Evidentemente jocoso, O Estrangulador Seboso pode, pretensiosamente, ser visto como o cotidiano de um sujeito padecendo de um distúrbio alimentar. Big Ronnie, o decadente velhaco, parece extrair prazer da ingestão de gordura em excesso, e passa as noites com o corpo coberto de banha, estrangulando desafetos.
Big Ronnie parece devolver aos remetentes a dor que imagina terem lhe causado. Vemos o velhinho matando gente, mas é como se ele estivesse descontando sua raiva na comida, especificamente na mais gordurosa, que supostamente lhe retornaria mais prazer, ou alívio.
Do mesmo modo, dada a maneira bruta e odiosa como trata o filho Big Branden, Big Ronnie parece devolver a ele toda a dor que teria lhe causado, ao forçá-lo a interromper sua então animada vida de imersão em discotecas para cuidar, sozinho, da criação e educação (!) de uma criança.
Big Ronnie não consegue evitar seu comportamento, e chega a reivindicar a namorada do filho para si. A moça, por sua vez, representa uma ameaça ao status quo aparentemente confortável de ambos, em que pese a situação prolongada de abuso ao qual o pai submete o filho.
Irônico admitir, entretanto, que a ameaça representada pela moça, causadora de disputa entre ambos, ao ser definitivamente enfrentada por eles resulta numa modificação da situação em que se encontravam anteriormente, com o filho entregando-se à mesma compulsão do pai, e assim, ganhando finalmente a simpatia dele.
Em que pese essa espécie de esqueleto narrativo de pretensões ou segundas intenções, o filme se apresenta mesmo como uma comédia sombria e nojenta, com ecos absurdistas e principalmente oitentistas, tanto na belíssima ambientação e iluminação, quanto na trilha abusando de sintetizadores. E assim funciona, e muito bem, descortinando personagens que parecem ter saído da graphic novel Como uma Luva de Veludo Moldada em Ferro, de Daniel Clowes.