Museu do Videogame

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Fiquei extremamente feliz quando ouvi falar sobre a existência de um museu de videogames no Brasil. Há anos estou em uma campanha de valorização dos jogos e defendo qualquer iniciativa que demonstre sua maturidade cultural. E este museu seria um passo importante para a defesa.

Seria? Sim, seria. E eu explico.

img_5450O Museu do Videogame foi criado há cinco anos pelo jornalista e curador Cleidson Lima. Seu acervo é composto por mais de 250 consoles das diversas gerações desde a década de 1970. Além de vê-los, é possível jogar alguns jogos, antigos e recentes. A exposição é formada por boxes com os aparelhos pendurados em seu interior, com algumas informações históricas e técnicas, e por ilhas com consoles instalados em TVs habilitados para interação (não é permitido trocar os jogos sendo rodados).

Ele não fica em um local apenas e viaja pelo Brasil inteiro – até 30 de outubro de 2016 estava em São Paulo, no Shopping SP Market. A ideia do Museu é “mostrar ao público que os jogos eletrônicos precisam ser reconhecidos também como história, cultura e arte”. Com entrada gratuita, ele é financiado por empresas privadas (Capcom, Sony, Nintendo, Ubisoft etc) e parcerias com os locais da exposição.

A primeira questão é se o Museu do Videogame pode ser chamado de museu. De acordo com a Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, “consideram-se museus, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento.” A princípio, parece que o Museu do Videogame é um museu, pois serviria para estes fins definidos na lei. Contudo, ele não engloba todos, apenas um: contemplação.

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Não preserva porque não é um ambiente seguro, está aberto à manipulação com pouca (bem pouca) fiscalização – tentei utilizar vários controles e já estavam com botões falhando. Não estuda, pesquisa ou educa porque as informações são bem resumidas e pontuais, sem conexões ou associações históricas e conceituais. E não serve muito bem para turismo devido aos fatos a seguir…

Primeiramente, não é um museu do Videogame, mas um museu do Console. O foco é todo no aparelho e não em seus jogos – no Brasil, confunde-se o termo videogame, que se refere ao jogo em si, com console, que é o hardware que roda o jogo. Embora os consoles tenham um apelo saudosista, o que realmente fica na mente (e nos corações) são os jogos – eles são a essência do sentimento. Claro que o console marca, mas é a experiência de jogo que se solidifica na história. E isso passa direto na exposição.img_5453

A ideia de relembrar os velhos e mostrar aos jovens toda a “mágica” dos videogames é prejudicada pela própria organização do espaço. O valor histórico dos videogames se perde facilmente devido à falta de critérios claros de arrumação. Tempo? Tecnologia? Fornecedor? Consoles separados por décadas e pertencente a empresas diferentes estão em um mesmo box… Não há um circuito organizado para apreciar os objetos, o espaço é livre para entrar e vagar. Além disso, boa parte do espaço é reservada para tecnologias recentes, como o palco e o grande telão para o público dançar Just Dance ou as diversas TVs rodando Playstation 4.

A impressão que fica é a de que o Museu do Videogame não é um museu, mas apenas uma simples exposição. E não de videogames, mas de consoles. É a coleção particular de um apaixonado por games que resolveu tirar a “tralha” de casa e mostrar ao mundo (segundo a esposa do responsável em entrevista para Fátima Bernardes…). Devido à curadoria despreparada, perdeu-se a oportunidade de apresentar um conteúdo relevante (consoles e jogos) e, assim, colaborar com o amadurecimento da crítica sobre videogames.

Gostei de ir? Sim, gostei. E irei novamente quando estiver no Rio de Janeiro (dependendo de onde for localizado). Entretanto, os valores histórico e cultural dos videogames passam despercebidos, mesmo com os sorrisos nos rostos dos visitantes. Sorrisos que demonstram duas situações: retorno ao passado e deslumbramento infantil. Ambas ainda mantendo o videogame no frívolo campo das brincadeiras de criança.

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

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