Ponta de Estoque: Bioshock 2

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Sempre tem gente fazendo cobertura de novos games, porém, ninguém se lembra daqueles que não têm dinheiro pra ficar comprando lançamentos, mas também querem ter seus joguinhos. Esse é o objetivo básico dessa coluna: ajudar a orientar as pessoas que querem ter jogos sem gastar tanto, e não se importam que sejam mais antigos. Além disso, também é uma desculpa barata pra cagar regra em cima de jogos antigos que ainda são vendidos em promoção pelos camelódromos e infocenters da vida.

O jogo de hoje será Bioshock 2; lançado em 2010. Bioshock Infinite, o mais recente lançamento da produtora 2k, foi lançado ano passado (2013), sendo aclamado pela crítica e público, ganhando prêmios por onde passa, tanto pelo design quanto pela história e trilha sonora. Em 2013, Bioshock Infinite foi eleito o 3º melhor jogo do ano, perdendo apenas para Gran Theft Auto V e The Last of Us. Por conta do grande sucesso do atual game da franquia, Bioshock 2, seu antecessor, pode ser encontrado a preços razoáveis. Mas vale a pena?

Bioshock 2 se passa em 1968, 8 anos após os eventos do primeiro (e fantástico) Bioshock. Nesta edição, acompanhamos a história do Big Daddy ‘Subject Delta’ (ou, Espécime Delta, como passarei a chamá-lo, daqui por diante). Pra quem nunca viu ou ouviu falar de Bioshock, o jogo parte da seguinte pergunta foda fantástica: o que aconteceria se uma cidade utópica submarina com a mais alta tecnologia dos anos 1940, com uma elite visionária e altamente inteligente, e liderada por um milionário, chamado Andrew Ryan, se deteriorasse e virasse um antro de terror e degradação?

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Bem vindos à cidade submarina de Rapture…
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Uma panorâmica da cidade.

É disso que se trata o jogo: de um mundo distópico, onde a tecnologia e os interesses individuais acabam por desintegrar qualquer sonho utópico. Nos anos de 1940, Andrew Ryan, um magnata, cria uma cidade submarina chamada Rapture, para onde leva uma elite de artistas, cientistas, estudiosos, intelectuais e outros milionários. Seu objetivo era o de criar uma sociedade autônoma: livre de qualquer controle governamental. Sem todos os entraves éticos e morais, a tecnologia de Rapture evolui rapidamente e descobre-se uma substância chamada Plasmid (plasmídeo), a partir de vermes marítimos submarinos, que possibilita alterações bizarras no DNA humano e, com isso, permite o desenvolvimento de superpoderes como manipulação de fogo, gelo, telecinese, dentre outras coisas. O Plasmídeo passou a ser chamado de Adam.

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Um dos inúmeros posteres de propaganda de Plasmídeos que você vai encontrando pelas paredes de Rapture. Adquira seus próprios poderes telecinéticos! Você inclusive pode pegar amostras grátis na loja de tratamento dentário Dandy Dental.
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É impressionante o cuidado dos designers e artistas do jogo. Percebe-se que houve pesquisas aprofundadas no estilo de marketing dos anos 1940, pois as propagandas são fiéis e parecem ter sido realmente feitas na época; inclusive com a mentalidade machista de que a mulher é sempre ligada à cozinha, devendo utilizar seu superpoderes nos afazeres domésticos…

Mesmo só havendo membros da elite na cidade, começaram a haver distinções de classe, e a fabricação dos Plasmídeos começou a ser objeto de contrabando e comércio no mercado negro. Frank Fontaine, um gângster que entrou na cidade disfarçado de magnata, começa a fabricar uma versão sintética do plasmídeo, implantando os vermes nos estômagos de meninas órfãs, que passaram a ser chamadas de Little Sisters (as Irmãzinhas). Ao mesmo tempo, Fontaine tentou juntar seguidores para dar um golpe e tirar Andrew Ryan do comando de Rapture, quando supostamente morreu. A partir de então, as Irmãzinhas passaram a ser objeto de disputa entre Ryan e grupos dissidentes, que tentaram sequestra-las. Ryan, por sua vez, contra-ataca as revoltas criando os Big Daddies (os Papaizões), guarda-costas das Irmãzinhas, criados em laboratório e cirurgicamente ligados a trajes de escafandristas, e que foram psicologicamente treinados para protegerem as Irmãzinhas a todo custo. Ryan também criou seu exército mutante, chamado de Splicers; seres modificados e movidos a Adam, que tratam de dissolver quaisquer revoltas.

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Cada Papaizão é condicionado a proteger uma Irmãzinha com todas as suas forças.

Tive que fazer essa recontagem superficial da história do primeiro jogo, pois ela é essencial para o entendimento do segundo game da franquia. No 1º jogo você controla Jack, o único sobrevivente de um acidente de avião que acaba achando uma batisfera e indo parar numa já moribunda Rapture, de onde tenta desesperadamente fugir, podendo escolher entre drenar todo o Adam das Irmãzinhas, sacrificando elas, ou resgatá-las, colhendo uma porção menor de Adam. Neste meio tempo, Jack explora alguns lugares da linda porém decadente cidade, procurando um meio de fugir dela.

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Dependendo de suas escolhas morais (salvar ou sacrificar), o jogo terá finais diferentes.

Já este segundo jogo se passa 8 anos depois, e nele você encarna um dos primeiros Papaizões bem sucedidos, também conhecido como Espécime Delta. Como cada Papaizão era “atrelado” a uma irmãzinha em específico, Delta teria sido “atrelado”, por engano, à filha de Sophia Lamb, uma cientista desajustada e psicótica, que vem infernizando os jogadores desde o primeiro Bioshock. Lamb teria forçado Delta a se suicidar, graças a um Plasmídeo de controle da mente, mas ele sobrevive ao ataque, e parte em busca de sua irmãzinha designada. Temos, aí, o plot do jogo.

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Quanto à jogabilidade, o game continua tão perfeito quanto o seu predecessor. De fato, Bioshock 2 pouco parece uma continuação do fantástico Bioshock, mais se assemelhando a uma DLC do primeiro jogo. A impressão que dá, no geral, é a de que compramos uma DLC que foi longe demais, com uma história independente, e que satisfaz a vontade do jogador de controlar este fantástico personagem. A franquia Bioshock tem, além do sistema de Plasmídeos – que são poderes ativos e servem ao ataque –, os Tônicos, que são poderes passivos, e melhoram características físicas do personagem, à medida que você os compra e equipa. Assim, o jogador ganha habilidades como “andar mais rápido”, ou “fazer inimigos tomarem choque, ou pegarem fogo, quando batem no seu personagem”. Nesta segunda edição, há pouca inovação nas modalidades de Plasmídeos e Tônicos, com algumas poucas criações. Além disso, o exército de splicers conta com novos espécimes.

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Plasmídeo de fogo, um dos meus preferidos.

Como agora você controla o Papaizão, ganha a habilidade de andar por fora da cidade, em mar aberto, e por partes submersas da cidade, sem sofrer dano algum. Infelizmente, tal “melhoria” se torna praticamente acessória, pois enquanto se encontra submerso, o Papaizão não pode usar armas nem qualquer tipo de Plasmídeo. Ou seja, as áreas aquáticas não são regiões realmente jogáveis, e sim pontos de passagem vazios, que em nada contribuem para a diversão do game.

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Andar por dentro d’água é chato pacas. Um mero passeio, sem nenhum atrativo ao jogador…

Uma das grandes inovações do game é a introdução da Big Sister, a Irmãzona, que aparece a cada vez que se salva ou sacrifica todas as Irmãzinhas da fase. A origem da Irmãzona é indefinida: alguns dizem que foram algumas Irmãzinhas que sobreviveram, fugiram, cresceram e não aguentaram as lembranças de Rapture, acabando por voltar à cidade. O fato é que a Irmãzona é terrível, um dos inimigos mais temíveis e difíceis de se derrotar no jogo. Muito ágil e rápida, usa vários Plasmídeos ao mesmo tempo, exigindo muita habilidade do jogador.

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O timing dos tiros, sistema de mira e mecanismos de ataque permaneceram rigorosamente os mesmos do primeiro jogo. Nesta edição, podemos passear por novas regiões da decadente Rapture. O design das fases continua fascinante, de uma beleza ímpar. Além dos mapas das fases continuarem sendo envolventes e bem equilibrados, os cenários, lindamente criados no estilo Art-decô, trazem um ar de nostalgia futurista e abandono que só evocam mais apreensão ao jogador. A cada momento, você é confrontado com a ideia de futuro dos anos de 1940 e 1950, futuro esse que é tenebrosamente embaçado pelas rachaduras, ferrugens e vazamentos de água constantes, de uma cidade futurista abandonada que está prestes a ceder, a qualquer momento, à força do mar.

A trilha sonora é uma viagem no tempo: tudo aquilo que era hit nas décadas de 1940 e 1950 volta ao jogo. Temos inclusive músicas de consagradas cantoras de Blues como Bessie Smith, que são tocadas durante as telas de carregamento e trazem todo aquele ar nostálgico de uma era de utopias, projetos e manifestos.

A história do jogo demora a se desenrolar, mas nas horas finais dá viradas fantásticas, deixando a ideia de que o jogo valeu a pena ser jogado. Apesar de demorar tanto pra história decolar, e de ser um derivado direto do primeiro game, sem contribuir com inovações realmente válidas, é muito bom acompanhar o desenrolar final da história e preparar o coração para a epopeia aérea que é o 3º jogo, Bioshock Infinite. Bioshock 2 é um jogo que, apesar de ser um ligeiro mais do mesmo do primeiro, ainda assim vale muito a pena.

FICHA TÉCNICA:

Plataformas – Playstation 3, Xbox 360 e PC

Ano de lançamento – 2010

Nota – 8,8

Preço – de R$ 34,90 a R$ 79,90

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 4 comentários

  1. Anubis_Necromancer

    Não importa o quão utopica seja uma sociedade… Sempre haverão aqueles que se acharão melhores que os outros e irão criar o Caos…

    1. Cara, essa é a grande mensagem desse jogo. Isso, e ver que a utopia se transforma em uma ditadura macabra do magnata Andrew Ryan…

      Não sei se já jogou, mas esse jogo é muito bom. Você pode acompanhar os antigos habitantes de Rapture todos horrendos, desfigurados e enlouquecidos pelo uso contínuo e indiscriminado do Adam (que não deixa de ser uma droga). Esse jogo é muito foda, cara.

      Tem momentos em que eu não ataco os splicers, simplesmente paro num canto, e fico ouvindo eles, falando sozinhos, coisas doidas, ou brigando uns com os outros, ou dançando… Os seus inimigos parecem ter vida própria, mesmo. Muito legal.

      1. Anubis_Necromancer

        Sim, já joguei todos^^
        Gosto do Infinite, ainda mais a dlc Buried at Sea.

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