Ponta de Estoque: Dead Island

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Sempre tem gente fazendo cobertura de novos games, porém, ninguém se lembra daqueles que não têm dinheiro pra ficar comprando lançamentos, mas também querem ter seus joguinhos. Esse é o objetivo básico dessa coluna: ajudar a orientar as pessoas que querem ter jogos sem gastar tanto, e não se importam que sejam mais antigos. Além disso, também é uma desculpa barata pra cagar regra em cima de jogos antigos que ainda são vendidos em promoção pelos camelódromos e infocenters da vida.

O jogo de hoje será Dead Island; lançado em 2011. Apesar de se chafurdar no tema do “apocalipse zumbi”, clichê pra lá de batido, o jogo teve público e vendas suficientes para alimentarem 3 spinoffs e uma continuação, prevista para 2015. Mas será que vale a pena encarar mais essa leva de zumbis?

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Dead Island é um jogo em 1ª pessoa, passado na fictícia ilha paradisíaca de Banoi, supostamente pertencente ao arquipélago de Papua Nova Guiné. A história principal acontece num luxuoso e gigantesco hotel resort, que se espalha por quase toda a ilha. Numa fatídica manhã, os quatro protagonistas sobreviventes são acordados por alarmes e alertas de evacuação e descobrem (geralmente da pior maneira possível) que a ilha foi tomada por uma praga que transformou a grande maioria de seus milhares de hóspedes ricos em zumbis comedores de carne. A partir daí, o game solicita que o jogador escolha um dos quatro sobreviventes e prossiga na apavorante jornada de fuga da ilha, agora amaldiçoada.

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Graficamente, o jogo tem seus altos e baixos. Enquanto os cenários são bem projetados e realmente lembram, com bastante diversidade, uma ilha turística, há inúmeras falhas. Apesar de reconhecer que este jogo é mais antigo, portanto, utilizando plataformas gráficas defasadas, há que se destacar, principalmente, a escassez das cores e os fracos efeitos de renderização da carne e sangue dos zumbis. Como a própria história do game aponta, a epidemia rapidamente se alastrou pela ilha, deixando um rastro de destruição pelo caminho. Os tornados em zumbis começaram a atacar impiedosamente os imunes, enquanto os que ainda não haviam sido infectados corriam por suas vidas. O resultado disso é uma ilha paradisíaca virada de ponta a cabeça, com malas e mais malas espalhadas por todas as partes, cadeiras de praia e diversos móveis virados e fora de lugar, veículos acidentados em lugares inesperados e sangue, muito sangue pelo chão.

Enquanto todo esse caos é virtuosamente retratado nos cenários do game, acaba sendo meio frustrante constatar que, por exemplo, há poucas gradações das cores nos cenários: os bangalôs se apresentam basicamente nas mesmas variações de bege/creme/ocre, sem saírem muito disso; o tom de vermelho da parede dos banheiros químicos, por exemplo, é o mesmo encontrado em algumas malas ou na parede de alguns quartos. Por mais que se entenda o quanto é difícil a confecção de um game com essa envergadura, acaba soando um tanto quanto monótona a não tão grande diversidade de cores. Já os zumbis contam com fracos efeitos de renderização: o sangue esguichado é uma gosma marrom avermelhada pouco realista, que espirra no melhor estilo Mortal Kombat. Os rostos deformados dos zumbis apresentam-se repetitivos e planos. As ulcerações e feridas que aparecem nos corpos dos zumbis não aparentam profundidade. Há poucos modelos de carros espalhados pelos cenários e, geralmente, são mal projetados e feios. O único carro disponível para o jogador dirigir é uma picape genérica, sempre do mesmo modelo, a ser encontrada nos mais diversos lugares, só mudando a cor.

Por outro lado, a jogabilidade do game é simplesmente fantástica. Este é um jogo em 1ª pessoa que dá muita ênfase ao combate corpo-a-corpo e ao uso de armas brancas, como facas, bastões, tacos, pás, remos, etc. Em complemento a isso, o alcance das armas e o modo como seu personagem e os zumbis reagem a elas é fluido e extremamente divertido. Além disso, o game tem um sistema de aprimoramento de habilidades através de pontos de experiência (que o jogador vai conseguindo a cada zumbi morto). A cada vez que se enche a barra de experiência, o jogador pode selecionar uma das habilidades de uma árvore de habilidades, e, no melhor estilo RPG, ir aprimorando seu personagem do modo que achar mais conveniente.

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Cada habilidade pode ser aumentada até o nível 3

Aliás, a abordagem RPG em jogos de Survival Horror, apesar de não ser algo realmente inovador (Resident Evil já fazia isso, lá pros idos de 1996), quando bem feita, se mostra como sendo algo extremamente benéfico à jogabilidade. Neste jogo, os elementos de RPG não se restringem às habilidades aprimoráveis do protagonista: o jogador pode reparar e customizar suas armas em oficinas, além de dispor de uma barra de resistência (stamina) que, além de ser melhorável com pontos de experiência, exige cuidado na sua administração: quando acaba, seu personagem fica cansado, não consegue pegar em armas e, muitas vezes, vai a nocaute com o primeiro empurrão do mais fraco dos zumbis.

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Todo o cuidado é pouco. A barra de resistência (barra azul, no centro da tela) é usada para tudo: seja para se atacar com alguma arma, seja para correr.

Os zumbis, por sinal, são muito interessantes. Apesar da renderização meia-boca, eles se dividem em várias classes e categorias: há os que se arrastam e andam devagar (no melhor estilo da Noite dos Mortos-Vivos), os que, do nada, correm rápida e loucamente na sua direção, num acesso de fúria desbragada; os “inteligentes”, que usam armas e tentam atacar o jogador com elas; os brutamontes, zumbis enormes, de dois metros de altura, extremamente fortes, e que dão bastante trabalho para matar.

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Eu costumo cortar os braços dele fora com alguma lâmina, pra, somente depois, atacar o idiota.

Como todo bom jogo integrante do gênero Survival Horror, este game tem a sua cota de sustos e pavores. Seja por conta de um zumbi que está em algum quarto escuro, e te ataca justo no momento em que você se esquece de acender sua lanterna, seja numa emboscada, onde um zumbi se oferece gentilmente como isca e, ao atacá-lo, o jogador se vê cercado por uma infinidade de criaturas em frenesi, doidas pelo seu sangue. E, como todo bom game do gênero, Dead Island conta com uma trilha sonora impecável. Músicas tenebrosas ou que, dependendo do ambiente, se resumem a um ou dois instrumentos tocando um mesmo tema sem parar, criando um suspense intenso e desesperado. Mesmo quando, depois de explorar determinadas salas ou ambientes, no fim das contas o jogador descobre que não há nada ou ninguém a ser morto, a música ainda assim mantém um clima de tensão permanente.

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Inúmeras vezes, ao longo do game, o jogador vai encarar cenários assim: muitos corpos pelo chão, tudo vazio, desolador, uma música atemorizante ao fundo… O jogador andará pelo cenário, vasculhará tudo e…. Nada. Só o suspense.

A tensão permanente é ainda mais intensificada com os efeitos sonoros nojentos dos zumbis. Seus murmúrios, lamentos e barulhos de gosma realmente apavoram. Às vezes não há mais nada, somente um zumbi de cabeça estourada, estrebuchando devido à pancada certeira de um bastão de basebol customizado com pregos. Mesmo assim, o desgraçado ainda fica fazendo barulhos, que, muitas vezes, se confundem aos de algum outro zumbi, vivo e escondido pelos cantos, que aguarda o momento certo para o ataque e dará um susto dos infernos no jogador, atacando repentinamente.

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O jogo é tão tenso e sanguinolento que sua comercialização foi proibida na Alemanha.

Além disso tudo, o jogo oferece uma grande quantidade de sidequests, as missões secundárias, que dão ao jogador mais experiência e dinheiro. E, já que a ilha é grande, e geralmente as missões secundárias fazem o jogador se locomover de uma ponta a outra da ilha, a expectativa é de muitas horas de jogo. Como cereja do bolo, os produtores permitem que o personagem dirija. Com isso, além de abreviar um pouco as distâncias existentes na ilha de Dead Island, proporcionam o prazer inenarrável de se atropelar alguns zumbis desavisados que vagam pelas estradas, preenchendo aquele vazio sádico que um jogador pacífico como eu, por exemplo, muitas vezes sente.

Em suma, é um ótimo jogo que vale, e muito, seu dinheirinho suado. Apesar da qualidade visual duvidosa em alguns momentos, o jogo conta com uma jogabilidade fascinante; efeitos sonoros exuberantes; um ótimo sistema de aquisição e uso de experiência e habilidades; e um grande número de missões secundárias. Tudo isso encartado num jogo estilo sandbox, mundo aberto, numa ilha bem projetada e com grande diversidade de cenários e situações. Se você gosta de um bom terror, ainda não se cansou do tema dos zumbis, ou simplesmente gosta de um bom jogo, não deixe Dead Island passar. Leve em conta que em 2015 será lançada sua continuação. Vale a pena.

 

FICHA TÉCNICA.

Plataformas – Playstation 3, Xbox 360 e PC

Ano de lançamento – 2011

Nota – 8,5

Preço – de R$ 59,90 a R$ 90,00

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 2 comentários

  1. Anubis_Necromancer

    Esperando o 2 para ver se melhoram o que prometeram no 1…

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