#redes.br – COPYFIGHT 2014 (Dia 2 de 4)

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As redes sociais estão na crista da onda. Nelas, pode-se divulgar, articular, produzir, criar. O potencial é enorme. O Copyfight – aquele evento, ciclo de debates e oficina sobre Cultura Livre -, promoveu um encontro entre pessoas e suas diferentes experiências sobre redes, não apenas as digitais, embora todas sociais.

A noite começa pelo convidado Felipe Fonseca, pesquisador independente e articulador de projetos relacionados à apropriação crítica de tecnologia; estética da gambiarra e lixo eletrônico; cultura digital experimental e colaboração em rede; co-criador da MetaReciclagem e orgulhoso cidadão de Ubatuba, cidade próxima à Paraty em que leciona numa escola técnica de informática. Aspas abaixo:

“Hoje temos no Brasil a discussão sobre quem pagará a conta da reciclagem de material eletrônico. A metareciclagem começou em 2002, com uma lista de discussão na net. Alguns dizem que morreu em 2012. Houve uma época em que a lista chegou a ter 800 pessoas, e 1500 cadastradas no site, além de 9 laboratórios em atividade.”

“Entre 2004 e 2006, me envolvi na criação de cultura livre através do CC (Creative Commons). Possuía uma visão superficial de liberdade, na verdade estava fornecendo material para ser apropriado pelos canais convencionais.”

“Hoje vejo que a cultura livre não é simplesmente publicar uma música, por exemplo, com o selo CC. A liberdade tem de estar no processo, no software livre que a permitiu ser elaborada. A intenção da liberdade deve estar no processo, no acesso às fontes, ao material bruto.”

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A palavra passou à Jaborandy Yandê, membro da Rede de Comunicação Indígena “Índios Online”, uma das principais articulações para fortalecer o uso e a apropriação das tecnologias digitais de comunicação pelas comunidades indígenas. Ela exibiu um vídeo contra a discriminação do povo Tupinambá, chamado “O Outro Lado da Moeda”, e revelou que, até 2005, não sabia o que era um computador. Aspas abaixo:

“Em 2006, buscávamos uma forma de nos apropriar da tecnologia, de aquilo nos servir. Estava ocorrendo uma matança do nosso povo, e ninguém sabia quem promovia aquilo. Vimos que deveríamos nos integrar à tecnologia, para termos voz, para sermos visíveis.”

“Surgiu o Ponto de Cultura, mais Índios Online e, em 2009, já eram 33, 34 Pontos de Cultura no país todo. Havia gente nas aldeias que já mexia com câmeras fotográficas, que já produziam obras e se comunicavam através da web. Foi criada a webradio indígena, e os índios passaram a propor suas próprias iniciativas.”

“Que a inclusão digital sirva para que os livros de História nas escolas e universidades passem a falar a verdade sobre o povo indígena; que não foi Cabral quem descobriu o Brasil, e que nosso povo não parou no tempo como fazem parecer.”

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 O microfone passou aDudu do Morro Agudo, rapper e criador do Movimento Enraizados, uma rede de artistas e produtores culturais ligados ao hip hop e a cultura negra que atua desde 1999 e, hoje, está presente em todo o território nacional e mais 11 países. Da Baixada Fluminense, Dudu se identificou muito com Jaborandi. Dudu lhe disse que não é que a Baixada seja esquecida. Assim como o povo indígena, ela é ignorada. Aspas abaixo:

 “Vim falar de música por ser rapper, mas também de território. O rap transformou a minha vida. Não tinha sonhos, e o rap me deu algumas respostas que não tinha conversando com amigos e familiares.”

“Mandava cartas para endereços que apareciam no final das revistas de interessados em trocar ideias. Escrevia dizendo ser Dudu de Morro Agudo (quando era apenas o Eduardo), e que tinha um movimento, uma associação (que também não tinha ninguém associado ainda, pois havia acabado de criar). Eu nem sabia, mas já estava me comunicando em rede.”

“Já era uma rede antes de ser uma onda. E, quando a comunicação começou a se tornar inviável devido à quantidade, as coloquei num site que eu mesmo criei, isso em 94. Perguntavam-me porque não havia nada acontecendo na minha associação, o que fez com que me agitasse, criando a primeira coletânea dos Enraizados.”

“Comecei a viajar pelo Brasil por conta do Enraizados, conhecendo quem eu só via pela Net. Iria fazer um show com rapazes que, embora com 18, 19 anos, tinham mães que não os deixaram ir à Paris. Por pouco não estiveram naquele voo da Air France que caiu.”

“Mas, chegamos lá, vimos os problemas nas periferias da França, enfrentados principalmente pelos imigrantes árabes, e fizemos um clipe, com cenas gravadas na cidade e em Morro Agudo, coisa que tempos atrás não seria possível.”

“Fui convidado pela Heloisa Buarque de Holanda para fazer um livro sobre o Enraizados, e há um artigo escrito sobre o movimento, dizendo que ‘eles fazem o centro onde estão’.”

 

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Após concluir sua fala com a exibição do clipe intitulado “Legado”, disponível no YouTube, em que canta versos críticos à Copa das Copas, embalados por uma inspirada edição de imagens, chega a vez de Pablo Meijuero, artista gráfico, produtor cultural e poeta. Membro do coletivo Norte Comum, rede que atua desde 2011 promovendo eventos e intervenções artísticas em praças e outros espaços públicos na Zona Norte e Oeste da cidade do Rio de Janeiro, Pablo relatou essa experiência, que me lembrou a que originou o Circo Voador. Aspas abaixo:

O Norte Comum começou com a vontade de circular cultura. Todos que conhecia já tinham uma pegada na cultura, porém, os lugares para expor estavam sempre na Zona Sul. Mas, por quê não na Zona Norte, que tem uma rica história? Daí, fomos nos reunindo, sem saber aonde chegar. E é assim até hoje, com tanta gente passando pelo grupo. O Norte Comum começou a ser essa ferramenta de sociabilidade, de fazer cultura.”

“Vemos o público como alguém que colabora para nossa produção, alguém que chega junto, e vai aprendendo na hora como fazer, pela vontade de fazer. Fomos chamados a ocupar o Hélio Oiticica, e passamos a chamar gente para produzir artes pra gente, pois não tínhamos nada pronto, e as pessoas compraram a ideia.”

“Parece que nunca viram tanta gente no Helio Oiticica. No fim, fomos fazer um samba do lado de fora do espaço, e um escritório de advocacia próximo chegou a chamar a PM. Não dissociamos a arte da política.”

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 A fala de Pablo recebeu a intervenção de seu colega João Vítor, que trabalha com fotografia e cinema. Aspas abaixo:

“Entrei no Norte Comum no ponto de virada em 2013, quando (o médico, pesquisador e ator) Vítor Pordeus convocou diversas pessoas para uma residência artística no Instituto Municipal de Psiquiatria Nise da Silveira (Hotel da Loucura). Há sarau no Nise, e os internos têm uma função de protagonismo nele.”

“Também estamos trampando nas ruas com o Ágoras Cariocas, que buscam falar sobre a formação dos bairros do Rio. Começaram pelo Estácio, e vão passar pela Vila Mimosa, Mangueira, Méier. Estamos envolvidos também com o Caboclo Satélite, que trata de música.”

“Faço parte de outro coletivo, o Capim Mulambo, que fez filmes sobre manifestações e um em parceria com o Norte Comum, chamado ‘O Maraca é Nosso?’, com uma câmera filmando a primeira final no Maracanã privatizado e outra focalizando um churrasco bem longe.”

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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