Vivenciando narrativas em diferentes meios – parte I

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Testemunhar, conhecer ou participar de histórias sempre fascinou a humanidade, desde seu uso cultural/educativo na sociedade oral quanto de entretenimento na modernidade. Como sou humano, incluo-me neste deslumbramento. Por isso, decidi compartilhar um pouco da minha trajetória relacionada à contemplação e criação de narrativas. A seguir, a primeira parte…

Desde criança, escrevo histórias de ficção. Lembro-me que passava a madrugada apertando letra por letra em uma máquina de escrever antiga ou sentado em frente ao computador, digitando alguma história fantástica – normalmente, suspense sobrenatural. Além disso, lia sempre algum romance de terror, suspense, mistério ou policial.

Escrever sempre criou em mim a sensação de viver uma história, ser uma personagem, controlar destinos, elaborar tramas, libertar desejos ocultos e enfrentar medos. A ação acontecia na minha mente, palco perfeito para livre criação. É no campo mental que as personagens tomam forma, interagem, sofrem. Só depois os acontecimentos eram registrados no mundo concreto. Era como se um filme passasse em minha cabeça antes de ir para o papel.

A história, enquanto está no ambiente mental, ainda não é representação, pois não obedece à estrutura narrativa aristotélica – início, meio e fim. Ela só se torna uma narrativa minimamente reconhecível externamente quando é passada para o papel. Escrever, então, é um exercício de organização de pensamento, de esquematização e de tradução dos múltiplos fios entrelaçados e associativos do pensamento em uma linguagem perceptível.

De uns anos para cá, simplesmente parei. Acreditava que a razão estava no volume maior de estudos, nos textos para concurso público, especialização e mestrado. Nesse meio tempo – aproximadamente 5 anos – nunca reconheci que havia parado de vez, e sempre afirmava que um dia retornaria aos contos e romance. Constantemente, abria os arquivos no computador, dava uma olhada e fechava-os novamente sem salvar.

Minha paixão por narrativas, no entanto, não diminuiu ou muito menos se esgotou. O meio, por sua vez, foi alterado. Saí do texto, da escrita, e fui para a tela. Não a tela de filmes ou seriados, mas a tela do videogame. Apesar de este também ser um hábito antigo em minha vida, a mudança ocorreu na satisfação que o jogo passou a proporcionar.

Hoje, percebo que a evolução dos games é concomitante com a diminuição da frequência com que leio romances e escrevo contos…

O investimento na criação de jogos mais realistas, tanto em relação a tramas complexas quanto na perfeição da imagem, som e agência (relação lógica entre a ação do jogador e sua consequência no mundo ficcional), possibilitou a minha substituição do ato de escrever pelo ato de jogar. Através dos consoles, o controle de um mundo de fantasia que tanto me agrada, saiu do campo mental/escrito para se tornar algo sensível, representado em tela. A criação de jogos cada vez mais narrativos parece que satisfaz minha “sede” por histórias de ficção. A aventura, antes diretamente vivida em minha imaginação, passou para os games.

Vale citar aqui que jogos narrativos sempre existiram, entretanto, não com a profundidade que temos hoje. E mais um dado bem particular: como meus conhecimentos da língua inglesa aumentaram com o tempo, ficou mais fácil acompanhar o desenrolar das histórias.

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

Este post tem 5 comentários

  1. Victor Vaughan

    Me identifiquei bastante com seu relato, Audi. Quando moleque escrevia contos, histórias seriadas, passava a madrugada produzindo, mas com o tempo veio o teatro e pensei ter abandonado  tudo isso, achava errado e me cobrava no íntimo bastante. Mas de anos para cá entendi que nunca parei de produzir, só mudei o foco, os textos antes em poesia e prova, não morreram, se tornaram diálogos teatrais que eram readaptados, peças que eram escritas e até o fato de traduzir os textos dos outros para serem montados, se tornou muito mais fácil por ter alguma prática anterior com o exercício da escrita. Seu trabalho continua vivo e ardente, agora em um novo veículo também.

    1. Gustavo Audi

      Pelo menos comigo, sempre que abro a pasta no pendrive com os arquivos das minhas histórias (principalmente, o romance inacabado de 140 páginas), dá um aperto…

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