Panteão Pop – Frank Miller (parte final)

Até que enfim, a última parte deste projeto (não deixe de dar uma olhada na primeira, segunda e terceira partes).

Frank Miller havia se tornado um mega-astro.

O sujeito que concebeu o enredo de A Queda de Murdock enquanto refletia na banheira sobre suas crescentes dificuldades financeiras quando se mudara para Los Angeles na metade dos anos 80 (porque havia calculado mal as despesas e o tempo necessário para ver os trabalhos encomendados serem publicados e, assim, poder receber os royalties) tinha alcançado um patamar para poucos. De certa forma, ele (ao lado de Neil Gaiman e Alan Moore) fez parte do último grupo de mega-astros das HQs, aqueles que conseguiam vender um projeto simplesmente com seu nome (normalmente em letras garrafais) na capa. E isso numa época em que havia fartura de bons roteiristas – se compararmos com os pobres dias de hoje.

Depois de se aliar a Moore, Marv Wolfman e Howard Chaykin contra a DC por conta de um polêmico “sistema de classificação” que a editora queria implantar, Miller passou a publicar seus trabalhos pela editora Dark Horse, onde trabalhava seu amigo Bob Schreck (o mesmo que, anos depois, o convenceria a cometer O Cavaleiro das Trevas 2). Quando este saiu da Dark Horse, sua esposa –  e amiga de Miller de longa data – Diana Schutz assumiu a função de editora da obra do quadrinhista.

Diana Schutz - aqui ao lado de Miller em uma convenção em 2000 - conheceu o autor nos anos 80, quando trabalhava em uma comic shop em Vancouver e ficara completamente extasiada com o trabalho dele com o Demolidor. Chamada para editar os trabalhos dele na Dark Horse, ficou na dúvida por achar que poderia prejudicar a amizade dos dois. No entanto, a coisa terminou fluindo muito bem.
Diana Schutz – aqui ao lado de Miller em uma convenção em 2000 – conheceu o autor nos anos 80, quando trabalhava em uma comic shop em Vancouver e ficou completamente extasiada com o trabalho dele com o Demolidor. Chamada para ser sua editora na Dark Horse, ficou na dúvida por achar que isto poderia prejudicar a amizade dos dois. No entanto, a coisa terminou fluindo muito bem.

Desde que começara a fazer sucesso, Frank havia se posicionado em defesa dos autores (foi uma das vozes mais firmes em defesa do direito de Jack Kirby de reaver seus originais da Marvel – numa época em que trabalhava para a Casa das Ideias!). Sem adotar uma posição classista (como Neal Adams) ou rancorosa (como Alan Moore), nunca perdeu uma oportunidade de defender o direito de desenhistas e roteiristas sobre personagens ou histórias.

Antes de se voltar para projetos particulares, Miller fez, para o selo Epic, aquela que consideraria a sua última obra com a sua mais famosa criação: a graphic novel Elektra Vive (Elektra Lives Again). Com uma arte bem no estilo Cavaleiro das Trevas e a soberba colorização de Lynn Varley, a história acabou causando um certo estranhamento nos fãs, principalmente pela ninja terminar morrendo novamente no final, assim como o Mercenário. A decisão editorial da Marvel em ressuscitá-la revoltou seu criador, que jurou nunca mais trabalhar para editora.

É notável a arte - tanto a traço como as cores de Lynn Varley - que remete demais ao estilo europeu de fazer quadrinhos.
É notável a arte – tanto a traço como as cores de Lynn Varley – que remete ao estilo europeu de fazer quadrinhos. Foi publicada em formato álbum por aqui em 1991.

No mesmo ano – 1990 – lançou dois outros projetos, ambos trabalhos em parceria que mostrariam novamente seu talento para obras em co-autoria, onde valorizava as capacidades artísticas de cada colaborador. A primeira foi Hard Boiled, minissérie em três edições onde o investigador de seguros Carl Setz começa a suspeitar que seus “sonhos” (onde é um cobrador de impostos chamado Nixon) podem ser bem mais do que isso. Miller manera no texto e cria diversas situações para que Geof Darrow desfile sua arte ultra-detalhista! Hard Boiled inspirou algumas ideias de Matrix (The Matrix, 1999) e convenceu os Irmãos Wachowski a contratar Darrow para ajudar na criação visual do filme. Com o desenhista Miller também fez, em 1995, a mini em duas edições Big Guy & Rusty, o Menino-Robô (Big Guy and Rusty the Boy Robot).

Hards Boiled - com o subtítulo À Queima-Roupa - teve três publicações no Brasil, pelas editoras Atitude (1999), Pandora (2002) e Devir (2008). Esta última também publicou, em 209, Big Guy & Rusty, o Menino Robô.
Hard Boiled – com o subtítulo À Queima-Roupa – teve três publicações no Brasil, pelas editoras Atitude (1999), Pandora (2002) e Devir (2008). Esta última também publicou, em 2009, Big Guy & Rusty, o Menino Robô, trabalho da dupla transformado em série animada de 26 episódios pela parceria Dark Horse – Columbia e exibida, entre 1999 e 2001, na Fox Kids.

A segunda foi Liberdade (Give Me Liberty), em parceria com Dave Gibbons, o mesmo artista de Watchmen. Eles criaram um futuro sujo – mas verossímil – onde Martha Washington, uma adolescente negra batizada com o nome da primeira Primeira-Dama dos Estados Unidos, luta para sobreviver num mundo cada vez mais estranho, onde seu país é controlado por grandes corporações enquanto o presidente vai aos poucos se tornando um ditador, utilizando o “golpe constitucional”. Foram lançadas outras histórias com a personagem: a mini em cinco edições Martha Washington Vai à Guerra (Martha Washington Goes to War, 1994), a mini em três edições Martha Washinton Saves the World (1997), e as one-shots Happy Birthday, Martha Washington (1995), Martha Washington Stranded in Space (1995) e Martha Washington Dies (2007).

Liberdade foi publicada por aqui pelas editoras Globo (1991 - minissérie - e 1992 - encadernado) e Mythos (2006, com o subtítulo À Qualquer Custo). A Mythos também publicou um encadernado com a história Martha Washington Vai à Guerra.
Liberdade foi publicada por aqui pelas editoras Globo (1991 – minissérie – e 1992 – encadernado) e Mythos (2006, com o subtítulo À Qualquer Custo). A Mythos também publicou um encadernado com a história Martha Washington Vai à Guerra.

Paralelamente, Frank escreveu os roteiros das duas continuações de Robocop (idem, 1987), filme que foi fortemente influenciado por O Cavaleiro das Trevas. Alterações no roteiro, no entanto, o desgostaram a ponto de declarar que jamais trabalharia com esta mídia novamente. Miller ainda escreveu para o personagem a minissérie Robocop Versus Exterminador do Futuro, publicada pela Avatar em 1992, com arte de Walt Simonson. Esta mini foi trazida para o Brasil pela Editora Abril em 1999.

O roteiro original de Miller para Robocop 2 foi adaptado por Steve Grant para a Editora Avatar, em 2003. A trama contém muitos elementos vistos tanto na parte 2 como no filme posterior.
O roteiro original de Miller para Robocop 2 foi adaptado por Steven Grant para a Editora Avatar, em 2003. A trama contém muitos elementos vistos tanto na parte 2 como no filme posterior.

Em 1991, Frank Miller lançou a primeira edição daquele que seria o seu trabalho autoral mais conhecido e com o qual esteve mais tempo envolvido: Sin City. É uma série de histórias – às vezes mini-séries, às vezes edições fechadas, às vezes historinhas curtas –  de visual e temática noir, que têm em comum se passarem em uma cidade, localizada no meio de um deserto, chamada Basin City (inspirada visualmente em Los Angeles), com personagens – que, com raras exceções (como John Hartigan, de O Assassino Amarelo, e Wallace, de De Volta ao Inferno), variam de amorais a imorais – e tramas que se relacionam umas com as outras em diferentes graus. É Miller finalmente trabalhando naquilo que ele pretendia fazer quando começou a desenhar e antes de se envolver com super-heróis.

Pode-se dizer que as tramas não são muito inventivas, mas os diálogos são sensacionais e a arte em preto e branco - às vezes com detalhes em uma única cor, como em O Assassino Amarelo - é embasbacante, com um soberbo uso de sombras e silhuetas e a narrativa sempre instigante. A violência provocou uma crítica idiota de Alex Ross, que disse que um dia iria dar um tiro em Frank Miller para mostrar como era "impossível" que uma pessoa levasse tantos tiros e continuasse agindo, como sempre acontece nas histórias de Sin City. Resposta de Miller: "Não estou escrevendo realidade."
Podemos dizer que as tramas de Sin City não são muito inventivas, mas os diálogos são sensacionais e a arte em preto e branco – às vezes com detalhes em uma única cor, como em O Assassino Amarelo – é embasbacante, com um soberbo uso de sombras e silhuetas e a narrativa instigante. A destacada violência gráfica provocou uma crítica idiota de Alex Ross, que disse que um dia iria dar um tiro em Frank Miller para mostrar como era “impossível” que uma pessoa levasse tantas balas no corpo e continuasse agindo. Resposta de Miller: “Não estou escrevendo realidade.”

Em 1993, Frank aceitou voltar a trabalhar com o Demolidor e recontar a origem do personagem em uma série de cinco edições chamada Demolidor – O Homem Sem Medo. Miller também topou escrever algumas histórias com o personagem Spawn, criação de Todd McFarlane para a Image Comics, inclusive o crossover entre o Soldado do Inferno e o Batman.

Algumas pessoas acham que O Homem Sem medo foi mais uma tentativa de Miller de alcançar o nível extraordinário de O Cavaleiro das Trevas. Apesar de boa parte dos elementos abordados pelo roteiro hoje serem considerados "oficiais" e ter servido como uma das fontes de inspiração para a recente e bem sucedida primeira temporada da série do herói no canal Netflix, a trama em si fica em segundo plano quando confrontada com o trabalho simplesmente espetacular do desenhista John Romita Jr.
Algumas pessoas acham que O Homem Sem medo foi mais uma tentativa de Miller de alcançar o nível extraordinário de O Cavaleiro das Trevas. Apesar de boa parte dos elementos abordados pelo roteiro hoje serem considerados “oficiais” e ter servido como uma das fontes de inspiração para a recente e bem sucedida primeira temporada da série do herói no canal Netflix, a trama em si fica em segundo plano quando confrontada com o trabalho espetacular do desenhista John Romita Jr.

Inspirado em um filme que assistira ainda garoto e em uma viagem que fez a Grécia, Miller escreveu e desenhou 300, uma mini-série em 5 edições com uma visão romanceada dos fatos ocorridos durante a Batalha das Termópilas, onde um rei espartano, Leônidas, ao lado de seus 300 soldados e alguns milhares de aliados, resistiu por alguns dias ao avanço de um gigantesco exército persa, com os espartanos sacrificando-se praticamente até o último homem. Mais uma vez, críticas foram ouvidas ao redor do mundo, sendo que nenhuma ganhou tanta relevância quanto a de Alan Moore – que, curiosamente, antes de falar mal de qualquer coisa, costuma deixar claro que não leu a mesma ou sequer lhe deu muita atenção – que apontou a falta de rigor histórico e tachou a obra de “homofóbica”. A resposta de Miller? “Não me propus a escrever realidade. Esta é uma história de ficção baseada em acontecimentos e personagens reais”. É considerado por muitos como o último grande trabalho de Frank como desenhista, graças aos quadros em widescreen valorizados mais uma vez pelo soberbo trabalho de colorização de Lynn Varley. O resultado foi tão bom que convenceu a Dark Horse, quando da publicação do encadernado, a publicar a história no formato que Miller queria.

Publicada no Brasil pela Abril em 1999 (em cinco edições) e pela Devir em 2006 (em um encadernado de luxo), 300 foi adaptado para o cinema o cinema em 2006, com direção de Zach Snyder, atualmente responsável pelas novas versões cinematográficas do Batman e do Superman e que também dirigiu Watchmen, adaptação da obra de alan Moore e Dave Gibbons para a tela grande.
Publicada no Brasil pela Abril em 1999 (em cinco edições) e pela Devir em 2006 (em um encadernado de luxo), 300 foi adaptado para o cinema em 2006, com direção de Zack Snyder, atualmente responsável pelas novas versões cinematográficas do Batman e do Superman e que também dirigiu Watchmen (idem, 2009), adaptação da obra de Alan Moore e Dave Gibbons para a tela grande.

Infelizmente, a partir daí tornou-se sensível a queda de qualidade no trabalho do artista e escritor, principalmente depois que ele retornou a New York, onde estava durante os Atentados de 11 de Setembro de 2001, que o abalaram significativamente. Mesmo assim, ganhou ainda mais evidência quando, em 2005, Robert Rodriguez – diretor de Um Drink no Inferno (From Dusk Till Dawn, 1996) – o convenceu, através de um curta baseado no história O Cliente Tem Sempre Razão, a não apenas ceder os direitos para a adaptação de algumas histórias de Sin City para o cinema como a trabalhar ao seu lado como roteirista e co-diretor. Por esta atitude, Rodriguez pediu demissão do Sindicato dos Diretores e, por conta disso, foi afastado pela Paramount do comando da adaptação de John Carter, obra de Edgar Rice Burroughs que chegaria aos cinemas em 2012 com o título no Brasil de John Carter – Entre Dois Mundos (John Carter) e foi um fracasso retumbante em todo o mundo.

Mais que uma adaptação, Sin City foi considerada uma trasposição de uma mídia para a outra. Enquadramentos, iluminação, uso de uma única cor... Tudo o que está na hq foi aproveitado ao máximo no filme. O elenco contou com atores do quilate de Bruce Willis, Mickey Rourke, Clive Owen, Rosario Dawson e Benicio Del Toro. Durante anos, uma continuação tendo como base a mini-série A Dama Fatal foi especulada em Hollywood, com Angelina Jolie como a femme fatale Ava Lord, mas o filme só veio ver a luz do dia em 2014, com Eva Green - linda - no papel e completado por histórias inéditas escritas por Miller. A baixíssima qualidade de uma delas (a que traz de volta Bruce Willis e Jessica Alba nos mesmos papéis do filme anterior) e a ausência de alguns atores cujos personagens reapareceram aqui (principalmente Clive Owen, que fez falta como Dwight McCarthy), além do longo tempo de espera, acabaram fazendo com que a obra não tivesse o mesmo apelo e passasse pelos cinemas sem grande impacto.
Mais que uma adaptação, Sin City – A Cidade do Pecado (Sin City, 2005) foi considerada uma transposição de uma mídia para a outra. Enquadramentos, iluminação, visual bizarro de alguns personagens, uso de uma única cor… Rodriguez não poupou esforços para copiar o mais fielmente possível em película o que estava no papel. O elenco contou com atores do quilate de Bruce Willis, Mickey Rourke, Clive Owen, Rosario Dawson e Benicio Del Toro, além de uma participação especial de Quentin Tarantino na direção de uma cena. Durante anos, uma continuação tendo como base a mini-série A Dama Fatal foi especulada em Hollywood, com Angelina Jolie como a femme fatale Ava Lord, mas o filme só veio ver a luz em 2014, com Eva Green – linda! – no papel e completado por histórias inéditas escritas por Miller. A baixíssima qualidade de uma delas (a que traz de volta Bruce Willis e Jessica Alba nos mesmos papéis do filme anterior) e a ausência de alguns atores cujos personagens reapareceram aqui (principalmente Clive Owen, que fez falta como Dwight McCarthy), além do longo tempo de espera, acabaram fazendo com que a obra não tivesse o mesmo apelo e passasse pelos cinemas sem grande impacto.

Ainda em 2005, acabou o casamento – e a parceria artística – com Lynn Varley. Ele se envolveu, então, com a atriz Kimberly Cox, que interpretou uma garçonete em Sin City.

Kimberly Cox também fez uma pequena ponta em Spirit. Em 2012, ela figurou com destaque no processo que a ex-assistente de Miller, Joanna Gallardo-Mills, moveu contra Frank Miller por discriminação e "angústia mental". Segundo a autora da ação, a namorada de Miller criou um ambiente terrível para ela no estúdio em que trabalhava junto com Miller.
Kimberly Cox também fez uma pequena ponta em Spirit. Em 2012, ela figurou com destaque no processo que a ex-assistente de Miller, Joanna Gallardo-Mills, moveu contra o quadrinista e cineasta por discriminação e “angústia mental”. Segundo a autora da ação, a namorada de Miller criou um ambiente terrível para ela no estúdio em que trabalhava junto com Miller.

Em 2008, em mais um passo do que poderia ser uma nova carreira, Miller lançou The Spirit – O Filme (The Spirit), adaptação cinematográfica da lendária criação de Will Eisner. Além do roteiro, Miller foi o diretor da película, fracassando nas duas tarefas, ao esboçar uma história insossa, sem novidade, com diversos diálogos copiados de outras obras suas e uma excessiva similaridade com o visual adotado em Sin City (que não faz sentido ao analisarmos o material original de Eisner). Ele também dirigiu um comercial da Gucci, com Evan Rachel Wood e Chris Evans.

Cartaz com arte de Miller para The Spirit. Apenas os cartazes e o elenco feminino - com nomes "adoráveis" como Eva Mendes, Scarlett Deusa Johansson, Sarah Poulson, Paz Vega e jaime King - valeu a pena.
Cartaz com arte de Miller para The Spirit. Apenas os cartazes e o elenco feminino – com nomes “adoráveis” como Eva Mendes, Scarlett Deusa Johansson, Sarah Poulson, Paz Vega e Jaime King – valeu a pena.

Seu último trabalho de destaque – pelo lado negativo – foi Holy Terror, de 2011. No mesmo ano, se envolveu em nova polêmica ao criticar de forma virulenta o movimente Occupy Wall Street.

Em 2014, durante a divulgação de Sin City 2 – A Dama Fatal (Sin City: A Dame to Kill For), Miller assustou o mundo nerd ao aparecer com um visual extremamente abatido, muito magro e sem pelos. Informações deram conta de que o autor estava enfrentando um câncer no pâncreas, em avançado estágio, mas isso não foi confirmado. Nos últimos meses, ele tem se mostrado com uma aparência ligeiramente melhor.

Sim, porque depois de um hiato em suas aparições públicas, Frank Miller se mostra na ativa novamente. Recentemente, chegou às bancas norte-americanas The Dark Knight III: The Master Race, nova continuação da obra máxima dele, agora escrita por Brian Azzarello – graças aos deuses Scott Snyder foi alijado do projeto – e desenhada – infelizmente – por Adam Kubert com arte-final de Klaus Janson, que trabalhou com Miller – agora uma espécie de “supervisor” – na obra original.

Arte promocional para TDK III: The Master Race, de Andy Kubert e Klaus Janson.
Arte promocional para TDK III: The Master Race, de Andy Kubert e Klaus Janson.

O projeto vem sendo tratado como um tesouro pela DC Comics, com um grande número de capas variantes que fazem homenagens à obra original e o anúncio de histórias ligadas a mesma e a este novo projeto (inclusive uma desenhada pelo próprio Frank). A repercussão positiva fez com que fosse anunciado em novembro de 2015 que uma quarta parte da saga será lançada, agora com roteiro exclusivo de Miller.

Arte exclusiva de Frank Miller para a CCXP 2015, com a Mulher-Maravilha de TDK.
Arte exclusiva de Frank Miller para a CCXP 2015, com a Mulher-Maravilha de TDK.

Em dezembro de 2015, o que seria delírio insano de fãs alguns anos atrás aconteceu: Frank Miller esteve no Brasil como principal convidado da Comic Con Experience 2015 (CCXP 2015). Além de falar um pouco da sua vida e das dificuldades no início da carreira, Miller disse que gostaria de escrever uma história do Superman em que o Batman fosse “o cara mau”. Também informou que está trabalhando em uma nova história de Sin City, que deverá se passar em 1945 e envolverá um agente secreto contra nazistas. Entre os momentos emocionantes ocorridos no evento, também podemos destacar a solicitude com que o debilitado escritor-desenhista atendeu a um fã emocionado que apontou 300 como a obra que o fez se apaixonar pela nona arte e o encontro entre Frank e Maurício de Sousa, o “pai” da Turma da Mônica e quadrinhista mais bem sucedido do Brasil, que entregou uma arte que mistura uma das capas do clássico O Cavaleiro das Trevas com a sua criação, na versão “toy”.

Versão de uma capa clássica de um encadernado de O Cavaleiro das Trevas, mas com a versão toy da Turma da Mônica.
Versão de uma capa clássica de um encadernado de O Cavaleiro das Trevas, mas com a versão toy da Turma da Mônica.

Bom, é isso. Se você quiser saber um pouco mais sobre a vida e, principalmente, o trabalho de Frank Miller, pode ouvir o Podcast do Melhores do Mundo sobre a obra dele. Também vale a pena ouvir o Jurassicast sobre o Cavaleiro das Trevas. Sobre a mesma obra, vale a pena ver o Argcast 93. Recentemente, o pessoal do Terra Zero fez um ComicPod falando sobre o trabalho de Miller com o Batman. Divirta-se também ouvindo o Hell defendendo O Cavaleiro das Trevas 2 em um dos mais épicos Argcasts de todos os tempos!!!!

Até o momento em que finalizo este post, Frank Miller ainda está vivo e – graças aos deuses – atuante. Fiz questão de falar um pouco deste autor porque ninguém conseguiu ler sobre a minha opção de ser um fã de quadrinhos a metade da influência que ele teve. Seu texto e sua arte, tão fora dos padrões do que eu acompanhava na minha infância, foram como socos na consciência que me conquistaram não uma, mas três vezes: antes mesmo de aprender a ler, quando vi sua arte no Demolidor em uma Superaventuras Marvel de um amigo (“Que super-herói é esse que deixa o vilão cair?”); quando ganhei de minha mãe a segunda edição – O Morcego Triunfa – de O Cavaleiro das Trevas (“Mas, o Batman é… velho? E está batendo pra valer nesses caras!”); e quando retornei definitivamente aos quadrinhos, quando vi numa comic shop Sin City – O Assassino Amarelo e Ronin.

Quero deixar claro que eu não perdôo Frank Miller pelo que considero pontos baixos da sua obra. Não, não perdôo: eu os ignoro diante da magnificência do que ele já produziu nesta vida.

Obrigado, Frank! Muito, muito obrigado!

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 9 comentários

  1. Glaydson Melo

    Excelente artigo, à altura do Mestre Miller.

  2. Erick Cavalcante

    Compactuo de seu sentimento de fã por ele, Miller é para toda uma geração que acompanhou os quadrinhos da era ABRIL um precursor que nos colocou nos trilhos de uma nova maneira de enxergar uma mídia que precisava evoluir e evoluiu. No meu caso, foi uma edição de SAM em que o Demolidor estava em posição fecal em meio ao lixo se contorcendo de dor. Um soco no estômago ! Um cruzado no rosto ! Era algo impensável, improvável nos quadrinhos, ver o mix e ler aquilo era entender que se podia ir muito além em qualidade, em inovação.

    Miller é severamente criticado por ter feito suas escolhas, algumas como Sin City, mostraram também sua genialidade porque a proposta estética era uma inovação. Independente das histórias caricaturais cmo DK2 e Holy Terror com um estilo depreciativo da arte dele, e uma falta de consistência nos roteiros, ou até sua despretensão de agradar em Holy Terror – ele foi além, ele ousou, ele errou, ele se comportou como grandes mestres se comportam. Poderia ter vivido dos louros de Demolidor e DK, poderia ter parado nos primeiros sinais da doença que com toda certeza o abalou tanto quanto o fim do casamento. Mas ele encontrou uma esperança numa prancheta.

    Não vejo Frank Miller abaixo de Neil Gaiman (Gaiman incursou nos quadrinhos por influência de DK que foi motivo de um estudo dele enquanto jornalista e da influência de Alan Moore), ou Morrison, ou Moore e vejo Busiek, Warren Ellis, Bendis e Millar bebendo incessantemente dos conceitos por ele firmados em seus Astro CIty, Stormwatch, Authority, Supremos e etc…

    A grande questão é que ele podia ter passado a década de 90 escrevendo mensais e usando seu nome como escudo. Ele abriu mão disso para ser Frank Miller, e vejo nas ações errôneas ou não de toda a obra dele com saldo positivo – Genial !! Sim ! Miller está no panteão dos maiores autores da indústria ! O que esperar de DK3 e 4? De um novo Sin City ? Nada mais do que o esforço de um cara alquebrado. Nada disso mudará a aula de HQ que são os 16 quadros de DK, a acidez, o jogo de sombras/preto e branco puro de Sin City, o rosto aflito de Ben Urich, Murdock agarrado ao tumulo de Elektra….

    1. JJota

      Perfeita a sua opinião.

      Há quem condene os fãs do Miller pelos trabalhos menores que ele entregou nos últimos tempos, dizendo que isso desqualifica qualquer defesa. Ué? Sendo assim não podemos pensar justamente o contrário: o bom trabalho dele não o coloca um patamar acima da maioria?

      Acho Miller o maior artista dos quadrinhos. Talvez não o maior roteirista, com certeza não o melhor desenhista, mas umagrande junção dos dois! Seu texto e sua arte, unidos, são impactantes.

      A sua opinião é muito parecida com a que o Bill Sienkiéwicz disse em uma entrevista para a Mundo dos Super Heróis: Miller se arrisca, busca algo novo, diferente e, sim, está em um momento baixo porque continua se arriscando, buscando fazer coisas que O agradem e não entregar o feijão com arroz que a maioria da Indústria deseja. E sempre há a esperança de ele ser novamente genial.

  3. Harvey_o_Adevogado

    o bipolar Miller. Ora, verdadeiras obra primas, ora, “preciso de money”.

      1. Harvey_o_Adevogado

        Jota? Cavaleiro das Trevas parte 2 é obra-prima?
        Lembro que na época disseram que a desculpa para sair daquele jeito era uma crítica as editoras: muito digital e pouca arte. Se ainda fosse só a arte…mas a história na minha humilde opinião é fraca…

        diríamos um “bipolar” (ainda não peguei as manhas do hífen na “nova” gramática) artístico.

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