O Vilarejo, de Raphael Montes.

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O ano de 2015 foi de vitórias para o carioca Raphael Montes. Com dois títulos de sucesso já publicados – Suicidas (Benvirá, 2012) e Dias Perfeitos (Companhia das Letras, 2014) – o autor viu seu primeiro livro virar peça de teatro em São Paulo, com o nome Roleta Russa, passou a integrar o grupo de roteiristas da série Espinosa, da GNT, virou colunista do jornal O Globo e lançou seu terceiro trabalho literário: O Vilarejo (Suma de Letras, 2015).

Meu primeiro contato com seu trabalho foi instigado por uma matéria na internet que listava alguns autores jovens que poderiam integrar a Academia Brasileira de Letras futuramente. Claro que ele estava no ranking. Li então a sinopse de Dias Perfeitos, gostei, comprei e não consegui parar de ler até terminar o livro. A escrita de Raphael em si (a forma como utiliza as palavras) há de melhorar com sua experiência vindoura, mas preciso tirar o chapéu para sua capacidade de criar bons roteiros. E seu novo livro, O Vilarejo, é prova disso.

Aqui, o autor conta sete histórias curtas ocorridas em um vilarejo (jura?) que Raphael diz ter existido em algum momento da história. O autor brinca com a realidade e afirma, no prólogo, que aquelas histórias chegaram até ele por meio de um manuscrito em um idioma antigo entregue pelo dono do sebo Baratos da Ribeiro (que realmente existe no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro). Intrigado, Raphael afirma ir até a Itália encontrar um padre especialista em demonologia que poderia traduzir o texto. Com a recusa do religioso, o próprio Raphael decide fazer a transcrição para o português.

A estratégia (fictícia, claro) funciona muito bem, principalmente após o epílogo (assim como o prólogo, escrito pelo autor em primeira pessoa como “sendo o próprio Raphael”, e não em uma narrativa em terceira pessoa), que dá um desfecho surpreendente e plausível para as histórias.

Outro ganho de Raphael em O Vilarejo é a sensação de unicidade que a obra tem. Mesmo utilizando uma estrutura de contos, seus personagens estão no mesmo local geográfico e se conhecem. Assim, ao ler uma história, é comum você se deparar com o personagem de outra que você já leu, ou que irá ler. Ao terminar a leitura, tem-se a impressão de ter finalizado uma história única, com início, meio e fim.

Novo Stephen King?

 

Na capa de O Vilarejo, a atriz e escritora (sim, ela tem livros publicados) Fernanda Torres compara Raphael a Stephen King. Em termos de início de carreira, as semelhança são maiores do que nos textos em si. Isso porque ambos começaram suas trajetórias tendo sucesso no livro de estreia, ambos publicaram contos antes de se aventurarem nos romances e ambos gostam de lidar com a morte. A diferença está no elemento que causa o terror. Se King ficou famoso pelos seus monstros sobrenaturais, Raphael foca na psique humana. Lembro que o ouvi falar em uma entrevista algo como “para que vou escrever sobre algo que não existe, se tenho uma matéria-prima maravilhosa para trabalhar: o ser humano?”. E, em O Vilarejo, Raphael nos mostra um tipo de terror muito mais comum ao que vemos diariamente nos noticiários: esfaqueamentos, abusos sexuais, preconceitos, condições sub-humana de trabalho, entre outras maldades.

Não há porta que se abre sozinha ou fantasma assombrando uma casa. Há, sim, estupradores, canibais, serial killers… mas não pense que as histórias perdem a capacidade de terror por isso. Afinal, os humanos podem ser bem piores do que qualquer monstro da ficção. E é esse cuidado com o lado humano que diferencia O Vilarejo de outras obras de terror que você encontra na categoria “mais vendidos” das livrarias.

Para finalizar, vale um adendo sobre o cuidado de Raphael com a construção de suas histórias. Em entrevista informal ao canal de Youtube “Carpe Libri” em 2014 (coloquei o vídeo ao fim do texto para os mais curiosos), Raphael contou em detalhes o seu processo de criação de histórias: são livros e mais livros de pesquisa, além de entrevistas e visitas a locais citados na trama. Na ocasião, ele mostrou um livro sobre o consumo de carne e diz que está pesquisando, para o próximo trabalho, a importância do consumo de carne para o ser humano. Tentava responder a pergunta “por que comemos carne?”. Para quê? Porque há um personagem canibal (claro que não vou dizer qual é) e o cuidado na construção dele levou Raphael a ler um livro sobre o consumo de carne. Sua necessidade de entender o ser humano (mental e fisiologicamente) e a forma como explora isso em O Vilarejo (e também em seus outros livros) revelam o porquê de tantas conquistas em apenas um ano.

Nota: 9

João Paulo Balbino

Entrevista de Raphael Montes para o canal Carpe Libri:

Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

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