E aí, amigos Iluminerds, tudo bem? Estou aqui mais uma vez para fazer a resenha de outro livro que me chamou muita atenção. Aliás, quem não seria fisgado por um título como Mãos de Cavalo? Este é o terceiro livro publicado pelo escritor Daniel Galera e poderia, em minha opinião, ser considerado o trabalho que o fez ter uma notoriedade de grande expressão. Eu já conhecia (e era fã) do Daniel Galera, tendo livro seu primeiro livro, uma coletânea de contos nomeada de Dentes guardados – o maluco é bom mesmo para títulos – e senti vontade de partir logo para o Mãos de cavalo. Pois bem… topado o desafio, comprei o Livro no site estante virtual e não precisei de muito mais do que dois dias para termina-lo, tamanha apreciação e fascínio pelo romance. Daniel Galera é um jovem escritor de apenas 35 anos que já se notabilizou como um dos grandes nomes da literatura contemporânea. Possui livros de contos, romances e até mesmo histórias em quadrinhos publicadas como: Mãos de Cavalo, Dentes guardados, Cachalote, Barba Ensopada de Sangue, entre outros. Faz parte da geração pós-modernista, notavelmente reconhecido pelas suas narrativas descritivas e psicologicamente fortes. O livro – publicado em 2006 pela Companhia das letras – trata da vida do jovem Hermano nas suas mais diversas fases. A narrativa é desenvolvida desde a sua mais tenra juventude, andando de bicicleta como um destemido “ciclista urbano” pelas ruas de Porto Alegre – Daniel, apesar de ter nascido em São Paulo, passou boa parte de sua vida no sul – até o brilhante cirurgião plástico que passara em primeiro lugar no vestibular, numa epifania de sucessos esforçados misturados com doses de estoicismo. O notável em relação ao trabalho de Daniel Galera em Mãos de Cavalo é a análise psicológica de seu personagem. O confronto pessoal de Hermano ao deparar-se com a admiração pelo seu colega Bonobo, notável por sua valentia, contrastando com o próprio excesso de medo perante todas as coisas do protagonista. Galera se utiliza de situações mais do que cotidianas, como jogos de futebol, escaladas adolescentes e festas para explorar a complexidade psicológica de seus personagens e mais ainda de seu protagonista. No entanto, essa relação com a adolescência do jovem Hermano é somente uma digressão temporal para a explicação dos enrustidos complexos do famoso cirurgião, agora um homem casado, pai e adorador de alpinismo, prestes a enfrentar uma empreitada magnífica: escalar uma montanha praticamente desconhecida. E é nesse Hermano adulto e bem sucedido que são demonstradas, através de metáforas e situações aparentemente cotidianas, todas as frustrações e traumas, além de um em especial, extremamente importante (que obviamente não será contado aqui, bah!), de um jovem moderno. Uma crise de identidade com diversos momentos de flashbacks Ele utiliza também de alguns recursos pouco explícitos diretamente, mas certamente perceptíveis a qualquer analise crítica. A atitude de busca incessante do protagonista por dor e adrenalina em meio a uma sociedade materialista, excessivamente confundida pelo excesso e pela praticidade diária, e repleta de novas doenças comportamentais ligadas ao estresse causado pela velocidade de todas as coisas. A interiorização das pessoas é notável se olharmos o personagem em si. Um homem perdido numa imensidão de segredos e dúvidas formadas dentro de si mesmo tanto para esposa quanto para o melhor amigo, pessoas que provavelmente deveriam saber de sua personalidade, mas, no entanto não são muito mais do que apenas fragmentos de uma história maior, a consciência do próprio Hermano. Como dito antes, li o romance em pouco mais de dois dias e realmente fiquei impressionado. A literatura contemporânea tem muito potencial e Mãos de Cavalo é certamente um dos expoentes nacionais. Recomendo. Aliás, o livro ganhou uma adaptação e tão logo em breve estará nas telinhas de cinema. Dirigido por Roberto Gervitz (de feliz ano velho) e estrelado por nomes como Armando Babaioff e Mariana Ximenes.

Bom pessoal, muito obrigado por terem lido até o final e, para aqueles em quem a curiosidade bateu mais forte, uma ótima leitura e muita paz! Segue abaixo um trecho do livro, para a apreciação dos leitores em potencial.

”Teve consciência de que era apenas isso que o movia a descer aquela escadaria tantas vezes, a possibilidade de queda, de se arrebentar no chão. E esta seria a mais espetacular de todas. Era o que tinha a dizer as pessoas lá em cima. Estava pronto para sangrar. Era seu talento.”

Joel Junior