaldo Santiago

    Muito bom o texto! Concordo totalmente com você em relação à postura dos Jedi durante o período de ascensão do Império. É uma pena que ilustres Mestres se deixaram permanecer tão parados, tão conservadores, enquanto os Sith puderam prevalecer.

    1. JJota

      Eu acredito mesmo que a inércia dos Mestres foi ponto fundamental para que acontecesse o que aconteceu com o Escolhido. Mais argumentos para isto apresentarei na segunda parte.

      1. Agnaldo Santiago

        Por mais que seja estúpida essa inércia, com certeza fazia parte dos planos da Força para o Escolhido. Eu acho quase necessário para os usuários da Força entenderem como funciona o Lado Negro para poderem evitá-lo, e não apenas dizer que ele é ruim. Luke se tornou um mestre muito mais capaz depois do seu período como Sith. Infelizmente, esse tipo de experiência sempre traz desgraças, e a de Anakin foi realmente horripilante. Mas, ao que parece, um mal realmente necessário.

  3. Don Vittor

    Ótimo texto meu amigo. Eu que nunca fui fã de Star Wars, até fique com vontade de ver a sequencia de filmes.

    1. JJota

      Como disse ao Rosinha no FB, gosto da hexologia mais pela mitologia que ela possui do que pelo enredo em si (pois, analisando friamente, tanto a nova como a antiga trilogias são bobas de doer). Uma das coisas que me faz ficar completamente indiferente às iniciativas da Disney pra produzir novas aventuras cinematográficas de Star Wars é que, pra mim, Star Wars é, acima de tudo, a história de Anakin Skywalker. Ele é o verdadeiro ponto de interesse dentro da história. Seguir sem ele não trará um novo Star Wars, um novo Senhor dos Anéis ou um novo Harry Potter. Creio que será mais como um Crônicas de Nárnia – dará lucros absurdos, mas será solenemente ignorado com o tempo, como algo que poderia ter sido e nunca foi.

  4. Inacreditavel_Neo

    A ordem Jedi estava praticamente estagnada na época em que o Anakin começou a ser treinado. Desleixada a ponto de não perceber a presença de um Sith no Senado.

    Outra coisa: se perceberam que o rapaz era tão poderoso, deviam ter ficado mais próximos e não afastá-lo, como fizeram.

    Se lascaram.

    1. JJota

      Não sei se intencionalmente ou não, George Lucas fez um interessante paralelo com a Igreja Católica da Idade Média: com ela estava o poder, ainda que não o exercesse abertamente; presa a dogmas inexplicáveis, que perdiam mais e mais sentido com o tempo e nem por isso eram alterados; era cheia de contradições, como condenar o homicídio e apoiar guerras ou condenar o lucro e arrecadar demais; certa de sua influência, deitou-se em berço esplêndido e, quando deu por si, já a revolução batia a sua porta.

      Um poder como o de Anakin nunca ter sido percebido já mostra como a Orem estava acomodada. Em outros tempos, Cavaleiros atentos estariam vasculhando a galáxia em busca dos sinais do Escolhido. O desprezo como ele foi tratado só podia, mesmo, dar no que deu.

  5. Bigby Wolf

    A mitologia de Star Wars é tão grande que acho válida a ideia de uma nova história no mesmo universo.

    Não precisa necessariamente ser um filme. Um livro estaria muito bom.

    O que quebra isso é a incapacidade dos fãs em aceitar. George Lucas alterou alguma coisas na Nova Trilogia e BOOM!, de repente, os fãs já queriam que ele não tocasse mais em Star Wars.

    E existe uma puta má vontade mesmo com a nova trilogia. Reclamam de absolutamente tudo, desde o ator que interpretou o Anakin, até o fato do Yoda não ser mais um boneco verde. Mas a história, em si, não fica devendo se comparada a antiga trilogia.

    Esperando a continuação.

    1. JJota

      Acho que existe mesmo má vontade com a nova trilogia – até porque, analisando friamente, a original não é tudo isso também. Embora o primeiro e segundo filmes vivam ais de alguns momentos (como a corrida de pods e o duelo dos jedi com Dookan), acho o terceiro o melhor justamente por retratar o mergulho na escuridão.

      Uma nova história dentro do mesmo universo…. Não sei se funcionaria muito, pois sempre vi Star Wars no cinema como a história de Anakin Skywalker. Mas posso – e, na verdade, gostaria muito de – ser surpreendido.

  6. Daniel F. Lemos

    Podem me chamar de herege, mas eu gosto mais da nova trilogia do que da antiga. Claro que gosto da antiga, não só por toda a revolução que trouxe, mas por gosto pessoal também, que apesar de meio boba como tido aqui (e concordo) é antes de tudo uma trilogia divertida e aventureira.

    Coisa que a nova também buscou, mas em menor escala. Eu vi a nova trilogia como a derradeira história do Vader e como, nos filmes, ele foi o verdadeiro escolhido para trazer equilíbrio na força (apesar de que no universo expandido, acredito que Luke seja o escolhido).

    Vemos como aquela criança inteligente, de certa forma caridosa se torna um adolescente arrogante pelo poder que tem, e no terceiro filme, vemos que Anakin poderia ter sido um dos maiores Jedis de todos os tempos, se os dogmas não fossem tão absurdos como eram.

    A arrogância dos jedi, aliada ao inconfomismo e revoltas do Anakin o transformaram em Darth Vader e não o amor pela Padmé, ou a fúria contra o povo da areia e o massageamento de ego pelo Palpatine.

    Eu também tive essa visão de que o próprio conselho se deixou ruir, pois Anakin sendo realmente (ou não, como a ressalva de alguns) o escolhido, ele deveria ter sido é muito bem instruído e não ter sido deixado de lado.

    Ele seria de qualquer forma nos filmes o agente da mudança. Inicialmente tirou o peso da balança que estava do lado dos Jedi e levou para os Siths. E no fim, no episódio VI, voltou a equilbrar a balança, tirando o peso que estava todo no lado do Siths e equilibrando, deixado para Luke a missão de um novo tipo de jedi.

    1. JJota

      Daniel, nos posts subsequentes eu deixo claro vários pontos em que nossas opiniões convergem. Principalmente na queda de Anakin. E eu acho que ele é o Escolhido mesmo, tanto que ele cumpre a profecia (até as últimas consequências, como deixarei claro na parte 3).

      1. Daniel F. Lemos

        então que venham as próximas postagens. XD

  7. Fabricio Oliveira

    Eu acho que a nova trilogia serviu pra aprofundar mais alguns conceitos como a explicação mais científica do Qui Gon sobre o que é a força e falando das midi-clorians, por exemplo, diferente da explicação do Yoda pro Luke no Episodio V, que era mais mística e transcendental. E também, a nova trilogia aprofundou mais o papel do Anakin/Vader, mostrando que ele,ao contrário do que se pensava, não é o vilão e sim o personagem-chave, que determina todos os acontecimentos, apesar de ser sempre coagido por um dos lados. E cujo poder torna ele um amuleto pros Siths e Jedis disputarem a coerção dele no decorrer de toda a saga.

    1. JJota

      Concordo muito. Apesar dos defeitos (que eu acho que existem também na trilogia clássica) a nova trilogia cumpre seu papel ao dar mais conteúdo ao Anakin e explicar algumas questões. Só lamento que outras fiquem sempre surgindo e nem as séries animadas conseguem tapar.

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