Ponta de Estoque: Lost Planet 3

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Sempre tem gente fazendo cobertura de novos games, porém, ninguém se lembra daqueles que não têm dinheiro pra ficar comprando lançamentos, mas também querem ter seus joguinhos. Esse é o objetivo básico dessa coluna: ajudar a orientar as pessoas que querem ter jogos sem gastar tanto, e não se importam que sejam mais antigos. Além disso, também é uma desculpa barata pra cagar regra em cima de jogos antigos que ainda são vendidos em promoção pelos camelódromos e infocenters da vida.

O jogo de hoje será Lost Planet 3; lançado em 2013. Lost Planet 3 dá continuação a uma das mais recentes franquias da Capcom, inaugurada com o primeiro game, Lost Planet: Extreme Condition. Considerada uma franquia irregular, esta série de tiro em 3ª pessoa tem tido seus altos e baixos, desde a primeira versão, produzida em 2005. Enquanto o primeiro jogo ganhou alguns prêmios, o segundo foi completamente ignorado pela crítica e público (era um jogo péssimo, mesmo). Ao contrário dos anteriores, este terceiro game foi apenas publicado pela Capcom, sendo produzido por outra empresa, Spark Unlimited. E aí, será que essa terceira edição vale a pena?

Esse jogo não é bem uma sequência e sim uma prequel, com sua história ocorrendo muitos anos antes do primeiro jogo, e narrando os eventos que desencadeariam a narrativa do primeiro Lost Planet. Agora, acompanharemos a história de Jim Peyton e sua ida ao planeta gelado E.D.N. III, em uma expedição patrocinada pela nossa já velha conhecida NEVEC (Neo Venus Construction), com o objetivo de fazer seu pé-de-meia para sustentar sua crescente família

LP3 - Jim&Wife
Jim e a Esposa.

Ao contrário de Lost Planet 2, esse game tenta uma abordagem mais narrativa, centrando-se todo numa história coesa e bem construída, retomando, assim, a abordagem dada pelo primeiro game da franquia. Como no primeiro Lost Planet, voltamos a E.D.N. III, e acompanhamos com Jim Peyton as primeiras tentativas da NEVEC em estabelecer colônias extrativistas neste planeta. Pra quem não sabe ou não conhece a franquia, no mundo de Lost Planet ,a Terra se encontra em uma gravíssima crise energética e de matérias-primas; crise essa que forçou grandes conglomerados à colonização espacial. Neste percurso, E.D.N. III foi considerado viável por 2 motivos principais: tem atmosfera muitíssimo parecida à da Terra; e é povoada por uma grande variedade de espécies de insetos alienígenas, chamados de Akrids, que possuem sua própria fonte de calor: um tipo de plasma sanguíneo extremamente quente e que pode ser a solução para o problema energético da Terra.

LP3 - Thermalenergy
Este tipo de plasma sanguíneo é chamado de Energia Termal.

Acontece que, conforme Darwin cansou de explicar, os bichinhos não desenvolveram esse calor todo à toa: foi a forma encontrada para sobreviverem à Era Glacial extrema pela qual o planeta passa. Justamente por serem sobreviventes, os Akrids são incrivelmente rápidos, violentos e mortais. Assim como em Starship Troopers, os Akrids podem ser divididos em várias categorias: os Sepia e Trilids que são os buchas; ágeis, burros e ganham pela quantidade.

LP3 - Sepia
Sepia: os buchas do jogo.
LP3 - Gonroe
Os Gonroe são insetos ágeis e furtivos, e parecem uma mistura de gatos com lobos.
LP3 - Vorgg&Dongo
Além disso há os “tanques pesados”, insetos blindados como o Vorgg (esquerda) e Dongo (direita), que lembram siris e escaravelhos.

 

 

 

 

 

 

 

Além desses e várias outras espécimes de Akrids que povoam o jogo, e criam uma diversificação interessante na jogabilidade, temos uma história densa, com elementos de drama, como a dificuldade do protagonista de lidar com a solidão, a saudade e o frio intenso no planeta, mostradas através das constantes vídeo-mensagens trocadas entre ele e sua esposa. A história, aliás, é o ponto forte desse jogo. Em suas missões ao redor da base de Coronis, Jim acaba descobrindo restos de uma expedição antiga que teria sido destruída por um ataque maciço de Akrids e abandonada pela Corporação NEVEC, tendo inclusive seus registros ocultados.

LP3 - Soldiers
NEVEC e seus mercenários safadinhos.

Jim, que acreditava (pois assim tinham dito a ele) fazer parte da primeira grande expedição à E.D.N. III, inicia uma investigação independente, em que descobrirá os sobreviventes da expedição perdida, que agora preferem ser chamados de “Esquecidos” (The Forgotten), e tramam constantes planos de sabotagem às intenções da Corporação no planeta. Além disso, Jim Peyton descobre junto com seu chefe, Braddock, e seu amigo, o técnico Gale (que será pai de Wayne, protagonista do primeiro Lost Planet), quão descartáveis os empregados da NEVEC podem ser, o que torna a situação ainda mais tensa.

LP3 - Braddock&Jim
Braddock (o chefão que acaba descobrindo a verdade e lutando ao lado de Jim)  e Jim Peyton, heroi desse jogo.

NEVEC descobre, pra piorar, a conspiração que vai aos poucos se formando em sua colônia, e manda soldados para acabar com as dissidências. Com todo o caos que se instaura, os colonos da Coronis se juntam aos Esquecidos, formando os Piratas da Neve (Snow Pirates) que aparecerão no primeiro Lost Planet. Além disso, ao se aliar aos Esquecidos, Jim descobre que eles desenvolveram um equipamento chamado de Harmonizador (the Harmonizer), que teria capacidade de curar doenças do seu usuário, utilizando a Energia Termal dos Akrids. Quem acompanhou a série, sabe que o protagonista do primeiro Game, Wayne, utiliza o Harmonizador, que foi a ele dado pelos próprios funcionários da NEVEC, o que nos leva a pensar que a NEVEC teria capturado algum Pirata da Neve e roubado a tecnologia para si.

Ou seja, em matéria de história o jogo é muitíssimo interessante, mas e quanto à jogabilidade, gráficos e sons e efeitos?

O jogo, pra começar, foi feito tendo por base a Unreal Engine, o que por si só já é uma grande garantia de comandos rápidos, efetivos e efeitos físicos bastante realistas. Isso, de fato, acontece. O game roda bonito, com comandos fluentes e mira bastante precisa. Mesmo com o controle analógico dos consoles, é bem fácil mirar rapidamente e acertar, inclusive, Akrids à queima-roupa. Com isso, o jogo fica bastante fluido e diversificado, pois além da precisão dos comandos, o protagonista ganhou comandos novos (inspirado em jogos como Max Paine e Mass Effect), como, por exemplo, esgueirar-se por trás de caixas e paredes, podendo ficar atrás delas, usá-las como escudo, e atirar usando-as como proteção. Além das diversas armas, o protagonista pilota um enorme robô-explorador que também serve como armazém de munição e sonda. Você pode lutar contra os Akrids dentro do robô ou ir pra luta mano-a-mano. Lutar de dentro do Robô, apesar de mais seguro (você não gasta sua energia), é muito mais difícil. Ao contrário do combate corpo-a-corpo, ao lutar com o Robô, o jogo vai para a perspectiva de 1ª pessoa; só que o painel é confuso, os movimentos lentos e imprecisos. O pior de tudo: se seu Robô tomar muitos danos dos Akrids, expulsa o jogador dele, forçando a um combate corpo-a-corpo inesperado. Aliás, essa parte é péssima: ao sermos ejetados do Robô, a transição da câmera de 1ª para 3ª pessoa é horrível e desorientadora. O personagem cai no solo e a câmera geralmente se apresenta completamente fora de ângulo, impossibilitando ao jogador ter uma noção dos arredores, tendo, assim, que correr pra se localizar e encontrar a posição dos Akrids inimigos, que continuam atacando sem piedade. Com isso, perde-se energia com bastante facilidade.

LP3 - Rigg
O Robô, no jogo, é chamado de Rigg

Os mapas são pequenos, estreitos e, muitas vezes, confusos. O excesso de neve nos cenários torna difícil a localização por pontos de referência, e a péssima acessibilidade do mapa deixa tudo mais complicado. O jogador só tem acesso a uma miniatura do mapa (no canto superior direito) enquanto se encontra nos arredores das colônias ou no entorno do seu Robô (chamado de campo umbilical). Se você se afastar muito dessas áreas perde não só essa informação como também outras cruciais como life e munição restantes. Daí, pra ver seu mapa, você precisará pressionar botões por, no mínimo, 2 vezes, e passar por pelo menos duas telas diferentes; o que com o tempo acaba sendo cansativo. O game disponibiliza várias sidequests, que você pode concluir antes de partir pras missões principais da história. Infelizmente, as sidequests são facílimas e monótonas, pois como os mapas são mal projetados, não há como passar do mapa “A” à sidequest no mapa “C” sem percorrer o mapa “B”, o que torna, por várias vezes, o jogo extremamente maçante, já que você precisará passar repetidamente pelos mesmos cenários para ir de um lado a outro da colônia, e chegar a seus objetivos.

LP3 - Peytonandhisrigg
Jim e seu Rigg, explorando o ambiente.

Neste jogo, ao contrário dos outros, você pode usar a Energia Termal coletada como moeda, usando-a para comprar novas armas e peças para seu Robô, customizando-os. Infelizmente, o repertório de customização é limitado e se esgota com facilidade. Em apenas 6 horas de jogo eu já tinha customizado totalmente e colocado minhas principais armas no limite de otimização.

LP3 - Customizationmenu
Menu de customização de armas: burocrático e pouco atrativo

Como já disse, o design das fases é confuso. Os cenários são estreitos e baixos e mesmo em sets de campo aberto não há uma noção muito grande de imensidão ou profundidade. Com isso, não parece que estamos em um “planeta inteiro” diferente, e sim em algum buraco ártico ou da Antártida. Há um excesso de elementos de neve que tornam a visibilidade claustrofóbica, mas não de maneira a criar tensão, e sim causando confusão visual. O Robô, por sua vez, não prima pela inventividade, parecendo-se uma versão genérica de algum mech japonês, com design completamente passável. Os Akrids, ao contrário, têm boa concepção visual e são bem criativos. Como no primeiro game, o jogo utiliza feições de atores reais pra criar personagens mais “verdadeiros”. Assim, as feições de personagens como Jim Peyton, Braddock e Gale são bastante diferenciadas e verossímeis. O uniforme de Jim e dos demais tem visual futurista genérico, e alguns momentos (como abrir os menus de mapa, missões, etc.) são de total falta de criatividade: os menus são holograficamente projetados a partir da luva de Jim e lembram DEMAIS os conceitos visuais de Dead Space.

LP3 - BillWaterson&JimPeyton
Bill Waterson faz um excelente trabalho, e dá vida ao personagem, através da voz e atuação com a utilização de sensores de captação de movimento.

A trilha sonora, no geral, é passável e, em muitos momentos, até esquecível. As músicas mais “tensas” transmitem aquela velha tensão hollywoodiana pasteurizada, que em nada acrescenta à narrativa ou ao clima do game, enquanto muitos efeitos sonoros foram visivelmente reaproveitados das edições anteriores. Já os novos efeitos (como gritos e grunhidos de Akrids novos) não empolgam. As vozes dos atores são ótimas e salvam o game do desastre completo com sua atuação.

Apesar da boa história, Lost Planet 3 não empolga, pois escora sua jogabilidade na fantástica Unreal Engine, sem nada acrescentar de novo. Com cenários claustrofóbicos e confusos, mapas mal projetados e cansativos e pouca inventividade sonora, o jogo é um desnecessário recomeço da franquia e se ressente de um maior tempo de desenvolvimento. Com isso, parece que a franquia Lost Planet lamentavelmente se encaminha pro buraco. Não vale a pena não, nem mesmo para os fãs (como eu) do primeiro Lost Planet.

FICHA TÉCNICA

PlataformasPlaystation 3, Xbox 360 e PC

Ano de lançamento – 2013

Nota – 5,5

Preço de R$ 49,90 a R$ 121,50

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 4 comentários

  1. Anubis_Necromancer

    Maldição do 3 jogo…
    Sempre uma bosta, vide o Dead Space 3…

    Acho que é por isso que a Valve não lança o 3 de seus jogos.

    1. Nem me fale do Dead Space 3…. Uma MERDA, que falarei a respeito em breve. Aliás, os próximos jogos da lista serão Transformers: Fall of Cybertron e Dead Island. Acompanhe também, Anubis! hehehe

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