Ponta de Estoque: Ridge Racer Unbounded

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Sempre tem gente fazendo cobertura de novos games, porém, ninguém se lembra daqueles que não têm dinheiro pra ficar comprando lançamentos, mas também querem ter seus joguinhos. Esse é o objetivo básico dessa coluna: ajudar a orientar as pessoas que querem ter jogos sem gastar tanto, e não se importam que sejam mais antigos. Além disso, também é uma desculpa barata pra cagar regra em cima de jogos antigos que ainda são vendidos em promoção pelos camelódromos e infocenters da vida.

O jogo de hoje será Ridge Racer Unbounded; lançado em 2012. A franquia Ridge Racer é uma das mais rentáveis da Namco. Desde suas origens no PS1, o jogo tem tido uma trajetória que começou bem, ao longo do tempo e de suas inúmeras versões que abrangem inúmeros consoles para todas as gerações, além de versões para Arcade. E este jogo, vale a pena?

O primeiro Ridge Racer se baseou no filme Megalopolis Speedway Trial, filme japonês sobre rachas urbanos ilegais que inspiraria, dentre outros, a série Velozes e Furiosos. Assim, o game assume o plot do filme e entrega um trabalho de primeira: seu jogo é um primor em matéria de gráficos, sons, e jogabilidade, recebendo inúmeras indicações e mais alguns prêmios, como melhor jogo de corridas de 1995 pela revista Eletronic Gaming Monthly. Um dos grandes triunfos em favor do título para Playstation foi a capacidade que os programadores da Namco tiveram de fazer uma grande e fiel adaptação do game, direto dos Arcades para o console.

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Japoneses também adoram carros…

Assim, Ridge Racer e seus descendentes diretos (Ridge Racer Revolution, Rage Racer, Ridge Racer Turbo e R4: Ridge Racer Type 4) criaram uma franquia que manteve uma ótima ascendente de qualidade, culminando com o fantástico R4: Ridge Racer Type 4 – o último lançado para Playstation –, este permitia inúmeras customizações, que dependiam da escolha de uma das quatro equipes competidoras. Era um game acirrado e repleto de pistas com curvas fechadíssimas, que obrigavam o jogador a dominar as técnicas de drifting. Dependendo do desempenho do jogador e da equipe em que ele jogava, novos e diferentes carros eram liberados e disponibilizados para o jogo.

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Ridge Racer Type 4. Até hoje, um jogo que conseguiu extrair os melhores gráficos possíveis do Playstation 1

Todos os quatro títulos da série para Playstation 1 tiveram excelentes vendas e, sem exagero, esta franquia foi uma das grandes responsáveis pela consolidação definitiva do primeiro Playstation. Nas gerações seguintes, mesmo sem ter o impacto que obteve na época do PS1, e com alguns altos e baixos nos lançamentos subsequentes, ainda assim se manteve como uma boa franquia de corrida. Com todo esse histórico, e a boa recepção que Ridge Racer 6 e 7 tiveram para os sistemas Xbox 360 e PS3, era de se esperar, no mínimo, que este game fosse uma continuação decente…

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Ridge Racer Unbounded é uma completa decepção. Neste game, o jogador é colocado no círculo de corridas clandestinas de inúmeras cidades fictícias do mundo de Ridge Racer, começando sua trajetória na cidade de Shatter Bay e, posteriormente, expandindo seus domínios para outras cidades do mundo de Ridge Racer. O vídeo de abertura, narrado em off por uma voz feminina um tanto quanto inexpressiva, nos apresenta ao contexto do jogo: entramos no círculo dos Unboundeds, os “desgarrados”, rebeldes-sem-causa que resolvem adotar táticas black-block e se revoltar contra a sociedade destruindo comércios e construções públicas com seus carros inacreditavelmente fortes.

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Shatter Bay e as pistas a se vencer, em seus vários bairros.

Graficamente, o jogo é relativamente bonito. Os carros têm boa concepção e design agressivo, lembrando vagamente, e de maneira digna, carros reais, mas sem parecerem cópias genéricas. Além disso, a texturização e paleta de cores são muito bem escolhidas, tendo como tom predominante as variações de vermelho e marrom (provavelmente em virtude do efeito de estrias e raios vermelhos que saem da traseira dos carros, quando usam o nitro), sem serem repetitivos. Por outro lado, os cenários apresentam muitas repetições de temas. Nas primeiras pistas de Shatter Bay, por exemplo, flagrei pelo menos 3 grupos de prédios iguais, ao longo de cada um dos percursos. A impressão que deu foi a de que pegaram o mesmo modelo de prédio e deram uma guaribada aqui e ali, pra que aparentasse ser um prédio diferente. Essa preguiça dos designers de fase, que conta com a pouca atenção do jogador eventual, não me passou despercebida. Em consequência, a pista não tem organicidade e fica repetitiva.

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O efeito do Nitro é bonito e inicialmente dá algum impacto, mas esse impacto dura muito pouco tempo, e rapidamente passa a ser repetitivo e passável (até porque o uso frequente do Nitro é excessivamente encorajado). Vários elementos das pistas são quebráveis, incluindo cancelas de cimento, sacos de lixo, cabines telefônicas, postes de luz, etc. Sendo que o jogador ganha novos bônus de pontos quando é bem sucedido neste tipo de destruição. Infelizmente, o game não passa a real sensação de se estar destruindo coisas. O efeito do carro passando por cima de todos esses elementos é mesquinho e ruim: o carro sequer sai de sua trajetória, e, apesar dos elementos extras na pista apresentarem animações de destruição razoáveis, destruir objetos da pista com os carros é basicamente como passar com o carro sobre obstáculos de papel. Nenhuma resistência é oferecida e o ato de destruir acaba sendo irrelevante, em nada contribuindo para o aumento da emoção do jogo.

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Em matéria de sons, a trilha sonora do game continua seguindo a longa tradição da franquia e insiste em temas eletrônicos, como House, Techno e etc., e não decepciona. As músicas são interessantes e instigam o jogador a continuar no ritmo acelerado que o jogo impõe. Os efeitos sonoros são fracos: mal ouvi o ronco dos motores. É um som baixo, irreal, e monótono. A mudança de carro traz uma ligeira mudança no som do motor, mas é tão irrelevante e sem graça que não empolga. Os sons de capotagens e batidas são sempre variações do mesmo, e lembram muito sons de games como a franquia Burnout.

Aliás, falando na série Burnout, eis aqui o pior de Ridge Racer Unbounded: ele deixa a sua característica de jogo de racha clandestino e frenético pra se transformar num Burnout genérico. O foco do game muda completamente: o objetivo principal não é mais chegar em 1º, ou vencer seus adversários através da técnica. Seu objetivo é demolir, destruir e acabar fisicamente com seus concorrentes, expulsando-os da pista e tomando sua posição. Com isso, muito da personalidade de Ridge Racer, construída ao longo de anos de bons jogos, é completamente esquecida nesta versão genérica e vagabunda da série Burnout.

Se quer superar seus adversários você deverá destruí-los. Para isso, será essencial que acompanhe a barra de life que aparece ligeiramente acima de seus concorrentes, e usar o Nitro para destruí-los ao primeiro toque (destruir seus adversários sem o Nitro, ao contrário do que acontece na série Burnout, é extremamente trabalhoso). O Nitro também é necessário para a ultrapassagem, pois seus adversários usam Nitro praticamente o tempo todo, enquanto você, para conseguir encher a sua barra de Nitro, terá 3 alternativas muito difíceis: destruir coisas do cenário, ganhando pontos; manter-se exatamente atrás de seus concorrentes, enchendo a barra aos poucos enquanto isso; ou fazer longos drifts nas curvas. De qualquer maneira, dá muito trabalho. Pra piorar, não é possível acumular a barra de Nitro – só pode ser usada uma por vez – e a desgraçada dura muito pouco. Se levarmos em conta que o Nitro é a única maneira real de se tirar seus oponentes da jogada e destruir partes do cenário (passando por dentro de lojas e prédios, por exemplo), descobrindo novos atalhos e ganhando mais pontos, o jogo então passa a ser uma eterna busca por mais Nitro, deixando de ser uma simples corrida.

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Mais Nitro… MAIS NITRO!!!

Ainda no diz respeito à jogabilidade, os carros não têm uma grande amplitude no ângulo de curva, sendo difícil fazer curvas fechadas sem ter que apelar para a derrapagem com o botão de Drift. E mesmo utilizando o Drift, muitas vezes o que impera, neste game, é a imprecisão nos comandos, pois não é raro que o jogador – mesmo que entre na curva com o ângulo e a aceleração corretos – acabe batendo nos obstáculos e perdendo a direção. Um outro ponto muito negativo é a disponibilidade inicial de poucos carros. O game começa oferendo somente um par de carros horríveis. Assim, o jogador é obrigado a correr inúmeras vezes as mesmas pistas, com os mesmos CARROS DE MERDA; ganhando, aos poucos e com muita dificuldade, pontinhos de experiência, até conseguir o suficiente para liberar, finalmente, os carros competitivos e capazes de fazê-lo chegar nos primeiros lugares. Tive que jogar a mesma pista umas 15 vezes, chegando sempre nos últimos lugares e sem a menor chance de ser sequer competitivo, até finalmente conseguir um carro decente e com reais chances de vitória. Extremamente chato e frustrante.

No fim das contas, Ridge Racer Unbounded é uma completa decepção. É um título que despreza anos de franquia consolidada em gráficos e jogabilidade única, para se travestir como uma versão genérica e ruim da também excelente franquia Burnout. Francamente, esqueçam este game e fiquem com o Ridge Racer 6 ou 7: ótimos jogos.

FICHA TÉCNICA.

Plataformas – Playstation 3, Xbox 360 e PC

Ano de lançamento – 2012

Nota – 4,0

Preço – de R$ 33,90 a R$ 154,90

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 2 comentários

  1. Anubis_Necromancer

    Semana agora voltei a jogar o Transformers Universe. Depois de um tempo fora (pc fraco…), entrei e não vi muita mudança visual. Mas em relação aos controles está excelente. Uma pena que não dá pra configurar para usar os joystick, mas no teclado está bom^^
    espero que saia logo do Beta para todo mundo joga-lo

    1. Porra, nem fala em Transformers… Perdi uma promoção-relâmpago na PSN, vendendo o Transformers – Fall of Cybertron por meras 30 dilmas… Fiquei embromando alguns dias, pro cartão virar (pois já tinha comprado a minha cota mensal de jogos, heheheh) e, no dia que o cartão virou, o jogo saiu da promoção…
      Vou tentar comprar esse Transformers Universe pra cobrir aqui no Ponta de Estoque.

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