Telejornalismo e Propaganda

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É antiga a parceria entre Imprensa e iniciativa privada. A publicação de anúncios comerciais sempre representou respeitável receita aos jornais. E, no caso de atuais periódicos de distribuição gratuita, provavelmente a única.

A formação de grupos e conglomerados de comunicação, reunindo jornais impressos, estações de rádio e canais de TV tornou a Imprensa autorreferente, com citações cruzadas entre seus diversos veículos.

Hoje, é bastante comum encontrarmos uma chamada da rádio Band FM nos intervalos de programas da Rede Bandeirantes, ou comerciais do Jornal O Globo de domingo no meio da programação de sábado da TV Globo.

Em meio a isso, os telejornais de todas as emissoras passaram a fazer, durante o encerramento, chamadas do programa a seguir.

A Globo já vinha adotando tal política, não apenas no encerramento, mas ao longo de muitos de seus telejornalísticos, inclusive inserindo chamadas de seus outros programas de notícias e reportagens.

Tal recurso parece ter se popularizado recentemente, com telejornais confundindo-se com veículos de propaganda, dada a postura e direção editorial.

Explico, tratando especificamente do Fala Brasil e do Jornal Nacional.

Na edição de 21/7/2014 do telejornal da Globo, seu âncora, William Bonner, pôs-se a introduzir uma notícia que se insinuava como uma daquelas matérias especiais focadas em personagens interessantes da vida real.

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Entretanto, logo vimos que Bonner, na verdade, estava apenas interpretando um texto publicitário, revelando, ao final, que o personagem ao qual se referia não era real, mas ficcional. Tratava-se simplesmente de uma “chamada” para a telenovela Império, que estrearia na sequência.

A “chamada” foi bem interessante, e nos pegou de surpresa. Questiono se essa pequena ocorrência teria condição de abalar a confiança do telespectador, potencialmente enganado por alguns poucos segundos.

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Já o case do Fala Brasil, telejornal matinal da Rede Record, me parece mais preocupante. Embora mais explícito. Ele, aos poucos, foi se tornando o maior veículo jornalístico de propaganda da emissora.

Reportagens sobre aspectos abordados em programas no ar ou que irão estrear (principalmente reality shows) existem em noticiários de vários canais, mas propaganda massiva das próprias reportagens do dia é algo no mínimo estranho.

Estamos acostumados ao modelo em que o telejornal anuncia suas reportagens principais quando entra no ar, e alguma matéria específica ao final de cada bloco, a qual irá ao ar no seguinte. O Fala Brasil rompe com isso, anunciando suas “principais” notícias ao final de cada bloco. E elas não são exibidas no bloco seguinte, mas diversos blocos depois, numa espécie de estratégia para segurar o telespectador, enganando-o ao estilo de alguns programas de auditório.

As aspas se devem ao fato do Fala Brasil (e talvez a emissora) possuir uma pauta bastante aberta ao noticiário de celebridades e curiosidades, de modo que suas “principais atrações” (as aspas de novo) podem ser apelativas notícias de “artistas” ou de estudos sobre emagrecimento, por exemplo.

Fosse uma revista eletrônica, tal questionamento poderia se esvaziar. Todavia, em seu próprio site, o Fala Brasil se define como “Telejornal matinal” que “traz em primeira mão as notícias do dia do Brasil e do mundo”.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

Este post tem 6 comentários

  1. Gustavo Audi

    Segurar a informação até o final é bem a cara do João Kleber…

  2. JJota

    Cara, odeio esse atual telejornalismo. O da Record, então, é de chorar de pena. Quando lembro que uma vez a emisora ia estrear uma novela e TODOS os programas daquele dia – PRINCIPALMENTE os jornalísticos – traziam matérias sobre a porcaria da novela… Bom, não lembro o nome, mas era aquela que tinha um taxista que sempre pegava alguma “estrela” da Record para durante a corrida falar do próprio programa dentro da droga da novela, enquanto o cara ficava falando um bordão chato lá, acho que era “Obrigado, meu Deus!” ou coisa assim.

  3. Don Vittor

    Essa atual estratégia da Globo, não apenas em telejornais, mas nas próprias novelas, me pareceu desespero. Há alguns anos atrás não víamos a emissora fazer tanta auto-propaganda, além é claro, do merchandising corriqueiro das novelas…

    1. D. Vittor,

      Aí é que vc se engana. Nos anos 1980, o Documentário “Muito além do Cidadão Kane” já cravava que incríveis 60% dos comerciais da emissora dos Marinho falavam da programação da Globo. Mais escandaloso ainda é termos um programa dedicado exclusivamente a fazer propaganda da emissora.

      O mais esdrúxulo disso tudo é termos um programa de outra emissora (TV FAMA) que só faz comercial gratuito para a Globo. Além da Sonya Abrão, e outros programas da emissora.

      As organizações Globo são extremamente importantes para o cenário atual da TV Brasileira. Quisera que não, mas não podemos deixar de admitir tal fato… É ela quem ainda dita as regras de como se faz Tv aberta no Brasil…

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