Este texto contém SPOILERS da 4ª temporada de Vikings, portanto, se você ainda não terminou de ver os vinte episódios (sim, são vinte, embora na Netflix estejam disponíveis apenas dez), e é sensível a spoilers, sugiro que procure outras leiturinhas aqui do site, porque tem uns conteúdos muito bons e que não vão agredir a sua intolerância a spoilers.
Putz, além de falar sobre temas polêmicos, o Iluminerds agora vai falar de misticismo? Hahaha… Calma, gente que é intolerante a misticismo. Resolvi fazer essa análise por dois motivos. Primeiro, porque a série trata muito sobre religião, e o elemento místico está muito presente na obra. Em segundo lugar, porque a Carta XII do tarô de Marselha tem paralelos com uma das principais histórias de Odin, que é a de sua morte pendurado na Yggdrasil.
Na série Vikings, Ragnar Lothbrok é o personagem central. De simples fazendeiro a rei, suas épicas jornadas e batalhas ganham todo o território nórdico, e ele se torna um dos maiores heróis da época, cujos feitos são constantemente cantados pelos poetas. No entanto, Ragnar é uma figura de personalidade interessante. Seus objetivos e ambições não são os comuns aos de outros de seu nível. Ele não busca status ou fama. Ragnar é motivado por uma curiosidade e necessidade de saber, que o levam a tomar medidas muitas vezes egoístas. Ele não é um santo, está bem longe de ser um, e até desconhece o conceito do que é ser um santo, mas quando firma um objetivo, ele não para.
Seu desejo de conhecer outros lugares, de explorar outras paisagens, o levam a desobedecer seu Conde. Sua curiosidade o leva à amizade com Athelstan, que tinha conhecimento sobre muitas coisas, e que sempre o ensinava. Assim como Odin, Ragnar queria Conhecimento. Sendo astuto e inteligente, suas aventuras o tornaram grande e famoso, e o poder de Rei acabou vindo como consequência.
Ele sabia quando agir, sabia quando aliados deixavam de ser, e quando eliminá-los. E assim, uma série de vitórias e ganhos foram sendo acumulados. Até fracassar pela primeira vez, e sendo um personagem tão humano, acostumado a tantas vitórias, ele não soube lidar com a derrota. Exilou-se, perdeu o apoio do seu povo, Ragnar soube que seu fim estava se aproximando, e que não conseguiria, portanto, concluir o seu último objetivo: obter sua vingança e derrotar os reis da Inglaterra que o enganaram. Sem apoio, ele percebe que só há uma forma de conseguir concluir seus objetivos: se oferecendo em sacrifício. Ser um sacrifício a Ragnar Lothbrok, em seu nome, para que sua glória não se perdesse.
O Arcano XII, O Pendurado, para quem não conhece os Tarots, pode assustar. Nossa cultura cristã não gosta de nada que remeta à morte. Mas, um dos significados mais usuais e aceitos, é que ela simboliza aceitação do destino, auto sacrifício em prol de algo. Ragnar aceita que perdeu o amor de seu povo, aceita que não terá sua vingança, mas não desiste dela. Então, parte para a Inglaterra com o único filho que quis lhe acompanhar, e o usa como parte de seu plano, afinal de contas, quem diria que o pobre Ivar Sem Ossos seria alguma ameaça? Na Inglaterra, ele é capturado pelo Rei Ecbert, que diz não conseguir mata-lo. O viking, então, pede para ser entregue ao Rei Aelle, que tinha lhe jurado a morte, mas manda o recado por Ivar: venham vingar a minha morte, mas não deixem que recaia apenas sobre o Rei Aelle. Vinguem-se do Rei Ecbert, que me entregou. Na verdade, o Rei Ecbert assassinou toda a colônia de nórdicos a quem tinha oferecido terras, o plano de Ragnar era matar Ecbert. O reencontro dos dois, com Ragnar prisioneiro, e Ecbert mostrando vestígios de que sua sede por poder estava levando-o à loucura, nos proporciona um maravilhoso debate entre os dois, sobre a existência ou não dos deuses. Somos autores de nosso destino? Ou está tudo traçado pelos deuses?
E assim segue-se o plano, enquanto Ragnar afirma estar sendo ele o mestre por trás de sua artimanha, vai vendo indícios de que tudo fazia parte de um plano maior, quiçá, divino. Entregue para o Rei Aelle, este o faz sofrer, o tortura, e se diverte com sua dor. Em seus momentos finais, como um viking, Ragnar afirma não entrar com medo nos salões de Odin, e que as Valquírias estão se preparando para buscá-lo. E lança o questionamento: Como os porquinhos grunhirão quando souberem como o velho Javali sofreu? Pergunta esta que o próprio Odin se encarrega de fazer a cada um dos filhos de Lothbrok. Incitando em seus filhos o desejo por vingança, estes preparam um grande exército, com pessoas querendo vingar o Grande Herói, amado pelos deuses. Seu auto sacrifício foi ouvido, não foi em vão.
Um plano desesperado e genial, embora tenha lhe custado a vida. O Enforcado cumpre sua missão.!