Olá, sou Zé Messias, não sou filiado a nenhum partido (…por enquanto rs), embora tenha sido ungido por nosso sinhor Padin Lula para ser o PTralha residente no Iluminerds. Após o resultado das urnas no dia cinco e as alianças de PV e PSB-Rede-Marina com Aquele-Partido-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado me vi na obrigação moral de escrever este texto. Mas não necessariamente para atrair correligionários, converter “direitosos” raivosos ou os “verdadeiros” esquerdistas indignados que não se veem representados – com certa razão – num governo Dilma que anda de mãos dadas com ruralistas, permite a criminalização das manifestações no âmbito estadual inclusive permitindo o perigoso flerte entre polícia e forças armadas na segurança pública, e não se esforça como se deve para garantir os direitos das mulheres e da comunidade LGBT. Esta não será a tônica deste texto.

Até porque nada disso importa. Pelo menos não neste momento. Isso porque hoje não quero te convencer a votar na Dilma (isso fica para um próximo post, talvez). Hoje, a gente vai falar de algo mais sério. Diria eu, um dos maiores males em nossa sociedade nos últimos oito ou dez anos, pior que A Fazenda, pior que Felipe Massa na Ferrari ou a Globo Filmes. Hoje, quero falar do famigerado antipetismo que assola nosso país e as redes sociais na Internet e fora dela.

Em primeiro lugar, ser antipetista não significa apenas não votar, ter certas reservas ou mesmo não gostar do PT. Cada cidadão tem o direito de fazer suas escolhas e ter suas predileções politico-ideológicas. Fazer oposição a um partido e suas ideias é mais do que natural. É parte fundamental do sistema democrático. Contudo, o antipetismo, como defenderei neste texto, não é baseado em fatos, ideologia ou mesmo em impressões pessoais, é uma revolta ou ódio irracional, sem sentido e fundamento. Ou melhor, até possui uma base, mas elas são mentiras, meias-verdades (que são mais perigosas do que mentiras) e preconceitos que são tão bem utilizados e arquitetados que fazem uma pessoa ir justamente contra aquilo que ela deveria apoiar e até contra aquilo de que sua própria existência depende. É como uma doença, é uma PTfobia, se preferirem.

Por esse e outros motivos, há quem defenda que o anti-petismo é o nosso bom e velho preconceito com os pobres travestido de opinião politizada. A madame que se ofende porque a empregada faz compras no mesmo estabelecimento que ela, o playboy que não aceita que o “favelado” estude na mesma faculdade (ou numa melhor) que ele, o morador da região Sul/Sudeste que afirma que o do Norte/Nordeste não sabe/NÃO MERECE votar… E por aí vai.

Eu não acreditava nessa hipótese….pelo menos não até ver os quase 35 milhões de votos que Aquele-Candidato-que-Não-Dignarei-Em-Escrever-O-Nome recebeu. Mesmo sendo um eterno pessimista, um detrator do que seria a mesquinhez, egoismo e baixeza da alma humana, no que se trata da coletividade, sobretudo a coletividade brasileira, sempre busquei ver o melhor lado, tratei de ser o mais ferrenho dos defensores disso que se convencionou chamar de “povo brasileiro”.

Como disse no outro post, sinceramente não acredito que “o povo seja burro”, que não saiba votar, que troque o voto por um boné/camisa de deputado. Isso é o que querem que a gente pense. Da mesma forma, sempre acreditei que essa opiniões mais “azedas”, mais “descabidas”, viessem de um seleto grupo de indíviduos, PARTE da velha classe C de sempre e o grupo dos ricos de verdade (o pessoal que viajava de avião pela Varig. Eu, por exemplo, na época que a Varig existia nem sabia o que era, quanto mais ter entrado num avião. Isso não era coisa de “gente diferenciada”, como eu).

Por outro lado, acredito sim que haja um interesse de certa parte da “população” (embora por sua elevada/incensada condição socioeconômica e influência politica seja meio dificil colocá-los na mesma categoria que o resto de nós) em fomentar essa briga. Colocar a classe média contra os pobres, e vice-versa. Criar um sistema em que o medo do primeiro alimenta a raiva/revolta do segundo, numa eterna espiral de desconfiança, rancor, desprezo e violência (eu, como sempre fui preto, pobre e favelado, cresci com verdadeira ojeriza ao pessoal do play e dos condomínios, das casas de praia, da TV a cabo nos anos 90, do Ovomaltine e do leite com pera).

São os Huck, os Civitta, os Marinho, os Safra, os Odebrecht, os Moraes, os Esteves, os Camargo, os Aguiar, dentre outros, que lucram (literalmente e figurativamente) enquanto a gente reclama dos R$ 24,5 bilhões destinados ao bolsa família pra “sustentar vagabundo” (um fração infima do orçamento de 2014 de R$ 2,38 tri que não corresponde nem a metade do dinheiro destinado à Saúde (R$ 95,7 bi) ou à Educação (R$ 84 bi), sem contar que é um projeto reconhecido pela ONU e que TODOS os candidatos fizeram questão de dizer que iriam continuar ou até ampliar,  ou quando a gente invoca a corrupção e o mensalão como os maiores escândalos da historia do país (e não é, sério mesmo! Os culpados foram julgados e condenados – sem contar o fato de que muitos juristas alegam que algumas condenações foram completamente arbitrárias, com o uso equivocado de preceitos juridicos apenas pra conseguir a condenação que a mídia e a opinião pública queriam – por um desvio de 150 milhões de reais, enquanto o mensalão mineiro de quase 300 milhões de reais e o propinoduto do metrô de SP que movimentou 40 bilhões não têm o mesmo destaque ou sequer incitam a mesma revolta).

Ninguém se diz antipsdb ou antitucano, faz piada, rasga foto ou mesmo desconfia das imagens de Alckimin, Serra ou Eduardo Azeredo. Alckimin foi inclusive eleito no primeiro turno!!! E Serra venceu com relativa facilidade Eduardo Mito Suplicy pela vaga no Senado.

Embora todos os dados sobre corrupção provem o contrário, é o PT que leva a fama de “partido dos ladrões”. Como Dilma bem disse no debate do SBT, ninguém, nem pessoa, nem partido, está acima da corrupção (no sentido de estar imune a ela). Embora a retórica da presidenta não seja das melhores, ela quis dizer que é uma tremenda inocência ou até hipocrisia se julgar o bastião da moral (que é um conceito bem furado, como já dizia Nietzsche), e que a corrupção infelizmente faz parte do sistema politico, devendo ser combatida, investigada e julgada quando encontrada.

Esse discurso de “vamos acabar com a corrupção” joga com o mais baixo do discernimento humano e acaba criando uma falsa posição de superioridade para o emissor. Não se acaba com a corrupção, assim como não se acaba com o crime, com as guerras, com o consumo de drogas ou com a prostituição. Você deve combatê-los, regulá-los, refreá-los, mas eles não são um objeto ou algo papálvel que se possa controlar, eles nascem dos impulsos humanos, estão impressos no nosso DNA. Apelar pra esse tipo de argumento é subestimar o seu interlocutor, tratá-lo como um ignorante ou uma criança. Acreditar nesse tipo de argumento é aceitar esse tratamento.

Mas o que é o antipetismo?

Para mim, o antipetismo teve início quando Lula foi eleito, em 2002, e virou o “analfabeto/maneta cachaceiro”, uma falta de respeito sem precedentes pra um chefe de estado, e obviamente, uma forma “engraçadinha” de demonstrar nosso velho e bom preconceito contra pobres e nordestinos (algo similar acontece aqui nos EUA onde líderes da oposição – eu disse LÍDERES DA OPOSIÇÃO, POLÍTICOS e não eleitores, gente comum – dizem sem pudor que odeiam e até têm nojo do Obama. Não, isso não é normal. Isso não é uma oposição saudável, é sim fruto do racismo).

Claro que tem dedo da mídia aí. Independente da linha editorial, nossos jornais, revistas e concessões de rádio e TV estão na mão daqueles que citei ali em cima. Mesmo sem usar aquele discurso raso de manipulação das massas, é inegavel seu papel como formador de opinião (o que é totalmente diferente de manipulação). Uma vez abertas as portas democraticas da fiscalização do governo pela imprensa, é natural que haja cobrança, denúncia. Contudo, denúncia é diferente de denuncismo, e infelizmente há uma certa queda para o sensacionalismo, para as machetes tendenciosas e, como falei acima, para as meias-verdades (que são piores do que mentiras, pois são o uso de fatos para servirem de premissas para mentiras: a forma como a Petrobras e o PIB são noticiados, por exemplo).

Quer se passar uma ideia de estagnação, de retrocesso, “o PT quebrou o país”. Daí se foca nos números do PIB que estão abaixo do esperado, inclusive em “virtual deflação” ou algo do tipo. Isso tudo baseado nos números de UM TRIMESTRE. Sim, senhores. Eu estava muito preocupado com a economia do país (bullshit!). Será que o Partido-dos-bicudos estava certo? Afinal, se é -0,5% (ou o que seja) quer dizer que tá regredindo mesmo. Mas fui ver, e esses dados que eles tanto discutem, e são a base de toda uma argumentação, são de UM TRIMESTRE. Claro que isso tem um impacto no ano, mas, apesar disso, todas as demais previsões para o mesmo ano continuam positivas.  O que quer dizer, o país continua crescendo, mas pode ser que cresça menos por causa do trimestre negativo (e parece que todo ano tem isso). Mas a balança continua positiva. Não sei vocês, mas há uma grande diferenca entreos termos  “crescimento pequeno/moderado” e o “PT quebrou o país”.

A Petrobras está passando por uma crise, com o caso lá da corrupção (que está sendo e investigado e diretores estão sendo afastados etc., etc., etc.) o valor de mercado dela diminui. Mas, se comparado a todo seu histórico recente, e também levando em conta que o mercado possui essas flutuações, tal crise passa a ser relativa. Aliás, é assim que esses caras ganham dinheiro, afinal, no mercado financeiro: assim como na natureza, nada se perde, tudo se transforma. O dinheiro só muda de mãos (sendo que a cada mudanca uma parte fica com os banqueiros). Semana passada mesmo, finda a crise, a Petrobras voltou a ter suas ações em alta (a maior empresa da america latina etc. etc.). Nenhuma matéria a respeito. Novamente, entre isso e o “PT afundou a Petrobras e entregou na mão dos corruptos” há uma grande diferença.

Sempre fui contra aquele chavão do “contra fatos não há argumentos” justamente por isso, como jornalista, alguém de dentro da “imprensa” , sei como é facil usar de artificios retóricos para se dizer o que quer, defender uma ideia. Isso sem faltar com a verdade, sem “manipular”. Aliás, o Iluminerds são especialistas nisso hahaha. Como redator e editor, fico impressionado com a capacidade retórica dos membros do nosso site (principalmente se comparada aos outros ~~blogs nerds~~) e me preocupo em saber se o leitor tem a dimensão de quão bem a gente escreve e como a gente tenta, na medida do possível e respeitando o principio básico da zuera, “informar e educar”.

Por isso é bom deixar claro, embora eu seja, pra todos os efeitos, um “petista de carteirinha” (apesar de não filiado), não estou defendendo o PT. Até acho que tem que meter o pau mesmo. O governo de Dilmão não está acima de críticas. Mas esse “antipetismo” tem acabar. Ele faz mal pro país, faz mal pra gente, faz mal pra alma.

Vamos fazer com que diálogos como esse, relatados por um amigo, não aconteçam mais.

X: Ahh eu vou votar no Aécio.
Eu: Entendi, por quê?
X: Porque a Dilma afundou o Brasil! Olha essa inflação e esse desemprego.
Eu: A inflação média e a taxa de desemprego são as menores desde a redemocratização.
X: Mas olha o preço desses alimentos aqui!
Eu: A ingerência dos recursos hídricos do PSDB direcionou uma inflação de custos, especialmente pros produtos da agricultura.
X: E o Alckmin tem poder sobre a seca?
Eu: Não, mas desde 2003 a SABESP é avisada sobre estiagens fortes e nenhum investimento foi feito em infraestrutura. Países com períodos de seca muito maiores não têm corte de água.
X: Mas o Aécio não é o Alckmin.
Eu: A principal nascente do São Francisco em MG secou.
X: Tudo bem, mas olha a educação e a saúde desse país!
Eu: Saúde e educação são responsabilidades dos governadores estaduais. Enquanto governador, o Aécio reduziu os salários dos médicos e professores para os menores do país.
X: Mas olha a economia, as pessoas estão morrendo de fome!
Eu: Pela primeira vez, o Brasil não está no mapa de fome da ONU.
X: E essas políticas paternalistas? Chega disso!
Eu: Essas políticas salvaram a vida de milhões de brasileiros. E o Aécio quer aumentá-las, por que você está falando mal delas?
X: Enfim, o governo do PT é muito corrupto.
Eu: O maior escândalo do PT envolveu desvio de R$ 55 milhões. O Aécio sozinho é investigado por desvio de R$ 4,3 bilhões.
X: Mas olha a quantidade de notícias sobre o PT!!
Eu: É porque o PT é investigado. O Aécio e o Anastasia barraram mais de 70 CPIs em MG.
X: Mas o PSDB trouxe estabilidade!
Eu: É verdade, o PSDB reduziu a inflação. Pagando um preço alto: crescimento de 16% entre 94/98, metade da Argentina, na época do boom neoliberal; crescimento da dependência externa de 0,2% pra 5% do PIB e fim de 1,2 mil de empregos entre 1995 e 1996. Essa mesma receita neoliberal criou as crises que estamos enfrentando desde 2008.
X: O PT afundou a Petrobrás!
Eu: A Petrobrás foi de 15,4 bilhões de reais pra R$ 124 bilhões no governo do PT.
X: Mas olha MG, que estado rico.
Eu: MG tem um dos menores crescimentos do país e uma das maiores dívidas públicas.
X: Ai… FORA, PT!!
Eu: Fora você.”

PS: Quero pensar que a derrota de Marina no primeiro turno tenha sido devido ao alarmismo (~~manipulação~~) das pesquisas, a óbvia campanha anti-Marina de ridicularizacao da figura da mesma (não necessariamente por parte do comitê da patroa, diga-se de passagem) ou ao ‘despreparo’ político (campanha de difamação a parte, ela mandou mal na questão do compromisso criminalização homofobia e mais recentemente no apoio ao tal outro candidato do passarinho de bico largo), e não por causa da declaração dela sobre o 13o salário pro Bolsa Família. Será que somos tão mesquinhos assim? Eu acharia muito mais saudável um segundo turno Dilma x Marina do que esse que está aí (mesmo o meu segundo turno ideal sendo Dilma x Luciana)…