Revista # 8 – A polêmica de Homem de Ferro 3

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É fácil pichar a terceira incursão do ferroso na tela grande. Dizer que o Mandarim é um embuste, que a tecnologia Extremis foi descaracterizada, que o Homem de Ferro quase não aparece, mas tão somente Tony Downey Stark Jr., pode se dizer que tudo isso já é lugar comum.

Aos que sentiram-se desprestigiados e mesmo maltratados pelo novo filme, e aos marvetes que desde as pré-estreias amaldiçoam a alardeada fase 3.0 da editora no cinema, faço um libelo, um pedido de trégua, quase uma prece, rogando por obras tão instigantes quanto Homem de Ferro 3.

O primeiro filme inaugurou uma era de maravilhas em Hollywood, com trocadilho. Faturou horrores e iluminou os olhos dos executivos e produtores, fazendo-os apontar suas recheadas carteiras para os quadrinistas em busca de novos sucessos, frescor e renovação na indústria.

Para além da bilheteria, do hype e da indissociável e magistral interpretação de Robert Downey Jr., o primeiro de todos contava com uma direção inventiva e segura de John Favreau, um roteiro redondo e inteligente e, principalmente, uma montagem ágil e uma narrativa divertida e criativa.

O segundo ousou repetir a fórmula e, apesar de divertido e repleto de ação, ecoava o primeiro e lhe era inferior em tal medida.

Já o terceiro, o mais atacado pelos fãs, inclusive jornalistas e críticos de cinema, ao que parece, foi por outro caminho, numa guinada que não foi compreendida, na minha humilde opinião.

O diretor de Homem de Ferro 3, Shane Black, como sabem, foi o responsável pela volta ao estrelato de Robert Stark Jr., ao dirigir Beijos e Tiros, estrelado pelo ator. Aliás, Black também é conhecido nas rodinhas de Los Angeles como o roteirista de Máquina Mortífera.

Esse know-how pequeno e respeitável nos dá uma pista certeira sobre o sujeito: de que ele é um sacana. Um puta de um sacana bem-humorado, que gosta de aventura, uns beijos, uns amassos, e muitos tiros e explosões.

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Logo de início, os nervos à flor da pele de Tony Stark nos dão a real dimensão do que, arrisco dizer, serão a tônica da fase 3.0 da Marvel Studios: ainda mais humanidade para seus heróis e riscos ainda mais próximos, com os quais podemos nos identificar facilmente. Afinal, num mundo perigoso, no qual encontramos a violência no trânsito, nas ruas, em casa, e vivemos à sombra de torres ausentes (melhor diria Art Spielgman), temendo a próxima notícia de um imprevisível ataque terrorista, é quase familiar o medo de Tony, seus ataques de pânico, seu estresse e seu suor frio.

Sim, Homem de Ferro 3 não é apenas um filme de super-herói,  é uma obra que tem como pano de fundo uma América recém saída de um trauma. Nova York acabara de ser atacada por alienígenas, cuja ameaça foi debelada por uma equipe formada por seres sobre-humanos.

Não creio que faça uma alegoria ao 11 de setembro, mas denuncia os efeitos de acontecimentos similares no espírito de um povo. Este, por sua vez, representado pela abordagem impassível ou benevolente de políticos frente a uma ameaça terrorista, pelo uso militar de uma arma humana, pelas perguntas incisivo-inocentes de uma criança temente do retorno dos alienígenas, e pelos sintomas de transtorno de estresse pós-traumático apresentados por Tony Stark.

Isso e o questionamento dos limites éticos da tecnologia na modificação e aperfeiçoamento humano (Extremis), aliados a uma discussão sobre o papel das mídias, oficial e independentes, na construção de imagens e ideias (Mandarim), são temas que perpassam o filme, porém, de modo tão sutil, às vezes, que acabam tornando-se uma espécie de easter eggs para quem assiste ao filme sem preconceitos, ou pensa nele depois dos créditos, sem a pressa dos cortes ao estilo videoclipe.

Independente de tudo rabiscado acima, Homem de Ferro 3 é entretenimento. E funciona. Não é um típico filme de heróis, de fato pouco aparecem as armaduras metálicas. Em contraponto, tira praticamente toda a tecnologia das mãos de Tony Stark, e deixa transparecer um homem digno de sua fama de inventor, gênio e… aventureiro.

A ousadia do filme, a meu ver, só se compara a de Batman Begins, na medida em que se ocupa do homem por trás do mito, da fantasia. É fato que Tony Stark é o Homem e Ferro. E o filme nos mostra mais de Tony e, principalmente, porque só ele pode ser o Homem de Ferro.

E não se trata somente de genialidade, de tecnologia, de dinheiro, de prestígio, fama ou força de vontade. Trata-se de índole, de humanidade, até mesmo de paixão, e amor. É o que podemos ver, não somente nas entrelinhas, mas nas atitudes de Tony, em seu olhar, em sua dor, até.

Ainda que Shane Black não goste muito de heróis e, teoricamente, tenha tido desde o princípio a intenção de fazer um filme de herói sem muito super-heroísmo – sem se importar muito em misturar histórias e conceitos e personagens diferentes -, ele realizou uma pequena joia que, a despeito de estar lucrando muito, deverá tornar-se, ao menos para os nerds atualmente revoltados, um filme cult. Devidamente esquadrinhado em busca de novos ângulos e interpretações, devidamente saboreado como o belo filme de aventura que é.

Além de tudo, Homem de Ferro 3 terminou com tantas possibilidades que não vejo a hora de vê-las exploradas no capítulo 4 ou no próximo blockbuster dos Vingadores. Que venham os soldados de ferro americanos, as repercussões do Extremis e a nova Pepper Potts.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

Este post tem 6 comentários

  1. Brasil Varonil

    Esse filme é muito ruim, mas comparar com Begins é sacanagem, o Homem de Ferro tres não é tão ruim assim

  2. toddy

    ótimo post Rodrigo Sava e concordo que homem de ferro três só quis levar o filme para uma outra visão e se o filme tem problemas, normal, como qualquer outro filme de qualquer genêro

  3. SKuLL_DeviLL

    Achei o filme muito fraco e esse Shane Black é um idiota. Homem de Ferro 3 não é um filme de arte e ele certamente não vai entrar pra lista das melhores adaptações dos quadrinhos. Essa mania que alguns diretores tem de descaracterizar alguns personagens no bom e velho estilo Joel Schumacher é odiosa. Homem de Ferro 3 é “filme bom” pros novos leitores da Marvel e pra quem não sabe nada sobre a mitologia do personagem.

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