O Poder dos Livros: Dicas para convencer leitores

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Não há como negar que Harry Potter alavancou a leitura em nosso país, aquecendo o mercado editorial. E não somente abriu o caminho para formar leitores ávidos e famintos por histórias, como também motivou inúmeras pessoas a criar suas próprias histórias. Mas qual o molho especial para escrever uma história boa?

Talvez seja o fato de trazer o leitor para bem perto do personagem e oferecer a ele um pouco de verdade.

Já ouvi autores dizendo que não foi preciso pesquisa ao escrever o seu livro de fantasia.  A justificativa era – para criar algo, não é necessário consulta. No entanto, nada substitui uma boa pesquisa na hora de o autor criar o seu universo. Afinal, ele precisará de referências. Sem referências ele pode cair num erro muito comum de autores inexperientes – esquecer que até mesmo as histórias de fantasia tem a sua cota de regras a serem respeitadas para que a história não cause um impacto do absurdo ao leitor.

Se você quer escrever ficção científica, fantasia, ou qualquer tipo de história, isso vai lhe ajudar. Abaixo escrevi 13 dicas que poderão dar uns toques no seu projeto. Ao final, coloquei uma entrevista com o escritor Ricardo Ragazzo que complementará ainda mais essas dicas. Depois de tudo isso, tenho certeza que você irá olhar os livros com outros olhos. Aí vão as minhas dicas:

  1. Evite finais que possam dar a impressão de que você não sabia o que fazer com o seu personagem. Matar um personagem só porque não sabe mais o que fazer com ele pode ser um mau final. Se for para ele morrer, que torne isso importante para a história.
  2. Quando for inserir um personagem, insira de maneira consciente. Não o jogue na história para depois esquecer-se da participação dele. Certa vez, li uma história em que a mãe não permitia a proximidade do filho com magia. E, quando chegou a hora de o garoto entrar para esse mundo, a mãe, que estava com o filho, não abriu a boca para se manifestar.
  3. Cuidado com os personagens muito poderosos. Poder demais pode deixar o seu personagem sem repertório. Sempre uso o exemplo do anjo com poderes de super sayajin. Se o poder máximo de um anjo é um poder X, não o utilize no meio do livro. Espere usar o maior poder para enfrentar “o mestre final”.fake-deus-super-saiyajins-god-super-sayan-dragon-ball-z-battle-of-gods
  4. Quando for descrever assuntos dos quais não está habituado, faça anotações sobre este assunto, aumente seu repertório sobre ele. Se vai descrever uma luta, não repita palavras como – acertou um murro na cara e depois desviou de outro murro. Leia ou faça artes marciais e aprenda nomes de golpes mais variados. Ex: avançou com um soco giratório, golpeou com um chute lateral
  5. Usar premissas verdadeiras que se revelam falsas é outra característica de textos de quem costuma escrever e não reler atentamente sua produção. Se o autor descreve que um duende tem má fama em determinada aldeia, e, no meio da história, as pessoas recebem-no bem, tem alguma coisa errada aí. Pode parecer óbvio, mas esse erro já vi ser muito comum.
  6. Quando for escrever um nome científico, escreva-o sempre de acordo com a nomenclatura correta em itálico, sendo a primeira letra do primeiro nome em maiúscula e a segunda em minúscula. Se não puder utilizar itálicos, sublinhe estes nomes. Ex: Homo sapiens; Penelope obscura. Se for criar nomes científicos, respeitando esta regra não causará estranhamento ao leitor e pode dar mais veracidade à sua história.
  7. Hoje a moda é zumbi. Quem for criar nomes de vírus mortais, crie baseado no nome de outros vírus. Todo vírus tem em sua nomenclatura o termo vírus no final. Ex: citomegalovírus, herpesvírus…
  8. Já ouviu falar do lenga lenga da morte? Pois bem, um bom exemplo acontece nos animés. Quando alguém está para morrer, há uma conversa que parece durar horas antes que o coitado finalmente morra. Esse padrão pode funcionar para os mangás e animés, no entanto acredito que não pegue muito bem numa obra literária que quer passar verossimilhança. Imagine o furo em uma artéria no pescoço. Não dá para bater papo por muito tempo com uma vítima neste estado.
  9. Esta é clássica: não existe som no espaço, pois o som não se propaga no vácuo. Mas se não fossem as sonoplastias, Star Wars poderia dar sono num momento importante. Entretanto, nos livros é diferente. Você não precisa falar que fulano ouviu a explosão no espaço. Você pode trabalhar com o que o tal fulano vê. Ele a explosão, os destroços atingindo a nave e um estrondo é ouvido no compartimento interno (respeitando aqui o fato de naves possuírem ar e neste caso o som é ouvido). E não se esqueça: explosão depende de oxigênio. Portanto, em uma nave, duraria muito rápido até o ar todo esgotar.17386d
  10. Se o seu personagem é um agente secreto que se joga de um avião para apanhar outra pessoa que saltou primeiro, não esqueça de que ele terá que lutar contra a resistência do ar para alcançar a pessoa que saltou antes. Já vi acontecer de personagens se jogarem do alto e facilmente alcançarem os que pularam antes, como se isso fosse óbvio e fácil.
  11. E o sedentário lutador? Para seu personagem ser capaz de realizar determinadas tarefas, ele terá que ter atributos para isso. É como no RPG. Não espere que uma garota de dez anos vá atirar uma faca na cabeça de um assaltante sem que esta tenha trabalhado num circo atirando facas, ou pelo menos tenha aprendido com alguém a técnica. Gosto do exemplo de Silent Hill. O personagem com quem jogamos é um pai de família sem habilidades extraordinárias. Por conta disso, se você não esperar o inimigo chegar perto para disparar a arma, a chance de errar é muito grande.
  12. Já leu livros onde o autor esqueceu-se de um personagem? Sabe aquele personagem que é amigo do amigo e que mal tem função na história? Talvez seja melhor tirar da história.
  13. Atitudes não convincentes: se a personagem é uma garota cheia de sede de vingança, alimenta pensamentos vingativos é imatura e, na hora H, é misericordiosa, você pensa o seguinte: essa não é a decisão da personagem, e sim do escritor. Tirar a atitude correta do personagem pode marcar negativamente uma história. Se ela mudar de ideia, é preciso dar embasamento para que isso aconteça. Talvez seja interessante o autor descrever os pensamentos confusos da garota. Um bom exemplo é Constantine dos quadrinhos que tem câncer e fuma horrores. Na adaptação ao cinema, o Constantine virou um cara consciente e decidiu largar o cigarro. No fim, essa atitude não colou, e todos os fãs dos quadrinhos acabaram comentando que o verdadeiro Constantine não pararia de fumar nem mesmo com câncer.

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Nada como se colocar no lugar do seu personagem para saber a atitude verdadeira que tomaria, e não a que você gostaria que ele tomasse. Quer mais dicas? Acesse a entrevista com o escritor Ricardo Ragazzo, que conta 25 motivos que fazem o leitor abandonar o seu livro.

 

Paola Giometti

Paola Giometti nasceu em São Paulo, Capital, em 1983. É graduada em Biologia, mestre e doutoranda em Ciências. Colaborou com a Revista Mundo dos Super-heróis na edição 57 com uma matéria sobre o papel da mulher nos quadrinhos. Em eventos sobre a cultura nerd, Paola é cosplayer da personagem Lara Croft, sua heroína nos games e hqs desde a infância. Publicou o livro O Destino do Lobo, primeiro volume da série Fábulas da Terra, além de ter participado das coletâneas literárias Xeque-mate, Horas Sombrias, Aquarela, Círculo do Medo, King Edgar Hotel, Legado de Sangue, Outrora e Sede, todas da Andross Editora. Paola não só participou com contos das coletâneas Outrora e Sede como também foi a organizadora dessas antologias.

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