Woodstock – O Festival dos Festivais

Os anos 60 foram marcados por inúmeras mudanças históricas, o surgimento do feminismo, o fortalecimento de movimentos pela igualdade racial, a Guerra do Vietnã, a Revolução Cubana, o primeiro homem pisar na lua, o nascimento do movimento hippie e seus protestos contrários à Guerra Fria. Para a música, os anos 60 foram históricos, principalmente por causa de Woodstock.

poster
Pôster Woodstock 1969

Originalmente planejado para acontecer na cidade de Woodstock, – cidade com cerca de 6 mil habitantes a 170 km de Nova York – o festival homônimo fora anunciado como três dias de arte, paz e muita música, mas a ideia de Michael Lang não foi muito bem aceita pelos moradores da cidade, e o festival teve que ser transferido para Bethel, a uma hora de distância do local inicial.

vias lotadas
Vias lotadas de hippies

Apesar de vender cerca de 186.000 ingressos, – cada um deles a $75 nos dias atuais – algo inesperado aconteceu; mais de 500 mil pessoas apareceram por lá derrubando cercas, grades e tornando o festival em um evento gratuito. A consequência disso foi um bloqueio nas vias de acesso a cidade de Nova York, pessoas fedendo porque o festival não suportava esse público e Bethel, aquela cidade pacata, foi declarada “área de calamidade pública”.

Calma, mas não foi só isso; apesar da vibe paz e amor do público, houve dois casos de morte, um por overdose de heroína e outro por um bizarro atropelamento de trator. Ainda no mesmo festival foram registrados dois partos e quatro abortos.

Mesmo com todos esses problemas, o festival de Woodstock foi um marco para a música mundial, em seus três dias – 15, 16 e 17 de agosto de 1969 – contou com shows históricos de Jimi Hendrix, Santana, Janis Joplin, The Who e Joe Cocker. Alguns artistas recusaram-se a aparecer no festival como o Led Zeppelin, alegando que seria só mais uma banda no festival, os Beatles, a entrada de John nos Estados Unidos estava sendo dificultada pelo presidente Nixon e eles estavam prestes a se separar, não tocavam ao vivo já há alguns anos, e Bob Dylan que, mesmo morando perto do local, cancelou sua apresentação, pois seu filho havia adoecido.


Dois festivais tentaram ser o Woodstock brasileiro; o primeiro deles aconteceu em 1971 no Espírito Santo, mais precisamente em Guarapari, mas foi um total desastre, os organizadores Antônio Alaerte e Rubens Alves mal tinham o equipamento sonoro necessário na véspera do evento. Ainda neste mesmo festival Tony Tornado saiu preso após dar um mosh e cair em cima de uma jovem que assistia ao show.

Pôster Águas Claras 1975
Pôster Águas Claras 1975

A segunda tentativa de um Woodstock tupiniquim foi o Festival de Águas Claras, na cidade de Iacanga no interior do estado de São Paulo. Este festival fora menos desastroso, porém bem longe de ser um Woodstock; ainda assim contou com quatro edições – 1975, 1981, 1983 e 1984 – repletas de consagrados artistas brasileiros como Raul Seixas, Grupo Capote (SIM, o da Feira da Fruta), Gilberto Gil e Mutantes.

Lá nos Estados Unidos a tentativa de reviver o Woodstock durou pouco, a edição de 1994 aconteceu em outra cidade pacata na região de Nova York, Saugerties (a 135 km de NY), e contou com apresentações de Metallica, Green Day, Aerosmith e Peter Gabriel. Os ingressos custavam $135.

A segunda – e ultima – edição do Woodstock aconteceu em 1999 e acabou enterrando de vez a reputação do festival por causa de “incentivos violentos” de bandas como Limp Bizkit (sempre eles…) e Kid Rock.

Há muitos filmes que citam o Woodstock, mas o melhor deles ainda é o de Ang Lee, Taking Woodstock (“Aconteceu em Woodstock”), que conta a história do festival com certa liberdade poética.


Também é válido lembrar que há um documentário chamado Woodstock3 Days of Peace and Music lançado em 1970, cheguei a assisti-lo uma vez, mas depois se perdeu pelas ondas televisivas.

A verdade é que vejo esses festivais invadindo o Brasil, cobrando quinhentos reais por três dias com bandas que mal conseguem ter uma carreira relevante e penso “como eu queria ter vivido o Woodstock”.

Gaby Molko

Paulista, musicista, jornalista, detalhista, sessentista, comentarista, imediatista e polemista.

Este post tem 9 comentários

  1. JJota

    Aquela reedição foi muito, muito errada. Tanto quanto estes Rock In Rio de hoje, com música baiana e Sandy e Jr.

  2. Churrumino

    Eu tava vendo alguns videos da apresentação do Hendrix em Woodstock, que show sensacional!!!!!

    1. JJota

      Ele tocando o hino americano enquanto faz sons de avião e bombardeios com a guitarra?

  3. Jonathan zzz

    Rock in Rio é um festival de música pop, não no sentido gênero musical pop, mas no sentido do muito popular. O que você vê de rock no Rock in Rio são sempre artistas muito famosos, mesmo que bons, e nem a relevância é respeitada, como no fato de bandecas novas como o NxZero e o Gloria tocarem no palco principal e atrações como Sepultura e Nação Zumbi tocarem no palco alternativo.

    Isso não é necessariamente ruim porque você vai ver atrações de outros estilos musicais de qualidade, mas sempre de artistas muito populares, como o Stevie Wonder.

    Vale lembrar que desde a primeira edição o Rock in Rio recebeu atrações longe do gênero do rock. Porra, NEW KIDS ON THE BLOCK!

    1. gabymolko

      Concordo Jonathan, quando falamos de festivais, principalmente brasileiros, o Rock in Rio é histórico apesar das gafes.
      Mas temos que concordar também que os festivais por ai, não só no Brasil, na Europa também, andam deixando por desejar. Há anos que o Rock Am Ring, por exemplo, não apresenta boas bandas a um bom preço.
      Além disso temos a importação do Lollapalooza para o Brasil com preços fora da realidade e a criação do SWU que sempre apresenta algum tipo problema na hora de atender aos campers.
      Por essa fome de dinheiro dos organizadores, sem qualquer tipo de preocupação com as atrações relacionadas, não acredito que teremos algum Woodstock contemporâneo. Uma pena.
      O próprio Woodstock também promovia essa mistura de ritmos, se você parar pra pensar o que Janis Joplin e Joe Cocker dividem? O grande equívoco das produtoras de shows é cobrar R$500 por um festival com bandas que não conseguem manter a sua carreira de forma coerente. Como pode num line up desses ter uma apenas uma banda que realmente vale a pena ver um show ao vivo? Esse, na real, é o meu questionamento toda vez que eu escrevo sobre o acontecimento Woodstock.

  4. Edu Aurrai

    O Hendrix tocou na segunda-feira de manhã devido a uma porrada de problemas. A maioria da galera já tinha vazado, weekend’s over né, então se tu olha bem nos vídeos do Hendrix, da pra notar a podreira que tá o campo onde tá a galera, rs. Ravi Shankar, falecido recentemente, fez o show dele debaixo de uma puta chuva. Joan Baez tava grávida de seis meses quando cantou no Woodstock.

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