PORNOGRAFIA, EROTISMO E A CULPA DA INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO NA CULTURA DO ESTUPRO – PARTE II

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Será que banir a pornografia seria o suficiente para que a cultura do estupro diminuísse? Penso em países com menor acesso aos meios de massa e com maiores índices de estupros e violência contra a mulher que o Brasil. Penso no fato de que no interior dos estados do Nordeste muitas meninas são vendidas a troco de uma vaca, por exemplo ou nos tantos relatos de estupros coletivos em cidades com pouco acesso à internet. Culpar exclusivamente a indústria pornográfica e ignorar outros fatores que podem contribuir para uma cultura de estupro ajudariam a diminuir os números da violência tal qual o que foi feito com o cigarro? Quantos pais e mães conversam sobre o assunto com seus filhos? Quantos de nós não aprendemos na base da tentativa e erro?

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Por isso acredito que não é possível ter posicionamentos absolutos quando o assunto é a sexualidade humana. É extremamente problemático que garotos de 12 anos sejam expostos à pornografia de forma massiva, porque obviamente irão reproduzir o que vêem nos vídeos e as meninas idem, com a diferença que, muito provavelmente, os meninos irão ter prazer com muito mais frequência que as meninas e, talvez, fiquem viciados, já que existem estudos que associam o consumo de pornografia ao vício em sexo.

Estudos também apontam que entre estupradores, grande parte consome pornografia com frequência e em uma pesquisa feita com estudantes de fraternidades universitárias americanas, os resultados mostraram que cerca de 80% dos entrevistados estuprariam uma mulher se soubessem que não seriam pegos e entre eles o consumo de pornografia também é alto. Vejam, não deixam de estuprar porque somos seres humanos dignos de algum respeito, mas porque não querem ser pegos.

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Portanto, a indústria cultural ajuda a perpetuar uma cultura do estupro? Não tenho dúvidas que sim, mas ela só é capaz de fazer isso porque já existe uma cultura do estupro anterior a qualquer produção. Essa cultura que é responsável pelos números alarmantes de violência contra a mulher aos quais somos expostos diariamente. A menos que essa cultura mude, banir a pornografia ou condená-la como a única culpada dos males relacionados aos problemas sexuais das pessoas talvez não reflita em uma diminuição tão significativa nos números de estupros , até porque, sexo vende e sexo é bom, obrigada!

Qual seria a solução? Obviamente eu não tenho uma resposta pra isso, do contrário estaria milionária, não é mesmo? Mas certamente, para que nossa relação com o sexo seja mais saudável, teremos que começar na educação sexual de nossos filhos. Acreditar que “a vida ensina” é deixar nas mãos da indústria pornográfica que o faça e já vimos que não tem funcionado.

Talvez penalizar quem divulga conteúdo pornográfico em meios de livre acesso ou apenas cobrar por meio de cartão de crédito para que se acesse qualquer conteúdo pornográfico, mesmo porque, banir a pornografia não é uma opção em tempos digitais, mas buscar informação é! O que não faltam são páginas que procuram informar as mulheres sobre a importância de conhecerem seus corpos. Mesmo a indústria pornográfica está mudando: além de grupos que buscam empoderar mulheres por meio de informações sobre sexo, filmes em que a mulher não é coadjuvante na busca do seu próprio prazer estão sendo produzidos:

Diretoras desta linha apontam que seus filmes são diferentes por buscarem a igualdade da importância do prazer de todos os envolvidos no ato, sejam homens ou mulheres, e pelas diferenciações na estética e nos roteiros, e que procuram criar situações em que as mulheres possam se perceber como protagonistas e não apenas coadjuvantes. O objetivo destas produções é, segundo as próprias diretoras, mostrar o ato sexual com mais respeito às mulheres. (Léa Santana em “– TEM PORNÔ PARA MULHER?” UMA ABORDAGEM CRÍTICA DA PORNOGRAFIA FEMINISTA)

Sendo assim, claro que é válido buscar diminuir ou até mesmo coibir a representação de violência contra a mulher nos filmes, comerciais, HQ, livros, até porque, sendo expostas a um único tipo de informação de forma massiva logicamente isso ajudará a moldar nosso comportamento, mas diminuir o consumo de pornografia e não educar sexualmente os jovens, continuará gerando homens insaciáveis e mulheres insatisfeitas, afinal, numa busca rápida por palavras-chave relacionadas ao tema descobriremos que o número de mulheres que não atingem o orgasmo em suas relações é significativo.

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Mulheres produzirem material erótico para mulheres também ajudaria na busca do nosso prazer, mas sabemos que ao menos no Brasil, uma mulher falar abertamente de sexo está sujeita a lidar com todo tipo de impropérios e situações constrangedoras, porque infelizmente, ainda estamos aprendendo a lidar com o fato de que mulheres não só gostam de sexo, como estão cada vez menos dispostas a aceitar o papel de coadjuvante em suas relações. “Por que sempre foi assim” não é mais uma resposta aceitável. Em vez disso, “vamos chegar lá juntos” parece muito mais interessante!

Deixo aqui alguns links de páginas e sites que podem ajudar a refletir mais sobre o assunto.

http://ada.vc/pornografia-para-mulheres/

https://www.youtube.com/watch?v=BMgAJwc7ocE&feature=youtu.be

 

http://www.huffingtonpost.com/entry/the-clit-list-porn-for-sexual-assault-survivors_us_57685bb8e4b0fbbc8beb653b

https://www.facebook.com/siriricalivre/?fref=ts

https://www.facebook.com/revolucaovulva/?fref=ts

https://www.facebook.com/xotanas/?fref=pb&hc_location=profile_browser

https://www.facebook.com/A-Obscena-Senhorita-C-176109612556201/?fref=ts

https://www.facebook.com/napimentaria/?fref=ts

https://www.facebook.com/ginecosincera/

https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/18873/1/Dissertacao%20de%20L%C3%A9a%20Menezes%20de%20Santana.pdf

http://minasnerds.com.br/2015/11/27/eita-giovanna-o-erotismo-de-giovanna-casotto/

http://www.ideafixa.com/o-erotismo-fantastico-de-apollonia-saintclair/

https://www.facebook.com/entrerodasebatom/videos/1161789383884886/?pnref=story

http://www.huffingtonpost.com/entry/the-clit-list-porn-for-sexual-assault-survivors_us_57685bb8e4b0fbbc8beb653b 

 

Dani Marino

Dani Marino é pesquisadora de Quadrinhos, integrante do Observatório de Quadrinhos da ECA/USP e da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial - ASPAS. Formada em Letras, com habilitação Português/Inglês, atualmente cursa o Mestrado em Comunicação na Escola de Artes e Comunicação da USP. Também colabora com outros sites de cultura pop e quadrinhos como o Minas Nerds, Quadro-a-Quadro, entre outros.

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