Quadrinhos em outras direções – Conversando com Rafael Coutinho.

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Concluindo nossa cobertura das atividades paralelas da mostra Macanudismo, do cartunista argentino Liniers, apresentamos o diálogo construtivo sobre HQ e seus caminhos com o quadrinhista que é muito mais que o filho do Laerte: Rafa Coutinho, desenhista da graphic novel Cachalote, escrito pelo Daniel Galera e lançado pela Quadrinhos na Cia.

Após a primeira metade da mesa-redonda, com foco em Fábio Zimbres, Rafael Coutinho começou revelando que andava às voltas com uma reflexão pessoal, um questionamento sobre o que arte significava para ele, e discorreu sobre um projeto atual que está tocando, misturando a pintura de telas ao cinema, chamado ‘Fogo Fácil’, em parceria com a produtora Sala 12.

Segundo ele, o projeto está em andamento, e, embora tenha parado por um tempo em função da paternidade, tentará voltar a fazer telas. Duas por mês, se possible. Quanto ao audiovisual filmado concomitantemente, encontra-se 70 a 80% pronto. O mediador André Valente perguntou se quem acompanha as telas entende a história.

Rafael disse que se coloca na posição de questionar os limites, mas não vê a arte dissociada da relação com o público. Que acredita na interlocução e busca a conversa. E que a galeria que o representa pede que compareça lá para interagir. Afinal, precisa conhecer colecionadores, compradores de quadros.

Além de artista, Rafael curte editar, possui a própria empresa (o site Narval Comix, misto de editora e loja virtual), e não acha legal ver um limite no que faz. E, se há certo desconforto em ter de se virar para vender seus quadros, diz que, ao aprender como lidar com isso melhor, tornar-se-á mais fácil.

Rafael revelou que às vezes se cansa de algum meio em que está envolvido, e por isso se sente grato pelo fato de que pessoas de meios diferentes lhe procurem para trabalhar.

O mediador tratou, então, do financiamento que Rafael conseguiu através de um site de crowdfunding (financiamento coletivo de projetos), para viabilizar seu novo projeto de quadrinhos, O Beijo Adolescente – Segunda Temporada.

André comentou das recompensas que são características desse sistema, em que o autor do projeto oferece pequenos agrados aos doadores-financiadores. E que Rafael teria proposto inserir na HQ um personagem inspirado num grande doador. O desenhista, meio chateado, disse que viveu um dilema, pois para ele seria mais interessante que um amigo seu, com quem tivesse algo em comum, entrasse na história, não simplesmente um cara disposto a pagar o que fosse preciso.

No final das contas, porém, não surgiu o esperado pobre menino rico, e resolveram de outra maneira. De todo modo, dos 32 mil caraminguás pedidos no site, mais de 36 mil foram arrecadados. Sobre grana para produzir HQs, Rafael afirmou que se irrita com a falta de profissionalismo vigente aqui no patropi, pois, às vezes, um cara ganha um edital público, leva uns vinte mil para fazer uma HQ, e não a prepara, não a desenvolve direito. Daí, a HQ começa bem, mas chega uma porcaria ao fim, por falta de planejamento, por causa do oba-oba.

O multiartista explicou que é organizado, chega a agendar trabalhos para fazer em um ano inteiro. Chegou a revelar que ganhou uma concorrência para desenhar uma HQ da Amy Winehouse para a França, mas não pôde assumir o trabalho devido à paternidade recente.

Contou ainda sobre o processo de edição de seus trabalhos. Que passam pelo editor André Conti, é claro, mas também pelos seus amigos. Afirmou ainda que, às vezes, inventa páginas quando desenha o roteiro de outra pessoa, como uma forma de relaxamento – “a história precisa respirar”, disse.

Falou um pouco sobre a criação de seu novo álbum, a ser lançado pela Cia das Letras, Men Sur, sobre um rito de passagem alemão que assemelha-se a um duelo de espadas. Por fim, disse que acha desrespeitoso quem pergunta se dá para viver de quadrinhos. Afinal, na sua casa sempre deu. Sua mãe era médica… e segurava as pontas, às vezes…

E as gargalhadas encerraram aquela bela noite. No dia seguinte, Rafael e Zimbres ainda ministrariam oficinas, dentro da mostra do Liniers.

P.S.: Rafael Coutinho ainda mostrou páginas de um novo quadrinho que seria publicado em breve. Bonito, parecia ter uma narrativa incrível e com potencial de atiçar a memória de muita gente. Mas ainda é segredo 😉

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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