Pogando – de Psonha Camacho

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Se você tem menos de 30 anos, provavelmente não viveu os reflexos do movimento punk no Brasil. Surgido nos anos 70 nos EUA e Inglaterra, o movimento tinha motivações políticas que variavam em cada país. A negação de valores culturais tradicionais resultou em um estilo musical próprio, agressivo e visceral, que não exigia muito conhecimento de seus artistas. Ramones e Sex Pistols, duas das bandas mais populares, fizeram sucesso com canções de quatro acordes e refrões grudentos que eram facilmente assimilados pelos fãs.

No Brasil, as bandas Ratos de Porão e Garotos Podres levavam centenas de fãs aos shows pelo país, onde os punks se reuniam para “polgar” – Dança em roda que simula uma luta entre os participantes –  ou dar “moshes” – pular do palco no meio da galera e torcer para que seus amigos te segurem. Embalados pelo som, muitos grupos se reuniam para produzir suas próprias músicas ou outro tipo de arte alternativa, como os fanzines.

Naquela época, nada de internet ou redes sociais: tudo era feito artesanalmente  e divulgado por cartas ou por meio de outros fanzines. Os zines traziam desde letras das músicas das bandas independentes a poemas, manifestos, calendários de eventos e resenhas de discos.

Esse é o cenário que a adolescente Cherry, personagem da HQ Pogando, encontra quando precisa mudar de cidade. Trabalho da ilustradora Psonha Camacho, a história é recheada de referências musicais e muita nostalgia.  A playlist com algumas delas pode ser conferida no fim do texto.

O trabalho da Psonha é muito original, de forma que quem a acompanha, consegue facilmente identificar uma obra sua. Seu trabalho é tão incrível, que é impossível não se apaixonar por suas aquarelas super coloridas e vibrantes. Em Pogando não é diferente: a artista recorre às cores vibrantes para retratar um momento delicado na vida de Cherry.

Assim como muitos adolescentes, Cherry passa por uma série de conflitos internos e externos, como o fato de não se sentir parte de algo, se sentir diferente. Graças aos novos amigos e ao punk rock, ela consegue encontrar seu lugar em uma tribo. Entre uma referência e outra, a personagem se desenvolve e se fortalece, principalmente a partir do momento que começa a tocar em uma banda.

Apesar do momento delicado da vida de Cherry, Pogando não chega a ser triste, até mesmo porque o trabalho da Psonha é belíssimo e valeria ser admirado mesmo que não houvesse uma história a ser contada.

Lançada pelo selo Sesi-Quanta, em 2015, com 120 páginas.

 

 

 

 

Dani Marino

Dani Marino é pesquisadora de Quadrinhos, integrante do Observatório de Quadrinhos da ECA/USP e da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial - ASPAS. Formada em Letras, com habilitação Português/Inglês, atualmente cursa o Mestrado em Comunicação na Escola de Artes e Comunicação da USP. Também colabora com outros sites de cultura pop e quadrinhos como o Minas Nerds, Quadro-a-Quadro, entre outros.

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