Vingadores: Guerra Sem Fim – A Graphic Novel e os quadrinhos como negócio

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Grande ou pequeno, crescendo ou encolhendo, há um mercado para as histórias em quadrinhos no Brasil e no mundo.

Podemos tecer algumas considerações, no limite entre a irresponsabilidade e o achismo, no sentido de que há público na Bélgica e na França sedento por arte na forma de narrativa, por poesia e fantasia, reflexões e aventuras em mundos e realidades distantes.

dddE dizer que jovens italianos buscam roteiros inteligentes e amarrados, e que brasileiros amam a Turma da Mônica. E, principalmente, talvez com mais propriedade, que norte-americanos preferem os super-heróis.

E, em que pesem as paixões e convicções desses leitores amantes de pessoas voadoras imortais vestindo colante, há a premissa do mercado, especificamente, do sistema capitalista, que é a obtenção de lucro. Nessa lógica, não importa que seu herói predileto seja substituído por uma velhinha de botas vermelhas na edição do mês seguinte, desde que isso resulte em incremento nas vendas da série mensal do coitado.

Paralelamente, os escritores e editores buscam controlar os resultados do produto final, zelando pela manutenção de um mínimo de verossimilhança, continuidade e respeito à história que vem sendo contada na revista (às vezes, há décadas ininterruptamente), equilibrando a parte criativa com as metas financeiras.

Vingadores: Guerra Sem Fim me parece, desde a concepção, um projeto diferenciado. Pelo selo na capa, trata-se de uma OGN (Original Graphic Novel), isto é, um material para livrarias, com maior cuidado em sua produção, sem a ordinariedade da revista mensal de linha, tampouco distribuição em bancas, com aquele conhecido tempo contado para venda ou recolhimento.

Vingadores: Guerra Sem Fim foi desenvolvido como uma história fechada, ainda que se passe na linha do tempo atual dos personagens, e se propôe a apresentar uma aventura centrada na despersonalização da guerra, exemplificada pelo uso dos drones ou similares em conflitos.

O design e a diagramação demonstram  que se trata de um produto voltado para adultos, com apresentações sóbrias, tanto nas proporções, tipologia e linguagem, quanto na paleta centrada em preto e cinza e alguns detalhes em vermelho.

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Há a experiência da realidade aumentada, cujo conteúdo é possível aproveitar ao apontar a câmera de seu celular para símbolos predeterminados espalhados na edição, após baixar um aplicativo especial. Minha câmera é péssima, e nem tentei, mas vejo como uma louvável iniciativa, num universo em que grande parte do público-alvo da editora costuma interagir bastante com seus celulares de última geração.

A introdução é assinada pelo Agente Coulson do cinema e da TV, Clark Gregg, que revela  que o volume inicia uma nova linha de graphic novels estreladas pelos personagens do filme dos Vingadores e outros benquistos pelos fãs.

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Uma página antes da hq propriamente dita, um “Manual de Identidade Visual” dos Vingadores, com a reprodução de uma fonte de letra ‘oficial’ e alguns símbolos menos cotados nada acrescenta ao livro, servindo, na verdade, para revelar os objetivos mercadológicos não somente da Marvel, mas do próprio grupo de heróis, que, parece disposto a controlar o uso de suas marcas e lucrar com elas, talvez, para recuperar investimentos a fundo perdido da Stark Enterprises.

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Ao fim da história, os costumeiros perfis dos autores, incluindo o designer, além de uma acertada menção honrosa aos profissionais brasileiros que adaptaram a capa, o logotipo e os editoriais.

Encerra a edição duas páginas de propaganda disfarçada: Thumbnails das capas de diversas edições da ‘coleção’ Marvel Deluxe, e dos álbuns dos três volumes de Os Supremos.

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Falando na logomarca, ela realmente é bonita, ousada. Mas de difícil legibilidade. E o que dizer da quarta capa, cujo texto forma uma espécie de espiral? Horror! Digo, visualmente é lindo, mas cansa excessivamente a leitura, não parece utilizar razoavelmente o espaço para convencer o leitor ocasional a comprar a obra.

Aliás, embora bem-vindos, não consigo entender até que ponto os leitores ocasionais são o público-alvo da graphic novel. A capa, em que pese a beleza, só destaca facilmente a imagem do Capitão América, o que, sem uma legibilidade maior da marca Vingadores, pode facilmente dispersar o leitor ocasional, que não se dará conta de que diante de si há um produto derivado do filme do cinema.

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Bem, e se ele ainda assim, der o próximo passo e comprar a edição, com certeza se embolará na leitura, que pressupôe algum conhecimento do atual status dos personagens, que vivem hoje a fase Marvel Now, uma nova linha editorial que ainda não conheço bem. O roteiro de Warren Ellis, um dos maiores nomes do mercado hoje, autor de The Authority e Planetary, garante uma leitura agradável, embora não passe muito disso e ainda garanta algumas passagens mal explicadas, como a das lendas envolvendo Thor. A narrativa e o desenho de Mike McKone não colaboram, pois, na tentativa de atingir um alto grau de realismo e naturalidade, muitas de suas cenas ficaram sem movimento.

Fica a ideia de que o estilo do escritor foi suavizado, e o desenho forçado a emular um traço deveras limpo e realista, algo provavelmente exigido para que o resultado final do produto se encaixasse no projeto de negócio da Marvel.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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