Literatos – Os Herdeiros de Titãs

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Esse livro e eu, na verdade, temos uma certa história. Em 2011, quando eu trabalhava no blog Criando Testrálios, de um pessoal lá do RS, recebi esse livro pra fazer uma resenha. A resenha foi negativa, o autor ficou sentido (claro, todo mundo fica), tivemos certo bate-boca e a resenha nunca foi ao ar.

Daquela vez, não tinha conseguido passar da página cento e pouco… porque estava ruim demais. E me disseram que depois do meio do livro a coisa melhorava. Mas, na época, eu não tinha mais saco pra continuar lendo uma coisa tão ruim.

Quatro anos se passaram e resolvi dar uma segunda chance ao livro. Será que eu fui injusto? Será que, de fato, eu era imaturo e não estava conseguindo ver uma obra rara que estava em minhas mãos, que poucos entenderiam (como foi dito)?

Bom. Pra resolver esses pensamentos, foi questão de honra terminar de ler esse livro, dessa vez XD. E pra não correr o risco de já começar me influenciando negativamente, comecei a leitura tentando encontrar coisas boas que a obra tinha.

Desisti da busca quando cheguei na página 175. Metade exata do livro, de 350 páginas.

Mas vamos do começo.

Os Herdeiros de Titãs

Os Herdeiros de Titãs – de lutas e ideais, é um livro escrito pelo brasileiro Eric Musashi, publicado em 2010 pela Giostri. O nome faz muito jus à leitura, aliás. É uma luta, mesmo.

A história é sobre um garoto chamado Arion e seu pai, Téoder. Arion odeia o pai, porque ele foi o responsável pela morte da mãe do garoto, Faná, para a Rainha-Deusa Quetabel. Téoder é um Béli-mor (bélis são guerreiros de alta patente, acima dos imanes, acima dos mádis), e Arion é um ninguém na vida. Ou melhor, um revoltado, que quer o fim do reinado da então chamada deusa.

Mas ninguém sabe do que a história se trata, ou qual é o motivo daquilo tudo até quase o fim do livro. A gente descobre que Quetabel, junto de seus “anjos”, quer conquistar um pedaço de terra “inconquistável” e vão precisar de quase todos os guerreiros do continente. Daí acaba o livro.

Essa é basicamente a história, sem spoilers. Vamos aos itens de pontuação, agora.

Os Herdeiros de Titãs leva:

Ideia: 01

Os Herdeiros de Titãs não tem ideia original nenhuma. Não tem nada de novo a acrescentar. É um livro que fala de política, fala de filosofia, mas todas as reflexões feitas na obra são rasas e de pouco, ou nenhum valor real pra quem tiver mais de 13 anos de idade.

E segundo o próprio autor, “a obra não foi feita para leitores inexperientes, porque não seriam capazes de absorver tudo o que a obra proporciona”. Ou seja, não foi feito pra quem pudesse tirar o mínimo de proveito da filosofia barata da obra.

Outra ideia presente no livro é a nudez. Aliás, esse eu acho que tenha sido o ponto chave em que ele focou as vendas da coisa. Mulheres, ali, andam quase todas peladas, ou com uma túnica leve, ou transparente, ou só com acessórios cobrindo os polêmicos. Só duas mulheres não aparecem desse jeito, duas guerreiras que surgem no final da obra.

Se você quer imaginar (porque não tem imagens) mulheres e homens pelados andando pra lá e pra cá, essa é uma boa leitura. Ou então, leia Enchantae. Pelo menos é em quadrinho…

mamilos

Ambientação: 04

Brincadeiras à parte, pro pessoal que gosta de descrição, a que Eric faz em sua obra é muito boa. Ele detalha tudo minuciosamente, como Tolkien, em O Senhor dos Anéis.

Eu não sou muito fã de descrição. Acredito que o recurso, se usado em demasia, faz com que o leitor não precise interagir com a obra, mas não é por isso que ignoro a habilidade dele em conseguir descrever bem cada lugar, cada cidade e cada personagem.

“Então por que não 5 pontos, ao invés de 4?”

Porque, em um certo momento, as descrições começam a atrapalhar um pouco a leitura. Às vezes, o autor acaba se empolgando demais e descreve um cenário em páginas…e quando volta, o leitor já não lembra mais o que estava acontecendo XD.

Isso é normal de acontecer. Me lembrou também o livro Senhora, de José de Alencar, no qual ele gasta umas duas páginas descrevendo o vestido de Aurélia.

É bonito, bem trabalhado e expositivo, mas tem muita descrição quase o tempo todo, e isso desgasta um pouco a técnica.

Personagem: 02

Nesse ponto da vida, vocês que me acompanham já devem até saber o que vou dizer: diálogos.

O grande vilão dos autores de primeira viagem também está aqui. Mas muito pior que isso, aqui encontramos outros dois problemas muito preocupantes: o “igualismo” e o “sem-salismo

Aliás, esses são dois problemas MUITO comuns de acontecer, também.

O igualismo é quando todos os personagens são iguais. Se você pegar uma fala aleatória do livro, você é incapaz de saber quem falou aquilo. Não tem nenhum traço, nenhuma característica que mude de pessoa pra pessoa. A única coisa que muda é o tema da conversa, mas não a conversa em si.

Se o assunto é Faná, podemos estar falando de Téoder ou Arion; se o assunto é Ariadan, de Tromos, ou Arion; se de música, Lurédeas; se filosofia barata, Lurédeas, Ádiler (num único momento), ou duas mulheres tipo oráculo que aparecem do nada pra fazer nada também.

Mas todos eles falam absurdamente formais. Não basta só usar o padrão da língua, também é usado o formalismo bruto. E esse livro é excelente pra eu poder mostrar o problema disso: pra conseguir “fugir” do formalismo bruto que ele já tinha usado e mostrar um grau superior de respeito, ou místico, ele adotou o uso das segundas pessoas (tu e vós). Percebe como a coisa acaba ficando artificial demais?

De novo, é o primeiro livro do Eric. Então, essas coisas do diálogo acontecerem é absolutamente normal. Um pouco mais de observação resolve isso rapidinho, de verdade.

Quando temos o problema do igualismo, corremos um grande risco de cair no sem-salismo, que é o maior problema disso tudo. Se todos os personagens são iguais, eles provavelmente vão ser iguais a um protagonista, ou a algum secundário que o autor tenha mais carinho. Mas, se esse molde for um personagem sem sal, sem uma característica própria, sem algo que o faça se destacar dos outros, todos os outros personagens caem no mais do mesmo… no mesmo sem-sal.

E foi o que aconteceu, aqui.

Duas únicas personagens, no entanto, fugiram dessa regra: Haná e Quetabel, e foram as responsáveis de esse item receber 2 pontos ao invés de 1. Elas deram um ponto de esperança. Quetabel é possessiva, ciumenta e vingativa, diferente do resto das mulheres, submissas, da história. Haná é uma feminista suprema, que não deixa nem o homem tomar controle das rédeas do próprio cavalo, se ela estiver de carona.

Pena que Haná só apareceu no fim do livro. Talvez, se Eric a tivesse usado mais durante a obra, ele conseguisse ter saído do igualismo. Mas fazer o quê?

Alguém pode dizer que as tipo oráculo também eram diferentes. Pode até ser dos outros, por falarem em tu e vós. Mas entre elas, são absolutamente iguais. Absolutamente! Nada diferente.

Final: 01

O final não existiu, porque é uma história de mais de um livro. Mas essa parte da narrativa teve um final, sim.

Ruim.

Mas teve.

O livro termina praticamente como começou. A diferença é que tem um a menos perseguindo Arion.

Aliás, este foi um problema que achei muito frustrante na obra: a descrição tão bem feita pro ambiente, mas tão pobre na luta. Uma luta entre duas pessoas é mais longa que uma miniguerra, que acontece logo no começo do livro.

Expansão: 01

Como eu disse lá em cima, esse livro basicamente não foi feito pra ninguém.

Se você tem mais de 13… ok, vai. Vamos colocar a idade que eu tinha quando li: 19. Se você tem mais de 19 anos, você não vai se espantar, nem ter catarse, nem vai ficar pensando sobre algo que a obra possa ter te ensinado, porque é uma obra rasa, de filosofia barata.

E se você tem menos de 19 anos, o livro não foi feito para você, porque você provavelmente não tem maturidade suficiente pra absorver a obra…o que é algo beirando o nada…

MAS! Serei justo: saiu o segundo livro dessa narrativa, e estou pensando em lê-la para ver se Eric amadureceu como escritor e aprendeu com os erros da primeira obra.

Foi o que aconteceu com Claudio Villa, que hoje é um dos meus escritores favoritos. O primeiro livro dele foi triste, também, mas o segundo foi muito bom.

Vai que, né?

Este post tem um comentário

  1. Harvey_o_Adevogado

    passando só para checar o controle de produtividade e de qualidade dos post.

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