Nerdtalgia: Transformers Generation One – parte 5

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Para mais um capitulo da série sobre Transformers G1, saindo dos brinquedos e seguindo a ordem cronológica de produtos lançados, falemos de quadrinhos.

Lá fora, as histórias em quadrinhos dos Transformers foram lançadas quase simultaneamente aos brinquedos. A ideia da Marvel, detentora dos direitos de publicação, era divulgar os robozinhos.

Aqui no Brasil, coube a Rio Gráfica Editora publicar as 12 primeiras edições. Apesar de ter ficado conhecida popularmente por RGE, já que publicou por muito anos as histórias da Marvel no Brasil, a mesma estampava nas capas de Transformers o seu nome por extenso (sem o “Editora”).

A qualidade do trabalho era tão duvidosa quanto curiosa. A capa da primeira edição nacional já parecia anunciar o que viria: Optimus Prime colorizado de forma carnavalesca em uma arte psicodélica. Pessoalmente, durante anos, eu achava aquela capa uma das mais estranhas e sem sentido. Muito depois, com as facilidades de acessar material original pela internet, passei a lamentar por estragarem uma bela arte.

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Capa americana na esquerda e a versão tupiniquim ao lado. Imagine o desgosto quando descobri a versão original. A edição da Rio Gráfica era tão peculiar que até mesmo o formato era diferente, um pouco menor que os formatinhos da Abril nos anos 1980. Depois eles alteraram também o tamanho pra algo maior. Infelizmente não descobri o autor dessa bela arte do Optimus estilizado.

Outras curiosidades existiram: formatos diferentes de uma edição para outra, padronização de alguns anúncios (a quarta capa da revista era sempre a mesma, anunciando os brinquedos, assim como muitas das propagandas internas) e colorização por vezes não respeitando o original e estragando (outras) capas. No entanto, o que mais marcou foram as “TRADUÇÕES” dos nomes dos personagens.

Você não leu errado. Os personagens tinham a “versão nacional” dos nomes. E considere mesmo as aspas. Isso porque alguns nomes eram literalmente fáceis de traduzir: Onda de Choque (Shockwave), Miragem (Mirage) e Engrenagem (Gears) são traduções óbvias e perfeitas. Já Couraça (Ironhide), Cometa (Starscream) e Bico Laser (Laserbeak), apesar de não serem traduções literais, ao menos conseguiram manter a ideia original.

Mas Furão (Bumblebee), Trinco (Ratchet), Lero-Lero (Jazz)…  Esses sim, são alguns nomes que sempre me pareceram estranhos. E, assim como aquela capa da primeira edição que citei acima, ganharam com o tempo o “status” de ridículos. E o que dizer do Lider Optimus, que pareceu ter sido rebatizado pelo Mussum, ao receber o nome de SUPREMUS ABSOLUTUS (Cacildis!)? Mesmo as facções Autobots e Decepticons foram rebatizadas de “Optimus” e “Malignus”, termos que foram até usados na linha de brinquedos da Estrela, conforme citei em um capítulo anterior desta série. Até onde lembro, somente Megatron se salvou ao manterem seu nome original.

A confusão de nomes se estendeu até para os personagens humanos, mas nesse caso o adjetivo “confusão” pode ser considerado literal, já que, nas revistas, a dupla pai e filho que ajudavam os Autobots tiveram seu sobrenome Witwicky transformado (sem trocadilhos) para CENTELHA. Resultado, tínhamos Sparkplug Witwicky rebatizado de Bob Centelha e seu filho Buster Centelha. A coisa complica mais quando lembramos que nos desenhos o nome do filho passa de Buster para Spike, mas prefiro entrar em detalhes quando falarmos dos desenhos.

tf autobots
As páginas da primeira edição de Transformers, da Rio Gráfica. Os Autobots (Optimus, na versão brazuca), após chegarem na Terra e serem reativados, se apresentam. Detalhe para Brigão (Brawn) e Furão (Bumblebee) que se apresentam como “Robocar Jipe” e “Robocar Volks”. Exatamente como nos brinquedos da Estrela. Esse termo foi usado poucas vezes nas hq’s,  somente nas primeiras edições. Outra observação vai para Couraça (Ironhide) e Trinco (Ratchet), aqui desenhados na sua real versão de brinquedos. A imagem “fiel” durou apenas duas edições. A partir do terceiro numero ambos passaram a ter a mesma imagem que ficou conhecida no desenho. O mesmo para Bumblebee, que teve sua face modificada de fria e sem um rosto humanoide para a simpática versão cartoon, com olhos nariz e boca .

Voltando aos robôs, da mesma forma que a Hasbro contratou a Marvel para criar revistas que divulgassem sua linha, as edições nacionais faziam tímidas propagandas dos brinquedos da Estrela. Os minicars eram chamados nas revistas, por vezes, de “robocar”. Essa denominação era a mesma usada nas cartelas dos Transformers da Estrela. Bumblebee (ou Furão) era um dos que usou poucas vezes esse codinome nas edições brasileiras.

A cronologia também era algo à parte nas revistas dos Transformers. Mesmo sendo uma linha da MARVEL, apenas um crossover aconteceu: os robôs encontraram, na terceira edição, o Homem-Aranha. E ainda era a então inédita – no Brasil – versão do aracnídeo com o uniforme negro. Um chamariz e tanto para impactar e conquistar leitores. Só tinha um detalhe: aqui a revista divulgou essa versão do Aranha “pós-Guerras Secretas” mais de seis meses antes da mini-série Secret Wars estrear, e quase UM ANO ANTES da primeira aparição do uniforme negro na mesma saga (versão que só apareceria na sua serie regular do Aracnídeo em maio de 89). Lembro que na época eu cheguei a duvidar que aquele personagem era realmente o original. Um dos motivos para esse pensamento era (novamente) a qualidade da colorização, que apresentou um Peter Parker… loiro.

TF Aranha
A capa da edição 3 que, sabe-se lá o motivo, não divulgava que a “poderosa força terrestre” era ninguém menos que o Homem-Aranha (a capa americana, ao contrario, estampou o “Spider-Man”). Com um uniforme novo e numa cronologia adiantada pela Rio Gráfica, onde o traje ainda não havia aparecido nas linhas principais da Marvel, era difícil causar algum impacto. No canto direito superior um Peter de cabelos claros. Abaixo as capas das primeiras aparições nos títulos brasileiros. Primeiro na edição 8 de Secret Wars I e ao lado a primeira capa da série mensal, emulando a primeira aparição do Aranha, em Amazing Fantasy 15.

Era compreensível essa separação nas hqs (uma vez que nem mesmo os heróis Marvel interagiam com frequência na época, mesmo aqueles que atuavam na mesma cidade). No Brasil, principalmente nos anos 80, a relação cronológica também não era muito respeitada. Para se ter uma ideia , era possível ler historias do mesmo herói em períodos diferentes, e em uma mesma publicação. Neste caso, é explicável casos como a aparição do Homem-Aranha com um novo uniforme em Transformers meses antes de estrear a nova vestimenta em sua própria série.

Assim como citei diferenças entre o universo Transformers e o resto da Marvel, o mesmo se aplica na relação quadrinhos x desenho.

O problema é que, em relação ao desenho, existiam diferenças demais, que nada tinham a ver com cronologia, e nunca foram explicadas. Algumas eram boas. Por exemplo: Ravage, Leaserbeak e Buzzsaw (as mascotes de Soundwave) eram realmente “animais” na TV, agindo como tais. Já nos quadrinhos eles podiam falar, como qualquer outro Decepticon. Os Robodinos (Dinobots) do desenho foram construidos pelos Autobots, mas na HQ eles tinham chegado na Terra milhões de anos atrás e foram adaptados às formas de vida da época, os dinossauros. Grimlock, o lider dos Dinobots, sempre foi um tapado no desenho enquanto que nos quadrinhos chegou a tomar a liderança dos Autobots, como um impiedoso imperador (em um período em que Optimus foi dado como morto).

Talvez a mais legal das diferenças, e que acrescentava bastante à trama, era a relação entre Megatron e Shockwave. Na TV, Starscream tentava destronar o líder dos Decepticons, de maneiras que iam da covardia ao cômico, mas terminava sempre se dando mal, enquanto que Shockwave era apenas um contato dos Decepticons em Cybertron, totalmente submisso a Megatron. Já nas revistas, são pouquíssimas as vezes que Starscream se opõe ao seu líder. Este papel coube ao Decepticon caolho, que aliás o desempenha muito bem. Frio e calculista, Shockwave armava tramas e conseguiu, mais de uma vez, subjugar Megatron.

Transformers 05
Na primeira vez em que entra na história, Onda de Choque (Shockwave) já derrota praticamente todos os Autobots. Lembro que a imagem dos heróis, pendurados como em um açougue, me impressionou quando moleque. Ao lado a capa da edição de confronto entre os dois Decepticons. O Shockwave das hqs era tão cerebral quanto o da série animada, porém mais selvagem. A versão impressa, para mim, era bem mais interessante.

Mesmo aos trancos e barrancos, a série até que apresentou algumas boas ideias (como o destino dos Autobots depender apenas do médico da equipe, e não de outro robô que fosse um guerreiro) e cenas impactantes (Shockwave pendurando todos os Autobots como carne em açougue e decapitando o Lider Optimus). As primeiras doze edições trouxeram uma trama fechada, focando apenas na primeira linha de robôs lançados pela Hasbro. Se formos nos orientar pelo primeiro catálogo da coleção de brinquedos, todos os Transformers foram utilizados nas edições. Na verdade até um pouco mais, pois foram apresentados Shockwave (na edição 4), Dinobots (edição 8), Devastator (10) e Jetfire (11). Após estas primeiras edições, a série parou de ser publicada no Brasil durante alguns meses, deixando os fãs aflitos. O que aconteceu depois é papo pra outro capítulo.

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Primeiro catálogo da linha Transformers, de 1984. Alguns personagens que apareceram nas doze primeiras edições só entraram no catálogo do ano seguinte, com outros novos. Aqui é a ultima vez em que o Autobot Bluestreak apresenta a cor azul. Tanto nos catálogos quanto nas edições americanas o nome permaneceu, mas perdeu o sentido, já que o azul foi substituído pelo vermelho e com predominância da cor prata.

Vilipendiador Unperucked

Sempre se metendo em novos projetos e lutando contra pré-conceitos interiores. Já teve pilhas de HQ's, videogames e cartuchos. Hoje somente bons encadernados e um emulador. Ainda assim, sempre tenta colecionar algo. Pensou em escrever sobre a procrastinação mas achou melhor deixar pra semana que vem.

Este post tem 3 comentários

  1. Anubis_Necromancer

    Depois de tanto tempo, voltei a ler esse blog.
    E quem fez a capa da edição nº1 americana foi o Bill Sienkiewicz.
    Já a brasileira, até hoje quero saber para dá uns tapas nesse cara.

    1. Vilipendiador Unperucked

      Se descobrir quem foi o autor dessa versão nacional, me avise.
      Tenho um surra pro “artista” que tá guardada há décadas,

      1. Anubis_Necromancer

        Pelo que soube, o problema foram as tintas matrizes das capas.
        Devido ao custo dela naquele tempo, printar capas realistas custavam muito, ainda mais pq a RioGrafica estava passando por problemas financeiros (o que acabou sendo comprada pela Globo).
        Dai enquanto estava com ela, não tinham capas com cores decentes.

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