O Estrangulador Seboso – Festival do Rio 2016

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Evidentemente jocoso, O Estrangulador Seboso pode, pretensiosamente, ser visto como o cotidiano de um sujeito padecendo de um distúrbio alimentar. Big Ronnie, o decadente velhaco, parece extrair prazer da ingestão de gordura em excesso, e passa as noites com o corpo coberto de banha, estrangulando desafetos.

Big Ronnie parece devolver aos remetentes a dor que imagina terem lhe causado. Vemos o velhinho matando gente, mas é como se ele estivesse descontando sua raiva na comida, especificamente na mais gordurosa, que supostamente lhe retornaria mais prazer, ou alívio.

Do mesmo modo, dada a maneira bruta e odiosa como trata o filho Big Branden, Big Ronnie parece devolver a ele toda a dor que teria lhe causado, ao forçá-lo a interromper sua então animada vida de imersão em discotecas para cuidar, sozinho, da criação e educação (!) de uma criança.

Big Ronnie não consegue evitar seu comportamento, e chega a reivindicar a namorada do filho para si. A moça, por sua vez, representa uma ameaça ao status quo aparentemente confortável de ambos, em que pese a situação prolongada de abuso ao qual o pai submete o filho.

Irônico admitir, entretanto, que a ameaça representada pela moça, causadora de disputa entre ambos, ao ser definitivamente enfrentada por eles resulta numa modificação da situação em que se encontravam anteriormente, com o filho entregando-se à mesma compulsão do pai, e assim, ganhando finalmente a simpatia dele.

Em que pese essa espécie de esqueleto narrativo de pretensões ou segundas intenções, o filme se apresenta mesmo como uma comédia sombria e nojenta, com ecos absurdistas e principalmente oitentistas, tanto na belíssima ambientação e iluminação, quanto na trilha abusando de sintetizadores. E assim funciona, e muito bem, descortinando personagens que parecem ter saído da graphic novel Como uma Luva de Veludo Moldada em Ferro, de Daniel Clowes.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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