Por que o atual não funciona? As diferenças entre os Super-Homens de ontem e de hoje.

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São notórias as tentativas de editores; diretores; escritores; artistas em geral, de deixarem sua marca na história do personagem mais conhecido por todos, sejam nerds hardcore ou apenas consumidores casuais que assistiram filmes e desenhos na televisão, mas nunca folhearam uma revista em quadrinhos antes. E, na ânsia de fazer algo novo e chamar novos leitores/consumidores, começam a fazer mudanças que julgam necessárias para atrair novas atenções sem perder os “veteranos” de vista. Mas por que essas mudanças não funcionam?

A ordem vigente parece ser, mais do que nunca, o realismo, a verossimilhança correlata ao real, para que o público possa se identificar com o personagem, e isso é uma coisa excelente! Todo mundo pelo menos uma vez se perguntou “se o meu herói favorito existisse, como as coisas seriam?” ou “o que ele faria?” Eu mesmo penso nisso várias vezes… O problema é que as novas facetas dadas ao Super-Homem, e a outros personagens também, não vingaram junto ao público. Pelo menos não na plenitude desejada. Então, se a ideia é boa e o momento parece ser o melhor possível, qual o problema? A resposta pode ser mais simples do que se imaginaríamos: identidade!


As reformulações, tanto nos quadrinhos quanto no cinema, buscando criar uma novidade para os públicos acabaram cometendo um erro tão básico quanto recorrente: mexer nas características básicas do personagem. Enquanto o Super-Homem incorporou novas interpretações ao longo dos anos e de acordo com a época em que era abordada, a versão Novos 52 e a do “Snyderverso” simplesmente tiraram o fator heroico do personagem, fazendo dele um valentão, nos quadrinhos, e um cara que se sente praticamente amaldiçoado com seus poderes, no cinema. E, quando a situação parece ser sem solução, não pensa duas vezes em recorrer à opção definitiva: matar o adversário.

Desde o início o Super-Homem tinha como meta proteger as pessoas, isso não mudou, mas, se no fim dos anos 30 e início dos 40 era justificável matar o vilão, a carga messiânica que ele recebeu ao longo do tempo simplesmente eliminou essa possibilidade para ele, tanto pela forma que a personalidade dele foi sendo desenvolvida dentro das histórias quanto pelo caráter com o qual eram escritas. Mas o Super-Homem matou antes, quando já era considerado um santinho? Sabemos que sim, mas sempre com um propósito dramático condizente com a situação que ele estava enfrentando, e, nos casos específicos, assassinato era realmente o último recurso que ele tinha disponível. Eliminar o sr. Mxyzptlk, no roteiro do Allan Moore, e os vilões da Zona Fantasma, no roteiro do John Byrne, era única possibilidade de evitar que seres mais poderosos atacassem as pessoas a um ponto em que ele não pudesse impedir.


O tão criticado bom mocismo dele, muito bem analisado e explorado em histórias como Reino do Amanhã, era justamente um desses freios morais, impedindo que ele passasse dos limites e ao mesmo tempo fazendo dele o cara legal em que todos confiam. A versão dos filmes do Christopher Reeve e da série da Supergirl, e seus respectivos sucessos de público e crítica, são a prova de que não é preciso mexer no que foi bem estabelecido no imaginário das pessoas para apresentar um grande número de coisas novas, e sim fazer as devidas mudanças pontuais. É ridículo um adulto não saber como usar a cueca, ainda mais quando ele é um dos mais poderosos? É sim, e por mais que seja uma característica inerente ao personagem que poderia ser até bem justificada, pode passar por mudanças. É ridículo esconder um rosto conhecido no mundo inteiro com um par de óculos? É sim, mas exatamente por ser ridículo e ser inerente ao personagem, além de todo o trabalho de diferenciação de comportamento e trejeitos bem explicados em todas as mídias, não dá para mudar.

O que não funciona então não é o personagem, e sim as propostas que querem nos empurrar, mas que não combinam com o personagem. Ser valentão, matar ou mesmo namorar a perfeição encarnada que é a Mulher-Maravilha, no lugar da humana comum e por vezes com uns parafusos soltos que é a Lois Lane, não funciona. A bondade, comumente confundida com burrice (apesar de ele possuir e ter estudado um acervo completo de arquivos de uma civilização inúmeras vezes mais avançada do que a humanidade), o otimismo, jeitão tímido e desastrado quando está como Clark Kent e o amor por uma pessoa comum fazem do Super-Homem o personagem que ele é. É pena que só enxergam que ele tem que se adaptar aos tempos mudando e não ganhando boas histórias…

fUgItIvO dO aRkHaM

sOrRiNdO pArA aS pArEdEs...

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