O machismo no universo nerd e a tal da falsa simetria

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Olha eu aqui novamente, pra falar sobre esse assunto recorrente no universo nerd! Desta vez eu tentarei ser o mais didática possível, pra alcançar aquele amigo que adora medir as curvas das cosplayers nos eventos, mas que quando as mulheres jogam, não pensa duas vezes em ofendê-las.

Vamos falar primeiro sobre o que me trouxe até aqui.

Recentemente circulou no Facebook um post de um rapaz que teria criado um avatar feminino para fazer o marketing de um aplicativo que havia criado. Em 100% das conversas o avatar foi assediado.

100% das gamers já sofreram assédio, então não vou me aprofundar nesse mérito, até porque eu sou uma mulher que convive com nerds, e antes que alguém me diga “ah, mas não pode generalizar”, entendam, não estou falando que todos os nerds são machistas, mas que o universo nerd é. E isso se deve a você também, que pode não ser machista, mas também não toma atitudes em relação aos amigos para que os ambientes se tornem mais “girl friendly”. Uma atitude bacana é justamente a do Iluminerds, de querer trazer mais mulheres para o site e não só para falar de mulheres, claro! Afinal, gostamos de RPG, games, HQs e filmes, tanto quanto qualquer ser humano.

Laura Streer Fighter
Laura Streer Fighter

Em Santos, onde moro, já participei de vários eventos que nada tinham a ver com questões de gênero ou machismo.  Já falei sobre os 15 anos de Matrix; os desafios dos blogs de quadrinhos na Gibiteca de Santos, além de discorrer sobre o tema Quadrinhos e Educação, na Santos Comic Expo. Em programas de rádio, fui convidada a falar das HQs digitais e sobre a trilha sonora de Watchmen, porque, no fundo, queremos participar dos mesmos espaços, em pé de igualdade, e sem ter que mostrar a carteirinha nerd toda vez!

Esse texto nasceu com o intuito de explicar por que é de uma ignorância sem tamanho os seguintes argumentos:

Não sei por que vocês reclamam tanto de assédio. Homens também são assediados”
          

“Não sei porque reclamam tanto das roupas das personagens nos games e nas HQS. Os homens também são retratados de forma nada realista e nem por isso ficamos de mimimi”

 

Prontos? Vamos lá:

Sobre as afirmações acima, vale procurar o conceito de falsa simetria, que explica porque a mesma atitude não tem a mesma consequência quando realizada por atores diferentes de uma relação.

Grupos historicamente oprimidos – e aí leia-se mulheres, negros, homossexuais, imigrantes – o são de diversas formas. A mais conhecida forma de oprimir alguém é através do discurso. Não porque uma palavra seja capaz de ferir alguém, e sim porque uma palavra, inserida em determinado contexto, traz um histórico de violência associado a ela que data de séculos. O discurso é uma performance de poder, onde o locutor tenta reafirmar sua posição superior em relação a seu ouvinte, considerado inferior. Oras, mas por que a pessoa se deixa ofender? Lembremos aqui que dentro da hierarquia social, essas pessoas costumam estar na base da pirâmide, sendo assim, alguém que faz parte de um grupo dominante, ao reproduzir um discurso de ódio, está reforçando essas relações de poder. “Ah, o mundo tá muito chato. Não dá pra fazer piada de nada. Antigamente não era assim” – Pense novamente! Antigamente não existia um sistema como a internet que permitia que grupos, normalmente silenciados, tivessem voz. Mesmo com o advento da internet, é só lembrar do recente episódio em que a diretora do filme “Que horas ela volta” foi praticamente calada em uma coletiva de imprensa.

Veja, mulheres são assediadas diariamente. A idade média do primeiro assédio, de acordo com os resultados da hashtag #primeiroassedio, é de 6 anos de idade. Todas as mulheres que você conhece já foram assediadas em algum momento. Ou seja, vivemos constantemente com medo e o assédio não tem necessariamente a ver com sexo – Tudo é sobre sexo, exceto o sexo, que é sobre poder (Oscar Wilde) – ele é justamente uma performance de poder que visa lembrar a vítima de seu lugar. Sendo assim, agressões verbais, hipersexualização de personagens, exposição excessiva, mídias, etc., são ferramentas que reforçam estas relações. Quando uma personagem como a Laura, de Street Fighter, aparece usando um fio dental para lutar jiu-jtsu, o peso de sua representação não é o mesmo que o da representação masculina no mesmo jogo, porque não existe um sistema que oprima o homem na mesma proporção. O meu discurso, por mais violento que possa ser, não muda o status de um homem. Homens não deixam de gozar de seus privilégios no caso de uma mulher resolver assediá-lo (sim, a vítima de assédio sendo mulher, pode perder a vida, o emprego, ter problemas no relacionamento caso o namorado entenda que ela deu abertura para que o assédio ocorresse…). Seria assédio da mesma forma, mas estatisticamente falando, homens não ganham menos por serem homens, não são mortos e espancados quando suas namoradas descobrem uma traição, não são humilhados caso se recusem a sair com uma garota.

Sei que é difícil reconhecer privilégios quando sempre estiveram aí. Sei que é mais fácil dizer que perante a lei somos todos iguais, e que mulheres estão de mimimi, mas tentar um exercício de empatia não seria má ideia, afinal, para que mulheres se sintam seguras em frequentar certos ambientes, todos temos que fazer nossa parte. Podemos começar, por exemplo, não assediando aquela cosplayer; ou deixando de achar que uma roupa seja convite pra alguma coisa; não desmerecendo o que sua amiga está dizendo. Por que em vez de dizer que sua amiga está de mimimi, você não experimenta conversar sobre a razão de ela se incomodar com determinadas atitudes?

linha do trem

Quando eu penso no tipo de mensagens que recebo (desde convites pra sair com completos desconhecidos a pedidos de nudes por quem acredita que exista algum tipo de intimidade que nunca foi concedida) e nos posts que vejo as meninas compartilharem nos grupos fechados, fica bem claro porque muitas das produções – principalmente nos quadrinhos – acabam sendo panfletárias: primeiro, elas ouvem dos editores que pra fazer trabalho igual de homem, eles contratam homens, então acabam pedindo publicações voltadas exclusivamente para o público feminino (artistas precisam pagar as contas), segundo, quando você trata de qualquer assunto que envolva sexualidade, por exemplo, grande parte do seu público entende que é um convite ao assédio e quando você não corresponde ao assédio, você é ameaçada, tem seus dados revelados na rede, sua página é derrubada e por aí vai.

“Ah, mas é só de dar ao respeito”. Não, gente, respeito não é um presente. Mereço respeito porque sou um ser humano como você e isso independe da minha roupa, da minha produção, da minha crença, cor, gênero ou orientação sexual.
Deixo aqui um trecho de livre tradução  de um livro que li recentemente (Islam and Controversy):

“De acordo com Judith Butler, as palavras adquirem um peso de ofensa através das performances interativas de poder que, cumulativamente, as dispõem como veículos dessas ações. Palavras ofensivas possuem o poder de machucar precisamente porque têm uma história de violência por trás delas, tanto verbal quanto física. Na maior parte do tempo, a ofensa se dá na relação entre palavras, frases e figuras de linguagem que foram previamente usadas para abusar e subordinar e que já são partes estabelecidas de um discurso de poder.

Então, o dano provocado pelo racismo está na constante disposição e aquisição de um discurso racista como um meio de se posicionar dentro de hierarquias estabelecidas de dominação de uma raça sobre outras, e no reforço dessas hierarquias em cada interação sucessiva.

Um grupo dominante pode facilmente ignorar atitudes ofensivas contra si, uma vez que essas atitudes não perturbam a vantagem estrutural que gozam.

Em inglês, que é uma língua dominante, termos raciais abusivos são facilmente lembrados e tantos outros são cunhados constantemente, de forma muito mais ofensiva, e muito mais abusivos pela mesma razão que se ocultam em histórias inteiras de subordinação. Gírias sexistas se referindo a mulheres ou homossexuais operam praticamente da mesma forma: puta, vadia, vaca, viado…. Tente imaginar equivalentes para se referir a homens heterossexuais e a pobreza de opções se torna aparente, assim como sua falta de ofensividade. ”

Eu não pretendia ter me estendido tanto, mas basicamente, quando alguém pensar em racismo reverso, heterofobia e misandria ou tentar deslegitimar algum discurso proveniente de um integrante de um grupo minoritário, a resposta é que a mesma ação tem pesos diferentes porque os envolvidos no debate não gozam dos mesmos privilégios em termos sociais. Acho que não é tão difícil de entender, né?

Em tempo: A imagem destacada é do nº54 do Lanterna Verde, quando ele encontra sua namorada brutalmente assassinada dentro do refrigerador. Este episódio levou a artista Gail Simone( Batgirl, Mulher Marvilha, Deadpool) a criar uma lista de personagens femininas de HQ que foram brutalmente assassinadas, diminuídas ou serviram apenas como uma espécie de alavanca para a narrativa do personagem masculino. A lista, Women in refrigerators, virou uma espécie de referência sobre o assunto a partir de então.
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Dani Marino

Dani Marino é pesquisadora de Quadrinhos, integrante do Observatório de Quadrinhos da ECA/USP e da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial - ASPAS. Formada em Letras, com habilitação Português/Inglês, atualmente cursa o Mestrado em Comunicação na Escola de Artes e Comunicação da USP. Também colabora com outros sites de cultura pop e quadrinhos como o Minas Nerds, Quadro-a-Quadro, entre outros.

Este post tem 64 comentários

  1. Luciana Oliveira

    Destaque – “Um grupo dominante pode facilmente ignorar atitudes ofensivas contra si, uma vez que essas atitudes não perturbam a vantagem estrutural que gozam.”

    Parabéns pelo texto, Dani.

  2. É elementar que todos esses questionamentos sempre sejam erguidos, mas no tocante à Arte, penso de um modo diferente. Na Arte, o que é enfocado, em se tratando de artistas como Ed Benes, Stanley Lau e Frank Cho, por exemplo, é a Sensualidade Feminina, sem nenhuma conotação de machismo ou exploração sexual gratuita. A exploração, a meu ver, advém da histórica necessidade de pôr a mulher, seja nos Quadrinhos, no Cinema ou na Literatura Fantástica, como meros ganchos para a ação masculina, em diversas obras. Mais mulheres devem escrever sobre o assunto para que possas ser cada vez mais discutido. Compartilhei em meu Perfil no Facebook este seu artigo, Dani Marinho, foi muito bem elaborado e desenvolvido.

    Quanto ao caso de Street Fighter V, é mesmo a mais pura apelação, que é um revival da Cammy White e da Mai Shiranui.

    1. Daniela

      Giovani, não existe sensualidade feminina na mídia a não ser com propósito de entreter os homens e mostrar às mulheres o seu devido lugar. Isso está mudando agora. Jogos e HQs sempre foram voltados ao público masculino e mesmo que estivessemos falando de tradição, a tradição dizia que homens podiam bater em suas esposas, que não devíamos estudar… Regras têm que se adaptar às mudanças culturais tb. 😉
      Quando 100% das gamers são assediadas, quando cosplayers têm seus corpos invadidos, temos que falar sobre isso. Se estamos dizendo que essas representações nos incomodam e se hoje representamos grande parte do mercado, então, o mercado terá que se adaptar.

      1. Frogwalken

        O problema mesmo é quando a pessoa não sabe separar o Real da Ficção.
        Ou tem sérios problemas mentais.

        Se o JUMENTO em questão vai num evento com o intuito de causar e fazer
        coisas ruins contra a dignidade física e moral das moças, ele merece
        ter os 248 ossos do corpo quebrados enquanto fica ajoelhado
        numa Placa Mãe de Computador, pra começar! =D

          1. Frogwalken

            Eu estou sempre por perto! =D

          2. JJota

            Ora, Sapinho lutou ao nosso lado durante a Truta Wars, velho!

          3. Frogwalken

            E sempre defendendo o Nudismo Desnecessário Feminino Ficticio! =D

            Não é MACHISMO, é questão de PREFERÊNCIAS! =D

          4. JJota

            Como já disse antes, tira esse “desnecessário”!

          5. Frogwalken

            Ah mas o ” desnecessário ” tem um significado, caro JoJota!

            É referente a um NU que justamente não precisa de explicação ou motivo pra ser exibido! =D

          6. Colossus de Cyttorak

            Verdade! Um grande guerreiro! hHAHAHALSDFHÇLFAHDÇLAHÇAHA

          7. Frogwalken

            ALEás, estréia essa semana ASTERIX E O DOMÍNIO DOS DEUSES!!! =D

            Obelix >>>>>>>>>>>> Super do Snyder

            BWAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

        1. Daniela

          O problema é que muitos ainda vão com esse intuito mesmo. Muitos não sabem se comportar e é triste você ter que explicar a marmanjos de 30 anos que assediar, agredir não são atitudes bacanas. Quanto ao Manara e ao Crepax, eles fazem HQs eróticas. Se a pessoa não quer ver corpos nus, não deve abrir essas HQs, por exemplo. Recentemente conheci o trabalho da Apollonia SaintClair e amei. Já viu?

          1. Frogwalken

            Respeito e Educação são primordiais, se a pessoa não tem noção do significado disso,
            independente do seu SÉQUISSO, então ela tem que sentir na pele as próprias merdas
            que faz para aprender. Por isso eu curto o Motoqueiro Fantasma!

            Eu sou uma pessoa simples, gosto e admiro as formas e contornos
            do corpo feminino adulto e maduro, seja isento de vestimentas ou não!

            Mas também concordo que mostrar BUNDAS e FURICOS numa história
            voltada pra crianças, por exemplo, é sem sentido pra não dizer esquisito!

            Exceto se lembrarmos dos contos de fadas originais, onde o Lobo Mau
            comeu literalmente a Chapéuzinho pelada! Mas aí já é outra época e costumes…

            Acabei de ver sobre a Apollonia SaintClair e GOSTEI! =D
            De cara me lembrou o ESTÁILE de Junji Ito ( Uzumaki ) ,hehehehe.

          2. Carlos Filho

            Porra cara, busquei no Google Apollonia SaintClair no tramp pq fiquei curioso e viram aqui. Tem que dar uns aviso hahaha

          3. Daniela

            Mas eu estava falando de arte erótica! Hahahaha
            Sorry! Mas ela é demais, né? Giovanna Cassoto também. Não ficam devendo nada ao Manara e ao Crepax. E o mais legal da Giovanna é que muitas das ilustrações se baseiam nela mesmo e nas próprias experiências sexuais que ela fotografa.

          4. Frogwalken

            Quem indicou a artista foi a Dani, não olhe pra mim!
            Uma Excelente indicação, aliás!

            HUAHAUHAUAHUAHAUHAUHAUAHUAHAUHAUHAUAHUAHAUAHUAHUA

      2. Essa adaptação depende muito daqueles que comandam as editoras. O que é importante é que atualmente mais roteiristas e desenhistas mulheres estão sendo contratadas pelas editoras. Mas, lhe pergunto, Daniela: e quando a desenhista elabora painéis que sensualizem ao máximo uma personagem? Isto também seria considerado uma superexposição do corpo feminino ou imposição da editora sobre o trabalho da artista?

        O Sensual na Arte é algo que creio ainda ser o enfoque para muitos artistas, sem nenhuma conotação machista. Pensamos diferente e respeito a sua maneira de pensar.

        1. Daniela

          Tudo vai depender do contexto. Giovana Cassoto, por exemplo, é uma desenhista de HQS eróticas, então, o leitor espera que os personagens estejam envoltos em um clima sensual, claro.
          No entanto, como a própria Gail Simone alertou em seu site “Women in Refrigerators”, a maioria das personagens femininas sempre foi desenvolvida de forma agradar um público exclusivo: o masculino.
          Hoje, compondo grande parte do mercado consumidor, as editoras começam a dar ouvidos às mulheres e pode ser que nem sempre os apelos da maioria sejam coerentes, afinal, somos seres humanos. Mas se falarmos de coerência, uma das épocas que a Marvel mais vendeu HQs foi na época do Liefeld e vamos combinar, que o traço dele é justamente algo bem controverso, ou seja, independente de concordarmos ou não, o mercado visa lucro, né? Se a maior parte do mercado disser que determinada personagem tem que ser assim ou assado para que tenha saída, não tenha dúvidas que isso será feito.
          De qualquer forma, o que realmente precisamos discutir é que tudo isso reflete algo que é secular, que é a objetificação do corpo feminino. Isso passa por todas as mídias e influencia de forma direta ou indireta muitos comportamentos. Estes comportamentos precisam ser mudados.

        1. Daniela

          O que tem eles? Homem fortão vendendo uma ideia de masculinidade exacerbada para os homens, mulher seminua vendendo sexo para homens. Nada de novo no front.

    2. Giovani,

      Vou ter de discordar um tantinho. Ed Benes, numa entrevista, já afirmou que, quando desenhava Aves de Rapina, tinha de obedecer a ordem editorial de colocar o maior número de bundas possível para atrair leitores. Dessa forma, ele começou a enquadrar uma personagem no segundo plano para colocar a primeira personagem com a bunda em primeiro plano. Sim, isso é machismo num meio artístico. A intenção editorial era clara…

      Frank Cho é outro que, de quando em quando, fica emburrado com as reivindicações das mulheres leitoras de quadrinhos e lança mão de uma arte ainda mais apelativa do que o costume. Depois disso, avisa em seu twitter que está fazendo isso porque ele PODE, ou seja, ele está fazendo isso (a meu ver) porque ele é homem… Isso é um tanto chato porque eu adoro a arte dele, mas a postura é machista e sem sentido.

      1. Frogwalken

        AdEvogado do DEABO ON

        Ed Benes continua fazendo BUNDAS moranguinho mallando
        e Frankito Cho, além de rabiscar belas curvas ( assim como
        Crepax, Serpieri, Manara, John Buscema e tantos outros ), é ZOEIRO! =P

        E sim, eu gosto de rabiscar pessoas nuas! =D

        AdEvogado do DEABO OFF

      2. JJota

        Bom, Aves de Rapina era escrita, na época, pela Gail Simone, uma mulher que, inclusive, fazia parte lá do Women in Refrigerators (que foi inspirada na imagem de abertura do post). Particularmente, adoro o trabalho do Benes e do Cho. E tanto um como o outro foram censurados, o Benes na DC (em uma história com a Lince, se não me engano) e o Cho na Marvel, na série que ela fez com a Shanna.

        1. Frogwalken

          E os Artistas da Marvel que foram proibidos de fazer a Leia ” ESLAIVE ” ou mesmo nua pelada sem roupa pornor!

      3. Então, se trata de discutir em outro artigo os limites entre a liberdade artística e a ótica editorial no tocante a isto. Como autor de blog, eu poderia escrever o mesmo e deixo aqui a ideia para a equipe do Iluminerds.

        Abomino todo e qualquer tipo de censura e limitar artistas é o pior recurso que existe dentro de uma editora. É bastante lamentável.

        1. Harvey_o_Adevogado

          censura é errado mesmo, só que precisamos de mais maturidade do povo. O problema é que maturidade está ligada a cultura, família.

          estamos nos primeiros degraus ainda.

  3. Joao Gabriel de Oliveira

    Lindo texto. Principalmente no tocante às formas de opressões ESTRUTURAIS. Muitas vezes as pessoas esquecem que o pior não são as ações isoladas ou individualizadas de opressão, mas sim toda uma estrutura feita para oprimir certos grupos, e um dos maiores sustentáculos dessa estrutura é justamente o discurso, que naturaliza na sociedade muitas ideias de cunho racistas, sexistas, machistas, LGBTfóbicas e por aí vai.. Parabéns pelo texto moça! o/

  4. Daniel Argento

    Eu sempre tenho muitas dificuldades para entender quais seriam os privilégios masculinos, desculpem a minha dificuldade.

    Uma coisa que tento distinguir, no entanto, é o fenômeno da construção imagem do arquétipo, um processo que existe desde que a humanidade começou a se estabelecer. Acredito que, tal qual antigamente, ainda hoje criemos alguns arquétipos baseados em ideais por definição inatingíveis, mas que, por diversas razões nos são úteis de algum modo. Nesse sentido, será que o problema não está justamente em as pessoas terem se esquecido de que arquétipos são apenas arquétipos?

    1. Daniel,

      Temos vários privilégios, principalmente no meio nerd. Numa discussão corriqueira, por exemplo, se um homem afirma determinada coisa sobre uma personagem, ele não será questionado diretamente (mesmo que as pessoas duvidem do fato); já uma mulher, além de se confrontada diretamente, tem nesse questionamento sempre algo que mexe com sua sexualidade (já pessoas falando:”Só podia ser mulher pra falar uma merda dessas.” Ao lado da pessoa que fez a pergunta!!!!). O que pode parecer um exemplo isolado é, infelizmente, a regra – isso acontece porque, quando uma mulher entra num mundo tipicamente masculino, os homens se sentem ameaçados porque (e aí vem o arquétipo se impondo) estamos a eras mostrando a nossa visão sobre as mulheres, tanto de forma positiva, quanto de forma negativa…

      Espero ter ajudado a esclarecer a questão.

      1. Daniel Argento

        Obrigado pela resposta, Dr. Amorim.

        Analisando por essa perspectiva, concordo que realmente existem privilégios (no sentido de se possuir prerrogativas) em certos universos e para alguns grupos, no entanto, acabo tendo certa dificuldade para tratar certos cenários de modo mais rigoroso. Ao longo do meu histórico, por mais que saiba da existência de pessoas que desvalorizam preconceituosamente opiniões femininas em relação a quadrinhos, por exemplo, não encontrei tantos casos a ponto de poder dizer que existe uma violência de gênero generalizada e arbitrária. Nesse sentido, vejo um resultado mais da tendência humana ao agregamento em subgrupos e ao desmerecimento de todos aqueles alheios àquela reunião específica. Um exemplo disso, por exemplo, é como os próprios nerds sempre tenderam a ser desmerecidos quando se arriscavam a tentar falar de esportes, algo que já presenciei ( algo como “se quer falar de futebol, então venha jogar de verdade em vez de jogar no Playstation”). É claro que se pode argumentar que não é a mesma coisa pois não existe a relação homem-mulher, mas me pergunto se ela é sempre relevante.

        Algo que me parece imperativo, no entanto, e que o texto da colega traz com justeza, é a urgência que se mostra em relação à diversificação de histórias, personagens e recursos linguísticos nas HQs, e na produção cultural em geral, para sua ampliação e modernização. Ainda parece haver poucas pessoas pensando nas variações de personagens e tramas femininas, inclusive aqueles que adotam o discurso feminista. É essencial que esses autores não caiam na armadilha de se restringirem a novos modelos, antagônicos aos do passado, mas igualmente limitado em número e pobre em variedade. Identifico isso para personagens masculinos também, ainda que a situação seja menos evidente por a maior parte das histórias trazerem protagonistas masculinos. Vejo isso ao lembrar o tratamento estereotipado com que vejo algumas editoras tratando seus heróis homossexuais… Não sei se concordam, mas gostaria de ver essa discussão em andamento junto às que têm pautado os criadores culturais…

        1. Daniela

          Isso mesmo, Daniel! Foi o que eu disse em outro comentário. Além de precisarmos nos sentir mais representadas nas histórias, há o problema dos editores não chamarem mulheres para escrever ou desenhar sobre assuntos que não sejam especificamente femininos. Poxa, seria muito legal ler histórias de terror, ficção, aventura e eróticas sob uma ótica feminina e que não seja mesmo panfletária. Luta por direitos iguais tem a ver com isso, com o direito de podermos falar sobre os mesmos assuntos e não apenas sobre “coisas de meninas”, rs

          1. Daniel Argento

            Essa é uma situação complicada, Daniela. Hoje, não enchergo mais como podemos tratar essa questão de representação, uma vez que é difícil avaliar como os estão hoje em dia quadrinhos e a evolução do mercado editorial. Ao falarmos da grande indústria, quem tem batido o martelo há muito tempo é a batalha por leitores. Nessa linha, temos cada vez mais presença de personagens femininas ao longo do tempo, assim como de escritoras e desenhistas (algo que não podemos achar ruim, uma vez que o universo da ilustração está cheio de ilustradoras e não podemos dizer com certeza o motivo desse fenômeno). Os assuntos também têm se diversificado bastante e tivemos questões bem fortes sendo tratadas, como em Alias e Batwoman, para citar apenas duas. Ainda assim, não acho que devamos nos prender às grandes editoras, pois não acho que elas (nem nenhuma) devam priorizar contratar mulheres só para equilibrar com o número de homens. Se for assim, temos que pensar em quantos roteiristas e desenhistas negros estão trabalhando nesse mercado em comparação com brancos, e quantos quadrinistas deficientes físicos estão lá, criando HQs.
            Talvez o maior erro parta de nós, e não da indústra. Achamos que precisamos de índios fazendo HQs porque as HQs nunca trataram das questões indígenas, mas a verdade é que elas nunca trataram dessas questões porque nunca houve grande demanda por elas. Se a demanda surgir, necessariamente vai exigir que mais histórias assim sejam criadas e, uma hora, as editoras vão começar a contratar índios, não porque são índios, mas porque eles poderão escrever histórias, nem melhores nem piores que as de brancos e negros, sobre o indigenismo, mas histórias próprias que só eles poderiam conceber. Assim a indústria se forja. Na minha avaliação, então, o melhor não seria incentivar meninas a ler HQs criadas por mulheres, mas ler HQs criadas por qualquer um, sinalizando para Marvel, DC e companhia quais são os assuntos que elas querem. Se elas não quiserem HQs de terror, a editora não é obrigada a priorizar esse público. Isso, inclusive, não impede que leiamos histórias de terror produzidas por mulheres, a força e a qualidade das HQs independentes ou de pequenas editoras de hoje não perde em nada para as das grandes.
            Acho que seria bastante produtivo pensarmos no que podemos fazer, estamos muito habituados a jogar a responsabilidade adiante quando temos as ferramentas para mudar as coisas por nós mesmos.

          2. Daniela

            Concordo e mulheres sempre fizeram isso. Sempre leram HQs diversas e continuarão lendo. Os eventos, debates e discussões como essas aqui têm justamente esse propósito, porque entre as reivindicações das mulheres em relação à produção de cultura pop estão: maior diversidade de personagens femininas e protagonistas, quebra de certos estereótipos que apenas servem para reforçar a objetificação de nossos corpos e maior inserção dessas mulheres na produção mesmo.
            Qual é o cenário no Brasil hoje? Tanto as antologias, como prêmios e livros sobre histórias das HQs, por exemplo, excluem as mulheres deliberadamente sob o discurso de que suas produções não são “boas o suficiente” ou porque são panfletárias. Bom, o que é uma produção “boa o suficiente”? Por que essas artistas não têm reconhecimento aqui, mas conseguem publicar lá fora e ter seus trabalhos reconhecidos por grandes editores, como o Paul Gravett que esteve no Brasil no ano passado?
            Eu convivo com homens que produzem antologias e ouvi a mesma coisa: “no dia que o trabalho de uma dessa artista for bom o suficiente, será indicada para prêmio e entrará para as antologias”. Oi? A verdade é que os editores, majoritariamente homens pensam assim: “Ah, história feminina, argh!, ninguém vai ler” , ” narrativa histórica ou de aventura, ou de ficção… Ah, pra que pegar uma mulher se já tem tantos homens fazendo Hqs sobre isso?”
            Então, enquanto esse pensamento for vigente, a saída tem sido publicar através de grupos exclusivamente femininos ou aceitar o que os editores pedem ou publicar lá fora.
            Mas esse pensamento “Ah, não tem mulher fazendo trabalho bom o suficiente”, além de ser bem infantil, só reflete a insegurança de muitos homens de perderem seus lugares, coisa que não vai acontecer, pois há espaço no mercado pra todo mundo.
            Você sabe que uma das histórias de aventura de maior sucesso e que durou por mais tempo nas tiras dos jornais americanos foi Brenda Star, a repórter? Produzida por uma mulher que a princípio assinava como homem e que praticamente nehuma publicação sobre a história das HQs menciona?

          3. Daniel Argento

            Precisamos refletir sobre a frase “sempre leram HQs diversas e continuarão lendo.” Ela é uma verdade, mas, o que segue depois é algo que precisamos quantificar. Sou a favor da maior diversidade possível, mas também reconheço que, muitas vezes, alguns produtos culturais (uso esse termo de modo natural, jamais pejorativo, pois há um público que os consome e não há mal nenhum em pensar assim) não se sustentam. Esse é o motivo por que Marvel e DC descontinuam revistas toda hora (sempre fui um fã do Cilope, mas nunca pude ver uma HQ solo dele pois sabia que seria um fiasco de vendas; quando soube que lançariam uma na nova fase da editora, gostei da notícia mas já conhecia o seu fim trágico). Se há pouca representação da diversidade feminina, algo que é bem simples de constatar é que há pouca representação da diversidade masculina também, o que nos remete ao meu primeiro comentário sobre falta de criatividade e uso de plots e arquétipos desgastados.

            É importante pensar em termos comerciais, aqueles que importam para essas empresas: já foi realizada uma pesquisa consistente sobre o número de leitoras de quadrinhos? Uma pesquisa que indique quanto uma garota gasta, em média, com quadrinhos e artigos de cultura pop por mês. Uma pesquisa que compare esses valores com os valores gastos por meninos. Acredito que não, mas eu aposto que esses dados devem ser minimamente conhecidos pelas editoras, que são muito mais espertas do que imaginamos. Desse modo, se não existem mais publicações nesse sentido, acredito que seja porque, por mais que existam pessoas pedindo, quando o produto é entregue, ele ainda não compensa, relegando boa parte da produção ao universo das publicações autorais. Gostaria de saber com que homens convive, em que editoras, pois cursei artes plásticas e editoração, e trabalhai por anos no mercado editorial e nunca vi um editor deixar de lado um conteúdo de qualidade e alinhado com seu catálogo por causa de alguma característica do autor, seja sexo, raça, religião ou qualquer outra. Afinal, se ele deixar de publicar um material de qualidade e o concorrente o fizer, o prejuízo será dele.

            No que tange ao cenário brasileiro, posso dizer que a última leva de quadrinistas tem, na média, mulheres produzindo tanto material qualificado quanto os homens. Inclusive, na minha opinião, Pryscila, Chiquinha, Lu Caffagi, Camila Torrano e outras artistas e roteiristas tão competentes quanto elas representam melhor a última geração que qualquer grupo de homens. Se elas não recebem tantos prêmios, o problema é das comissões dos prêmios, e o mesmo se aplica ao responsáveis pelas antologias e aos escritores que deixam de contemplar grandes criadoras em seus livros sobre quadrinhos, não do universo dos quadrinhos, dos leitores ou dos outros artistas. Mercado é mercado, prêmio é prêmio, academia é academia, e por mais que interajam, cada um tem sua dinâmica e seus vícios.
            Se as antologias e os prêmios estão deixando de contemplar boas autoras sem motivo, então, façamos nossas antologias e criemos nossos prêmios, de modo a abarcar esse conteúdo de qualidade. Se as HQs forem realmente boas, então, em pouco tempo as antologias deles ficarão encalhadas, os prêmios serão desprestigiados e todos perceberão que a seleção que praticavam era tendenciosa.

            Com relação à Dalia Messick, bom, a história está cheia de mulheres que tiveram que usar pseudônimos masculinos, e de homens que também não usaram seus nomes, por diversos motivos, fato é que águas passadas não movem moinhos e mulheres não precisam mais fazer isso hoje em dia a não ser por opção. Contudo, mais uma vez faço apelo ao conhecimento científico, numérico, pesquisado e tabulado. Qual era a popularidade das HQs dela nos anos 1940 em comparação com a de outras HQs? Até onde sei, chegou a ser bem alta na década seguinte, inclusive internacionalmente. Ela já foi reconhecida com prêmios, então, por que os teóricos não a citam? Quando começamos a fazer mais e mais perguntas, às vezes cavamos um sem número de camadas e percebemos que os fenômenos são mais complexos do que machismo e racismo. Nos casos em que cavamos mais e mais, e só encontramos areia, aí sim, ainda que sejam poucos os casos, eles infelizmente acabam sendo as explicações.

            Obs. Por favor, gostaria de deixar claro que aprecio e concordo com várias reflexões que desenvolve em seu texto, mas, por ideologia, acredito que a obra de arte, incluindo-se aí qualquer criação cultural, deveria ter seu valor oriundo unicamente de características intrínsecas, indepentemente de quaisquer fatores externos, como a identidade de seu criador. Assim, o melhor cenário para a verdadeira apreciação artística seria aquele em que sequer saberíamos quem produziu o conteúdo. Uma ideologia, reconheço, como tantas outras que nos pautam.

          4. Daniela

            Sim, eu concordo com cada ponto. Falta sim pesquisa detalhada sobre público de cultura pop no Brasil. Não dá pra se basear apenas pelo mercado internacional, onde as pesquisas são mais frequentes. Também concordo, e isso as artistas tb dizem, que ninguém quer “cotas” para mulheres. O trabalho tem que ser avaliado independente de gênero, até porque não é isso que define um bom artista. Mas sabe, alguns comportamentos são tão enraizados. Conversando com as artistas a gente percebe o nível de absurdos. A própria Camila Torrano que tem uma arte foda, já passou por situação onde a pessoa viu seu trabalho cheio de tripas e sangue e elogiou, mas que se fosse pra ela publicar, teria que fazer algo “mais feminino, mais fofinho”, o que foge completamente da linha dela.
            Outro exemplo eu mesma vivi quando comentei sobre as artistas que temos e um bando de homens me disse que não temos artistas competentes. Quando mencionei que o Paul Gravett gostou tanto do trabalho delas que até está divulgando lá fora, o discurso mudou, pq foram validadas por um homem conhecido. Isso é patético. Existe uma guerra dos sexos que só prejudica qualquer meio. Existem ainda muitos homens que torcem o nariz pra uma publicação apenas por ter sido feita por uma mulher. Temos muito que amadurecer. Do lado mais radical do feminismo tb rola muita besteira, pq algumas mulheres realmente acreditam que a personificação de todo mal está nos homens e que somos inimigos. Enfim, trabalho de formiguinha.

  5. Góis Murdock

    Muito bom Daniela, texto muito bem construído e desenvolvido. É agradável saber que dentro do meio nerd existam mulheres conscientes e que tenham a atitude de abordar esse tema que muitas vezes é colocado como tabu. Que seu texto possa conscientizar muitos homens e mulheres. Parabéns!

  6. Erick lucas

    Oie, o texto é maravilhoso, mas as vezes fica bem difícil de entender a mensagem por causa da linguagem muito formal.
    Parabéns pelo texto! Meu sonho é ver o meio NERD menos preconceituoso e mais receptivo.

    1. Daniela

      Obrigada, Erik. Não tive a intenção de ser formal. Existem textos na net sobre falsa simetria que são mais didáticos. Infelizmente, apelar a alguns teóricos é uma saída para afirmações de haters que acreditam que o conceito é invenção minha, quando na verdade se baseia em teóricos que estudam o assunto há alguns anos. Mas caso tenha alguma dúvida, pergunte aqui que eu tentarei responder de uma forma mais clara, ok? 🙂

  7. Arnold PJ

    O machismo está presente na sociedade e ponto. São tolos aqueles que acham que isso não se estende ao universo nerd. Eu diria que talvez seja até um dos ambientes em que ele se faz mais presente… Mas permita-me discordar em parte de uma coisa – criticar a roupa sensual, ou mesmo “apelativa”, de personagens femininas… Acho que isso depende muito de como a coisa é feita e de qual é o tipo da obra em questão… no geral, contanto que não descaracterize a personagem, creio que este é um artifício válido..

    1. Daniela

      Obrigada pleo feedback, Arnold. Na verdade, nada pode ser analisado fora de seu contexto. Eu, por exemplo,não jogo. Então, talvez não me incomodasse com o fato, mas quando converso com as meninas que jogam, é impossível não levar em consideração suas opiniões, porque se baseiam no que passam. Não deixa de ser um exercício de empatia e se no mundo todo mulheres que jogam falam a respeito a ponto dos criadores levarem suas reclamações em consideração na hora de criar uma personagem, no mínimo isso nos diz muito sobre o mercado. Se as mulheres já compõe mais de 50% do mercado consumidor em alguns países, certamente isso será considerado pelos fabricantes.
      De qualquer forma, o que procuro discutir é que existe um padrão de comportamento violento que deve acabar e pra isso, precisamos contar com a ajuda de vocês para que os ambientes nerd possam refletir a diversidade que existe fora dele, né?

      1. Arnold PJ

        Com toda certeza. Sou dos tempos em que era bem mais difícil encontrar uma garota gamer ou fã de quadrinhos, ao menos abertamente. É um enorme prazer tê-las hoje dividindo esse espaço conosco. Acho repugnante como alguns as destratam e as desmerecem, sem a noção da sorte que têm de viverem nesse novo mundo. Meu ponto é justamente esse, a mulher não é objeto – são os olhos machistas que as vêem como tal. E acredito que esse conceito vale para personagens femininas…

        Enfim, espero que você continue com o ótimo trabalho, não só com textos, mas com todo o serviço que faz nesse meio. Soube que foi bem legal o bate-papo na Gibiteca mês passado, pena que não pude ir, rs. Mas como roteirista e desenhista brigando para crescer no mundo das “artes nerds” e convivendo com mulheres que fazem o mesmo, posso dizer que elas, especialmente as mais jovens, precisam de pessoas como você. Parabéns.

        1. Daniela

          Obrigada mesmo! Temos um longo caminho pela frente. Uma das coisas que as artistas disseram é que editores, homens em sua maioria, não chamam mulheres para desenhar HQs sobre histórias de aventura ou outro tema que agradaria ambos os sexos, pois dizem que para isso já possuem homens em seus quadros. Geralmente são chamadas para falar sobre “assuntos femininos”, o que também é bom em função da representatividade, mas acabam ficando taxadas de serem panfletárias e ninguém conhece seus trabalhos de outra forma. A Camila Torrano é um exemplo desse caso, que costuma desenhar temas de terror e eróticos, mas poucas pessoas conhecem, porque histórias femininas acabam sendo mais divulgadas.
          Vamos ver se nas próximas antologias isso muda.

  8. Diego Conti

    bom texto,preconceito, discriminação e violencia são sempre errados não importa de onde venham. com relação a roupa da Laura do Street fighter V o assunto é mais complexo, se vc procurar imagens do rio de janeiro, carnaval praia, funk, mulheres frutas encontará muita mulheres vestidas de maneira similar a da persogem e a gente tem de se questionar qual a imagem que nos brasileiros estamos passando pro mundo? queremos mudar essa imagem e o q estamos fazendo para muda-la?

    1. Daniela

      Boa, Diego. É um esforço conjunto. As mulheres deveriam se vestir como bem entendessem sem que isso significasse um convite. No caso da Laura, acho que ela reforça muito essa imagem que temos lá fora e que precisamos mudar.

    2. Elvis Batista de Souza

      Cara a questão não é apenas que tipo de imagem as brasileiras estão passando para o resto do mundo (até porque o corpo dessas mulheres é delas, e não queremos privá-las de ir a praia ou utilizar a indumentária que quiser), o problema aqui é que nosso país sofre uma de um processo de propaganda desses elementos culturais, vendendo-os como hegemonia e ponto. O lance também é q o presidente da capcom já afirmou que a personagem foi submetido a gostos pessoais dele no processo de criação, oque reafirma muito o patamar de opressão, principalmente quando a liberdade feminina amplia o espaço de ação das minas e pode gerar desconforto entre as jogadoras. O lance é que não é interessante uma busca de um meio termo (tendo em mente que o meio ainda é dominado por homens, em sua maioria nerds punheteiros). Para além disso temos que pensar que o jogo, como meio de veiculação e informação, também ajuda a reforçar aquela imagem do Brasil como país do bumbum que falamos antes. O problema não são as minas e seus corpos (que já são restringidos e doutrinados) mais o a mídia e o sexo masculino como (respectivamente) meio de de informacao parcial e o sexo masculino,opressor em em potencial.

      1. Daniela

        🙂 Sim, de fato o problema é mesmo mais complexo, mas temos que começar de algum lugar, né? Há algumas décadas, uma discussão como essa seriam impensável. O caminho é longo, mas certamente estamos a um passo a menos de distância de onde queremos chegar.

  9. Daniela

    Aí, alguém tenta explicar que a ficção é uma representação do ideal e que não deveria ser levada tão a sério quando reclamamos da hipersexualização das mulheres em diversas mídias.
    Insiste em dizer que nem tudo é machismo. De fato, nem tudo é machismo. Muitas vezes se trata de sexismo, que serve ao discurso machista e que na língua inglesa tem o mesmo peso da palavra “machismo” em português justamente porque é associado a um comportamento masculino.

    Sexismo é privilegiar um gênero em detrimento do outro. Tomar atitudes que depreciem alguém ou a excluam em função de seu gênero.
    Machismo é um sistema de opressão secular onde as decisões, privilégios são centrados no papel do homem.
    Homens e mulheres podem produzir atitudes sexistas, mas em função do machismo tão presente em nossa sociedade, o sexismo acabou sendo mais associado ao homem, como uma atitude inerente a ele.
    Atitudes sexistas contra mulheres são padrão e ajudam a perpetuar estigmas, estereótipos, valores e condutas difundidas e desejadas pelo machismo.
    Portanto, uma atitude sexista sozinha não necessariamente reproduz um discurso machista, mas dentro de um contexto de opressão secular, ela ajuda a reforçar e perpetuar caracteristicas típicas do machismo.
    Ou seja, determinar se uma atitude sexista serve ou não ao machismo, depende acima de tudo, do contexto onde está inserida.
    Homens e mulheres possuem ideais de comportamento e de imagem. No entanto, os modelos perpetuados na mídia e cultura pop ao longo dos anos, tanto para homens como para mulheres reforçam justamente a ideia de que as mulheres devem ter corpos perfeitos para agradar aos homens e que homens devem ser másculos para que possam se destacar em relação aos outros homens. Por isso, padrões difundidos a partir da perspectiva masculina do que seria o ideal de homem e de mulher, indicando que o machismo também afeta os homens.
    Ainda assim, por mais que homens possam entender o ideal como algo utópico do ponto de vista de seus corpos e nos dizem que se trata apenas de uma reprodução fictícia do que seria esse ideal, nós mulheres sabemos que o mesmo não se aplica ao corpo feminino. Experimentemos pensar dessa forma, que as reproduções midiáticas são apenas uma representação do ideal e paremos de persegui-lo: viramos motivo de piada.
    É muito triste ter que explicar a um homem que essas representações não possuem o mesmo peso para gêneros diferentes porque o machismo nos oprime há séculos e isso significa que toda a reprodução midiática nos lembra que, enquanto grupo oprimido, não estamos cumprindo nosso papel social a menos que nos encaixemos nesses padrões. Quando se faz parte do grupo oprimido, as representações feitas pelo grupo dominante servem ao seu discurso.
    Sendo assim, nunca é apenas uma piada, nunca é apenas um desenho quando estes se dedicam a nos lembrar qual é nosso lugar e em uma sociedade patriarcal que não nos dá espaço caso não atendamos a esses padrões, nosso papel é o de ser a mulher gostosa, alegre, submissa e louca por sexo com um único parceiro.
    Acredito que não seja tão difícil de entender que uma atitude sexista dentro de um sistema machista reproduza um discurso que perpetua o ideal feminino na perspectiva masculina e que isso é nocivo para as mulheres na medida que somos expostas a ele de forma massiva e contínua.

  10. Cristina

    Daniela, tenho pena de ti que responde tanto cara babaca e sem bom senso.

  11. Cristina Kulczynski

    A nossa realidade sempre foi e sempre será distinta da de vocês, nós somos objetificadas e suxualizadas pela sociedade em que vivemos e das mais diversas formas (filmes, músicas, roupas, vídeos, hq, manga, nos games, nas redes sociais). Nós somos constantemente expostas, ironizadas, abusadas psicologicamente e fisicamente. A cada momento nos ensinam a sermos comportadas e recatadas, a ficarmos caladas, deixarmos que os homens sejam homens, a usarem as mulheres que não se comportam da maneira que a sociedade espera (delicadas, “femininas”), e depois nos usam para arrecadar lucros. Por séculos não podiamos dar nossa opinião e milhares de mulheres morreram, MORRERAM apenas por lutarem pelos seus direitos. Então quando um homem vem e fala que as roupas que as mulheres usam em filmes, nas hqs e a forma que elas são desenhadas é normal e que não há nenhum problema, é que realmente não há, para eles, é claro. Porque nós não podemos sair na rua sem ficarmos com receio de um cara passar a mão no nosso corpo, porque o mesmo aprendeu que não teria consequências, o mesmo aprendeu que a mulher não tem opinião porque por mais que lute para não ser retratada como um ser frágil e dócil ela continua sendo retratada e vendida. Nos somos mortas apenas por sermos mulheres, nos somos retratadas como frágeis e sexualizadas, nos ensinam que ara sermos atraentes precisamos ter peitos e bunda grande (afinal, é assim que as mídias mostram). Então depois de meterem tudo isso a guela a baixo, ainda falam que não há problema nenhum. E se nós sentirmos raiva disso, falam que estamos histéricas. Gostaria de saber sobre como ser mulher e não enlouquecer no meio de tanto homem de má índole, que consome esse tipo de produto, que não se importa, que maltrata psicologicamente ou fisicamente as mulheres, que as retratam como objetos, que precisam ter peitões e obedecer. Eu sinceramente cansei, de ver meus amigos fazendo piadas machistas e comprando produtos que tiveram como propaganda uma mulher seminua e com uma pose impossível de fazer. Essa mensagem foi feita para responder a todos os caras que justificam esse tipo de atitude e, também, como apoio as mulheres que lerem este post. Desculpem qualquer erro gramatical.

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