O Rock in Rio, a meia entrada e o futuro?

Você está visualizando atualmente O Rock in Rio, a meia entrada e o futuro?

Olá Nerds e Nerdas, tudo bom? No começo de Abril, mais precisamente no dia 4 às 10h, deu-se início a venda dos ingressos para o Rock in Rio e, como era de se esperar, o site ficou lento, as pessoas tiveram dificuldades em comprar seus ingressos e nem todo mundo conseguiu garantir o seu. Tudo isso aconteceu em pouco mais de 4 horas e o resultado foi que todos os ingressos foram vendidos, sendo o dia do Bon Jovi (20/09), o primeiro, depois Beyoncé (13/09), Iron Maiden (22/09) e por fim Metallica (19/09).

meia01O fato dos ingressos terem acabado em pouco tempo não foi nenhuma novidade, até porque o mesmo aconteceu em 2011 e isso só comprova o fato do Rock in Rio ser uma marca muito forte no mercado de entretenimento. Eu disse marca porque o Rock in Rio não é só um evento de Rock e sim um festival que ocorre durante um determinado período com vários shows de diversos estilos musicais.

A novidade mesmo ficou por conta da medida que a organização utilizará para controlar a venda de ingressos de meia entrada. Resumidamente, a medida será a seguinte: os dados que a organização obteve por meio do seu cadastro serão compartilhados com as instituições de ensino e com a Polícia Civil. Em tese, acontecerá assim: ao preencher a ficha cadastral no site, informei o número da minha matrícula, o nome do meu curso e o nome da minha instituição. Em posse desses dados a organização do Rock In Rio verificará, com a instituição, se os dados que informei são verdadeiros ou não e depois essas informações serão passadas para a Polícia Civil. Para mais informações é só clicar AQUI, AQUI e AQUI.

meia02O mecanismo que a organização pretende utilizar (precisamos ver se de fato isso funcionará) é muito bem-vindo e espero que tal medida não se resuma ao Rock in Rio, mas que se aplique a todos os eventos de entretenimento no Rio de Janeiro.

A realidade do Rio de Janeiro é que 70% da bilheteria de um evento cultural é composta de meia-entrada (e provavelmente a grande maioria possui uma carteira estudantil falsa) e esse efeito reflete no preço dos ingressos, como já foi dito por produtores e empresários. Ou seja, quem paga meia, na verdade está pagando a inteira e quem paga a inteira, está pagando o dobro. Para mais informações AQUI, AQUIAQUI e AQUI.

Recentemente, a assessoria do Rock in Rio informou que a compra com meia-entrada representa 40% do total das vendas, ou seja, 60% dos ingressos foram adquiridos pelo valor inteiro e que há compradores de todos os estados brasileiros, sendo 54% do Rio de Janeiro, 14% de São Paulo e 8,88% de Minas Gerais. (Matéria completa AQUI)

Lei da Meia Entrada foi criada em 2000 e tinha como objetivo assegurar “o pagamento de 50% (cinqüenta por cento) do valor efetivamente cobrado para o ingresso em casas de diversões, praças desportivas e similares aos jovens de até 21 anos (vinte e um) anos de idade“. Isso independentemente se a pessoa era estudante ou não. Lembro que na ocasião o argumento era que o jovem não tinha dinheiro para ir a eventos culturais etc. Depois em 2001 foi criada uma Medida Provisória que tinha o mesmo objetivo só que visando o estudante, ou seja, garantia ao estudante o “(…) efeito de obtenção de eventuais descontos concedidos sobre o valor efetivamente cobrado para o ingresso em estabelecimentos de diversão e eventos culturais, esportivos e de lazer, será feita pela exibição de documento de identificação estudantil expedido pelos correspondentes estabelecimentos de ensino ou pela associação (…)“.

A proposta dessas medidas era, conforme citado anteriormente, ajudar aqueles que não tinham renda própria (em sua maioria estudantes) a terem acesso a cultura. O problema é que, pelo menos aqui no Rio de Janeiro, todo mundo tem uma carteira de estudante e quando digo “todo mundo” é quase que literalmente.

É comum em uma fila de cinema encontrar uma pessoa em torno dos seus 30 anos, que claramente já possui um emprego, possuir uma carteira do 1º período do curso X da instituição Y.

plateia01A consequência foi um aumento absurdo no valor dos ingressos e se instaurou o discurso: “tenho carteira falsa porque os ingressos são muito caros”, por parte dos consumidores, contra “não tem como um estabelecimento se sustentar tendo 70% dos seus ingressos vendidos com 50% de desconto”, por parte dos produtores e empresários.

Concordo que hoje os preços estão muito elevados, mas entendo perfeitamente o lado empresarial. O que o consumidor não percebe (e não cabe a ele entender mesmo) é que o produtor ou empresário não tem uma contrapartida, ou seja, não há uma troca em que os dois lados saem ganhando. Cabe ao empresário arcar com 50% do preço e só, ele não tem algum tipo de abatimento nos impostos ou subsídio para uma melhoria ou qualquer tipo de vantagem.

A minha opinião sobre tudo isso é que chegamos a um ponto em que se faz necessário a intervenção do Estado a fim de reorganizar essa estrutura. A medida mais simples que seria o Governo conceder o benefício da meia entrada apenas aos estudantes do ensino público até ensino médio e o produtor ganharia algum tipo de isenção ou um subsídio.

O problema é que esta não é uma medida popular e desagradaria muitas pessoas (principalmente as que possuem carteiras falsas), mas acredito que certas atitudes precisam ser duras e drásticas para acabar com determinados comportamentos, que hoje são hábitos (exemplo da Lei Seca). No caso, esse sistema de preço alto e “máfia” das carteiras.

plateia02Não sou ingênuo a ponto de achar que uma medida como essa fará os preços baixarem instantaneamente, mas isso tirará o argumento dos produtores quanto ao preço alto.

Para finalizar, o importante mesmo é saber se a fiscalização da Polícia Civil só funcionará para o Rock In Rio ou para todos os demais eventos. Sinceramente? Isso só acontecerá nesse evento, infelizmente. Até porque a política, em muitos aspectos, é  igual a indústria farmacêutica: o importante é medicar e não curar.

Abraços

Leonardo Delarue

Nerd clássico, nascido na década de 80, que gosta de video-game e heavy metal. Só escreve o que gosta, sem bases para sustentar suas teorias e/ou argumentos.

Este post tem 2 comentários

  1. modokk

    Leonardo, na hipótese de regularização da emissão das carteiras de estudante, duvido muito que esses empresários abaixariam os preços dos eventos. Hoje eles colocam a culpa dos altos preços nas carteirinhas, amanhã colocarão nos custos de logística e nos impostos abusivos. Estarão errados? Talvez não, mas como vc bem disse, trata-se tão somente de uma DESCULPA.

    Igualzinho fazem, aliás, os empresários do setor de combustíveis. Após o Brasil se tornar “praticamente autossuficiente na produção de petróleo”, vc já viu alguma redução siginificativa do preço da gasolina? Então… O lucro deles só aumentou… Nada foi compensado aos consumidores…

    Isso é o que aconteceria com esses megaeventos. Dão prejuízo hj? Alguns dão, sim. Se só quem pagar meia for estudante de verdade, aí prepare-se pra ver os lucros dos empresários EXPLODIR sem que o preço dos ingressos diminua 1 REAL SEQUER.

    1. Rapaz, existe algo na lógica capitalista que nenhum brasileiro aprendeu: achou abusivo o preço, não compre. Procure algo mais barato. Simples assim… Parece que, para qualquer coisa, o brasileiro se orgulha em dizer – “Olhem como sou imbecil – fui ao show do U2 por 500 pratas porque eu amo o U2…” Mal sabe o idiota que o Bono só leva 25% a 30% do valor do ingresso para o bolso (média bruta)… Tem de ser muito imbecil para aceitar esse tipo de coisa, mas a galera aceita… Então, tem mais é que tomar na toba mesmo.

Deixe um comentário