O Segredo do Sucesso de Star Wars

Com a aproximação do lançamento do tão aguardado Episódio VII, decidi assistir aos outros filmes. Segui a ordem cronológica, apesar de “entendidos” recomendarem outras sequências. Depois de mais de 12 horas de filmes, descobri o segredo do sucesso de Star Wars. Mas antes, é preciso contar um pouco do meu histórico com as trilogias.

Assisti pela primeira vez a sequência original na década de 1980. Tinha menos de 10 anos, portanto, não possuía muita noção da vida ainda (se é que um dia ainda terei…). Os episódios I, II e III foram assistidos nos cinemas nas datas de estreia (entre 1999 e 2008), portanto, eu já havia entrado na vida adulta. Por que isso é importante? Bom, porque a experiência com Star Wars depende fortemente do contexto pessoal e sociocultural.

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Em termos de tecnologia, não há muito o que destacar: as duas trilogias são fruto das limitações gráficas de seus tempos. Logo, não necessariamente se diferenciam de outras produções contemporâneas. Obviamente, o salto em relação aos efeitos audiovisuais é enorme de uma trilogia para outra, mas, de fato, não são os recursos estéticos da imagem que eleva Star Wars a níveis superiores.

Por outro lado, seria injusto não citar a introdução de conceitos que se fixaram no imaginário das pessoas, tanto no que se refere a efeitos especiais quanto ao conteúdo dramático. Podem não ser originais do universo Star Wars, mas com certeza contribuíram bastante para sua solidificação. Um bom exemplo são os sabres de luz, umas das armas mais iradas da história do cinema! Apesar de George Lucas afirmar que criou o lightsaber como uma versão tecnológica das lutas entre piratas a fim de ilustrar um tempo romântico e honroso (veja no vídeo abaixo), sabemos que ele é mestre em copy and paste, então a origem das espadas de luz pode vir de muito antes

Dizem que a Jornada do Herói, forte influência na criação de George Lucas, foi um grande responsável pela atração dos filmes. De fato, a trajetória do indivíduo em busca de crescimento é um importante elemento, pois materializa o amadurecimento frente a vida. Contudo, a utilização da estrutura mitológica é utilizada em diversas obras e, nem por isso, elas fazem o sucesso que Star Wars faz. O segredo é mais profundo. E etéreo.

Então, se não somos impactados pela representação estética, o que fez nos apaixonarmos (ou, pelo menos, alguns de nós) pelo universo de Star Wars? O atrativo está no que lembramos sobre a história somada ao hype criado.

Sim, Padawan cognitivo. A lembrança, assim como a atenção, é seletiva. Desde a civilização oral (pré-escrita), nossa tradição é constantemente atualizada em função das necessidades imediatas. Algo que não interessa, que não funciona ou não importa mais, é esquecido. Em Star Wars ocorre o mesmo: guardamos as partes boas e esquecemos as ruins. E, revendo todos os filmes, as partes ruins são bem numerosas. Mas não estou aqui para falar sobre elas…

04023222407520Seria como se lembrássemos apenas dos trailers de um filme, do conteúdo selecionado, resumido e mais apelativo do material total. Darth Vader é um dos vilões preferidos da galera. Ele é poderoso, mau e estiloso, não é? Infelizmente, assistindo aos filmes novamente, o que vi foi um cara todo duro, inexpressivo e nem tão badass assim.

Wow! Seu bosta! Como ousa falar mal do Darth Vader?!

É eu sei… Dói, né? Mas é isso mesmo. Se analisarmos friamente, este “grande vilão” é meio caído. E muito dos laços afetivos que criamos com os personagens de Star Wars são frágeis, pois se baseiam em informações sintéticas, incompletas. O Luke como herói sinistrão é uma ilusão.

Em suma, nós nos apaixonamos pela ideia. A ideia do protagonista, a ideia do antagonista, a ideia dos conflitos. Tudo a partir de um substrato minimamente interessante – afinal, não podemos deixar de lado a vanguarda dos filmes, com as tramas aparentemente inéditas, montagem e direção de arte inovadora. Daí entra o hype. Podemos dividi-lo em dois: hype a partir das campanhas de marketing e hype a partir do público.

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O hype criado pelas campanhas de marketing advém das peças publicitárias, brinquedos, copos, posters, chaveiros, HQs, conteúdo transmídia e por aí vai. O universo de Star Wars se tornou tão presente que era impossível não se sentir dentro dele. Os estímulos chegam de todos os lados e em um ritmo que te contagia e hipnotiza.

Já o hype a partir do próprio público é o boca a boca, reviews, análises, opiniões, fanfictions e bullying. Antes de assistir aos filmes, somos bombardeados por apaixonados pela franquia. Se não viu, tem que ver. E tem que gostar! Se não gostou, é porque não entendeu. Veja de novo! Quem fala mal é hater; não dê ouvidos. Assim, criamos um universo fantasioso muito antes de entrarmos em contato com o conteúdo propriamente dito. E mesmo quando conseguimos fugir dos spoilers, depois temos de assimilar diversas novas interpretações e materiais extras que complementam, atualizam e, de fato, alteram nossa percepção.

No fim, o que fica não é o que tiramos apenas dos filmes. A experiência final é um bolo de três camadas: a base, e maior camada, é composta pelo hype e todo o universo fantasioso criado por terceiros; a parte do meio é formada pelos sonhos, desejos e percepções individuais; e a última, e menor, é o filme em si.

E, por favor, não me entendam mal. Embora tenha percebido a magia por trás deles, eu adoro os filmes. Assisti-los novamente foi um prazer. Mas, claro, vocês não me verão indo ao cinema fantasiado de Darth Vader

Que fofo...
Que fofo…

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

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