“Dê erre” é exatamente o que você está pensando. Quando sua namorada (ou namorado, vai saber) diz que vocês precisam conversar, e você manda aquele suspiro do fundo da alma.
É natural que esse estilo particular de conversa aparentemente franca, de rara sensibilidade, faça sucesso num mundo superaudiovisualizado, tão imediatista, artificial e sensacionalista.
Atualmente, não são poucos os seres com a habilidade de externar o pensamento, na maior parte das vezes de forma enviesada e tendenciosa, embora totalmente emotiva, quiçá melodramática.
Pois, antes exclusividade feminina, a Discussão de Relacionamento se disseminou fortemente entre os homens, peculiaridade que remete ao reconhecimento do bromance (bro/brother + romance), aquela amizade de pegada, na qual dois homens se beijam, abraçam, dizem que se amam e outras coisinhas que somente Seth Rogen e James Franco podem revelar.
Tais fenômenos têm se verificado mais frequentemente nas noites de domingo, durante um quadro do programa Sílvio Santos. Nele, o homem do baú comanda um game de associação de palavras, no qual dois participantes, ou grupos, competem entre si e com a plateia, ávida por aviõezinhos formados por cédulas de Real.
Notei que a participação de ex-contratados do eterno Patrão no quadro surge como o gatilho ideal para a exteriorização destes fenômenos. A existência atual ou remota de relação de trabalho parece favorecer tais práticas.
De modo que, em setembro, a participação de Alexandre Frota foi um campo fértil para detectar indícios de uma autêntica DR e de um relativizado bromance. Como todos sabem, o Sr. Sílvio Santos possui uma mente ágil e bastante aberta, embora divirta-se confundindo a audiência com signos contraditórios e exagerados, que parecem reforçar estereótipos.
Em dado momento, Alexandre Frota começou a ser provocado pelas palavras e trocadilhos do sorridente apresentador octogenário, e retribuiu, falando dos tempos idos, em que conviviam, em virtude da Casa dos Artistas, seminal reality-show nacional, hoje extinto, sugerindo, inclusive o retorno do programa.
No último domingo, foi a vez de uma autêntica sessão de descarrego com o homem do glu-glu, Serginho Mallandro, que chegou a deixar o homem do baú atônito com o nível extremo de sua afetação catártica vocal dissociada em alguns momentos.
Mallandro agarrou-se às suas memórias, vangloriando-se do fato de não ter puxado o saco do Sílvio, mas de tê-lo soprado efusivamente. Como não podia deixar de ser, apelou a tempos mais gloriosos, e implorou ao Patrão o retorno de sua Porta dos Desesperados.
Entretanto, o quase beijo entre ambos durante o jogo resumiu a noite, demonstrando o desprendimento de Sílvio e a ousadia do Mallandro, na construção de uma televisão mais cuti-cuti.
Para quem quiser, vale a pena assistir o quadro na íntegra.
https://youtu.be/4OzeOBx0KsU
Caray! Que texto rebuscado.
Digno de diplomatas, embaixadores…