O Padrão Rodrigo Hilbert de Qualidade

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Olá, Nerds e Nerdas, tudo bom? Recentemente tenho lido muitos textos, memes e depoimentos envolvendo o Rodrigo Hilbert. Todos eles, praticamente comentam o quanto o Hilbert é perfeito e consequentemente comparações foram feitas com nós, “pobres homens mortais”.

Mas porque isso tem, de certa maneira, incomodado muita gente, minto, na verdade tem incomodado muitos, quiçá, todos os homens? O motivo para mim é muito simples: Acredito que pela primeira vez, nós homens, estamos (só agora) sofrendo um tipo de “Processo de Padronização” algo que sempre foi muito comum no universo feminino.

Dito isso, nós, homens, não estamos acostumados a sermos cobrados, mas adoramos fazer isso com as mulheres. Mulheres que por sinal sofrem desde que nascem sobre os mais variados tipos de pressão por um padrão. Tanto que recentemente eu li uma notícia em que o Brasil é líder em cirurgia estética na vagina. Nessa notícia temos a triste informação que de que muitas mulheres devido “A depilação total, as modelagens cada vez menores dos biquínis, o movimento de envio de nudes e a pornografia são importantes motivadores da busca pela vagina “mais bonita”.

Agora repare que esse “Padrão Rodrigo Hilbert de Qualidade” não se resume apenas à beleza, mas sim, a várias atitudes que deveriam ser algo comum no mundo de nós, homens, como por exemplo o simples fato de dividir as tarefas domésticas, na criação dos filhos, ser participativo.

Quantas vezes, conversando com amigas ouço elas reclamando de seus parceiros?Ouvimos que elas não querem mais um filho para criar e sim um companheiro? Mas nós homens temos isso: Sempre estamos atrás de uma mulher que nos trate como nossas mães nos tratam. Queremos saber o que tem para o jantar ao invés de fazermos a própria comida ou, pelo menos, ajudar a fazer o jantar.

Com relação ao Hilbert ser um homem multi-tarefa, isso vem de sua criação. Ele mesmo, em entrevistas, mencionou que já foi pobre e que o avô o ensinou essas habilidades, pois ele precisava de emprego para ajudar a família. Então, fica fácil criticá-lo agora que ele é famoso e rico. Afinal, quem de nós aprendeu marcenaria, mecânica enquanto criança, seja pelos nossos pais ou avôs e depois de grandes ajudamos com esses detalhes em casa? No máximo o que fazemos é abrir a tampa porque está muito apertada.

Agora repare, esse “ABSURDO” que estamos sofrendo, no fundo apenas está nos questionando sobre, como disse, a sermos mais prestativos e participativos com nossas companheiras. Imagina se essa pressão se resumisse a beleza, tamanho do pênis, corpo malhado e outras coisas que mulheres sempre sofreram?

Também acho interessante quando vejo alguns depoimentos, de nós homens, do tipo “você não é nenhuma Fernanda Lima também, né?”, como a esculpa para o Rodrigo fazer tudo aquilo é o fato dele estar casado com a Fernanda Lima. Infelizmente, esse tipo de comentário me faz lembrar a declaração do goleiro Bruno (ex-Flamengo) dizendo que a Eliza era uma atriz pornô, ou seja, tentando diminuí-la por ter aquela profissão. De uma certa forma é a impressão que tenho ao ler depoimentos assim, diminuindo a mulher por ela não ser tão bonita como a Fernanda Lima.

Enfim minha conclusão é muito simples: Todo esse assunto só confirma o fato de o quanto, nós homens, somos babacas. Acredito que pela primeira vez nós estamos sendo cobrados por algo que deveríamos saber e ou fazer desde que nascemos. E, sinceramente, espero que todos nós, homens, tenhamos um selo de “Padrão Rodrigo Hilbert de Qualidade”.

Para finalizar, será que o Porta dos Fundos acertou a dizer que o Rodrigo Hilbert é o nosso Salvador?

Abraços

Agora uma visão feminina sobre o assunto, por Dani Marino:

Particularmente, caras da mídia que são “vendidos” como uns “homão da porra” não me chamam a atenção. Tudo parece muito fake e montado, até porque, sabemos que eles não representam a realidade.

Mas as brincadeiras em torno do Rodrigo Hilbert são interessantes e podem gerar algumas reflexões. Começando pelo fato de que muitas mulheres lembram que fazemos tudo o que esses homens fazem, mas no nosso caso é visto como uma obrigação, algo sem valor, principalmente no que diz respeito à maternidade. Como brinca a comediante Ali Wong, “É necessário tão pouco para ser uma bosta de mãe e é necessário tão pouco para ser um pai incrível”. Isso porque por mais que ambos os gêneros sejam oprimidos por padrões, existem pesos e medidas diferentes para cada um, existe o padrão duplo que confere a cada gênero exigências específicas.

https://www.facebook.com/netflixbrasil/videos/1167096710013787/

Essas exigências acarretam consequências devastadoras na vida das mulheres e não faltam dados de orgãos públicos e entidades internacionais sobre o assunto. Apenas para dar um exemplo, mulheres crescem sendo ensinadas que uma mulher sem um companheiro é mal vista socialmente. Sim, ainda é assim! Quantas vezes você não tentou arranjar um namorado para aquela sua amiga que todo mundo chama de encalhada? Quando mulheres a partir dos 30 anos estão solteiras, a sociedade a cobra uma atitude, porque “seu relógio biológico” também impõe isso. São vistas como solteironas, enquanto que homens são vistos como solteiros convictos, com prioridades diferentes.

Eu poderia escrever um livro (existem vários) sobre como a obsessão em se encaixar em um padrão é extremamente nociva às mulheres e ainda assim, vários homens fariam questão de me lembrar o quanto sofrem também, como se estivéssemos em uma competição. A questão é: ok, mulheres são perfeitamente capazes de entender o que os homens passam porque são pressionadas desde que nascem a se comportarem de acordo com convenções que impõem, entre outras coisas, MUTILAÇÃO do corpo para agradar aos homens. Quantos homens se submetem a procedimentos estéticos dolorosos e arriscados apenas para conquistar uma aparência dentro do padrão?

O Brasil é um dos campeões em cirurgias plásticas do mundo. Não só isso, além dos procedimentos estéticos, consumimos centenas de drogas para controlar o peso, melhorar a pele, diminuir a quantidade de pelos, aumentar a quantidade de cabelos, aumentar a quantidade de cílios, aumentar a libido, não engravidar… E tudo isso é incentivado, afinal, “autoestima é tudo”, não é mesmo?

Mulheres se depilam porque, embora pelos sejam naturais em humanos adultos, os homens preferem que elas sejam assim. De preferência que lembrem uma criança de 12 anos, mas com silicone. Estudos realizados por duas instituições diferentes associam o aumento de certas doenças à depilação pubiana brasileira, mas, como quase 70% dos homens preferem justamente esse tipo de depilação, esses dados nada mudam, porque afinal, nossa saúde não é importante. O importante é estar sempre sexualmente desejável, desde que pareça natural, porque homem não gosta de artificialidade, a não ser aquelas 53617719 práticas às quais nos submetemos e que eles acham que são naturais. Não estou dizendo pra mulherada parar de se depilar. Só acho importante ilustrar o quanto nossas ações são voltadas à busca constante de aceitação masculina, o quanto somos escravas de rituais dolorosos e perigosos com a desculpa de que queremos nos sentir bem.

Porque é tão importante falarmos sobre esses padrões e na forma como eles afetam as mulheres? 

“Quando você odeia o seu corpo, você destrói vários aspectos da sua vida, afeta seus relacionamentos, seu trabalho, seus estudos…”. O documentário Embrace esclare de que forma essa constante exigência nos afeta, começando pelo dado que indica que mais de 90% das pessoas afetadas por disturbios de alimentação e dismorfia são mulheres.

Há diversos fatores que contribuem para que as mulheres sejam tão afetadas pelos padrões inalcançáveis de beleza, começando pelo fato de que vivemos em uma sociedade machista que nos julga primeiramente pela nossa aparência. Isso também vale para os homens, no entanto, não os afeta de forma tão contundente em suas vidas profissionais, a menos que sejam negros.

De acordo com a último censo do IBGE, mulheres chegam a ganhar 23% a menos do que os homens nas mesmas funções e os produtos femininos com similares masculinos custam em média 30% a mais. Somos interrompidas mais constantemente em ambientes acadêmicos e profissionais do que os homens. Somos estupradas e assassinadas quando terminamos relacionamentos ou quando nos negamos a sair com algum homem. Some tudo isso ao fato de que consumimos uma quantidade enorme de pornografia que influencia não só a forma como os homens nos enxergam, como também a forma como somos retratadas na mídia.

Tudo isso aliado às jornadas duplas e triplas que fazem com que trabalhemos no mínimo 7 horas a mais que os homens por semana e à exaustão de nunca poder desligar o cérebro de todas as atribuições que temos e que envolvem: estar linda, ser inteligente, ser divertida, estar bem vestida, cuidar da casa, dos filhos, do marido, não esquecer compromissos, nem os seus, nem os dos filhos e do marido, pagar as contas com um salário inferior ao que merece e gastando mais do que os homens na mesma função, estar sexy, mas sem ser vulgar… Tudo isso sangrando e de salto alto, mina nossa autoestima de tal maneira, que grande parte das mulheres do mundo todo se sente insatisfeita com a própria imagem.


“A mulher ideal é extremamente magra, alta, loira, de olhos claros e com pele de plástico, porque ela é uma alienígena, não existe.” (Editora da revista Cosmopolitan para o documentário Embrace)

O vídeo Born Sexy Yesterday explora justamente o padrão de mulher encontrado em muitas histórias onde ela é extremamente atraente, mas com a inocência de UMA CRIANÇA.

Então, quando homens se sentirem “ameaçados” pelo padrão Rodrigo Hilbert, podem simplesmente pensar nas consequências que sofreriam caso nunca mudem e já sabemos a resposta, não é mesmo? Homens padrão, homens medianos não deixarão de ser empregados ou de arranjar namoradas porque enquanto houver desigualdade de gênero de forma tão acentuada, mulheres continuarão a se submeter a esses caras e eles continuarão sendo contratados, mesmo que não tenham capacidade para os cargos.

Como eu disse anteriormente, poderia escrever uma tese sobre a discrepância e o padrão duplo de cobrança em relação a homens e mulheres, mas eu serei contrariada de qualquer forma, porque a história foi escrita por homens por meio do apagamento constante de mulheres. Ou seja, “estatística é a arte de distorcer os números até que eles digam o que você quer”, “porque esses dados não correspodem à realidade e homens morrem muito mais”, “matar é errado independentemente de gênero”, “mulheres agridem muito mais aos homens”, “não conseguem acesso às vagas porque são imcompetentes”, “há muitas mulheres que fazem acusações falsas”, “em conversas coloquiais ninguém está interessado em dados, deixe isso para o meio acadêmico”….

Portanto, enquanto homens se preocupam com o Rodrigo Hilbert, esse tipo de cobrança sempre fez parte de nossas vidas. Essa preocupação é passageira e não afetará a masculinidade ou o relacionamento de ninguém porque estatistica e historicamente, quem sempre exigiu estes comportamentos e padrões das mulheres foram os homens e não vai ser um Rodrigo Hibert que os fará acordar e perceber que a sociedade seria bem mais justa se houvesse mais homens como ele, infelizmente.

 

Leonardo Delarue

Nerd clássico, nascido na década de 80, que gosta de video-game e heavy metal. Só escreve o que gosta, sem bases para sustentar suas teorias e/ou argumentos.

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