A pedida é conhecer o rap e o R&B contidos no primeiro e recém-lançado EP do MC carioca Marral, degustando as seis saborosas faixas no mesmo prato que os comentários a seguir. Clica aqui e aumenta o som.

# 1 – Intro

Na intro, tudo começa aparentemente calmo, quase nublado, sussurrado. Até que Marral parte pra cima e inicia os trabalhos inspiradamente autobiográficos dando uma palha de sua versão dos fatos, preparando o ouvinte. E quando grita o “Pra caramba!” é como se ele se revelasse na nossa frente. Aquele momento deveras familiar em que você explode, se solta, ri, se descontrola. O som do eureca.

# 2 – Não tô nem aí

Entre a reclamação e o discurso, uma reflexão cheia de balanço sobre o valor das aparências e do caráter, em meio à mosquinha das traições cotidianas. Um sampler daquele hit chiclete de muitos verões atrás, “Tô nem aí”, da cantora Luka, cairia como uma luva na faixa. Como um tapa com luva de pelica, aliás.

# 3 – Não importa a situação

Uma ode à música. Às canções que o inspiraram e inspiram. Quando desfila seus prediletos, soa carinhosamente como Thaíde e seu mundo bom que não volta mais. Um pouco mais solene, agradecendo os bons momentos que a música lhe proporciona, a qualquer hora, em qualquer lugar.

# 4 – Woman 2.0

Uma declaração de amor às mulheres. Um elogio e tanto passado a limpo. Torna-se muito mais que um galanteio quando a poesia vira canção. O que, na verdade, revela que a declaração de amor é À mulher. Com A maiúsculo. A tal rainha egípcia da música. A musa.

# 5 – Que bom ter você

As notas do piano dão o tom da delicadeza que vem a seguir. O sopro acrescenta um frescor regional ao som, e o rap sopra frases ao pé do ouvido. Sentimentos são desvelados entre carinhos, significantes e significados. Ideal para embalar a madrugada com seu docinho de coco. Independente da velocidade das rotações do seu amor, a canção cabe naquela hipotética vitrola no meio da madrugada, entre olhares apaixonados e sussurros.

# 6 – RJ (participação de Don Capuccino)

Um belo jeito de encerrar o EP. A melhor mistura das próprias influências. A mais ensolarada. Cara de rua. Cara de quintal, cara de fundo de quintal. Com a bênção do samba, um delicado groove, refrão com ecos de Flora Matos e versos que evocam clássicos modernos sobre a cidade partida, como Zerovinteum (do Planet Hemp) e A Todas as Comunidades do Engenho Novo (de Marcelo Yuka e O Rappa), Marral e Capuccino dialogam sobre os prazeres e as vicissitudes da carioquice, com contundência e bom humor.

A sobremesa:

Com saldo extremamente positivo, a Trilha Sonora Da Minha Vida é um chocolate de vários recheios. Marral nos sacode na rua, na chuva, na fazenda, no verão e na piscina com “RJ”, entrega uma caixa de bombons embalada com uma vistosa fita vermelha em “Que bom ter você”, acelera os corações femininos com “Woman 2.0”, pinta sua relação com a música em “Não Importa A Situação”, reclama e aponta o dedo em “Não Tô Nem Aí”, e quebra tudo na “Intro”, onde sua voz e sua verve rapper voam longe, alcançando as estrelas. Pra caramba.