Medo. Muito medo. É só o que posso dizer ao saber que Zack Snyder ficará responsável pelo primeiro filme conjunto de Batman e Superman.
Aliás, meus sentimentos com relação a este diretor vão da satisfação ao total desespero. Começaram com esperança, ao ver a ótima adaptação dos 300 – a magnífica graphic novel do Miller –, quando o diretor abusou das câmeras lentas, mas as colocou dentro de contextos dramáticos de batalha intensa e sanguinolenta, que serviram muito bem ao seu propósito. Aliás, até hoje não me canso de assistir à magnífica cena do primeiro ataque de Leônidas, uma dança mortal que detona por volta de 18 persas no caminho.
Depois, veio a adaptação de Watchmen. Boa, a meu ver. Difícil fazer uma versão realmente interessante desta obra-prima do Moore. O trabalho do escritor nessa história específica é tão complexo, e a obra é tão cheia de níveis e camadas de entendimento diferentes – seja brincando com a metalinguagem, ou com a intertextualidade – que fica quase impossível não haver perda de qualidade ao adaptá-la a outro meio. Snyder e seus roteiristas fizeram o que foi possível, e a mudança do final, que, nos quadrinhos, funciona como uma estranha espécie de anticlímax, acaba sendo um mal que não estraga completamente o filme.
Depois, Snyder fez dois filmes não relacionados às Histórias em Quadrinhos: A Lenda dos Guardiões e Sucker Punch. O primeiro eu não vi (e nem faço questão) e o segundo é uma terrível egotrip do diretor. Em Sucker Punch, Snyder abusa de todos os meios possíveis de sua cartilha narrativa (incluindo aí o já famoso excesso de câmera lenta) e consegue fazer um filme perdido. Deslocado do tempo, do espaço e de qualquer propósito. Fiquei com a sensação de que a ambição do rapaz foi maior do que os meios pra realizá-la.
Agora, vemos a volta de Snyder ao gênero que o tornou famoso: adaptação de HQs, com o reboot do Superman, em seu O Homem de Aço. Filme contraditório, do qual falarei em breve, e que, apesar dos magníficos efeitos especiais e da sensacional caracterização de Krypton, peca do ponto de vista da linha narrativa. Até esse filme, eu não tinha medo do Snyder. Ao contrário, nas discussões frequentes com o Dr. Housy, eu geralmente era seu defensor. Bom, essa posição mudou.
Porque, se é pra ver os dois grandes bastiões da DC terem comportamento contraditório, errático, e avesso à simbologia que esses personagens representam, eu passo. Superman representa um ideal apolíneo, é o Deus-Sol, a magnificência da perfeição da natureza, que tudo ilumina e que, apesar de seu imenso poder sobre a vida na Terra, usa-o pra manter o equilíbrio. Batman, por outro lado, é Hades, o Deus das sombras e da danação. Ele não tem poderes evidentes, mas a sua presença instiga o temor dos homens. Seus poderes são cerebrais, atuam na consciência e cobrem a terra com o manto do temor e da culpa.
Se for pra ver um Deus-Sol assassino, incompetente e falho, qual o Superman de Snyder, assim como pra ver um possível Hades sem real consciência de seu papel crucial, sinceramente, eu dispenso esse próximo filme. O chato dessa situação toda é que convenientemente se esquece o perfil psicológico e arquetípico dos personagens em função de uma sobrevalorização da imagem e dos efeitos especiais, e o que fica, no fim das contas, é o vazio. Daqui 5, 10 anos, esses filmes serão apenas registros esmaecidos de efeitos especiais defasados. E, na falta do efeito especial que encanta, o que fica são personagens fracos, caricaturais, dignos de piada. Pois, sem personagens arquetípicos ou exemplares, que toquem os corações de todas as décadas, não sobra nada, só o pó da estrada.
Do pó… Ao pó.
É… você estava certo e seu temores justificados.