Superman, o significado

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Nesta semana em homenagem ao Cara, eu não poderia deixar de falar sobre o significado do personagem para mim. Principalmente, nestes tempos idiotas de Novos 52.

Quando o Superman surgiu, ele era uma mistura de referências, sendo várias delas religiosas. Desde a óbvia a Moisés salvo de um cesto à deriva no rio até a delirante de que ele seria o Messias esperado pela Humanidade.

Brian Azzarello se propôs a explorar um pouco este lado messiânico do Super em Pelo Amanhã. Falhou miseravelmente.
Brian Azzarello se propôs a explorar um pouco esse lado messiânico do Super em Pelo Amanhã. Falhou miseravelmente.

Acho que os roteiristas do personagem tem a tendência a se impressionar com essas alusões. Se perdem acrescentando poderes e habilidades sem sentido, fodalizando o Superman de tal forma que fica praticamente impossível criar uma situação de risco físico considerável para ele. Some-se a isso o fato de que seu nêmesis é um simples humano careca e megalomaníaco, e tome história boboca em que o cerne fica sendo… a vida familiar dele.

Recentemente, peguei minhas antigas edições Premium pra reler e fiquei novamente constrangido com o arco de histórias em que Lois Lane, casada com Clark, o trata como um cachorro. Ver o Superman sofrendo com esta situação quando ele é capaz de saber tudo o que realmente está acontecendo (por exemplo, ouvindo a batida do coração dela e descobrindo que está mentindo) é forçar a barra. Vê-lo se distraindo de seus afazeres heroicos porque está pensando no que fazer para salvar seu casamento é constrangedor. Vê-lo de mimimi na casa de seus pais, com aquele papo de “amo a Lois, que será de mim sem ela?” ultrapassa o patético!

O auge dos poderes sem sentido!
O auge dos poderes sem sentido!

Isso, creio, acontece porque muitos roteiristas parecem fascinados pela visão “caipira” de Kal-El. Fazem-no, muitas vezes, ingênuo, chegando mesmo a parecer bobo. Por mais que se possa admirar o respeito filial que Clark dedica aos seus pais adotivos, chega um momento que soa completamente sem sentido que um homem com inteligência bem acima da média mortal peça conselhos a eles. Há um momento em que a sua mente grita “tá bom, né?”.

Outro ponto negativo exacerbado através dos anos é o que transformou o Superman num ícone político americano. Pra mim, sempre soou tão ridículo quanto ver um jogador de futebol dizendo que está “servindo ao país” porque foi jogar uma Copa do Mundo pela seleção. Não tem sentido, não tem sentido.

Será que o filme do Superman pode passar na China ou em Cuba?
Será que o filme do Superman pode passar na China ou em Cuba?

Pra mim, o que engrandece o personagem e me faz ter vontade de ler uma história dele (embora 90% de tudo o que vi com ele até hoje seja indigno de sujar o meu cesto de lixo), são pequenos traços que pesquei aqui e acolá durante minhas leituras. O principal? Ele possui grandeza moral. Com tantos poderes, o Superman poderia dominar a Humanidade sem esforço. Inteligente, provavelmente conseguiria fazer isso sem precisar recorrer ao uso da força por um longo prazo: os benefícios que viriam do seu comando rapidamente deveriam convencer a imensa maioria de que valeria a pena.

Zod, com poderes similares, seguiu o caminho mais provável (e que, provavelmente, seria a opção de uma porrada de gente boa que fica pagando de bonzinho porque não tem nada de especial).
Zod, com poderes similares, seguiu o caminho mais provável (e que, provavelmente, seria a opção de uma porrada de gente boa que fica pagando de bonzinho porque não tem nada de especial).

Mas ele não fez isso.

Muito, mas muito pelo contrario: ele escolheu nos servir. Trabalhar sem recompensa alguma pela nossa segurança, pelo nosso desenvolvimento, pela nossa liberdade. Ele chegou a sacrificar sua própria vida por essa missão, sem nos cobrar nada em troca. Com ele, realmente, “grandes poderes trouxeram grandes responsabilidades”.

Superman já fez o "maior sacrifício" pela Humanidade.
Superman já fez o “maior sacrifício” pela Humanidade.

Seu zelo chega ao ponto de tomar cuidado para não nos melindrar. Não se comporta como se fosse nosso “pai”, preferindo agir como um filho adotivo agradecido. Tenta aparecer mais como um exemplo do que como uma solução. Aposta tanto no nosso potencial que evita acelerar nosso desenvolvimento.

Este é o maior poder do Superman: ele é humilde.  Tem todos os poderes, todas as habilidades, todos os conhecimentos que sonhamos e, mesmo assim, não se acha acima dos demais. Tudo o que ele aprendeu não o afastou dos seres humanos, não o colocou acima nem à parte de nós. Por isso, ele sempre será um exemplo para mim. Por isso, acredito e torço para que as crianças do futuro continuem a se divertir com os anti-heróis da Marvel ou com o mentalmente perturbado Homem-Morcego, mas encontrem no Superman uma inspiração para um futuro de alcance de potencial sem perda de generosidade.

Acima de tudo, um exemplo.
O grande segredo na excelência da atuação de Reeve, pra mim, é que ele passou a confiança, ele tornou crível que o Homem Mais Poderoso do Mundo seria nosso amigo.

Obrigado, Superman.

E antes que eu me esqueça:

 

Ridículo, tosco, imbecil. O Superman do Novos 52 não existe, é apenas um triste pesadelo.
Ridículo, tosco, imbecil. O Superman do Novos 52 não existe, é apenas um triste pesadelo.

 

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 26 comentários

  1. Post simplesmente foda. Sem mais. Acho que este é o grande post dessa semana especial Superman. Deveria ficar fixo no mural até o fim da semana. Parabenzaço.

  2. toddy

    Gostei mais do post das super gostosas, mas esse foi maneiro, ainda mais com a referencia do super S de plástico! muito bom! hehehe

    1. JJota

      Fiquei em dúvida entre poderes ridículos: o S de plástico ou o Superman-elétrico-duplo? Mas acho que este foi como Heróis Renascem: completamente apagado da cronologia pessoal de todas as pessoas de bom senso. Etão fiquei com o S de plástico, que é uma das coisas mais ridículas que já vi e nunca foi sequer explicado, ainda que de maneira insatisfatória.

          1. toddy

            Provavelmente o senhor esse beijo também, por isso esqueceu de tal fato! hauhauhauhau

      1. Darth_Agnan

        O superman elétrico foi apagado da cronologia?! Eu lembro de uma história recente em que ele dava(ui!) o antigo traje de contenção pra uma mulher doida com poderes elétricos sem controle… Ou eu posso estar enganado

        1. JJota

          Darth, eu estava apenas brincando. É que existem algumas ideias tão ruins que, embora cronologicamente válidas, os roteiristas evitam a todo custo citar, como o citado Heróis Renascem e o chifre que a Gwen colocou no Peter com o Norman Osborn.

          1. Darth_Agnan

            Superman elétrico duplo eu preferia que tivesse sido apagado de fato… vc matou minha esperança cara!
            Vou chorar como um nindjá silencioso agora

          2. JJota

            Bom… Na verdade, nos Novos 52 acho que isto não aconteceu.

  3. Caio Egon

    ” por exemplo, ouvindo a batida do coração dela e descobrindo que está mentindo” ele deve ter aprendido a mudar os batimentos cardiacos se tornando imperceptivel pros ouvidos do super… ué não é essa a explicação que usam com o batman?

    1. JJota

      Mas aí vem o x da questão: em outra história, a Lois reclama da “falta de privacidade” na vida em comum com um sujeito que tem superaudição e visão de raio x. Aí ele explicou pra ela que havia aprendido a se concentrar e nunca usar seus poderes com ela.

  4. Maicon Beggi

    Você não acredita que os infames Novos 52 (no que tange o Superman) e o próprio filme “Man of Steel” (além e claro de estratégias mercadológicas) não são tentativas de tornar novamente relevante o personagem para a atual geração?

    1. JJota

      Não, não acho. Vejo o “novo” Superman com tristeza, pois é o original se rendendo a suas cópias (como o Hiperion, do Esquadrão Supremo). A DC adotou a estratégia mercadológica e entregou as rédeas do personagem a pessoas que, sinceramente, não tem talento, pois já se provou, diversas vezes, que é possível fazer o personagem funcionar, fugindo dos exageros das capacidades (o que não está sendo feito nesta nova versão) e saindo do dramalhão boboca. Perdendo o diferencial que eu apontei aqui, o que temos? Outro personagem superpoderoso e esquecível como existem aos montes por aí.

  5. King

    Parabéns, Jjota, é bem por aí mesmo. Acho que uma das histórias que mostram a importância do Superman como uma ‘reserva moral’ e exemplo a ser seguido é o Reino do Amanhã.
    Para mim o Super é isso: um exemplo, aquilo que nos inspira a ser melhor e com humildade.

    1. JJota

      Aproveito para, no mesmo dia em que critiquei o Waid, dizer que, nesta história, ele foi simplesmente fantástico. Pra mim, a única coisa que realmente poderia fazer o Superman se afastar de sua missão seria a descoberta de que ele havia perdido o apoio do povo em benefício de “heróis” violentos (ou, como o Magog bem define, “escolheram o que mata em vez do que não mata”). A cena em que ele reaparece e, só com seu ressurgimento, leva vários renegados a abraçarem a sua causa é um exemplo acabado de porque precisamos de um Superman.

      Waid vai além e nos reapresenta ao rapaz simples (mas não simplório) do Kansas quando ele contesta a declaração de guerra da Mulher-Maravilha afirmando que “numa guerra as pessoas morrem”. O que ele reafirma quando confronta Bruce Wayne e diz “tire tudo o Batman e ainda sobra uma pessoa que não quer mortes!”

      Quando ele quase derruba a sede do plenário da ONU na cabeça daqueles babacas e é alertado pelo pastor… Que momento! Que momento!

      1. King

        Para mim é a visão definitiva do Superman e foi a partir dela que mudei meus conceitos com o herói.

        1. JJota

          Concordo plenamente. Pena que, quando fez O Legado das Estrelas, o Waid, creio, não teve tanta liberdade… Se ele tivesse acertado a mão, poderia ter sido para o Superman o que o Frank Miller foi para o Batman (em tempo: sempre achei que Reino do Amanhã é uma história do Superman!).

          1. King

            Eu não tenho dúvidas disto. Ele é quem dá o ritmo aquela história… cara, vou até reler novamente…

            Em 12 de julho de 2013 17:21, Disqus escreveu:

          2. JJota

            Boa ideia.

          3. Renato Domingues

            Em tempo, o diálogo de Jor-el e Lara no momento de enviar o filho para a terra, no “O Homem de Aço” é roubado do diálogo do Legado das Estrelas. Mark Waid pode ter odiado o fato do Super matar, mas deve ter se sentido lisonjeado com isso.

          4. JJota

            Poxa, não reparei nisto. Valeu pelo apontamento! E, como todo ser humano, acho que o Waid deve ter ficado lisonjeado, sim (e, depois, ficou puto!).

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