Quando numa roda de amigos amantes de quadrinhos perguntamos qual é o seu personagem favorito, invariavelmente ouvimos o nome de algum personagem da Marvel ou da DC, mas há outro personagem criado 1947 por Carl Barks para a Western Publishing editora, que tinha o licenciamento das historias em quadrinhos dos personagens Disney.
Carl Barks começou a trabalhar nos estúdios Disney como animador, roteirista e diretor de criação em 1935, sendo um artista autodidata participou de desenhos do Pato Donald, e participou de Bambi e alguma coisa do Mickey. Em 1942 a editora que publicava as histórias em quadrinhos do Pato Donald precisava de material inédito e procurou-o surgiu assim O Tesouro do Pirata.
Em seis de novembro daquele ano, Barks deixou o emprego de animador. No mês seguinte, trabalhando em casa, passou a colaborar regularmente com a Western Publishing, que editava os quadrinhos do Pato Donald. A editora mandou a ele um argumento de HQ, que ele devia desenvolver. Barks percebeu alguns “furos” no roteiro e escreveu perguntando se poderia fazer modificações. Diante da resposta positiva, deu o seu estilo à trama, o que lhe valeu um convite para escrever uma história e desenhá-la. A partir daí, iniciou um trabalho que produziu, ao longo de 25 anos, mais de seis mil páginas e 500 histórias.
Carl Barks criou uma infinidade de personagens que criaram vida e nos divertem até os dias de hoje, entre suas criações figuram a cidade de Patópolis, os Irmãos Metralha, a Maga Patalógica, o Peninha, Professor Pardal, o Gastão, mas sem sombra de duvida a sua criação mais famosa foi o Tio Patinhas criado em dezembro de 1947 na historia Natal nas Montanhas. Na história, Patinhas convida seus sobrinhos para sua cabana nas montanhas, planejando armar um susto e divertir-se com a desgraça dos sobrinhos. Em sua segunda história, O Segredo do Castelo Tio Patinhas recrutava seus sobrinhos para procurarem um tesouro escondido no castelo ancestral da família McPatinhas, na Escócia.
Estava criado o estilo que tornou famoso o personagem, em suas aventuras ao redor do mundo para buscar tesouros para aumentar ainda mais a sua fortuna, ele enfrentava todos os tipos de perigos reais ou imaginários. Em suas historias, Tio Patinhas já foi em busca do velo de ouro, buscou a pedra filosofal, enfrentou harpias, esteve incontáveis vezes no espaço, no fundo do mar, no centro da Terra, e nos cantos mais remotos do planeta, sempre buscando alguma maneira de aumentar a sua fortuna, e quase sempre arrastando consigo o seu sobrinhos o Pato Donald, Huguinho, Zezinho e Luizinho.
Nessas historias, a narrativa tem uma fluidez simples mas ao mesmo tempo dinâmica, cativando os leitores e os transportando para outro mundo, sem ser uma coisa forçada que pareça artificial. É importante dizer que Barks não via os personagens como patos e sim como pessoas, assim, nessas histórias, podemos ver todas as qualidades e defeitos do ser humano, o que contribui para o carisma dos personagens, diferente dos desenhos animados do estúdio, nos quadrinhos são abordados muitos temas que não tratados com muita relevância nas animações.
As histórias, principalmente as criadas por Barks, tiveram grande influência na cultura pop, como por exemplo em Indiana Jones e os caçadores da arca perdida, uma armadilha ligada a um ídolo de ouro libera uma enorme rocha e dá início a uma das sequências mais famosas do cinema. Em seguida, o Sr. Jones escapa e passa por um túnel que dispara flechas por todos os lados.
As duas cenas são referências aos quadrinhos As Cidades do Ouro (The seven Cities of Cibola), e As minas do Rei Toleimon (The Prize of Pizarro). No primeiro, Tio Patinhas e seus sobrinhos também descobrem um ídolo com uma perigosa armadilha, eles conseguem escapar, mas os irmãos metralhas colocam tudo a perder e liberam a enorme rocha. No segundo, os patos enfrentam um desafio idêntico ao das flechas que Indiana Jones escapou. Coincidência? Não, apenas uma homenagem de George Lucas e Steven Spielberg, fãs assumidos do Tio Patinhas.
No embalo do sucesso do herói criado por Lucas e Spielberg, a Disney produziu a série Duck Tales – Os Caçadores de Aventuras a partir de 1987. Os roteiros eram assumidamente baseados em Barks. Eram muito comuns citações, sátiras e inspirações a Indiana Jones nos desenhos animados da época, mas o curioso neste caso é Duck Tales, criado a partir de Carl Barks, apontar para o que havia se inspirado nele mesmo. E neste ano para comemorar os 30 anos da serie original teremos uma nova versão do desenho, o mais significativo da importância do Tio Patinhas é o fato de nessa nova versão a sua voz ficou ao cargo de David Tennant, ator escocês famoso por ter dado vida ao ícone da TV britânica Doctor Who em sua décima encarnação e se tornando o mais popular interprete do personagem.
Outra inspiração das histórias do Tio Patinhas pode ser encontrada no filme Inception (A Origem), de 2010. O filme foi pioneiro em trazer em sua história, mecânicas inovadoras como sonhos compartilhados, roubo de pensamentos, limbo psicológico e escapar do subconsciente através de acontecimentos específicos chamados “chutes”. Essas idéias remetem a uma história do tio Patinhas, lançada em 2002 com o título The Dream of a Lifetime. Escrita por Don Rosa oito anos antes de Inception, os irmãos Metralha invadem a mente de tio Patinhas durante um sonho para roubar a combinação do seu cofre. Se isso soa vagamente familiar, é devido ao fato de Inception começar exatamente dessa forma.
Portanto, se você gosta de aventura, fantasia, ficção científica, comédia, tudo isso e muito mais você vai encontrar nas histórias do Tio Patinhas, e aproveite que a editora abril está lançando uma coleção em capa dura com todas as histórias do pai dos patos Carl Barks, um verdadeiro tesouro em forma de quadrinhos.
