Os Mundos de Tolkien e Martin*

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Nunca o gênero literatura fantástica esteve tão em alta. Todos os meses vemos uma vasta gama de títulos nas prateleiras das grandes livrarias do país e em sites de venda. Mas, e se tivéssemos que apontar apenas dois autores para ver quem pode ocupar o posto mais alto? Difícil, não? Pois bem, quero estrear essa análise literária com dois dos autores que fizeram por merecer o destaque que possuem na mídia e no gosto dos fãs.

O primeiro dispensa apresentações. J.R.R. Tolkien conseguiu criar o impensável e construiu majestosamente seu mundo – com suas raças, línguas, fonéticas, lendas e aventuras –, como um universo paralelo ao nosso, tão rico em detalhes que várias obras tiveram de ser lançadas após seu falecimento para complementar aquilo que já tinha sido publicado. Logo depois veio George R. R. Martin. Martin é um veterano de Hollywood que trabalhou em diversos roteiros e, em meados dos anos 90, começou sua obra máxima “As Crônicas de Gelo e Fogo” – ou no original A Song of Ice and Fire – também riquíssimo em detalhes. Essa série de livros se aproxima mais do que o ser humano é: um pouco de bondade, com sua pitada de orgulho e malícia.

Veremos então, o que ambos têm a nos oferecer em termos de conteúdo, complexidade, e quais suas diferenças literárias.

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John Ronald Reuel Tolkien – ou simplesmente J.R.R.Tolkien


Tolkien é o tipo de autor que todos os que almejam um lugar ao sol dentro do gênero de fantasia têm como base. A complexidade de suas obras extrapola qualquer outra já publicada no segmento, pois, como foi dito na introdução, muitas de suas obras tiveram que ser complementadas postumamente. Por isso, muitos materiais da Terra-Média tiveram de ser completamente revisados e republicados com diversas correções. Contudo, não vamos entrar em méritos técnicos.

Tolkien gostava de uma literatura mais lírica. Seus heróis são todos heróis cheios de modos, pudores e medos. Dificilmente você irá ler algo extremamente impactante em suas obras. As guerras de Tolkien são coisas até bonitas de se ler, porque não passam ao leitor algo brutal ou violento.

 Os diálogos também são um tanto cheios de lirismo. Realmente, o estereótipo de herói de Tolkien é aquela coisa bem tradicional. O cara que vai cumprir aquela determinada missão como James Bond: sem sofrer um arranhão!


George Raymond Richard Martin – Ou Simplesmente George R.R. Martin


Martin, por sua vez, mostrou que contos fantasiosos não necessariamente necessitam de heróis intocáveis que nunca morrem. Em sua obra, ele não mostra qualquer tipo de piedade por seus personagens. Parece que sua missão é “exterminar” suas criações uma a uma, como num jogo de xadrez.

Seus personagens não tem nada de lirismo. São como seres reais: possuem necessidades fisiológicas e sexuais. Isso sem contar que não há qualquer pudor nas palavras proferidas por eles. Martin quis mostrar em uma história fantasiosa como (provavelmente) as coisas funcionavam na época de damas e cavaleiros, onde não havia nada de mar de rosas.

A Complexidade de Tolkien

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Tolkien trouxe à tona uma série de informações sobre a Terra-Média. Sua obra vai muito além de histórias de bravos cavaleiros e seus grandes feitos. Ele desenvolveu uma diversidade de personagens e raças que estão presentes em tantos outros títulos, como os contos épicos e fantasiosos contemporâneos (há quem conteste, mas foi ele que introduziu os elfos como os conhecemos hoje). É indubitável que a maior parte dos autores do gênero o tenham como referência e inspiração para suas obras.

Seu universo ficcional possuía tudo o que o nosso mundo real possui. A diversificação de etnias (no caso literário, raças) e seus intrincados conflitos internos: ninguém gosta dos Orcs, assim como Anões e Elfos não vivem pacificamente há milhares de anos e por aí vai. Tal qual em nosso mundo, onde conflitos por ideologias ou tantos outros motivos acabam influenciando para que alguns povos não convivam pacificamente com seus dialetos, a fonética de seus dialetos, sua caligrafia, alfabeto, lendas, contos, crenças etc.

A complexidade de sua obra é algo que poderíamos ficar debatendo por um longo tempo. No entanto, esta pretende ser apenas uma pequena descrição do que Tolkien nos tem a oferecer. Se você quiser se aprofundar comece pelo “Silmarillion” que narra histórias de muito antes dos acontecimentos do Senhor dos Anéis. Uma excelente pedida!

Só não espere uma linguagem fácil, nem coisas entregues de bandeja, “O Silmarilion” é uma obra um tanto quanto difícil de ler. Lida esta “introdução” siga com “Os Filhos de Húrin”, no qual todos os anexos sobre a história do herói Turim Turambar se encaixam e formam a última obra oficial de Tolkien, e então basta ler O Hobbit e a saga Senhor dos Anéis. Caso as informações não sejam suficientemente claras, procure a obra “Contos Inacabados”, onde há algumas anotações e aprofundamentos de eventos de todas as eras, desde o Silmarilion, até o fim da saga do Anel.

Aproveitando o fato, é importante ressaltar o que Tolkien quer nos passar com a saga de “O Senhor dos Anéis”: até mesmo as pequenas e, aparentemente, inofensivas coisas/criaturas, podem trazer o pior dos sentimentos nos seres: A Ganância.

O Anel de Sauron é uma referência clara ao fato de que, independente da sua classe social, etnia, credo ou qualquer outra característica, enfim, sendo um ser racional, algo pode trazer à tona esse sentimento perverso, e, consequentemente, trazer sérios problemas tanto para quem o alimenta, quanto para quem o cerca.

A Complexidade de Martin

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Martin, por outro lado, não chegou a desenvolver tantos detalhes para sua obra, como línguas, pronúncias e regras gramaticais. Apesar de serem citadas em “As Crônicas de Gelo e Fogo”, as línguas que são faladas em pontos específicos de Westeros e outros locais (Como o Valiriano, por exemplo) ficam apenas na imaginação.

 Todavia, isso não tira sua maestria para dar voltas e reviravoltas na trama. Martin possui certo dom para fazer as coisas que dão errado, no fim, darem certo (e vice-versa).
Além desse dom, Martin até hoje foi o único autor que li que conseguiu me fazer ficar emocionalmente abalado. Ao mesmo tempo em que você lê um determinado acontecimento, isso pode te deixar com muita raiva. Mas, depois de algum tempo, você entende que aquilo tudo fazia parte de um plano muito maior e acaba perdoando o autor.

A trama é algo indescritível. O autor acaba detalhando outros fatores, como o cenário, e as expressões que o personagem está fazendo naquele instante. É realmente aquele tipo de história que, no momento em que você senta e começa a leitura, dificilmente quer parar, ou ser interrompido (pois a gama de personagens que são citados é algo realmente exorbitante!). Isto é um tanto  complexo de explicar, por tanto, pegue o Primeiro Volume de As Crônicas de Gelo e Fogo – A Guerra dos Tronos –  e dê uma conferida. Logo, você irá entender o que estou querendo lhe dizer.

Martin gosta de trazer o lado mais humanizado de seus personagens, pois eles não se privam de prazeres mundanos, e muito menos de necessidades.

Os personagens urinam, defecam, falam uma enormidade de palavrões, e claro, transam.
O mais curioso é que todas essas facetas são devidamente descritas em minuciosos detalhes, e os personagens sempre acabam falando alguma obscenidade.

E se você ainda achava que só sites com conteúdo adulto eram “picantes”?! Espere até ler “As Crônicas de Gelo e Fogo”. Certamente aquele “Favorito” no seu navegador irá ser deletado!

Considerações Finais da História


Não há como chegar a uma conclusão de quem é melhor, simplesmente porque cada autor tem suas particularidades. Conheço Tolkien e sua obra há muitos anos, e confesso que é meu autor favorito. No momento, estou acompanhando As Crônicas de Gelo e Fogo, e confesso que George Martin me surpreende a cada página.

O único ponto que ainda cabe ressaltar, e que poderia ser considerada uma “vantagem” no desenrolar da trama, é que Martin pode nos surpreender a qualquer momento porque está vivo e na ativa. Já Tolkien nos deixou uma vasta quantidade de material para apreciar e se (re) encantar em sua Terra-Média.

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Este post tem 10 comentários

  1. Gostei muito do texto … não sei se lerei os livros do Martin, mas tenho acompanhado o seriado na HBO e estou gostando muito. Quanto ao Tolkien concordo que Silmarilion é uma leitura indispensável.

  2. Fernando de Melo

    Texto muito bom, o que também ressaltaria é o que fala-se logo no começo: “Nunca o gênero literatura fantástica esteve tão em alta.” Fico contente com o que o público pode ler, fica mais fácil pra quem não pratica leitura sair da realidade com livros de ficção, fora a geração que começou a ficar carente pelo fim de Harry Potter e nunca teve aquela vontade de pegar nas histórias de Tolkien.

  3. Renver

    Ótimo texto!!!!!

    Silmarillion é uma obra de arte da literatura universal

    Pronto falei!!!

  4. Frankito, Índio Apaixonado

    Já repararam que Hollywood só gosta de autores que nada têm a dizer a respeito da realidade social e política do mundo? E, quando adaptam alguém que se preocupa com isso, como Asimov, só fazem das obras mais bobas. Para termos adaptações de obras literárias realmente importantes como O Processo, Irmãos Karamazov, O Senhor das Moscas, A Metamorfose, etc. só no cinema independente

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