Mulheres, quadrinhos e um pouco mais.

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Eu lembro de ter prometido a mim mesma não me envolver mais em questões polêmicas relacionadas às mulheres nos quadrinhos, mas por alguma razão que ainda não entendi qual é, o assunto volta e me sondar e o flerte tem sido inevitável.

Um desses encontros felizes foi o convite do Ilumi Nerds, para que eu falasse um pouco sobre tais assuntos em função do dia internacional da mulher.

Bom, há tanta coisa para falar sobre o que tem acontecido com as mulheres no universo dos quadrinhos e mesmo no universo nerd, que um único texto jamais conseguiria abarcar todas as esferas, movimentos, conquistas e obstáculos que existem, mas eu vou tentar resumir um pouco do que tenho acompanhado e deixar alguns links para que quem tiver o interesse possa se aprofundar.

Embora eu tenha começado a pesquisar quadrinhos academicamente em 2012, foi em 2015 que acabei me envolvendo com a história das mulheres nos quadrinhos e me deparei com uma série de situações e descobertas que me trouxeram a este texto hoje: em agosto de 2015 a Escola de Comunicação e Artes da USP sediou as 3ªs jornadas internacionais de Histórias em Quadrinhos e uma das convidadas do evento era a quadrinista norte-americana Trina Robbins. Embora Trina não seja muito conhecida pelo público leitor de quadrinhos mainstream, ela é uma referência para muitas artistas femininas no mundo todo por ter sido uma importante ativista do movimento feminista nos anos 60 e 70. Hoje Trina é historiadora das grandes cartunistas americanas e sem seu trabalho busca resgatar a história das mulheres que foram apagadas dos livros sobre história dos quadrinhos. Assim que soube que Trina viria ao Brasil, pensei em escrever um artigo sobre ela, pois minha HQ favorita quando criança era a Misty, personagem sua voltada para o público feminino. Tendo em mente sua importância para a história das mulheres nos quadrinhos, a Associação de Pesquisadores em arte sequencial, da qual faço parte, organizou um evento a pedido da própria Trina, para que ela pudesse conhecer os trabalhos das artistas brasileiras. Eu fui convidada para ser sua intérprete no evento e desde então, me vejo envolvida com questões ligadas ao feminismo, pesquisa sobre mulheres e quadrinhos e artistas femininas independentes.

Trina Robbins na Gibiteca Henfil
Trina Robbins na Gibiteca Henfil

O que aprendemos com esse evento é tema de um artigo que estou escrevendo, mas o que posso adiantar é que, apesar da sensação de modismo atrelada ao movimento feminista, apesar de não haver apenas um movimento e muito menos uma pauta comum, mulheres sempre SEMPRE produziram conteúdo nerd. O que notamos agora é que a imprensa e a mídia de uma forma geral não conseguem mais nos silenciar como sempre foi feito. A internet, por não obedecer a uma hierarquia comum a certos veículos de comunicação, não consegue deter a propagação de uma mensagem, não consegue conter as diversas vozes que estão se fazendo ouvir, muitas vezes, no grito.

Notaremos equívocos nos discursos, nas condutas? Opa! Claro! Apesar da aura de castidade e pureza que alguns tentam atribuir às feministas, nós somos antes de qualquer coisa, seres humanos, portanto, falíveis. E por que digo isso? Bom, estou aqui conversando com vocês agora pensando no tanto de gente que tem muito mais conhecimento e aprofundamento para falar sobre estes assuntos (vou colocá-los a par de quem são) e na série de questionamentos que me são feitos com frequência. Penso também na velocidade que um post alcança e de como nos apressamos a julgar algo sem o devido conhecimento…. É, eu já fiz isso. Então, este espaço aqui tem um potencial enorme de ajudar todo mundo a entender como podemos construir uma sociedade mais justa juntos e isso certamente inclui o universo nerd, que é de longe um dos mais machistas que conhecemos.

Algumas quadrinistas brasileiras no encontro promovido pela ASPAS
Algumas quadrinistas brasileiras no encontro promovido pela ASPAS

Um ambiente mais diversificado é interessante para todo mundo e há espaço para todos. Quando nos reunimos em eventos, quando montamos coletivos, quando publicamos trabalhos exclusivamente femininos, só fazemos isso porque nos meios que se dizem mistos, não nos é dado o devido espaço. E vejam, em todos os eventos que vou, ouço mulheres dizendo que não querem cotas, não querem que um trabalho seja publicado apenas porque foi feito por uma mulher, não querem falar apenas de assuntos tidos como femininos. Há produtoras de conteúdo nerd pra todos os gostos e sua competência e talento não deveriam ser medidos pelo tamanho de seus seios, certo?

Então, compartilho aqui alguns links de coletivos, artistas, pesquisadores que têm se esforçado para que estes espaços sejam cada vez mais plurais:

O Minas Nerds têm como principal objetivo divulgar o trabalho das artistas femininas e garantir o máximo de visibilidade a elas. Além das páginas, as “minas” promovem e participam de eventos cujo foco seja a divulgação dessas artistas. Também marcam encontros de RPG para que mulheres que se sentem intimidadas em jogos mistos ou querem aprender a jogar, possam participar mais. Elas fizeram algumas listas com as principais quadrinistas brasileiras:
http://minasnerds.com.br/tag/guia-quadrinhos-das-minas/

O Lady’s comics é um coletivo de quadrinistas que também promove encontros e financiamentos coletivos para divulgação dos trabalhos de suas artistas.

http://ladyscomics.com.br/

O Estúdio Complementares é composto por 4 artistas, entre elas, Cris Peter, uma das maiores coloristas brasileiras, e ajuda mulheres com cursos de aperfeiçoamento e divulgação de trabalhos artísticos.

https://www.facebook.com/estudiocomplementares/

Mina de HQ – idealizado pela Gabriela de Sousa Borges, busca viabilizar espaços e debates sobre a produção feminina de HQs

https://www.facebook.com/minadehq/

A ASPAS – Associação de pesquisadores em arte sequencial, além de contar com pesquisadores como Natania Nogueira, Amaro Braga, Valéria Fernandez, Danielle Barros e Savio Queiroz, com produções voltadas ao estudo das representações femininas nas HQs e às questões de gênero, também tem publicações sobre sexualidade e representações femininas nos quadrinhos recheadas de trabalhos acadêmicos produzidos por pesquisadores de vários estados do Brasil.

https://aspasnacional.wordpress.com/

http://historiadoensino.blogspot.com.br/2016/01/entrevista-com-chantal-montellier

http://axbraga.blogspot.com.br/p/adquira-aqui.html

htmlhttp://www.shoujo-cafe.com/

https://www.facebook.com/IV-Sacerdotisa-Danielle-Barros-Sibilante-217146788475979/

http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1424333597_ARQUIVO_MulheresMaravilhaBana.pdf

O Observatório de Histórias em Quadrinhos da Usp tem entre seus participantes frequentes, pesquisadoras que também estudam sobre mulheres e quadrinhos, duas delas com trabalhos voltados à produção de Mangás, como a prof.ª Sonia Luyten e Simônia Fukue ou sobre a representação feminina nas HQs espanholas como Ediliane Boff.

http://observatoriodehistoriasemquadrinhos.blogspot.com.br/

E eu, além de associada da Aspas e integrante do Observatório de Histórias em Quadrinhos da USP, também escrevo em um blog especializado em quadrinhos:

http://quadro-a-quadro.blog.br/quadro-a-quadro-entrevista-trina-robbins/

http://quadro-a-quadro.blog.br/2016-o-ano-das-mulheres-nos-quadrinhos/

Obrigada ao Ilumi Nerds pelo interesse no assunto. Tenho certeza que um novo universo irá se abrir para todos que lerem este texto.

Até a próxima.

Dani Marino

Dani Marino

Dani Marino é pesquisadora de Quadrinhos, integrante do Observatório de Quadrinhos da ECA/USP e da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial - ASPAS. Formada em Letras, com habilitação Português/Inglês, atualmente cursa o Mestrado em Comunicação na Escola de Artes e Comunicação da USP. Também colabora com outros sites de cultura pop e quadrinhos como o Minas Nerds, Quadro-a-Quadro, entre outros.

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