Se um dia estiver em casa e o Masterchef baixar em você, inove e faça uma graça.  Defumar é mais simples do que se pensa.  Você precisa de serragem ou de algum tipo de madeira.  Peroba, cedro ou cerejeira são ótimas opções.

Coloque em uma assadeira a serragem, coloque outra assadeira menor por cima, escolha uma bela costela de sua escolha, podendo ser bovina, suína, de carneiro, etc.  Fogo médio, tampe e deixe o tempo fazer o resto.  Que tal páprica, sal, pimenta preta e aquele molho barbecue, hum?  Batata selvagem como acompanhamento?  Legumes ao vapor pra fazer bonito e impressionar, que tal?

Quinze minutos defumando e mais quinze a vinte no forno e voila!  Costela defumada com batatas e legumes. Um magma de sabor dançando sobre as papilas gustativas.

Entenderam agora para que serve uma costela?  Para CO-MER e não pra brotar mulher, criança, passarinho ou seja lá o que for.

  Desde os primórdios, a mulher  foi tratada como segundo plano, mesmo que, segundo a metáfora bíblica, a mulher devesse ser a costela do homem, não deveria estar atrás ou à frente e sim ao lado, e é ao lado que um deveria estar do outro. Passado e presente provam ao contrário.  Ela veio da costela e, milhares de anos passados, ainda não chegou à cabeça, não a dela, mas dos outros, de todos. Se dermos um rápido salto para os dias atuais, ainda existem mulheres que não votam, não dirigem, não têm a dádiva do prazer, não vivem. Existem.

Países como Mali, Somália e Mauritânia até hoje praticam mutilação genital, acabando com o pouco que nos separa dos animais: o prazer sexual.  Meninas de 14 anos usadas tão e somente para reprodução em vez de serem esposas.  O que sobra para essas meninas?  O polegar?  Golfinhos não têm polegares, copulam por prazer e possuem um QI equiparável a de muitos seres humanos.

Fotógrafo registra mutilação genital de meninas no Quênia.

Já em uma galáxia tão, tão distante, uma jovem heroína mexeu com o coração e a mente de muita gente, menos da Hasbro.  Visite lojas de departamentos, de brinquedos, shoppings, 25 de Março, onde for.  #wheresRey?

Vivemos em dois mundos: Um que coloca uma mulher como protagonista – isso mesmo, uma mulher.  Aquela mesma da costela, do clítoris … – e outro mundo que diz que não se acha bonecos da Rey devido ao grande sucesso, da falta de estoque e ZZZzzZZzzzz.  Grande sucesso, falta de estoque ou é cultural a imposição de que bonecos femininos não vendem?  Grande sucesso! UAU! Venderam todos os 10 que estavam na prateleira!

O mesmo aconteceu com a Viúva Negra, Mulher Maravilha, Mística.  E o espaço das heroínas da vida real de Hollywood, Bollywood, China, Capão Redondo, Dubai?  O escasso espaço na sociedade que a mulher ainda ocupa, do injusto mercado de trabalho, dos ridículos 30% a menos que ganhamos e os 40% a mais que trabalhamos, pois sim, nossa carga horária não termina quando chegamos em casa, só inicia um segundo turno.  A privação do prazer, do ser, a privação à vida. Privação esta que nos leva ao número 11.340, mais conhecido como Lei Maria da Penha, que só em 2006 deu o mínimo de proteção às vitimas de agressão, lei essa que é muito e ao mesmo tempo pouquíssimo, se comparada às ainda constantes agressões, estupros e assassinatos sofridos pelas Marias, Josianes, Fabíolas, Kates, Zayns, Soledades e por ai vai.

“Então o Senhor Deus declarou: ‘Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e o corresponda”.

Eu não quero ser costela, eu não quero virar estatística.  Eu quero sair ao ar livre sem ser violentada, quero ganhos equiparados ao mercado e quero sim o boneco da minha preferida em todas as prateleiras.

Amém.