Iluminamos: Thor – Walt Simonson – Vol. 1

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Muito antes do Ragnarok, o apocalipse da mitologia nórdica, antes mesmo de se tornar o Rei de Asgard, o poderoso Thor protagonizou uma fase áurea entre os títulos da Marvel nos anos 1980, sob a batuta de um verdadeiro mestre dos quadrinhos: Walt Simonson. Certa vez, Walter Simonson afirmou, em uma entrevista, que quando começava a escrever um título queria fazer algo que nunca tinha sido feito antes com o personagem. Poucas pessoas deixaram sua marca num personagem de modo tão marcante quanto Simonson deixou no Thor. E agora, vou lhes explicar o porquê.

Falo aqui da melhor fase de Thor de todos os tempos, superior até à inicial, nas mãos de Stan Lee e Jack O Rei Kirby. Isso porque, além de Walt Simonson ter um profundo conhecimento da mitologia nórdica e conseguir utilizá-la de forma interessante e instigante em seus roteiros, ele também revolucionou o traço e a narrativa nos quadrinhos com seu estilo único.

Seus desenhos são limpos e estilizados, porém consistentes e competentes. Este tipo de inovação, sobretudo nas histórias do Thor, que costumavam trazer artistas de traço muito convencional, deixou os leitores bastante surpresos. Até quem, a princípio, criticou o traço incomum de Simonson, depois teve de se render à sua originalidade.

Publicadas na década de 1980 pela Abril (onde saíram em formatinho na Heróis da TV # 101 a # 111 e Superaventuras Marvel # 76), elas chegaram no Brasil em 2006, pela primeira vez no formato original americano, papel de qualidade e com um belo trabalho gráfico da Panini (sim, a editora dos carcamani).

Vale dizer que o conteúdo deste encadernado é o mesmo de Thor Visionaries – Walter Simonson TPB – Vol. I, com aventuras originalmente publicadas em The Mighty Thor # 337 a# 348.

É engraçado que, apesar de Simonson gostar tanto da mitologia nórdica, tenha dado início à sua fase à frente do Deus do Trovão introduzindo um personagem que nada tinha a ver com Asgard – Bill Raio Beta, um alienígena Korbinita com cara de cavalo e uma imensa coragem.

O visual de Bill é tão surreal quanto seu nome e a história que fez dele um dos protagonistas da cena: ele derrota Thor em combate e recebe de Odin o direito de empunhar o Mjölnir. Claro que, pra não deixar Thor desarmado, Odin pede aos anões ferreiros para criarem um novo martelo para Bill, que se transforma em uma espécie de Thor modernoso e, claro, com cara de cavalo.

Lorelei, a irmã mais nova de Encantor, é apresentada pela primeira vez, e se une a Loki com o objetivo de conquistar Thor. A edição 341 marca a primeira aventura de Thor como Sigurd Jarlson, sua identidade secreta obtida por Nick Fury. Thor não mais se transformava num frágil humano, pelo contrário, ele apenas se disfarçava com um óculos e rabo-de-cavalo, como um pacato peão de obras. É então que Lorelei inicia o seu plano para conquistar Thor e finge ser apenas uma mortal.

Logo depois, Thor encontra Eilif, o perdido, e junto a este, combate o dragão Fafnir, que tem como único pensamento aniquilar o filho de Odin. Num momento extremamente tocante, Eilif sacrifica-se para possibilitar a derrota da besta. Logo depois Thor se ajoelha e chora abraçado ao corpo sem vida do último viking.
Um aspecto importante da história que gostaria de lembrar são os sentimentos que a chegada de Bill Raio Beta provoca em Lady Sif, aquela que era, até então, a eterna namorada de Thor. Ela e o Deus do Trovão há algum tempo estavam se distanciando. A guerreira impávida enxergou além da aparência física e se apaixonou pela nobreza de espírito do Korbinita.

Simonson virou a vida de Thor de cabeça para baixo e, como todo artista verdadeiramente visionário, trouxe mudanças que, se não fossem conduzidas por um verdadeiro mestre na arte de narrar histórias, não dariam certo. A mais significativa delas foi, como eu já havia dito, a mudança de identidade de Thor, que de aleijado passou a ser um peão de obras.

O pior é que a mudança deu certo, e se mostrou uma grande sacada, principalmente porque humanizou o personagem e o fez andar entre os mortais como um igual. Mesmo sendo um deus de Asgard, imortal e orgulhoso de seu trono e poderes, Thor nunca antes foi mostrado tão heroicamente, tão puro e tão humano.

Outro aspecto que o roteirista trabalhou com excelência foi o panteão de deuses nórdicos: Odin, Lorelei, Loki, Sif, Karnilla, Volstagg, Hogun, Fandral, Encantor, Executor, e principalmente Balder, o bravo. Este último, vinha de um ostracismo quase que completo após seu retorno da terra dos pés juntos (numa trama arquitetada por Roy Thomas e John Buscema) e aos poucos se tornou um personagem por vezes mais emblemático e cativante do que o próprio Deus do Trovão (o que me faz perguntar até hoje porque diabos ele foi descartado do filme do Thor).

Assim como o texto, a arte também é excelente, e apesar dos belos desenhos, é na narrativa que Simonson mostra porque é tão foda. Ela flui em ritmo exaltante, página a página, conectando fatos aparentemente desconexos e elevando a tensão ao máximo, sendo praticamente impossível parar de ler alguma trama na metade.

Em relação à arte, sabe quem é o melhor artista para finalizar Walt Simonson? Ele mesmo. Até o merda Terry Austin não consegue fazer um trabalho tão bom sobre a arte “rabiscada” de Simonson (é só olhar os esboços no fim da edição pra saber do que se está falando) quanto o próprio desenhista.

No final da história, as edições #344 a #348 mostram o combate de Thor com o Elfo Negro Malekith, e um personagem muito legal nos é apresentado, trata-se de Roger Willis, o guardião da Caixa dos Invernos Antigos, que apesar de todo esforço de Thor, é aberta no final deste encadernado e possibilita a fuga do aterrorizante demônio Surtur. Em cada uma das doze edições deste encadernado há um prólogo mostrando Surtur e preparando o terreno para sua libertação.

E foi assim, criando histórias épicas e grandiosas e abordando temas como heroísmo, traição e guerra, que Walter Simonson se tornou o melhor roteirista de Thor até o presente momento, melhor até que Jack Kirby. Por essa história e as seguintes, que o trabalho de Simonson com o Deus do Trovão é frequentemente considerado definitivo.

E, no segundo volume, a inesquecível fase de Walter Simonson à frente do Deus de Trovão continua com a maior epopeia já vivida pelos deuses nórdicos – a Saga de Surtur! Não percam o próximo post.


Ficha Técnica:

Título: OS MAIORES CLÁSSICOS DO PODEROSO THOR Volume 1 (Panini Comics) – Edição especial

Autores: Walt Simonson (roteiro e arte) e Terry Austin e Bob Wiacek (arte-final).

Preço: R$ 34,90

Número de páginas: 288

Data de lançamento: Setembro de 2006.

Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

Este post tem 37 comentários

  1. Lancelot Link A.K.A. Celso

    Thor é meu personagem favorito na Marvel, e quase que completamente graças a Simonson. Dava um ar épico às aventuras que faltava nos demais títulos.

    1. Rosinha

      A entrada do Simonson foi providencial para o enriquecimento do Thor como personagem, e de sua mitologia na Marvel.

  2. Pastor Luc Luc

    ótimo texto rosinha ! tenho esse encadernado e realmente é muito bom , chega a arrepiar ( ui ) a batalha do thor com o bill raio beta

    1. Rosinha

      Obrigado, Luc. A luta entre Bill e Thor é muito boa. E esta é a primeira de muitas aventuras do Thor, de agora em diante.

  3. cgui

    Excelente texto, Rosinha…
    parabéns!
    as histórias do SImonson são fudidas demais!

    1. Rosinha

      Obrigado, Cgui.

      E as histórias do Simonson com o Thor são fodonas mesmo.

        1. Rosinha

          huahahauahua… O Thor do Simonson é garantia de boa leitura.

          1. JJota

            Mal posso esperar pra ler você explicando O Sapo do Trovão!!!!!

          2. Rosinha

            Isso vai ser foda, hein.

  4. O_Filisteu

    Excelente postE Rosa!!!

    Cofrarei com certeza Thor é meu personagem favorito da Marvel e apesar da “cara de cavalo” kkkkkkkk….acho o Bill Raio Beta um personagem muito foda, quero ver o momento de concepção dele.

    E estou só esperando seu postE com a analise semiótica entre Thor, Loki e os irmãos da novela das 6!

    BWAHAHAHAHAHAHA

    1. Rosinha

      Obrigado, Filisteu. E sobre o post da análise…

      Huahahauhau, um dia eu faço.

  5. JJota

    Lá vou eu…

    Simonson é o motivo pelo qual lamento profundamente o filme do Thor. Embora não imaginasse uma transposição desta fase extraordinária para as telas, esperava pelo menos algo mais parecido. Mas não foi o que aconteceu. Não há Balder, o relacionamento de Thor e Sif é simplesmente ridículo, seu relacionamento com uma terrestre é podre e os Três Guerreiros… pfffff…..

    Simonson fez um casamento perfeito entre as lendas nórdicas e os dias atuais, colocando tão bem o Thor do universo marvel pra viver adaptações destas lendas que até esquecemos que o Thor das lendas é bem mais fanfarrão e, algumas vezes, ingênuo.

    Post foda. A fase do Simonson merece ser completamente dissecada aqui. Parabéns, Rosinha!

    1. Rosinha

      Obrigado, Jota. É realmente uma pena que a Marvel Studios tenha ignorado completamente a fase do Simonson como inspiração para o filme do Thor, tanto nos roteiros, quanto nos visuais e personalidade dos personagens.

      Os Três guerreiros ficaram fraquíssimos e não se assemelham quase nada às suas versões nos quadrinhos (exceto Fandral e a Lady Sif, que lembravam, mesmo que pouco, as suas contrapartes das HQs).

      Concordo sobre o casamento perfeito entre as lendas nórdicas e os dias atuais, o Simonson realmente soube dosar bem o fator épico de Asgard, com a vida urbana em Nova Iorque.

      No próximo post, a fodona Saga de Surtur.

  6. Luiz Carlos Dallegrave Júnior

    Quem de vocês notou, neste volume, um crossover rápido e certamente não-autorizado envolvendo um certo personagem da Distinta Concorrente? E quem não riu quando Nick Fury disse “funcionou com o outro cara”, numa provável referência àquele mesmo personagem?

    1. Rosinha

      Sim, claro. Como não lembrar da participação do Clark Kent na edição 341, na qual Thor e Nick Fury estão conversando, e o próprio Clark esbarra no Thor disfarçado, e depois olha e fala: ”… Eu podia jurar que ele era o…Não…”.

      Nem Clark acreditou que Sigurd poderia ser o Deus do Trovão.

      Aquilo foi genial.

  7. Linik

    Bio Raio Beta,grande cara…acho o Thor chato pra caramba.Mas o Bill é legal.

    1. JJota

      Cara, o Thor ficou chato com outros escritores. O do Simonson é muito, muito legal.

  8. Bianca Wernecky

    Que tesouro!!! Parabéns pela matéria! Make Mine Marvel!!!

    1. Rosinha

      Obrigado, Bianca. E Thor do Simonson é realmente um tesouro.

  9. Luiz Carlos Dallegrave Júnior

    A fase do Simonson à frente do título do Thor é incrível. O tom varia entre o épico – como na saga de Surtur, na incursão por Niffhelheim e na batalha entre Thor e serpente e Jormungand – e o burlesco – como o bizarro sapo do trovão. Notei até alguns elementos de contos de fadas, mas bem colocados (ui), sempre enriquecendo a trama.

  10. Victor Vaughan

    Eu era uma criança buchuda e bobinha, li esse material a medida que a Abril publicava, me causava estranheza, hoje em dia vendo pela ótica do rapaz jovem adulto e relativamente de gosto apurado, eu acho maravilhoso! Sim, foi um dos melhores artistas a frente do personagem, Rosinha, muito legal sua matéria, gostei demais e me fez bem. Abraço! Quer ver o Surtur botar para quebrar com a cara do loirão!!!

    1. Rosinha

      Muito obrigado, Victor. Se você gostou do post, aguarde o próximo com a Saga de Surtur e a invasão dos demônios na Terra.

      Abraços.

  11. Vintersorg

    Poste foda, little pink.

    Eu tenho os 5 encadernados da Panini e o segundo é simplesmente fantástico.

    É maravilhoso (modo 3V off) ver como tudo que ele construiu no 1º culmina na guerra contra Surtur no 2º volume.
    Muito foda, Walter Simonson é um dos meus artistas de hqs preferidos de todos os tempos.
    Eu me lembro de ler essas histórias em formatinho e ficar maravilhado com a temática nórdica do personagem, visto que até então eu somente tinha lido ele em aventuras em midgard e com os vingadores.

    1. Rosinha

      Obrigado, Sorg.

      As aventuras do Thor em Asgard sempre era legais com o Jack Kirby, mas com o Simonson elas tornaram-se melhores ainda.

      E no próximo post: Saga de Surtur.

  12. $9217641

    O tipo de história que eu gostaria de ler com o Superman. A fase do Geoff Johns foi a melhor fase que eu já li do Superman. Melhor, mas não inovadora.

    A última tentativa foi a fase Novo Krypton, mas James Robinson não deu conta.

    A única coisa de inovador que a DC faz é recontar a origem dele. Aff…

  13. Mister Ripper

    muito bom esse post, mesmo curtindo Thor nunca dei sorte com ele em gibis, agora vc me deu um novo estímulo para acompanha-lo.

    1. Rosinha

      Obrigado, Ripper. E vá em frente, estas histórias valem a leitura.

  14. Alex D'ates

    Parabens! Tive o prazerprivilégioorgulho de acompanhar a fase do Simonson em Superaventuras Marvel e desde então o afirmo como o maior quadrinista que já tive contato. Talvez não esteja nas maiores hqs de todos os tempos, mas com certeza seu nível de qualidade e respeito à mitlogia dos personagens não foi alcançado por mais ninguém.

  15. J.c el Perro

    Foda little Rosa. Não sei se é nesse volume que tem a conversa do Thor enrolando o Fing Fang Foom, que não reconhesse ele.
    O barato do Thor é que se bem escrito pode funcionar tanto como Vingador, nas aventuras solo na Terra, como herói cósmico (tipo um Surfista Prateado) ou como um deus viking em Asgard. Fora que é o D&D da Marvel.
    Abs

    1. Rosinha

      Obrigado, JC.

      Sobre o diálogo do Thor com o Funga Funga Fuum, o mesmo só ocorre no Volume 5, e, na verdade, não se trata do vilão do Homem de Ferro, e sim, da Serpent de Midgard, Jormungandr, que se disfarça de Fing para enganar Thor. Mas mais tarde acaba largando o disfarce e enfrentando o Deus do Trovão.

      Abraços.

      1. J.c el Perro

        E num é que é….
        Eu tenho essa história em uma Superaventuras Marvel de umas 400 páginas, que é metade com o Homem de Ferro, a parte chata da revista.

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