É comum no dia 08 de Março, nós mulheres recebermos inúmeras congratulações e rosas vermelhas com um bilhetinho escrito “parabéns”, “parabéns por ser mulher”. Embora a coincidência de ter nascido com um determinado gênero, e ter me identificado com ele numa certa idade, não é motivo nenhum para ser parabenizada. Então, sempre que alguém dizia: “parabéns, mulher, pelo seu dia”, ou “feliz dia da mulher”, como se fosse Natal, meu aniversário, ou algo do tipo, eu pensava: “pelo que estão me parabenizando?”.
Penso que, em vez de parabéns ou flores, nessa data a sociedade deveria pedir desculpas, pois a data vem para nos relembrar de todas as injustiças cometidas por questão de gênero; todas as vezes em que fomos taxadas de fracas por sermos mulheres; impedidas de ganhar salários justos (ou iguais aos dos homens); de ganhar prêmios nas Ciências – porque ninguém pode dar crédito científico a uma mulher -; todas as vezes em que fomos assediadas, torturadas, estupradas e mortas pelo simples fato de sermos mulheres.
Em vez de “parabéns”, poderiam nos dar o direito de sermos donas de nossos corpos, de escolhermos o que vamos vestir, sem ter medo do que pode nos acontecer se estivermos na rua com aquela roupa. Em vez de flores, poderiam não nos agredir ou nos matar sempre que terminássemos um relacionamento amoroso; em vez de “feliz dia da mulher”. Podiam nos deixar sermos felizes todos os dias, sem medo de ter nossa liberdade sexual, sem medo de sermos taxadas de putas, vadias. Em vez de parabenizar, podiam nos dar liberdade para escolhermos o tipo de mulheres que seremos; podiam nos dar a escolha para decidir se queremos ou não ser mães, sem as pressões para que procriemos; podiam nos dar a escolha de casarmos ou não, sem a pressão de que é necessário ter um homem em nossa vida; podiam nos dar a liberdade de sermos lésbicas, ou bissexuais. Em vez de flores ou parabéns, podiam nos dar respeito.
Muitas de nós ganharão flores hoje, e quantas de nós serão mortas amanhã? Quantas de nós serão estupradas, ou agredidas? O “parabéns” é por eu ainda não fazer parte das estatísticas, é por eu ainda estar viva apesar de tudo? E quanto às que não estão? O que farão sobre elas? Quem levará flores para elas?
Se você é homem, e está lendo esse texto, nós não queremos seu parabéns se você nos assedia nas ruas, nós não queremos suas flores se você nos impede de exercer cargos ou gostar de ciência, quadrinhos, videogame, por sermos mulheres; não queremos que diga “feliz dia da mulher”, se você nos impede de termos direitos sobre nosso corpo, sobre nossa sexualidade. E se você não faz nada disso, mas ri dos amigos que fazem, não os ajudando a desconstruir esse preconceito, você é cúmplice, não queremos o seu parabéns também.
Se você é mulher, eu desejo que você tenha força, para ajudar a si mesma e às mulheres que estão por perto. Desejo que vocês se abracem, e digam o quanto precisam uma da outra. Espero que nesse dia pensem nas suas irmãs, que estão na luta para que um dia, finalmente, consigamos ter um feliz dia da mulher. Se você é mulher, sinta-se abraçada!
